O outro lado da moeda : Skye escrita por Blake


Capítulo 1
Capítulo 1




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– Aonde eu enfiei aquela maldita extensão ?! – A garota falava num tom irritado enquanto espremia-se entre dois engradados de cerveja que ela usava para guardar suas poucas roupas, hardwares e infinidades de fios, que muitos considerariam lixo, caso não soubessem como usar. Quando enfim encontrou a extensão, permitiu-se um sorriso vitorioso, embora esse não tenha permanecido por muito tempo sobre seu semblante. A porta da sua van fora abruptamente aberta, e dois homens em trajes pretos surgiram em seu campo de visão. Antes mesmo deles colocarem o capuz preto em sua cabeça, ela já sabia, estava encrencada.

Foi levada, ainda vedada, até a base de operações deles, viria a descobrir posteriormente que seus nomes eram Phil Coulson e Grant Ward e que eles trabalhavam para SHIELD, mas ainda não tinha certeza do motivo que os levaram a lhe sequestrar, apesar de ter algumas boas ideias, afinal, ”trabalhava” para uma organização de hackers que tinham como principal objetivo expor a face suja das organizações, governamentais ou não, e revelar seus segredos para a sociedade, o que, convenhamos, lhe geraria um número considerável de poderosos inimigos.

– Qual é o seu nome ? – fora a primeira pergunta, feita num tom arrogante pelo agente Ward.

– Skye – retrucou num ar frio enquanto os olhos deslizavam sobre a figura que tinha praticamente o dobro do seu tamanho – E poderiam esclarecer o que eu fiz ? – dessa vez, ao falar, não olhava para Ward, mas sim para o homem de meia-idade que estava sentado a sua frente, ele era o líder e não precisava de muita perspicácia para notar isso.

– Você cometeu um pequeno erro ao divulgar o vídeo do seu amigo superpoderoso, conseguimos burlar sua encriptografia e conseguir seu IP – ele resumiu de forma paciente, diferentemente de Ward, Coulson não parecia estar irritado com a garota.

Skye franziu o cenho num ar incrédulo quando ele falou que ela havia cometido um erro e rapidamente retrucou – Eu não cometo erros – era uma ofensa dizer uma coisa daquelas para uma hacker, mas tinha que admitir, eles a acharam, então algum erro ela cometera e então, como uma epifania maldita, lembrou-se – Miles ... – sussurrou num ar incrédulo e fechou os olhos, só então dando-se conta do qual ferrada estava.

– Miles ? Quem é Miles ? É o super-herói ? – Ward questionou desferindo um soco sobre a mesa, bem próximo a garota, que sobressaltou-se, afastando-se em puro reflexo.

– Ward, uma palavrinha com você,por favor ? – Coulson ordenou enquanto permanecia parado ao lado da porta semi-aberta, os olhos do mais velho ainda cruzaram brevemente com os de Skye antes de ambos saírem da sala.

Assim que a porta fechou-se as costas de Coulson, Skye desabou na cadeira, afundando a cabeça entre as mãos. Sua mente trabalhava num ritmo frenético tentando encontrar uma saída daquela situação, não poderia entregar Miles, ele era um idiota mas foi o primeiro idiota que ela amou na vida, estava convencida de que enfrentaria os anos na cadeia por ele, mas se houvesse um meio de evitar os tais anos na cadeia, não seria de todo ruim também. Por outro lado havia Mike, o superpoderoso que ela conhecera a dois dias e que passara a ajudar na sua ascensão ao status de herói, não iria entregar um inocente para aquela organização sem saber o que eles pretendiam fazer com ele, preferiria morrer na cadeia a ser responsável por outra vida inocente. Estava ficando sem opções e só fora tirada dos seus devaneios quando Coulson retornou a sala.

– Skye, você precisa ver algo! – ele disse num tom que sugeria urgência, tom esse que fez a garota imediatamente levantar e acompanhá-lo.

