Memoirs escrita por Xokiihs


Capítulo 1
Capítulo I


Notas iniciais do capítulo

"aspas" - passado
sem aspas- presente

Boa leitura :)



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Memoirs

~

Era uma tarde ensolarada quando me ligaram do hospital, dizendo que minha esposa desejava falar comigo. Como sempre, quando era algo relacionado a Sakura, larguei tudo o que estava fazendo e fui às pressas até lá.

Meu coração batia forte no peito, ao imaginar que o momento o qual eu mais temia, tinha chegado. Minhas mãos tremiam, enquanto eu tentava me controlar, para não fazer a besteira de bater com o carro e causar um acidente.

Mal estacionei, passei pela recepção, gritando o meu nome de qualquer forma enquanto corria pelos corredores tão bem conhecidos; aquele lugar era praticamente minha segunda casa.

Quando, por fim, cheguei ao corredor onde o quarto de minha esposa ficava, suspirei aliviado por não ver nenhum médico prostrado ali, me esperando para dar más notícias. Ainda assim, não diminuía meu nervosismo.

Parei em frente a porta, tentando ouvir qualquer coisa que vinha de dentro do quarto. Apenas ouvi barulhos de tosses, o que era comum em um hospital.

Sem hesitar, abri a porta.

O quarto era tão grande quanto um quarto de hospital poderia ser; suas paredes, ao contrário do resto dos leitos, eram de cor marfim, e tinham os quadros preferidos de minha esposa espalhados, todos colocados por ela. As janelas, com direito a uma sacada, estavam abertas, deixando o vento quente de verão entrar, apesar de o ar condicionado ainda estar ligado. Em uma das paredes, a do lado oposto a cama, tinha uma grande tv de LCD, providenciada por mim, já que Sakura adorava assistir programas de culinária. E, finalmente, a maca, onde ela estava sentada, enquanto lia um livro.

Percorri os olhos por sua face e corpo, tentando encontrar algo de errado, embora tudo estivesse da mesma forma. A única coisa diferente que vi nela foi a falta do lenço, o qual sempre usava sobre a cabeça, para esconder a falta de cabelos. Seu rosto estava pálido, tinha pesadas olheiras sob os olhos incrivelmente verdes, que agora me encaravam. O corpo, magro e parcialmente desnutrido, tinha as mesmas manchas roxas espalhadas por braços e pernas, mas ao invés de usar o pijama cor-de-rosa, usava um vestido florido, presente meu.

– Olá, querido. – sua voz estava fraca, mas era como música para os meus ouvidos. Suspirei aliviado ao vê-la sorrindo em minha direção, e me apressei para ficar ao seu lado.

– Olá, princesa. – sorriu ainda mais com o apelido carinhoso; dei-lhe um beijo nos lábios ressecados. – Como está?

– Ah, estou incrivelmente bem. – seus olhos brilharam, como a muito não faziam. – E você? Parece cansado... está se alimentando direito?

Eu quase ri com sua preocupação; mas suprimi e apenas sorri, dando de ombros.

– Na medida do possível. – ela me lançou um olhar bravo, balançando a cabeça.

– Sasuke! Tem que se cuidar! Não poderei tomar conta de você para sempre. – engoli em seco, e ela pareceu perceber o que disse.

Era assim conosco, sempre nos precavíamos sobre o que falar, e, bem, aquele tipo de assunto era um tabu. Há muito tempo não pensávamos na possibilidade do “viveram felizes para sempre”. E aquilo não era bom, de forma alguma. Mas era a realidade.

– Esqueça isso, querida. – peguei uma cadeira e me sentei ao lado de sua maca. – O que está lendo?

– Ah! Orgulho e Preconceito. Sabe que eu sempre quis ler esse livro... foi o único da Jane Austen ao qual eu não li. – deu de ombros, sorrindo logo depois.

Mas eu não sorri. A autora preferida de Sakura era a inglesa Jane Austen, e ela era completamente fascinada por ela e sua escrita “magnifica”. Tinha todos os livros, começara a ler ainda na adolescência, mas nunca tinha lido um dos mais famosos da autora: Orgulho e Preconceito. Dizia que aquele seria o livro que leria antes de morrer.

E aquela não era a hora para ela ler aquilo, definitivamente.

– Sabe, agora me arrependo de não ter lido antes. – soltou uma risada, encarando a capa dura e vermelha do livro. – Já comecei a ler umas três vezes, pois toda vez esqueço o que li. Acho que, no fim das contas, não conseguirei termina-lo.

– Por que não tenta escrever um pequeno resumo dos capítulos? Assim poderá lembrar-se. – ela me olhou novamente, os olhos verdes brilhando.

– Essa é uma boa ideia, querido.

Ficamos em silêncio, nos encarando. Seus olhos passavam por todo o meu rosto, e estranhamente me senti mal por isso. Tinha algo neles que eu não conseguia ler; algo muito bem guardado.

