A Dream Twice escrita por laurakr


Capítulo 9
Capítulo 9


Notas iniciais do capítulo

Bem gente, devido a sugestão da Mariajulia_09 decidi que em cada capítulo tentaria colocar uma música tema. É meio difícil saber se vou conseguir encontrar uma que combine com os próximos mas vou tentar.
Mesmo porque, eu meio que tenho uma música "tema" para a história, que pretendo mencionar em breve
Enfim, vamos lá! A música que eu indico pra esse capítulo é
Until Tomorrow ou Breathe - Paramore. Espero que gostem =D



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Eu corri. Corri, porque senti que se não o fizesse, talvez ficasse presa nesse pesadelo para sempre. Precisava de um lugar para ficar sozinha, e precisava de um lugar onde pudesse me lembrar de Tony.

 

 

  Se eu me afundar...

Em todas as nossas lembranças...

O sentirei por perto novamente?

 

 

 

Diminui o passo conforme me aproximava da sala sete. Costumávamos nos encontrar aqui depois das aulas... Tony, Annie, Lucas e eu.

 

- Ei, o que acham de montarmos uma chapa para o grêmio?

 

- Ããã? Nem pensar... Porque isso agora Tony?

 

- A cada dia ele aparece com alguma idéia maluca... Quem é que votaria na gente? Além do mais, quem seria o presidente da chapa?

 

- Eu é claro! E ainda por cima teremos uma sala só para nós!

 

- Sabia que tinha alguma coisa por trás disso.

 

- Eu não sei sobre a Annie e o Lucas, mas eu me recuso a participar disso.

 

- Ahahaha não tem como recusar, porque eu já nos inscrevi.

 

- Seu idiota!

 

- Lucas! E você? Porque não impediu uma coisa dessas?

 

- Porque parece ser divertido...

 

E não é que ganhamos a eleição? Nossa chapa foi eleita por três anos consecutivos, e a sala que “ganhamos” era essa. Coloquei uma das mãos sobre a maçaneta da porta... Mas não tinha coragem para abri-la. Deveria enfrentar o fato de que o lugar onde uma vez ecoaram tantos de nossos risos, agora não passa de uma sala abandonada?

Fechei os olhos, antes de adentrar o local, e quando os abri... Uma estranha onda de melancolia passou por mim. Escuro... Carteiras velhas e quebradas e estantes de livros não-utilizados, além de bastante poeira. Silencioso demais... Vazio demais... Então, esse era o nosso futuro? Eu não podia nem imaginar... Naquela época...

Fechei a porta atrás de mim e caminhei lentamente pela sala, procurando qualquer vestígio de que algum dia estivera realmente ali. Não encontrei. Estava me desgastando demais.

Deixei-me cair sobre o chão, não faz nem um mês que voltei á essa cidade e já sinto como se tivesse se passado dez anos. Me deitei no centro da sala e fiquei olhando para o teto.

 

- Ei, Tony... Será que tudo isso não passou mesmo de um sonho?

 

E então, todos os sentimentos e emoções das quais estive tentando escapar durante esses dois anos... Vieram à tona... De uma só vez.

 

- Não é justo! Isso... Não é nada justo! Deus... Porque me fez conhecer pessoas tão maravilhosas e me deu tanta felicidade para tirá-las depois? Porque... Me fez conhecer todas essas coisas... Se ia roubá-las de mim logo em seguida? Era eu! Eu quem deveria ter sentado na janela aquele dia! Porque não insisti mais um pouco? Porque ele não trocou de lugar comigo... Somente daquela vez? Ele era tão feliz... Tão querido por todos... Que com certeza conseguiria seguir em frente sem me ter ao seu lado... Mas eu não. Eu não consigo sem ele... Por mais que me faça de forte... Eu não agüento ver que cada vez mais ele desaparece da minha vida... Não quero que ele se torne apenas uma lembrança! Eu preciso dele... Preciso muito... Que ele sorria para mim e diga que vai estar sempre ao meu lado... Então porque hein? Porque não me levou no lugar dele? Em um mundo onde ele não existe... Eu não quero mais viver!