O “algo” que a garota precisava ver estava a alguns metros dali, na sala de operações, onde um painel digital tomava boa parte da parede. Mike aparecia em noticiários simultâneos e em todos eles era acusado de tentativa de homicídio contra seu antigo patrão, a menina teve que se apoiar na bancada para não cair, simplesmente não conseguia acreditar – Esse não é o Mike – foi a única coisa que conseguiu dizer enquanto assistia incrédula o vídeo dele arremessando galões de gás contra o patrão.

– Você é a única que pode ajudá-lo – Coulson falou, paternalista, enquanto encarava-a.

– Eu sei, por isso eu quero estar lá – disse num ar determinado e ficou bastante claro em sua postura que essa seria a condição final daquele acordo – Ele iria me encontrar na estação às dezessete, vocês podem me dar um tempo para explicar tudo pra ele ... –

– Descobrimos! – uma garota de sotaque britânico surgiu na sala, interrompendo o raciocínio de Skye, ela mandou um vídeo para o grande painel enquanto postava-se ao lado do mesmo – O homem não carregava o explosivo, ele era o próprio explosivo, o que é que tenham dado para ele é tão instável que o fez explodir, nunca vi algo assim antes ... Incrível – ela despejava toda aquela informação num ar entusiasmado enquanto todos os demais olhavam para o vídeo de um homem descontrolando-se num consultório e explodindo em mil pedaços, de forma desconfortável, mas foi Skye que anunciou o óbvio.

– Mike tem a mesma coisa – seus olhos eram quase suplicantes quando fitou Coulson – Vocês tem a cura ?! Isso tem cura ?! – questionou de forma nervosa, mas foi Fitz, o rapaz que manteve-se calado, e que chegou junto com a garota britânica, Jemma, que respondeu – Um tiro na cabeça ? – apesar dele ter falado aquilo com certa inocência, simplesmente não conseguiu conter sua cólera, seus punhos cerraram-se tão fortemente que as unhas afundaram na pele, fazendo um filete de sangue correr, não se importou.

– Vocês tem três horas para descobrirem uma – Coulson ordenou, pela primeira vez ele parecia realmente sério,quase zangado.

– Mas Sr. como ... – Jemma e Fitz tropeçavam na própria língua, tentando justificar como aquilo seria impossível – Eu quero uma cura e vocês encontrarão uma pra mim, não quero desculpas, quero soluções, entenderam ?! – ele finalizou enfático e ambos os garotos apenas concordaram num ar respeitoso, partindo apressados até o laboratório.

– Você – Coulson anunciou ao apontar para Skye – Vai encontrá-lo às dezessete, May vai levá-la até a estação e lá teremos uma equipe a postos – ele completou antes de abandonar o cômodo.

– Não o matem – falou simplesmente, antes de sair na companhia da chinesa que esteve presente durante toda a conversa mas não dissera sequer uma palavra, reconhecia aquele tipo de força, era do tipo: “não fale comigo ou eu irei atirar bem na sua cara”, de qualquer forma, não queria conversar, e a viagem até a estação foi tranquila.

A van ficou estacionada bem na frente da movimentada estação e May sentou num banco a poucos metros dali, aparentemente disfarçada, apesar de que a cara assustadora dela não sugeria um disfarce que não fosse serial killer. Skye estava apenas grata por estar em sua van novamente e por ela estar exatamente da forma que havia deixado-a, pegou um pequeno chip que escondera num fundo falso, guardando-o no sutiã, assim como uma pistola, olhava-a num ar de repulsa, mas isso não a impediu de acomodá-la na sua cintura, não pretendia usá-la, mas talvez precisasse. Apagava todos os dados relevantes do seu hard drive e eliminava qualquer conexão com Miles ou com o grupo de hackers quando ouviu um bater na porta e ela ser aberta em seguida. Mike surgiu e trazia consigo seu filho, Ace, o que deixou a garota completamente sem reação.

– O que você tá fazendo ? – questionou num ar exasperado.

– Você não viu os noticiários ?! Eu estou em todos eles, nós vamos fugir e você vai nos ajudar! – ele respondeu sem muita paciência e puxou a garota bruscamente pelo braço, pôde sentir o calor incomum que ele emanava e aquilo fez seu coração acelerar.

