Nascidos das Sombras escrita por Miss B W


Capítulo 3
Apenas... Não sinta e tudo estará bem


Notas iniciais do capítulo

Dios míooooo, há quanto tempo sem postar! E aí pessoinhaaaaaas o que eu perdi? Hehehe ;) a vida anda mais doce pra mim e eu espero que seja o mesmo pra vocês u.u
Entaaaaao, minhas desculpas por ser uma enrolada e demorar tanto, mas blé, eu ando meio que ocupada com os estudos e tudo mais, espero ainda ter leitores acompanhando e de bônus conseguir mais hehehe... Sem mais demora, boa leituraaaaa! :D



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"Querido mundo, não se apague junto de minha alma ou estarei entregue a esta morte precoce que contaminou minha memória." – Srta. Fone de Ouvido.

Alexandria ainda se assustava com o fato. Como Adam poderia ser tão tagarela e grudento? Ela não podia sair de seu quarto e ir até o banheiro que o garoto ia atrás.

Em um suspiro a Wichmore fechou a última mala, esta de cor berinjela. Olhou para Adam, que, com seus penetrantes olhos castanhos, a encarava em um tipo de careta com um pequeno bico.

Como sempre, ele estava em seus trajes informais. A camisa básica preta amassada, os jeans com rasgos. Seu tênis pretos extremamente sujos, aderindo agora manchas de algo que parecia ser lama. Alex sabia que seu desleixamento com a aparência vinha de bem antes, nem se importava, ele continuava sendo o estúpido mais fofo - e ainda assim cruel - cara que já conheceu.

– Vai me ligar sempre, né?

Alex revirou os olhos e sorriu.

– Vou né, seu bobão.

– Vai me dar bom dia toda manhã?

– Isso já é pedir demais...

– Nem é. - cruzou os braços, emburrado.

Ela ergueu a sobrancelha esquerda e deu uma leve risadinha achando graça da forma infantil como Adam estava agindo, o que o deixou abobado, afinal, quando poderia ouvir aquela risada tão viva e suave novamente?

A resposta? Quando existisse uma raiz de 0. E ele sabia que por mais dolorosa que fosse, era a realidade. Ela, a partir do momento que o deixasse para trás, iria esquecê-lo tão rápido quanto Usain Bolt corre uma maratona.

– Enfim... Acabei. - balbuciou num tom cansado se jogando na cama e fitando o teto. - Não quer ir buscar meu celular lá embaixo não, Ad?

– Não.

– Que maldade. Mas ok... Tiiiiiia, onde você tá?! - gritou.

– Cozinha! - recebeu de volta. - Desçam os dois para almoçar, não esquece que já está quase na hora do seu vôo, daqui a três horas vai estar me deixando para trás.

– Nooossa, daqui a três horas. - revirou os olhos - Olha, Ad, é dessas coisas que eu vou sentir falta quando pisar naquele lugar que eu nem me lembro o nome. É Longwood?

– Nunca pensei que sua memória fosse tão ruim. - murmurou num tom nítido de deboche.

– Ha. Ha. Ha, como se fosse eu quem não sabe a idade do pai. - se quem estivesse ao seu lado não fosse Adam, com certeza não teria notado o tom amargo ao pronunciar "pai".

Era isso, era exatamente essa barreira contra tristeza que se formara a frente de Alex após duas semanas e meia de luto. Sinceramente, dissimular qualquer sentimento depreciativo estava lhe fazendo bem, estava rindo ao lado do amigo até.

Tudo seria perfeitamente interpretado como falta de amor pelo falecido, todavia descobertas abaixo de seus olhos verdes estavam grandes camadas de base e pó que escondiam fundas e arroxeadas olheiras, todas formadas durante as noites - todas desde a morte do pai - em que caia em lágrimas até pegar no sono já as altas horas da madrugada.

Alexandria nunca lidou bem com seus sentimentos, nunca tentou demonstrá-los com precisão, nunca se importou com isso. Quando sua mãe, Carrie, faleceu, passou quase sete meses se fantasiando, se escondendo numa máscara de morbidez, numa camada de "garota sombria" que só usava preto e dizia frases feitas. Fora tanto tempo perdida, não se importando com as próprias ações, se afastando de quem era realmente que, agora, era como se um déjà vu passasse diante de seus olhos.

– Alex?

– Oi?

– Eu disse que não sei se são 46 ou 47, nada demais.

– Tá, tá. Levanta essa bunda branquela daí e vamos almoçar. Certeza que é lasanha.

– Espera aí, a gente precisa conversar sobre "você sabe o que" antes. Eu sei que você estava pensando nele.