 

Era como se fosse sufocar, se não dissesse isso. Estava tão absorta em tristeza que não havia percebido as lágrimas que caíam incessantemente.

 

- Porque Deus... Com tantas pessoas nesse mundo... Você escolheu levar... Justo ele? Porque... Escolheu levar... O meu mundo de mim? Ele se foi assim... Tão repentinamente... E não pude nem sequer me despedir... Será que fui boa o suficiente? Será que consegui demonstrar o quanto ele era importante para mim? Será que ele sabia... Que eu seria capaz de dar a minha vida por ele? Eu gostaria... De ter dito mais vezes que o amava. Gostaria de ter dito isso... A cada segundo, e não importa se ele me achasse uma idiota grudenta, porque ainda não seria o bastante para expressar o quanto ele significava para mim.

Gostaria de poder voltar no tempo e fazer o mundo parar de girar a cada instante em que seus lábios tocassem os meus. Será que assim... Eu nunca me esqueceria... Da sensação de tê-lo por perto?

 

Então as palavras simplesmente morreram na minha boca, e depois disso eu não consegui fazer nada que não fosse chorar. Talvez fosse melhor fazer isso mesmo. Talvez fosse melhor soltar todas essas lágrimas e palavras para que me livrasse dessa dor insuportável no meu peito. Eu fiquei assim... Durante um bom tempo. A dor ainda permanecia, assim como a vontade de chorar, mas as lágrimas não caíam mais. Talvez... Tivessem secado, de tantas que derramei. Quando abri os olhos – era difícil enxergar, devido ao tempo que passara chorando – por alguns instantes apenas fitei a lousa a minha frente. Estava sempre cheia com os desenhos da Annie já que ela desenhava extremamente bem. Aquele... Era o nosso poço de lembranças, e eu havia mergulhado nele de cabeça, sem mesmo pensar em um modo de sair de lá sem que me afogasse. O que eu esperava que acontecesse, ficando ali deitada daquele jeito? Era como se uma pedra de mármore estivesse sobre mim agora, e eu não sentia a mínima vontade de levantar. Mas não poderia permanecer ali para sempre, embora quisesse muito fazer isso. Levantei-me aos poucos e caminhei até a lousa, notei que havia um pedaço de giz ali, então uma idéia idiota se formou na minha cabeça. O peguei e comecei a escrever.

 

 

Ei Tony... Eu sinto sua falta.

 

 

As lágrimas tornaram a cair.

 

- Então vocês não secaram...

 

Minha mão cedeu, derrotada. Porque estava fazendo algo tão estúpido como isso? Coloquei o giz onde estava e caminhei até a porta. Parei novamente. Agora, por medo de enfrentar a realidade que me esperava fora daquela sala. Estiquei uma das mãos e girei a maçaneta, para a minha surpresa havia alguém me esperando.

 

- M-Me desculpe... Eu ia bater, mas...

 

Annie... O que estava fazendo ali? Fiquei muda com a situação.

 

- Você está bem?

 

Ela parecia muito preocupada, então me dei conta de que deveria estar com uma aparência horrível depois de ter chorado tanto. Não consegui formular uma resposta e permaneci em silêncio, mas ela me segurou pela mão e me puxou. Saímos da escola e ela continuou me guiando, não fazia idéia de onde estávamos indo, eu tinha começado a chorar novamente. Será que não vou parar nunca? Que péssima amiga... Eu sou para ela. Concordando com o Lucas e a deixando se esquecer de nós. E agora... Fiz isso de novo. Ela se apaixonou por ele e foi rejeitada. O que eu fiz por ela? Ao invés de ajudá-la, é ela quem está aqui se preocupando comigo. Sempre foi assim. Ela sempre me protegeu. E eu... Nunca fiz nada para retribuir.

 

- Annie... Fiquei sabendo do Lucas...

 

- Não é hora de se preocupar com isso, sabe...