– Sakura, por que me chamou aqui? – eu não queria ser mal-educado, mas estava preocupado. Afinal, tudo o que Sakura mais odiava era o fato de que eu e Sarada, nossa filha, “perdemos nosso tempo” com hospitais, palavras dela mesma. Por isso, eram raras as vezes que nos chamava – lógico que isso não me impedia de vir pelo menos cinco ou seis vezes na semana. As vezes vinha até todos os dias.

Mas ela me chamar era, no mínimo, preocupante.

Ela sorriu.

– Estava esperando me perguntar. – soltou uma risada, enquanto passava a mão na cabeça, uma mania que tinha quando estava nervosa. – Hoje acordei me sentindo bem. Abri as janelas, vi o sol nascer e o dia tomar vida. Tudo estava muito bem até que...

Se calou, olhando para a janela.

– Até que? – perguntei, não aguentando a curiosidade. Ela sorriu novamente, mas sem o mesmo brilho de antes e sem me olhar.

– Até que resolvi pensar em nossa vida. Pensei em você, em nossa filha..., no entanto, o resto está em branco. Não me lembro de nada, Sasuke. Por isso, gostaria de te pedir algo.

Assenti, me aproximando mais de si e tomando suas mãos.

– Sim?

– Pode me contar a história de quando nos conhecemos?

Fiquei surpreso por uns momentos, mas tentei disfarçar. Vendo que ela falava sério, e sentindo um peso no coração com suas palavras, engoli tudo e sorri.

Sorri porque não poderia imaginar o que ela estava passando, mesmo acompanhando de perto toda a situação; sorri por ver como ela era forte, pois se eu não me lembrasse de nada da minha vida, enlouqueceria. Porém, Sakura sempre foi melhor do que eu, em muitos quesitos.

– É claro. Do início?

– Sim, do início. – respondeu, sorrindo.

– Vamos lá então. Tudo começou quando meu vizinho, o velho Sarutobi, morreu.

“Cerca de um mês depois, uma nova família se mudou para aquela grande casa amarela. Eu não sabia o que pensar, na verdade, não me importava muito. Só fui me interessar quando minha mãe me disse que uma garotinha da minha idade tinha se mudado para lá, com sua família.

Eu era o mais novo, meu irmão era um adolescente chato e que não tinha paciência para crianças, e naquela rua só tinha gente velha. No entanto, era uma garota, e para um menino de seis anos, garotas eram chatas e bobocas. Portanto, não dei muita bola para a informação.

Em um raro dia em que meu irmão resolveu brincar comigo, estávamos jogando futebol no quintal, até que meu irmão percebeu que estávamos sendo observados. Ele olhou para a casa amarela, e lá, escondida na janela, estava uma menina. Itachi riu e a chamou para brincar, já eu fiquei irritado e reclamei.

– Itachi, garotas são chatas! – eu disse, mas Itachi apenas riu e me deu um peteleco na testa.

– Agora você acha isso, bobão. Quando crescer, vai acha-las a coisa mais interessante do mundo.

Itachi sempre tinha sido um safado sem escrúpulos, mas eu e minha mente infantil não tínhamos entendido; anos depois, eu finalmente matei a charada - e acabei concordando. Enfim, a menina aceitou sem pensar duas vezes, e logo estava ali conosco.

Me lembro muito bem dela: cabelos loiros, presos em maria-chiquinhas, olhos grandes e verdes, um sorriso banguela e roupas velhas, daquelas de ficar em casa. Eu a achei ridícula, à primeira vista. ”

Sakura riu, e não pude deixar de acompanha-la.

– Que coisa feia, senhor Uchiha. – disse, sorrindo sapeca.

– Eu achei isso mesmo, naquela época. – ri novamente, ao vê-la me lançar um olhar descrente. Porém, logo começou a rir.

– Bobo.

– Continuando...

“ Já Itachi apenas sorriu e perguntou seu nome.

– Sakura Haruno! – respondeu, com muita determinação.

Itachi nos apresentou, já que eu estava emburrado, e depois a chamou para jogar conosco, ao que ela respondeu “Sim!”, para o meu desgosto.

Itachi nos colocou em um time, enquanto ele jogava sozinho. Eu achei ridículo, já que não queria jogar com uma menina. Mas ele parecia irredutível em sua decisão, dizendo ser o mais velho e mandar em tudo, então não disse mais nada.

Começamos com a bola, ela chutou para mim e eu tentei passar por Itachi, que tomou a bola da gente e correu para fazer o gol. Eu já esperava vê-lo tirando sarro com a nossa cara, quando a menina saiu correndo e pegou a bola dele, passando para mim em seguida, para que assim eu pudesse chutar e fizesse gol.

