O outro lado da moeda : Skye escrita por Blake


Capítulo 4
Capítulo 4




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Bem que tentou acompanhar Fitz-Simmons em suas ideias mirabolantes do que viria a ser o tal 0-8-4, mas quando eles mencionaram as palavras “alien e radiação gama”, decidiu que já havia ouvido demais. Tinha uma breve noção que a viagem até o Brasil demoraria mais algumas horas e achou o momento mais do que adequado para terminar aquele livro que mantinha na cabeceira do seu sofá-cama há longos meses. Distraia-se em sua leitura de modo despreocupado enquanto tomava boa parte do sofá, já que resolvera deitar-se sobre o mesmo, quando Coulson sentou-se ali perto.

– A menina que roubava livros ?! – ele questionou num ar incerto, acomodando-se numa poltrona a poucos metros da garota.

– Nem começa, até recentemente não fazia ideia do que era holocausto – retrucou, mas seu tom não era bravo – Aparentemente aprender sobre a história da humanidade não é uma grande prioridade para eles – finalizou sem tirar os olhos do livro.

Apesar da cara de estranheza de Coulson ter permanecido por mais alguns instantes, ele não estava particularmente interessado no gosto literário de Skye - Sabe o que fiquei revirando na minha mente a noite inteira ? – ele questionou, embora não fosse realmente uma pergunta já que ele próprio possuía a resposta.

– Hm – murmurou desinteressadamente.

– Como você conseguiu escapar ? – indagou, encarando-a num misto de desconfiança e interesse.

Skye, pela primeira desde que aquela conversa havia começado, tirou os olhos das páginas do livro, voltando-os até os azuis brilhantes de Coulson – Eu forjei minha morte – respondeu simplesmente sem ater-se aos detalhes.

– Como ? – Coulson não iria se dar por convencido tão facilmente, não dessa vez pelo menos.

– Guerra. Eu estava em um país em guerra, gente morre com essas merdas – respondeu calmamente – Eles queimam os mortos ... Muita gente para enterrar. Eu retirei meu chip, o que foi particularmente doloroso – revelou num ar infantil - E tive certeza que ele estaria entre a pilha de mortos – terminou sua epopeia e encarou Coulson, percebendo que ele havia se convencido com a história.

– Hm – fora a vez dele murmurar – E por que se juntar a uma organização de hackers ? – sua testa estava franzida quando ele lhe fez essa pergunta, para ele seria bem mais coerente abandonar tudo de vez e tentar levar uma vida dentro da lei, sem atrair atenção. Skye não pensava assim, o programa lhe proveu ferramentas capazes de fazer o mal, mas igualmente capazes de fazer o bem. Era uma questão de qual deles escolher.

– Talvez eu tenha uma queda por organizações secretas, tenho dezoito anos e já estive em três, isso deve contar como algum recorde – respondeu debochada, com um sorriso malicioso a permear seus lábios. Todos ali aprenderiam bem rapidamente que a garota não tinha freios e tinha uma personalidade bastante ... Única.

O mais velho pareceu não se importar com a ferocidade da morena, era até bom ter sangue novo por ali, alguém que não tivesse medo de enfrentá-lo de vez em quando, mas continuou a encará-la, como se esperasse uma resposta melhor.

Bufou, contrariada, fechando o livro – Porque é a única coisa que eu sei fazer, fora ... – deixou a ideia no ar – E porque acredito que a informação deva ser livre. Ninguém deveria ter poder o suficiente para manipular as pessoas, eles alienam uma massa e fazem seus jovens lutarem uma guerra que não é deles – prosseguiu num ar irritado - Eles morrem e matam cegamente, são peões – encarava as próprias mãos ao terminar e mordia o lábio inferior num hábito antigo.

– Algumas informações não foram feitas para serem divulgadas, só gerariam pânico desnecessário – Coulson contestou a ideologia da garota, que apenas riu, balançando a cabeça negativamente.

– Se algo é grande o suficiente pra causar pânico,deve ser divulgado. As pessoas têm o direito de saber se suas vidas estão em risco e porquê – retrucou automaticamente, os olhos faiscando inteligência.

– Você é jovem, idealista, não viveu o suficiente para saber o que pânico geral pode causar. Talvez venhamos a te ensinar uma coisa ou outra por aqui – ele finalizou num ar cansado.

Não valia a pena continuar naquela conversa e apenas voltou para o seu livro, mas uma coisa tinha certeza, não mudaria seu modo de pensar.

**

Para ser bem sincera a imagem mental que fizera do Brasil foi bem diferente do que acabara por presenciar. Sim, ela partiu dos clichês de que haveriam praias, biquínis e mulheres bonitas, para ser bem honesta estava até animada com a possibilidade de ir a praia, mas a realidade foi um pouco distinta das suas idealizações. Estavam no meio de uma floresta tropical e o calor que fazia era inumano, o que tornou ainda mais difícil entender o recente bom humor de Coulson.