 

Então eu pude ver a onde estávamos indo. Ela estava me levando para sua casa.

 

- Vamos, entre... Minha mãe vai adorar te conhecer!

 

A mãe de Annie... Qual seria sua reação ao me ver, ainda mais nesse estado?

 

- Annie querida, quem está aí com você?

 

Veio apressada para ver quem havia chegado, e quando me viu, pareceu bastante confusa. Eu... Tinha vontade de abraçá-la. Ela era como uma mãe pra mim. Toda vez que me metia em confusão ou estava triste, era pra cá que eu vinha.

 

- O-Olá... Meu nome é Kate... Desculpe por incomodá-la...

 

- É mãe, a Kate não está se sentindo muito bem como pode ver, então eu a trouxe pra cá.

 

Julie ficou estática e estava um pouco pálida, devido á situação,  mas pareceu feliz em me ver.

 

- Ah... Claro, claro! Bem... Seja bem vinda á nossa casa e não repare na bagunça... Você está chorando? Oh meu Deus, Annie porque não a deixa tomar um banho enquanto preparo algo para comerem?

 

- Ok, vem comigo Kate!

 

Annie me levou em direção ao quarto. Era uma sensação familiar... A de estar ali. Era como se me sentisse em casa novamente. Poucas coisas haviam mudado, e ao entrar no quarto de Annie, uma sensação de alegria se apossou de mim. As duas camas de solteiro... Ainda estavam lá. Foi bom saber... Que não havia saído completamente da vida delas, mesmo que Annie não soubesse disso. Eu a conheci... Na quinta série. Tinha acabado de me transferir – estava sempre me mudando devido ao emprego de meus pais – e era o primeiro dia de aula, me sentia completamente perdida e sozinha. Estava andando pela escola, apenas admirando e tentando me acostumar com tudo quando acabei trombando com um garoto loiro, um pouco mais alto do que eu. Estava acompanhado de mais seis meninos e Lucas era um deles. Minhas coisas, assim como as do garoto, haviam caído e acabaram se misturando todas pelo chão. Ele pareceu extremamente bravo com isso e embora fosse muito bonito, me dava medo. Os que o acompanhavam, fizeram uma roda em volta de mim, e ele disse em um tom de voz bastante irritado:

 

- Olha só o que você fez... Como vai se responsabilizar por isso?

 

Eu estava quase chorando de medo e ele parecia se divertir muito com as minhas reações.

 

- M-Mas... Foi sem querer...

 

- Você está querendo dizer que a culpa foi minha? – se aproximou consideravelmente ao dizer isso.

 

Não tinha para onde fugir e pensei que fosse me bater ou coisa do tipo. Estava quase gritando de medo, quando Annie apareceu, bastante irritada com a cena.

 

- Campdell! O que você pensa que está fazendo com essa menina?

 

A primeira vez que a vi... A confundi com um garoto. Seus cabelos eram curtos e escuros, também usava um par de tênis da cor verde. Sem contar que dos seis meninos, quatro deles saíram correndo depois de vê-la se aproximar daquela maneira. Embora estivesse me defendendo, ela havia me assustado mais do que os garotos. O loiro sorriu ao vê-la daquele jeito – ele tinha um sorriso muito encantador – e disse com uma voz despreocupada:

 

- Ahahahaha... Annie você é assustadora! Mas não precisa se preocupar, não estava fazendo nada demais, apenas brincando com ela!

 

- Você não passa de um idiota isso sim! E não se aproxime dessa menina novamente, entendeu?

 

Ele levantou as duas mãos para o alto, em um ato de rendição, enquanto o outro garoto se agachou e começou a recolher minhas coisas do chão. Depois de juntá-las, se aproximou e as entregou para mim.

 

- Obrigada...! – eu disse envergonhada, porém verdadeiramente agradecida.

 

Ele se virou para Annie e pediu desculpas pela atitude de Tony, e então, ela corou fortemente.

 

- T-Tudo bem! Pelo menos um de vocês tem alguma coisa na cabeça! Vamos menina!