– Mike, para, você tem que me escutar, você vai explodir, o que te deram vai te fazer explodir! – tentava explicar, em vão, enquanto era arrastada juntamente com o pequeno garoto pelo saguão da estação – Eles podem te ajudar!- continuou num ar de súplica.

– Eles ?! Quem são eles ?! – ele gritou apertando com ambas as mãos os braços da garota, visivelmente nervoso ao notar que fora trazido para uma emboscada. Ace, por sua vez, aproveitou o momento de distração do pai e saiu correndo no meio da multidão e Skye fizera o mesmo quando Mike virou-se para procurar o filho. A morena atravessou a porta que levava até o primeiro andar, poucos instantes antes de uma bala estourar bem acima da sua cabeça. Mike a seguiu,conseguindo alcançá-la nos últimos lances da escada, tentava dissuadi-lo mas ele não parecia ouvir, apenas a arrastava de modo brusco até o parapeito enquanto gritava repetidas vezes “Pra onde levaram meu filho?”, sentia-o cada vez mais quente mas foi o som abafado de um tiro que a tirou daquela sensação.

O mesmo homem que atirara contra eles instantes antes, atirara nas costas de Mike fazendo-o despencar numa queda de vinte metros, ajoelhou-se, colando o rosto no vidro transparente, o grito engasgado na garganta. Só então ouviu o homem engatilhar novamente a espingarda, encarou-o por alguns instantes e quando estava prestes a sacar sua arma, May surgiu, seus golpes eram meticulosos e demasiadamente doloridos, pra quem recebia-os, mas foi na parte onde ela quebrou uma das pernas do homem antes de levá-lo a inconsciência que a garota soube que ninguém deveria mexer com aquela agente em particular. Estavam prestes a descer as escadas quando um grupo de mais seis falsos policiais atravessaram a porta, e bastou ver o corpo do parceiro inconsciente para empunharem suas armas.

Skye e May não tinham aonde se esconder e com certeza não sobreviveriam a queda, caso decidissem pular, estavam sem muitas boas opções e May não parecia gostar das probabilidades, Skye também não era estúpida, sabia que a asiática não conseguiria lutar com seis caras ao mesmo tempo, algum deles iria ter a oportunidade de atirar na garota ou nela, estavam ficando sem tempo. Quando o primeiro homem surgiu fora fácil desarmá-lo e May usou seu corpo como escudo enquanto os demais atiravam contra elas, em dado momento ela jogou o corpo, que serviu como escudo, sobre os demais assassinos, iniciando um confronto corpo-a-corpo com três deles, enquanto os outros dois erguiam-se do chão, chutando o defunto pra longe.

Soube naquele momento que não poderia apenas assistir, pegou a pistola que trazia presa a cintura e deu tiros certeiros nos joelhos dos dois e mais dois tiros em suas mãos quando esses pegaram as armas, sua precisão era quase cirúrgica e sua feição adquiriu um ar frio, como se algo houvesse sido ativado dentro dela, sequer ouvira o urro de dor que eles deram, fora transportada para outro universo. May ainda lutava com os homens e enquanto levava dois deles a inconsciência o terceiro, que já estava caído,arrastava-se até uma arma e empunhava-a na direção da chinesa, que estava de costas. O tiro fez a arma saltar da mão do homem assim como decepou um dos seus dedos, fazendo-o berrar de dor. May virou-se sobressaltada na direção de Skye, que ainda empunhava a arma, à dez metros do alvo, sem acreditar que ela acertara aquele tiro, e no instante seguinte, a mulher estava com uma arma apontada na direção de Skye.

– Largue – ela falou simplesmente e foi a primeira vez que ouvira sua voz.

Desde o momento que decidira empunhar aquela pistola sabia que isso aconteceria, seu passado viria a tona, não parecia ter jeito de fugir dele. Largou a arma e a chutou pra longe, levando ambas as mãos até a cabeça e virando-se calmamente, até May algemá-la e descerem até o térreo.

