M.M

– E então ? – Miles questionou enquanto remexia no porta objetos do carro,que não os pertencia.

– Então o que ? – Mike retrucou,estava um tanto impaciente,principalmente após saber que havia um traidor dentro da SHIELD. Pensou que houvesse,enfim,encontrado um local honroso para estar,talvez estivesse enganado e isso punha tudo sob perspectiva. Concentrou-se para manter a visão na estrada.

– Como vamos achar a Skye ? – Miles indagou,pegando a carteira de motorista do verdadeiro dono do veículo - Donnie Thomas – balbuciou e deu de ombros. Já havia roubado outras coisas antes,mas nunca algo palpável,um carro definitivamente parecia bem mais real do que o roubo de informações. Tentava manter-se calmo,assim como Mike estava,mas a voz vacilava vez ou outra,encobria com uma tosse falsa.

– Nós vamos pegar o notebook dela – Mike respondeu num tom neutro,enquanto Miles quase jogava-se na rodovia naquele exato momento.

– Mas isso é a duas quadras do lugar onde tentaram nos matar! – exclamou uma coisa óbvia e da qual Mike já tinha noção.

– Eu sei – o mais velho prosseguiu no mesmo tom anterior – Ela fez um programa para rastrear o Reed,usaremos ele para encontrá-la,mas antes precisamos do notebook onde o programa está – ele explicou como se Miles não fosse capaz de deduzir aquela informação. O que diabos Skye vira nele ?! questionou-se internamente,arrependendo-se logo em seguida por esse pensamento. Sabia que Miles não era de todo mau,seu cérebro apenas não acompanhava sua idade biológica; era um adolescente no corpo de um homem de vinte e três anos.

Gordon não os deixou em outra cidade,para sorte deles permaneceram em L.A,o que facilitou consideravelmente o trajeto até o quarteirão em questão. Mike estacionou o carro a bons 300 metros do local de interesse,perto o suficiente para ver as redondezas e longe o bastante para fugir,caso preciso. Tirando as prostituas e um grupo de mendigos que protegiam-se do frio embaixo de uma marquise,tudo parecia normal. Olhou para seu relógio de pulso; 13:23 p.m. Haviam a levado a quase oito horas,não gostava daquele cenário.

– Eu vou buscar as nossas coisas,você fica aí e se notar qualquer coisa estranha,fuja – o moreno falou já saltando do carro.

O hotel no qual se hospedara mais parecia um prostíbulo,era um vai e vem tão intenso que a recepcionista,uma senhora com dentes repletos de manchas de nicotina,sequer notou o moreno entrando; melhor assim. Sem delongas ele coletou tudo que haviam levado e desceu as escadas novamente,tendo um bêbado a agarrar sua camisa,o empurrou bruscamente enquanto o homem tentava dizer-lhe alguma coisa,não deu importância. Jogou a chave do quarto e uma nota de $ 100 na bancada da recepção e virou-se,sem nem esperar pelo troco. Só queria sair dali,mas antes que tivesse a oportunidade notou dois agentes da HYDRA adentrarem o hotel,eles não iriam atirar ali,haviam muitas pessoas naquele pequeno recinto. Mike apressou os passos,tentando misturar-se a multidão e até pensou em seguir uma das prostitutas apenas para ter algum pretexto,mantinha a cabeça baixa mas podia sentir os olhos dos agentes sobre suas costas.

– Onde é a saída de emergência ?- questionou num tom de urgência para o mesmo bêbado que havia o agarrado instantes antes e o homem apenas estendeu a mão cadavérica,pedindo dinheiro.

Trincou os dentes e num ar impaciente pôs uma nota de vinte sobre a mão do maltrapilho – Esquerda,depois direita e daí o corredor que vai até a cozinha – o homem falou num tom arrastado,como se tentasse lembrar-se da ordem. Torceu para ele estar certo ou voltaria apenas para matá-lo. Já corria a essa altura,fazendo o exato trajeto que o homem o dissera e suspirou aliviado ao ver que ele não mentira,mas lá também haviam dois agentes da HYDRA a sua espera,escondeu-se para eles não o verem,mas sabia,iria ser cercado em poucos instantes. O pessoal da cozinha nem se importaram com sua presença ali,possivelmente estivessem acostumados àquelas intromissões. Considerou perguntar se havia outra saída daquele lugar,mas antes que tivesse a oportunidade ouviu o som de pneus cantando e os dois agentes serem arremessados à metros de distância.