 

Me puxou pelo braço, tirando-me dali. Embora estivesse realmente grata por ter sido salva, não pude deixar de olhar para trás enquanto íamos embora... Quem era aquele garoto? Eu pude ouvir um pouco da conversa dos dois conforme me afastava, antes de quase tropeçar e cair por não prestar atenção a onde estava pisando.

 

- Huuuuuum, Lucas hein....

 

- Cala a boca Tony.

 

O moreno corara, e pareceu muito irritado com o comentário, pois antes de sair, pisou em todas as coisas que ainda estavam caídas no chão, deixando para trás um loiro gritando com voz de manha:

 

- Ei! Não vai pegar as minhas coisas também? Ei, Lucas! Me espera!

 

Depois disso eu e Annie nos tornamos melhores amigas. Eu sempre me metia em encrencas – na maioria delas, Tony estava envolvido – e ela sempre me salvava. Estava extremamente feliz em tê-la por perto, já que nunca tivera amigos de verdade antes, eu sempre ficava isolada nas outras escolas. Nos tornamos tão próximas, que vivia mais na casa dela do que na minha, dormia aqui todo fim de semana, e quando terminávamos as reuniões do grêmio – isso, na sexta série, que foi quando nos elegemos – eu vinha direto pra cá e só ia embora quando anoitecia. Não gostava de ficar em casa porque meus pais trabalhavam o dia todo, e eu estava sempre sozinha. Um dia, quando cheguei aqui, Julie havia comprado uma cama de solteiro para mim e a colocara no quarto de Annie. Embora tenha ficado muito envergonhada por isso, não pude deixar de me sentir extremamente feliz, afinal, eu as considerava como minha família.

 

- Bem Kate, você pode usar o meu banheiro e eu te empresto uma roupa também, a sua está toda suja... Deitou no chão ou coisa do tipo?

 

Eu achei graça e sorri. É um sentimento reconfortante, estar aqui novamente.

 

- Obrigado Annie... E me desculpe...

 

- Imagina... Não tem nada que se desculpar! E vai tomar o seu banho logo, vai!

 

E assim o fiz. Estava bem mais calma agora, e estava me sentindo bem melhor também. Eu estava precisando muito disso... Um banho, comida... E uma família. Após me banhar, Annie decidiu fazer o mesmo, então eu fui para a cozinha conversar com Julie. Me aproximei um pouco hesitante, não saberia o que falar... Ela provavelmente ainda se sentia culpada pelo acidente, só porque estava dirigindo. Mas ninguém nunca a culpou de nada, nunca pensamos dessa maneira e mesmo assim, quando acordei, ela veio se desculpar, dizendo que havia tirado a pessoa mais importante de mim. Como ela podia pensar em uma coisa dessas? Ela se aproximou e me abraçou, e eu a abracei de volta. Agora sim, me sentia completamente em casa.

 

- Quanto tempo... Como você está ? Quase me mata de saudades, sabia?

 

- Me desculpe...

 

Me apertava cada vez mais naquele abraço, até que me afastou, as duas mãos nos ombros, parecia ter se lembrado de algo.

 

- Mas... O que está fazendo aqui? A Annie se lembrou de alguma coisa... ?

 

- Bem...

 

E então eu contei... Tudo que havia acontecido nas últimas semanas.

 

- Sabe... É meio que... Triste. Gêmeo? Quem diria...

 

- Pois é...

 

- Mas querida, você não gosta nem um pouquinho dele?

 

- Sinceramente... Eu não sei. Gosto muito de tê-lo por perto, e desde que ele apareceu e começou a me seguir desse jeito... Eu não tenho mais me sentido tão sozinha. Mas... Tenho medo de que meus olhos estejam me enganando...

 

- Acho que posso te entender um pouco. Mas sabe Kate, você não pode se punir dessa maneira. Não pode afastar tudo que te traz felicidade, apenas porque o Tony não está mais aqui. Não há problema nenhum em ser feliz sem ele... Você sabe que ele concordaria com isso mais do que ninguém, ele odiava te ver triste.