Mas eu fiquei tão embasbacado com aquela situação, que não fiz gol nenhum. Só deixei a bola passar por mim, enquanto olhava para você, sem entender como uma menina tinha conseguido fazer aquilo, sendo que nem eu conseguia.

– Vai, Sasuke! Chuta! – acordei com os seus gritos, e chutei. Fizemos gol. E eu fiquei feliz. Pela primeira vez na minha vida, tinha conseguido fazer um gol jogando contra meu irmão.

– Isso! Uhul! – você gritou, mandando um sinal de positivo para mim. Eu sorri, vendo meu irmão rir da situação.

Ficamos jogando por todo o dia, até cansarmos. Minha mãe trouxe lanches para a gente, e te cumprimentou.

– Ah, Sakura! Que bom que está aqui! – ela disse, sorrindo para você.

– Obrigada pelo lanche, senhora Mikoto. – você respondeu, com toda a cordialidade permitida a uma criança de seis anos. Eu vi minha mãe suprimindo a vontade de lhe apertar as bochechas, enquanto Itachi ria e eu fazia uma careta.

– Como você é fofa, Sakura! – mamãe disse, e eu não podia discordar mais.

Afinal, meninas fofas não jogavam futebol.”

– Sasuke, você era um pequeno machista, hein? – Sakura disse, balançando a cabeça. Mas tinha um belo sorriso nos lábios.

– Sim. Minha família era bem tradicional. Até eu conhecer a sua, e você quebrar todos os padrões na minha vida.

– Bom saber que te salvei. – riu, e eu não podia concordar mais.

“ Depois disso, sua mãe apareceu. Ela era igual a você, com os cabelos loiros e olhos verdes.

– Boa tarde, Mikoto, Itachi. – ela cumprimentou, passando os olhos por mim. – E você deve ser o Sasuke.

Eu não respondi, afinal minha mãe tinha me ensinado a não falar com estranhos. No entanto, depois de vê-la me perfurar com os olhos, eu respondi.

– Sim. Sasuke Uchiha, prazer em te conhecer. – eu fiz o discurso automático que minha mãe tinha me ensinado. A mulher sorriu.

– Prazer, Sasuke. Sou Mebuki, a mãe dessa menininha linda ao seu lado.

– Mãe! – você gritou, ficando vermelha. Os mais velhos apenas riram, enquanto eu pensava que, se minha mãe dissesse aquilo, também ficaria morrendo de vergonha.

– Bem, parece que vocês estão se divertindo, mas infelizmente temos um aniversário para ir, e Sakura precisa se arrumar.

Você se levantou em um supetão, como se tivesse lembrado desse fato.

– Aé! O aniversário do Naruto. – respondeu, enquanto limpava as mãos no short e se levantava. – Tenho que ir. Obrigada por me deixarem jogar, Itachi e Sasuke.

– Pode vim sempre que quiser, Sakura. – Itachi disse, mas eu fiquei quieto. Você assentiu, sorrindo banguela de novo e se despedindo. Quando voltei para casa, Itachi só sabia aporrinhar minhas ideias.

– Sasuke tem uma namorada agora, não é, irmãozinho? – ele ria, enquanto eu ficava irritado.

– Eca! Meninas são chatas! – eu dizia, cruzando os braços e fazendo bico.

– Oh, ‘tá bravinho é?

– Itachi, pare de implicar com seu irmão. – meu pai brigava, mas eu sabia que ele escondia um sorriso atrás da xícara de café. Aquilo só me fez ficar com mais raiva e subir correndo para o meu quarto.”

– Naquele dia, me lembro claramente, eu tinha ficado muito irritado com a senhora. Mas, no fundo, eu pensava em brincar com você quando Itachi não pudesse.

– Ora, admita logo que se apaixonou por mim. – disse, piscando em seguida.

– Não. Isso aconteceu bem depois. Afinal, depois daquele dia, a gente acabou brincando todos os dias, e viramos amigos. Mas eu ainda tinha nojo de você.

Ela riu, balançando a cabeça.

– Como meninos são bobos!

– Ora, quem está sendo sexista agora?

– Crianças são bobas. – se corrigiu, revirando os olhos logo depois. – Pode pegar um copo d’água para mim?

Assenti, me levantando e indo em direção ao frigobar no canto do quarto. Lhe estendi o copo com água.

– Acho melhor continuarmos, não é? Tem muita história pela frente ainda... – ela riu, assentindo.

– Sim!


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Notas finais do capítulo

Olá a quem chegou até aqui!Há muito tempo tenho essa história na cabeça, e hoje, numa noite insone, resolvi escrever o primeiro capítulo. Já sei o inicio, meio e fim, portanto penso que não demorarei a postar, nem a largarei pelas metades.Como já avisado, é uma fic dramática, com um quê de realidade, então se não gosta de ver seus personagens favoritos sofrerem, não leia. Aos que tiveram coragem, o meu mais sincero obrigada, e até o próximo.Bjs.Xokiihs



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