Saiu do seu esconderijo,só então indo ver o que acontecera,ao atravessar a porta deu de cara com Miles,prometeu-se bem ali que nunca mais iria ficar irritado com ele. Entrou no carro enquanto o rapaz os tiravam dali,o carro de Donnie possivelmente não fosse voltar ao dono no mesmo estado em que fora levado.

– Para onde agora ? – Miles questionou sem gaguejar,Mike apenas tentava recuperar o fôlego.

– Vale do Silício – respondeu,afivelando o cinto. Local do “The Hub”,centro de operações da SHIELD. Não tinha certeza se Coulson pensara direito sobre aquele plano,afinal,ele o fizera de última hora,de qualquer forma iria fazer como o homem pedira. Demoraram quase cinco horas até atingirem o local de encontro,um posto de gasolina abandonado no meio do nada. Miles resolveu dormir no banco do passageiro,enquanto aguardavam May e Mike ficou de guarda,fazendo rondas periódicas pelo perímetro. Estava frio mas ele sequer sentia isso,tudo em que conseguia pensar eram nas horas que já haviam se passado e no que poderiam estar fazendo com Skye. Havia fracassado na missão de proteger a garota e aquilo pesava em sua consciência.

MAY

Partira na mesma noite em que tivera a conversa com Coulson,o homem a confiou uma missão, da qual ela sabia,não poderia falhar; fora incumbida de achar Skye,juntamente com Mike e Miles. Coulson a confessou que a garota era,de fato,sua filha. Ele preferiu guardar segredo sobre aquilo,inclusive de Katherine,pelo menos até saberem em quem podiam confiar. Se quiseram a sequestrar simplesmente pelo fato dela ser filha da Katherine ... Imaginou o que Garrett faria se soubesse que a menina é filha dos seus dois inimigos declarados.

Estava temerosa em deixar Phil sozinho naquele avião,com um possível inimigo à espreita,mas entendia que não havia outra solução e ele a certificou que ficaria bem ... Tentava arduamente crer nisso. Até tentou fazê-lo mandar Katherine em seu lugar,mas o homem declinou,Kate provavelmente fosse fazer um massacre,começando pela própria agência,onde ela deixaria uma trilha de corpos se isso fosse necessário para descobrir o traidor que vendera sua filha,ela tendia ao sentimentalismo,principalmente se tratando de Skye. Coulson queria evitar uma tragédia,mas acima de tudo,tentava preservá-la. A mulher era forte,mas não imortal. A manteriam no “escuro”,até que chegasse o momento no qual ela poderia ajudar.

May escapou na noite cerrada,aproveitando o pouco contingente que permanecia na base e passando despercebida por todos. Era realmente um fantasma.

A noite era fria,o que a fez subir todo o zíper do seu casaco,pondo o capuz sobre os cabelos. Amaldiçoou-se por ter esquecido as luvas,enfiou as mãos nos bolsos na tentativa de preservar suas extremidades e apressou os passos para chegar até o ponto de encontro mais rapidamente; torcia para Mike e Miles já estarem lá.

Ouviu sons de passos e abaixou-se,aproveitando uma pequena cerca de madeira para tal,a mão rapidamente tateou sua glock,presa à cintura. Esperou os passos se distanciarem para só então segui-lo,a falta de luminosidade apenas possibilitava ver o contorno do indivíduo. Poderia ser Mike,como também poderia não ser,e May era do tipo que não dava chance ao azar. Esperou até o moreno encostar-se no carro e só então aproximou-se,encostando a arma em suas costelas.

– Pensei que não viesse mais,agente May – o moreno riu pela própria estupidez,não havia notado que fora seguido por todo esse tempo.

A chinesa guardou a arma e não se deu ao trabalho de responder,apenas entrou no carro,assumindo a direção do veículo. Lançou um olhar de esguelha para Miles,adormecido no banco traseiro.