 

- Não é isso... Não é por isso que me afasto...

 

Na verdade... Não é somente por isso. Mas não poderia dizer que ela estava certa, só traria mais preocupação.

 

- É porque então?

 

- Acho que... Por medo. Tenho medo de que se for feliz novamente, eu tenha que ver essa felicidade escapar por entre meus dedos, enquanto não sou capaz de fazer nada para segurá-la.

 

- Você sabe que não é assim.

 

- Eu não sei de mais nada.

 

Ela acariciou meus cabelos tristemente, e voltou ao que estava fazendo antes da minha chegada. Conversamos sobre mais algumas coisas até que Annie se juntasse a nós. Passamos a tarde toda juntas, jogando vídeo-game e perdendo tempo na Internet. Nenhuma das duas queria conversar sobre o que havia acontecido, e por isso mesmo, foi uma das tardes mais divertidas que tive desde que fui embora.

 

- Ei Annie... Se importa se eu dormir aqui hoje? É que... Não quero ir pra casa.

 

- Claro que não me importo, nós podemos até mesmo alugar um filme! O que acha?

 

- Adorei a idéia.

 

- Então vou aproveitar que minha mãe foi ao mercado e ligo pra ela passar na locadora também. Que filme gostaria de assistir?

 

Talvez seja masoquismo demais... Mas só um nome me veio á cabeça nesse momento.

 

- Peter Pan... Eu estou com vontade de assistir Peter Pan.

 

- Ok, então vou ligar pra ela e já volto.

 

Depois de um tempo, a mãe de Annie chegou e pedimos uma pizza. Jantamos e conversamos um pouco – teríamos ficado ali mais tempo se não tivesse aula no outro dia – e depois subimos para o quarto.

 

 

Todas as crianças crescem...

Exceto por uma.

 

 

Sempre me perguntei o motivo pelo qual me empolgo tanto com essa frase. Eu e Annie não falamos uma só palavra durante todo o filme, e ao final do mesmo, estava chorando como uma idiota. Ela desligou a televisão mas não me perguntou nada, apenas ficamos ali, paradas, sem sair da posição em que estávamos.

 

- Sabe Annie – eu cortara o silencio – talvez nessa vida... Algumas coisas sejam realmente inevitáveis.

 

- Está falando isso por causa do filme?

 

- Não, eu estou falando isso por mim mesma.

 

- Talvez esteja certa...

 

Ela pareceu deprimida com o meu comentário e isso me cortou o coração. Além de não ajudá-la vou fazer com que se sinta pior?

 

- O que você vai fazer sobre o Lucas? Vai desistir dele?

 

- Eu não sei...

 

- Você não deve desistir.

 

- Sabe... Eu planejava dizer a ele que estaria sempre por perto, apesar de tudo. Mas ele não foi á escola hoje. Me pergunto... Se isso não foi um aviso...

 

- Não se preocupe com isso. Se ele não foi hoje, você fala amanhã.

 

O silencio predominou por mais algum tempo.

 

- Kate, você se importaria em me responder algumas coisas... Sobre ele?

 

- O que quer saber?

 

- A garota que o Lucas perdeu, era a mesma que estava em estado grave no hospital, quando o conheci?

 

- Não Annie... Aquela... Era eu.

 

- Você?!

 

- Sim.

 

- Então... Também conheceu o menino que faleceu?

 

- Ele era meu namorado.

 

Ela havia ficado perplexa e me perguntei se não havia se lembrado de algo, devido ao fato de estar revelando todas essas coisas, mas ... Não pareceu ser o caso. Quem sabe, se ela se lembrasse de tudo... Talvez as coisas ficassem bem mais fáceis.

 

- Sinto muito Kate... Eu nem poderia imaginar...

 

- Tudo bem.

 

O silencio novamente.

 

- Então era disso que estava falando. Sobre algumas coisas serem inevitáveis?

 

- É... Mas, você tem sorte.