– Não. Vou. Falar. Dos. Mortos. Adam.

– Você que manda, Garfield. Você que manda. - suspirou se erguendo e abandonando o cômodo.

***

Ventava muito, mas ela não sentia frio, pouco se importava em estar chuviscando e não haver nada tampando seus cabelos cheios de cachos que iam embolando cada vez mais.

Alexandria era tão bela naqueles momentos de descontração, em que parecia estar fora do mundo, ela simplesmente olhava para um ponto e tentava desvendar todos os seus segredos. Se perdia em lembranças, respirava com calma, piscava com delicadeza, se mexia com tanta sensibilidade. Parecia, de fato, uma boneca, uma protagonista de romance que logo mais acabaria por encontrar seu homem dos sonhos, ele esbarraria nela ou vice-versa e, em seguida, uma série de acontecimentos os colocaria juntos novamente. Aqueles pensamentos não fugiam de sua mente, ela simplesmente se pegava esperando pelo mocinho que roubaria suspiros apaixonados seus, era em momentos assim que ela se via sendo uma garotinha sonhadora e romântica, uma garotinha pueril como na época em que sua amada e dócil mãe ainda se fazia viva e repassando sua essência floral por onde quer que passasse.

Era tanta a saudade, tanta a necessidade de ter alguém que soubesse ler seus sorrisos, seus olhos e seu tom de voz. Porque era assim com Carrie, era fantástico tê-la como mãe, por um minuto, se pegou pensando que talvez ser adotada não fosse ruim, pois caso seus pais biológicos não a tivesse abandonado, não teria conhecido pessoas como Victor e Carrie.

Derreteu um pouco mais em saudade, se contraindo contra o longo casado de couro negro.

Ela estava irremediavelmente fabulosa com seus cabelos esvoaçantes acertando quase que sua cintura, em um tom castanho claro repleto de mechas coloridas que ela fixara em meio aos fios verdadeiros há mais ou menos seis meses, sendo as vermelhas e as azuis as mais chamativas. Seu nariz fino e cheio de sardas contendo um piercing que colocara há dois anos, se bem se lembrava uma semana antes do natal fora escondida junto de Adam.

Aquela tarde foi divertida, ela agira como uma verdadeira criminosa, se ocultando a todo o custo de Victor, que na época não tinha permitido a colocação do apetrecho. O natal, tradicionalmente celebrado em família, contou com a presença da família Chandler também. Adam zombando da quantidade exorbitante de comida nos pratos de Alex, e Alex zombando da meleca que o rosto de Adam ficava quando comia as sobremesas. Chocolate na testa, chantilly no nariz, calda de morango na bochecha e um charmoso bigodinho de vinho que carregava desde que o bebera junto do prato principal.

As lembranças estavam tão vividas em sua mente...

Vestindo botas de salto pesadas negras cheias de tachas pratas, um jeans escuro, uma camiseta larga preta da banda Kiss com uma enorme língua vermelha, ela tentava pegar um táxi em Boston, para logo mais ir a estação de trem e chegar a bendita cidadezinha.

Assim que ela se pôs dentro do veículo tipicamente amarelo, reparou nos olhos curiosos do motorista para com seu rosto cheio de tonalidades e em seu modo atípico de se vestir, logo uma risadinha que ela reconheceu como sendo um pouco mexicana a questionou então, cheio de sotaque em um inglês comum de Latinos, para onde queria ir. Não se passaram mais de quarenta minutos e lá estava ela embarcando no transporte que, querendo ou não, era peculiarmente belo.

Não era como imaginava, aquele meio de transporte antigo e clássico, como o de Harry Potter, era semelhante a um vagão de metrô, cinza. Era a primeira vez que viajava de trem... E estava sozinha. Deprimente. Completamente deprimente.

Estabeleceu-se facilmente numa das poltronas aveludadas vermelhas, isso, de fato, era empolgante, ela se imaginava partindo e deixando o amor de sua vida para trás. Se imaginava indo e voltando. Imaginava um romance repleto de dramas, algo meio mexicano e com bastantes intrigas. Tal como é sua vida.

Seus pensamentos foram logo rompidos pelo andamento do trem, que já deixava a plataforma e diversas personalidades chorando para trás. Alex nem se importava. A dor dos outros não a importava.

Deixou suas costas caírem pelo estofado carmesim ao mesmo tempo em que, assustada, viu a poltrona a sua frente ser ocupada por um homem que parecia ter o dobro de seu tamanho, barbudo e com óculos quadrados arranhados que não se ajustavam ao rosto levemente oval do homem, caindo sempre por seu nariz. Carregava uma maleta marrom de couro, suas roupas eram o tradicional terno preto simples e camiseta branca social, além da gravata azul, ele era como um gerente de banco, embora suas vestes estivessem totalmente despassadas. Calvo, com uma barba rala e falha castanha. Se não parecesse tão desleixado pareceria medonho. Completamente. Completamente. Completamente.