– Esse ar-condicionado está no máximo ? – Fitz resmungou, acertando uma cotovelada nas costelas de Skye ao tentar “pegar” um pouco mais do ar frio. A menina protestou contra o audacioso movimento e o empurrou de volta.

– Sim, Fitz, está no máximo, mas isso não são férias é uma missão, mantenha isso em mente – Ward, que sentava no banco ao lado da motorista, May, respondeu num tom carrancudo.

Fitz apenas o imitou pelas suas costas “Isso é uma missão”, seus lábios pronunciavam apesar de não soltar nenhum som e Skye apenas sorria.

Quando enfim desceram do carro todos estavam parcialmente suados e Jemma, por ser a mais alva do grupo, estava com as bochechas bastante rubras, a ofereceu uma garrafa de água que foi prontamente aceita pela britânica que a sorriu em agradecimento. Notou bem ali que tanto ela, quanto Fitz, não tinham nenhum treinamento em campo e o pensamento seguinte a fez estremecer, eles eram alvos fáceis.

– Mas que maravilha de monumento – Jemma anunciou após devolver a garrafa de água para Skye.

A “maravilha” de monumento que Jemma se referia parecia uma igreja velha dentro de uma grande montanha, era bastante estranho na realidade. Skye podia não entender muito de arte, mas acreditava ter um certo bom gosto e aquilo definitivamente não era bonito.

Coulson aproximou-se do grupo e trazia um arqueólogo consigo, todos foram apresentados rapidamente antes do homem escoltar Fitz-Simmons até o objeto, Ward os acompanhou já que Skye não tinha a menor intenção de entrar naquele ninho de morcegos. May retornou instantes depois da partida dos jovens e conversou brevemente com Coulson antes desse ir até uma espécie de cabana, talvez falar com algum líder local, já que,ao que tudo indicava, aquela era uma terra indígena.

– Ele não quis sua companhia ? – falou ao notar que May estava mais brava do que o costumeiro.

A chinesa não se deu nem ao trabalho de responder, apenas encarou Skye de forma ameaçadora e aquilo foi o suficiente para a garota se calar.

– Não está mais aqui quem falou – se desculpou enquanto erguia ambas as mãos, numa espécie de rendição – Mas e aí, qual é esse lance de cavalaria ? Você era boa no hipismo ou algo do tipo ? – continuava seu interrogatório, tentando iniciar uma conversa com a mulher, sem sucesso, obviamente.

– Não é da sua conta – fora a resposta seca que recebera, mas assim como May, Skye não se abalava tão rapidamente.

– Você deveria sorrir mais, serotonina faz maravilhas a pele – continuou num ar tagarela enquanto rondava a mulher – Não que a sua esteja ruim, asiáticos têm bons genes – tentou se retratar com um sorriso maroto sobre os lábios, mas esse logo desapareceu ao notar movimentos estranhos vindos das árvores. May também os notou. Estavam cercando-as, mas não atiravam, o que sugeria que eles só atacariam quando pusessem os olhos no 0-8-4.

Skye rapidamente virou-se, adentrando o que ela achava ser uma igreja, mas que na realidade era uma pirâmide antiga, com certo receio – Ward ?! – chamou e teve seu eco a reverberar por toda a estrutura, era até legal.

– Aqui – recebera a resposta e guiou-se a partir dela até onde estavam.

– Temos um pequeno probleminha e precisamos ir embora, agora – falou num ar determinado enquanto encarava pela primeira vez o objeto tão valioso. Não parecia ser grande coisa, uma estrutura de metal resistente o revestia e ele com certeza destoava de toda a velharia que estava ao redor, parecia algo bastante avançado para estar num local daqueles, mas fora isso, nada demais.

– Não podemos, ele é muito instável e ainda não descobrimos como retirá-lo da rocha – Fitz e Simmons falavam, um por cima do outro, o que deixava tudo uma confusão, talvez eles não entendessem que em 80% do tempo, só eles conseguiam entender o que diziam.

– Vamos ter que improvisar então – anunciou e puxou o objeto da rocha, recebendo uma onda de protestos dos cientistas. Deu um sorrisinho irônico ao entregá-lo para Fitz – Olha, estamos com sorte, não explodiu ainda! Agora,vamos. -

Ward guiou-os pelo caminho, já sacava sua arma e a preparava para a ação – Arco e flecha ? – ele questionou num ar sarcástico e Skye apenas ergueu umas das sobrancelhas com a autoconfiança exacerbada do moreno.

– Não acho que sejam índios, mas quem sabe você tenha sorte – respondeu com uma pitada de humor.

Quando puderam ter uma fraca visão do lado externo, May não estava mais lá, assim como Coulson também havia sumido, tudo parecia muito estranho e deserto, até as tendas pareciam desocupadas, mas não ouvira nenhuma correria ou som de tiros. Foram traídos e trazidos para uma emboscada, percebeu um pouco tardiamente.