 

- Eu? Porque?

 

- A pessoa que você quer, está bem aí na sua frente... Só depende de você, ir pegá-la ou não. É por isso, que mesmo que o Lucas te rejeite, você não pode desistir, você deve lutar por ele.

 

- Mesmo assim... É muito difícil...

 

- Você precisa ser forte.

 

- Sabe... Obrigado... Por hoje.

 

Annie era mesmo, uma garota estranha. Ela foi a única que se preocupou comigo e até me trouxe para sua casa. Uma “desconhecida” como eu. Não perguntou em nenhum momento, o que eu estava fazendo naquela sala velha, chorando que nem retardada. E embora não sabia o porque de ela ter ido até lá, estou eternamente agradecida por tê-lo feito. Ela fez... Tudo isso... E me salvou mais uma vez. Enquanto eu não fiz nada que não fosse se lamentar. Era eu, a que deveria estar agradecendo.

 

- Eu é que tenho que te agradecer, por tudo.

 

Ao contrário do que aconteceria, eu dormi feito uma pedra naquela noite, e não tive qualquer tipo de sonho ruim. No outro dia, tomamos café e fizemos toda aquela rotina, necessária para irmos a escola. Ao chegarmos, entramos juntas, o que provocou muitos olhares curiosos dos demais estudantes. Annie era bastante popular, afinal.

 

- Bem Kate... Me deseje sorte!

 

- Você não precisa, vai dar tudo certo.

 

- Espero que sim. Bem, boa aula então, te vejo mais tarde!

 

- Ok.

 

Depois que ela saiu, comecei a andar em direção á minha sala. O que eu faria agora? Como encararia Leonard depois do que havia acontecido? E ele... Agiria normalmente? Mil perguntas começaram a se formar na minha cabeça. Porque estou tão nervosa? Enquanto me perdia em pensamentos, uma cena bastante familiar me fez acordar e sair daquele transe. No corredor, em frente á nossa sala, estava ele... Agarrado com aquela mesma menina da festa. Toda e qualquer repulsa que eu sentira de mim mesma no dia anterior havia desaparecido por completo.

 

 

                                 Em pensar que me senti culpada por usá-lo.

 

 

Não passa de um completo idiota que só pensa em si mesmo, como ele ousa me beijar daquele jeito e no dia seguinte se agarra com a primeira que aparece para a escola toda ver?

 

- O que é isso? Parece que vai engoli-la – disse a mim mesma. 

 

Minha vontade era de empurrá-los pela janela em que estavam encostados. Dois coelhos com uma cajadada só. O mundo ficaria bem melhor sem eles.

 

 

                                          Meu Deus... O que estou dizendo?

 

 

Eu havia caído em caos. Era como se vozes se espalhassem por minha cabeça, me criticando, me censurando e até mesmo me atiçando. Parecia que conseguia até ver o anjo e o demônio a cada lado dos meus ombros, tentando me influenciar a tomar uma decisão. Estava ficando louca ou que? Me apressei em entrar na sala e logo alcancei meu lugar, mas havia outra pessoa sentada na carteira da frente.

 

- Leonard me pediu que trocasse de lugar com ele... Você não se incomoda não é?

 

- Nem um pouco.

 

 

Porque senti tanto gosto em dizer aquilo,

Se na verdade eu estava extremamente incomodada?

 

 

Leonard entrou, e se sentou na primeira carteira do outro lado da sala. A professora pareceu orgulhosa com essa atitude, então comentou:

 

- Olha só, mas que progresso... Finalmente decidiu prestar mais atenção aos estudos?

 

- Pois é... Decidi dar mais atenção ao que realmente importa.

 

Porque aquilo me pareceu uma indireta? Aliás, porque estava me irritando tanto com tudo isso? Porque estava me sentindo tão... Sozinha?

 

 

   Eu... Não... Quero...

Que se aproxime de mim novamente Leonard!

                                                Não te quero por perto!