– Ela não tem mau gosto – May opinou e Mike apenas sorriu baixo.

– Deixe-o começar a falar – o homem respondeu de forma irônica. Já sentia-se até mais confiante com a possibilidade de encontrarem Skye,sabia que May era a agente mais competente dali,superando até Coulson,só lhe faltava o tato para a liderança.

PHIL

Não conseguia dormir,mas aquilo já não era incomum. Esforçava-se para lembrar a última vez que tivera uma boa noite de sono,mas não conseguia. Possivelmente antes de ter aceito trabalhar naquela base móvel,maldito dia em que dissera para Nick Fury que gostaria de voltar ao campo,que estava cansado da parte estratégica da agência.

Bebericava um pouco de chá quando uma aba de mensagem saltou em sua tela,aquilo definitivamente era estranho,ainda mais considerando o horário. Abriu e o que leu o fez correr como um louco,acordando Tripp às pressas.

– Ponha esse avião no ar,agora! – ordenou num ar de urgência e todos acordaram,confusos e meio sonolentos. Tentavam entender o que estava havendo,sem muito sucesso.

– O que houve ? – questionavam-se entre si. Já era possível ouvir os motores do avião serem iniciados,em breve estariam no ar.

– Katherine,use o chip da Skye para apagar toda network da SHIELD,HYDRA não irá roubar todas nossas informações – ele falou ao voltar do escritório com seu notebook em mãos. Mostrou a mensagem que o fizera ter aquela reação.

“ Nick Fury está morto. HYDRA está infiltrada na SHIELD e irá tomá-la,fuja!”

M.H

Não,Phil Coulson não gostaria de ter fugido,mas que outra opção tinha ? Se o que Maria Hill dissera fosse verdade,HYDRA não estava infiltrada apenas nos níveis baixos da agência,estavam num nível tão elevado que foram capazes de assassinar o diretor. Eles iriam fazer um massacre com aqueles que não se convertessem,sabia disso. Para vencer aquela guerra ele precisaria estar vivo e para isso,fugir era a melhor opção. Sua única certeza era que nunca se curvaria diante de John Garrett e que usaria todos seus recursos para achá-lo e matá-lo.

Olhou para seu grupo de agentes e todos pareciam igualmente confusos sobre aquilo,determinados a lutarem. Até Fitz-Simmons tinham ódio no olhar,não podia acreditar que alguém dali fosse o espião. Coulson sempre lera bem as pessoas e algo o dizia que não estava errado,seu grupo era fiel à SHIELD. Só lhe restava uma opção para o traidor.

Katherine retornou após alguns minutos,confirmando que fizera o que fora pedido,todo o sistema da SHIELD caíra,incluindo o de rastreamento.

O avião já havia partido da garagem àquela altura,mas HYDRA não demoraria a notar isso,já que os sensores avisariam sobre a partida do grupo. Contava com a tecnologia cloacking para manterem-se invisíveis,dessa forma eles não saberiam que direção o avião havia tomado.

– Faça uma ligação indetectável para Victoria Hand,por favor – ele pediu,já mais calmo. Aquele era o momento para agir de forma racional,pensar o mais friamente quanto possível.

– Alô ? – a voz da ruiva ecoou pelos altos falantes,todos no avião podiam ouvi-la.

– Agente Hand – Coulson iniciou,seu tom era calmo.

– Agente Coulson,o que está havendo ? – a mulher questionou,tentando disfarçar nervosismo,sem muito sucesso.

– Não sei,pensei que você pudesse me esclarecer quando se vendeu para HYDRA ? – o homem questionou friamente. Como ela pudera fazer aquilo ?! estudara com ela na academia e tudo bem que nunca se bateram,mas uma traição daquelas era aquém tudo que ele imaginou.

A ligação ficou muda por alguns instantes,o suficiente para todos saberem que ela era a traidora – Não pensei que fosse demorar tanto,meu velho amigo – John Garrett falou,a voz estava diferente,havia algo gélido e bestial ali.

Katherine vacilou e Ward a segurou pela cintura,levando-a até o sofá,todos pararam de respirar momentaneamente.

– Descobrir a tempo de atrapalhar seus planos – Coulson retrucou,a voz mantinha-se firme,aquele era o motivo dele ser o líder.