– Acho que você sabe usar uma dessas – Ward falou ao entregar-lhe uma semi automática e a garota apenas concordou fracamente. Não sabiam aonde os homens estavam escondidos e precisavam descobrir ou iriam apenas atirar avulso, a única forma de conquistar esse objetivo era se saíssem e deixassem que eles atirassem, revelando suas localizações.

– Eu contei seis – Skye sibilou encostando-se na parede, recuperando o fôlego.

– Sete – Ward contestou, quase como se medisse forças com a garota.

– Já enfrentei coisa pior – a morena revelou sem emoção e engatilhou a arma.

Ward retirou uma granada do bolso e deu outra para Skye, nem precisaram contar até três ou algo do gênero, simplesmente foram, arremessando os explosivos nos pontos onde os homens estavam escondidos. Uma onda de poeira encobriu o terreno por algum tempo, impossibilitando uma visão clara e novamente os tiros irromperam pela floresta. Ward, apesar de grande, era bastante ágil para seu tamanho e em segundos estava atacando os homens do lado direito, enquanto Skye se encarregava do lado esquerdo. Não era uma grande fã de armas e não queria chamar atenção, então se manteve encoberta pelas árvores aproveitando o fato deles ainda estarem confusos por conta do barulho da explosão, para atacar. Usou a faca de um deles para fazer um corte em sua garganta, o deixando sufocar no próprio sangue. O farfalhar que eles faziam sobre a grama era quase um convite para a morte, fez jus ao seu lado fantasma e os atacou de surpresa, cortando-lhe as gargantas. Em seu lado haviam três, mas ao ouvir tiros, voltou-se na direção deles.

May e Coulson retornaram e trouxeram companhia, mais assassinos, na realidade pareciam ter fugido deles a pouquíssimo tempo, já que o carro exibia um considerável número de tiros. Skye estava a poucos metros do local onde Fitz-Simmons foram deixados e esses pareciam muito assustados para sequer olharem para fora e ver o que estava acontecendo, correu até eles, recebendo cobertura do Ward e puxou Fitz pela gola da camisa de modo brusco.

– Vamos! – gritou empurrando-o para frente e o dando cobertura ao atirar nos novos convidados que May e Coulson trouxeram. Mantinha Jemma as suas costas enquanto dava a corrida mais longa da sua vida, apesar dela ter apenas alguns metros e assim que a britânica entrou no carro sentiu uma bala lhe acertar, de raspão, assim imaginava, e apenas se jogou dentro do veículo.

Coulson parecia ter sido torturado já que exibia alguns cortes na cabeça e um visível olho roxo. A blusa antes impecável agora estava rasgada e seu peitoral exibia alguns cortes, May também não estava em seu melhor estado, tinha um corte no supercílio e seu braço parecia sangrar, mas a vencedora com certeza seria Skye, afinal, ela levou um tiro, mas ninguém notou, porque ela não disse nada, apenas se certificou de que fora de raspão.

– O que diabos foi isso ?! – após ter certeza de que não iria morrer, Skye vociferou num ar contrariado – Nos trouxeram para uma maldita emboscada porque alguém confiou nas pessoas erradas! – fora tomada pela cólera e sentiu que pelo menos nessa, Ward concordava consigo – Puta plano genial ... Brasil, quem não ama o Brasil ?! – imitava a fala de Coulson enquanto sentia toda aquela adrenalina em suas veias – Eu definitivamente odeio esse país estúpido e na próxima vez que decidirem me arrastar pra uma merda de missão feito essa, vou optar pelo choque que vai me fazer ter uma parada respiratória – continuava, irada, e parecia dizer o que todos pensavam,pelo menos Jemma, Fitz e Ward, mas que não podiam compartilhar, por conta da hierarquia da SHIELD, ou níveis, ou qualquer porcaria do gênero, por sorte Skye não tinha esse tipo de problema e despejava toda sua fúria sem nenhum temor do que viria a lhe acontecer.

– Você tem razão ... Eu confiei na pessoa errada – o líder disse simplesmente e não parecia irritado pelo recente descontrole da jovem, talvez aceitasse que tudo que ela dissera fosse verdade.

Estava com tanta raiva de Coulson que se o respondesse, iria o matar bem ali, então mudou um pouco sua abordagem - E o que essa porcaria que quase ceifou nossas vidas faz ? - questionou na direção de Fitz que parecia segurar o objeto como se fosse uma bomba, preste a explodir.

– Eu ... Não faço ideia - ele respondeu um pouco temeroso de que a menina fosse se descontrolar novamente, mas ela apenas o encarou dando um riso nervoso, o que, possivelmente, fosse até mais bizarro do que seus gritos.

– Claro que você não faz - repetiu num ar sarcástico e se calou em seguida.


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