 

 

Lembro-me muito bem do que havia dito, e Leonard estava sendo totalmente coerente em seguir minhas “ordens”.

 

 

Não se preocupe.

Eu nunca mais chegarei perto de você novamente. 

 

 

Ele estava cumprindo sua palavra, apenas isso. E embora tenha plena consciência de que era o certo a se fazer, as três aulas que se seguiram, foram extremamente chatas e entediantes sem tê-lo por perto. Quando bateu o sinal, pude ver a menina entrando na sala e se agarrando com ele novamente. Era desconfortável ver aquilo. Me levantei e saí, geralmente iria para a sala de Lucas, mas estava com receio de atrapalhar alguma coisa entre ele e Annie.

 

- Onde poderia ficar sem ser incomodada por ninguém...?

 

E ali estava eu novamente, parada em frente á sala sete. Já mencionei que sou um pouco masoquista? Abri a porta lentamente e acendi as luzes, não queria o escuro, não dessa vez. Comecei a olhar em volta, até que me assustei ao fitar a lousa.

 

- M-Mas... O que é isso?

 

Havia ficado em choque por um momento. Sem saber o que pensar, sem saber o que sentir. Congelada em frente á lousa velha. Bem no centro dela... Eu podia ver claramente. Escritas com giz... Aquelas palavras, perturbadoras.

 

 

Desculpe-me por não poder fazer nada quanto á isso

 Mas eu também... Sinto sua falta.

 

 

Por um momento desejei... Que o Tony tivesse mesmo escrito aquilo. Mas eu sabia que era impossível. Me aproximei e notei um apagador. O peguei e o passei por cima das palavras que me atormentavam. Após fazer isso, segurei o giz com uma de minhas mãos trêmulas, e embora soubesse o quão idiota era aquilo, eu comecei a escrever:

 

 

Eu sei que você não é o Tony.

Quem é você?

 

 

Depois de fazê-lo, devolvi o giz ao seu lugar e saí apressada. Era bizarro demais. Quando cheguei na sala, os alunos pareciam mais agitados do que o comum, mas não consegui descobrir o motivo disso já que não conversava com ninguém. Assim como as aulas anteriores, ás duas ultimas se passaram agonizantemente, já que além de estar sozinha, não parava de pensar no que havia acontecido durante o intervalo. Quando o sinal da saída tocou, estava tão aliviada em ir embora, que fui a primeira a sair. Tinha prometido a Annie que a esperaria, para que me contasse como haviam sido as coisas. Mas ao passar em frente á sua sala, pude ver que estava sozinha com o Lucas, e resolvi não atrapalhar. Passei reto e quando dei por mim, já seguia em direção á sala sete. Talvez fosse melhor apagar aquela pergunta idiota. Acendi as luzes imediatamente ao entrar, tinha medo de sofrer outra “recaída”. Quando fitei a lousa novamente, pude ver, no local onde outrora estivera minha pergunta sem sentido, palavras tão perturbadoras quanto ás da primeira vez:

 

 

    Quem disse que não sou?

     Eu posso ser o que você quiser.

 

- O que exatamente... Está acontecendo aqui?

 

 

 


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Notas finais do capítulo

Nesse capítulo eu quis falar mais sobre os sentimentos da Kate em relação ao Tony, e também sobre a amizade dela com Annie. Porque embora ela tenha concordado com o Lucas - o que a fez parecer meio que insensível - ela preza muito essa amizade. Também escrevi um pouco sobre o primeiro encontro dela com o Tony, eu gosto bastante da história dos dois, e só não revelei mais coisas ainda, porque se eu conseguir terminar essa história eu meio que planejo contar em detalhes - com uma outra história - como foi que eles se apaixonaram e acabaram namorando ( isso inclui a Annie e o Lucas também) mas como ainda não tenho certeza de que vou fazer isso, eu vou contando as coisas aos poucos.
Espero que tenham gostado do capítulo e da música, e aah me indiquem as músicas que vocês acham que combinam com a história ou com algum deles, eu adoro esse tipo de coisa! =D