O segundo riu,mas até seu riso era assustador,perverso ... – Eu não pararei até ter o que é meu,aquela menina é minha filha – Garrett falou de forma exasperada,como se alguém o houvesse roubado algo.

Coulson engoliu a vontade de dizer toda a verdade,ouvi-lo chamar Skye de filha realmente o incomodou; ela é minha filha,não sua,seu filha da puta! Controlou-se para não vociferar,ira inundava todas suas células e estava pronto para dizer algumas palavras de baixo calão para John,mas não precisou,Katherine tomou a situação.

– Se você tocar um dedo na minha filha,eu te farei implorar para morrer,seu desgraçado! Skye não tem seu sangue imundo! – a mulher gritava,as lágrimas queimavam-lhe as bochechas.

– Estou com saudades de você também,querida Katherine,em breve teremos nosso reencontro e irei lhe matar por ter escondido minha filha de mim por todos esses anos – o homem falava num ar psicopata,sem se importar com o fato de Katherine ter dito que ele não era o pai,notara a voz dela vacilar quando dissera aquilo e pela conta que ele fizera,Skye era sim sua filha. – Tentei recuperá-la hoje cedo,sem sucesso,mas não desistirei,como não desisti de você,dear Katherine – ele falava num ar completamente informal,sentia-se no controle de toda aquela situação.

A bile lhe subiu a garganta,estava enojado,aquele John Garrett não tinha nada a ver com seu amigo de academia,ter a confirmação disse apenas o deixou mais determinado a matá-lo.

– Ela sentirá nojo de você,assim como todo mundo que te conhece tem – Katherine prosseguiu,destilando todo seu ódio.

– Acho que ela sente mais nojo de você,por qual outro motivo ela iria embora no mesmo dia que descobriu sobre você ser mãe dela ? – retrucou num tom frio e Katherine ficou sem resposta,se fazia essa mesma pergunta desde o momento que Skye partira,só não queria confessar.

Coulson encerrou a ligação,ficar naquela troca de farpas com John era perda de tempo. Precisavam achar um local para pousarem,o combustível não seria infinito,e além disso,precisavam encontrar meios de derrubar HYDRA e recuperar a SHIELD,agora que o diretor estava morto,Coulson se sentia no dever de honrá-lo.

– Precisamos avisar Skye,temos que ir buscá-la! – Katherine falava de forma nervosa,saber que Garrett quase sequestrara sua filha a fez reviver a mesma sensação de dezesseis anos atrás.

– Não sabemos aonde ela está,Kate,mas nós vamos achá-la,eu te garanto – Coulson tentava confortá-la,sem muito sucesso,a mulher estava uma pilha de nervos.

– Aonde está a agente May ? – Jemma fora a pessoa a reparar na ausência da asiática e todos se entreolharam,pálidos,pois achavam que haviam deixado a mulher no covil inimigo.

– Ela está bem,está com Mike e Miles – Coulson tranquilizou a todos,mas em compensação teve que ouvir todo o descontentamento de Katherine,que quase voou em seu pescoço pelo fato dele ter escondido a verdade dela,só após ela ter se acalmado foi que todos puseram-se a discutir suas opções; não eram muitas e as que tinham,não eram boas.

– Sr. ? – Fitz o chamou e parecia no mínimo intrigado.

– O que ? – Coulson questionou e Leo apenas apontou para o distintivo do homem que emitia uma luz alaranjada.

Hunter pulou sobre Barbara,na tentativa de protegê-la,pois achava se tratar de uma bomba,mas todos os demais pareciam ter noção que aquilo não era um explosivo e apenas olhavam para a cena,duvidando que Hunter fosse estúpido àquele ponto. Bobbi levantou-se irada.

– Seu idiota,qual é o seu problema ?! – esbravejou,desferindo um soco no ombro do moreno.

– Mal agradecida – o britânico retrucou e eles iriam ficar naquilo por muito mais tempo se Coulson não tivesse intervindo.

– São coordenadas – ele sussurrou e aquela possibilidade lhe trouxe um sorriso aos lábios,Nick Fury estava os direcionando para um local seguro.