Alex não gostou de notar, mas havia em cada detalhe do homem um rastro misterioso que ela associou a serial killers, aqueles homens desnaturados e sem emoções que ela via cometer crimes naquelas séries viciantes do ID - Investigation Discovery -, como se o intruso lhe fosse ser uma ameaça e devesse manter sempre um pé atrás.

– Boa tarde. - disse baixo. A voz era rouca e velha. Quantos anos ela estava lhe dando... Algo entre quarenta e cinco e cinquenta e cinco anos. Não era como se Alex fosse boa em adivinhar a idade das pessoas. Costumava errar feiamente. Um vez, apostou com Adam a idade de sua antiga professora de biologia. A mulher era definitivamente uma velhota, usava roupas que deveriam ter sido compradas num brechó e bom, as verrugas e "puxadinhos" ao lado de seus olhos e lábios, mostravam bastante que a mulher não podia ter menos de sessenta anos, pelo menos era isso que Alexandria pensava. Até que ela tão ousadamente, interrompeu a explicação sobre o Reino Monera e perguntou: "Quantos anos a senhora tem?" Recendo logo a resposta, que causou choque total. "45".

– Boa tarde. - respondeu sem dar muita atenção, pouco depois fitou a janela, reparando a imagem se tornar puramente vegetação.

Seus olhos aos poucos iam querendo fechar e sem mais delongas ela permitiu que eles a levassem ao mundo dos sonhos. Ou talvez dos pesadelos.

Acordou num estrondo, soando, com a pele mais fria do que deveria estar, principalmente pelo fato de se encontrar trajando seu casaco clássico, sua marca registrada desde que iniciara o Ensino Médio. Não havia sinal de iluminação dentro do trem, e, por mais incrível que pareça, seu querido companheiro assustador não se encontrava ali.

O vapor cobria as janelas que apresentavam um céu em sua falta de lua. Sem estrelas. Completamente, absurdamente, terrivelmente sem vida. Sem luz. Sem gentileza.

Ela não se atreveu a sair do recinto. Procurou no bolso do casaco seu telefone, um Nokia Lumia dos mais recentes.

Sem sinal...

Horas: 18:38.

Mensagens: Nenhuma.

Ligações: 5 perdidas.

Suspirou visivelmente incomodada. Por que não teriam chegado ainda na maldita da cidade? Pelos seus cálculos deveriam ter chegado lá as cinco e meia.

Um estrondo se fez. E tudo que se seguiu foi um ruidoso silêncio que lhe cortava os ouvidos. Era agudo e inquietante.

Com a lanterna do celular ligada, Alex se esgueirou para fora de seu assento, como uma ladra.

O corredor principal estava apagado, todos dormiam e um cheiro intenso de musgo vagava pelo ar.

Seus lábios secos procuraram por saliva, seus olhos por luz e seus ouvidos por alguma presença ali dentro.

Continuou seguindo em frente rumo a área onde antigamente ficaria um maquinista. Foi quando algo forte cobriu sua visão. Não era luz. Era uma camada gosmenta do que, pelo odor parecia ser... Sangue. Sangue grosso e coagulado. Sangue que descia por seus lábios e manchava suas roupas.

A sua frente ela apenas via borrões e ao canto, uma presença. Uma coisa que se movimentava vagarosamente e que aos poucos se serpenteou por seu corpo até chegar ao seu ouvido.

– Pronta para brincar, boneca?

Olhos arregalados. E nojo. Ela bateu em si por todo o lugar até espantar o que quer que fosse. Saiu correndo de volta a sua banco.

Jogou-se no estofado gasto de veludo. A sua frente encontrou o homem que, a encarando fixamente apontou para a janela, que agora, aberta, forçava a ventania gélida e úmida contra seu corpo em estado hiperativo. Tudo que pôde fazer foi seguir o olhar dele, onde surgiu uma corda, um machado e por fim, uma alavanca.

Riu-se o homem, chamando-lhe a atenção. E no segundo seguinte sentiu sua garganta ser cortada.

Em alarde os olhos verdes se abriram do mais insano e medronho e assustador pesadelo que já tivera em toda a sua vida.

Anunciou-se então a chegada a Eastwood.


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Notas finais do capítulo

E aí? Hihihi, alguma opinião? Tuts tuts tuts... Eu queroooo hahah.
Kisses *-* e até a próxima.



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