A estação havia sido completamente evacuada e no seu campo de visão só estavam Coulson e Mike, pareciam debater e Mike estava ficando visivelmente vermelho, May mantinham-nas a uma certa distância, mas quando Mike foi acertado na cabeça, Skye simplesmente torceu seu pulso, livrando-se de uma das algemas, como se fosse algo corriqueiro, e correu até o homem, todos seus instintos diziam que ele estava morto, mas quando checou seus sinais vitais ficou aliviada por ele não estar. Ao erguer a cabeça novamente notou May e Coulson empunharem suas armas em sua direção embora o tiro que lhe acertou foi o mesmo dado ao Mike e apenas a levou a uma dor de cabeça filha da puta e ao local onde tudo começou, na sala de interrogatório.

SHIELD TEAM

Coulson e May debatiam, a portas fechadas, o que fazer com a garota desacordada. Coulson estava determinado a saber da onde ela saíra, enquanto May estava mais preocupada em tirá-la do seu avião, o mais rápido quanto possível, considerava-a uma ameaça.

– Se ela quisesse nos matar, ela já teria feito, pelo que entendi, ela te ajudou na estação – ele ponderou num ar inteligente, erguendo uma das sobrancelhas.

– Talvez ela tenha outros planos – a chinesa, na casa dos quarenta, disse de forma enfática.

– Então vá checá-la, você mesmo disse que o corpo é sempre a maior prova – ele falou num ar conciliatório – Mas ela permanece nesse avião, até que eu diga o contrário – finalizou e a mulher apenas deixou o cômodo, indo até o laboratório chamar Jemma, a médica e bioquímica da equipe.

– Oh! Eu não me sinto muito confortável com isso, se me permiti dizer, agente May – a britânica iniciou num tom incerto.

– E você acha que eu me sinto ? – May retrucou friamente, o que fez Jemma calar-se instantaneamente. Desligaram a câmera da sala de interrogatório e calçaram-se das luvas, Jemma colheu o sangue da garota e fez uma varredura com um raio-x portátil para avaliar a sua estrutura óssea, afinal, não sabiam sua real idade, sequer Skye tinha completa certeza disso. May a despediu, deixando-a apenas de calcinha e sutiã e o que viram as deixou sem fala por alguns instantes; marcas de tiro a queima roupa, diversas facadas, cortes, queimaduras e, aparentemente, seus ovários foram retirados, Skye também exibia diversas tatuagens espalhadas pelo corpo. Fotografaram tudo e registraram a quantidade de ferimentos, Jemma parecia ter pressa em sair dali e May não a impediu, checando por fim os seios da garota e achando o chip, que rapidamente foi entregue a Fitz. Após o “exame”, May a vestiu e a deixou adormecida, ligando a câmera antes de deixar o cômodo.

Em poucas horas tinham um relatório completo do que conseguiram coletar com a adolescente, Jemma examinou seu sangue e encontrou trinta e quatro diferentes tipos de antídotos, para venenos em sua maioria, e sua idade óssea sugeria que a garota tinha dezoito anos, recém completos. Já May deduziu, pelos ferimentos, que Skye começou a ser treinada ainda criança e seus machucados sugeriam que a medida que ela crescia, eles ficavam mais intensos e brutais, mas foi Ward, que manteve-se distante até então, que notou uma semelhança que parecia estar passando batido pelos demais

– Red room, parece o mesmo programa da Black Widow – ele comentou com o cenho franzido e Coulson imediatamente concordou, tudo parecia sugerir que Skye estivera no programa e pior ainda, que ele ainda existia. Todos ficaram em silêncio, mas o pensamento era o mesmo, ”se ela for tão mortal quanto a Black Widow isso não vai acabar bem”. O silêncio foi quebrado apenas quando Fitz irrompeu no cômodo.

– Eu não posso burlar isso, Sr. – o rapaz disse e empurrou o chip na direção do líder.

– E eu posso saber o por quê, agente Fitz ? – o homem questionou, tentando soar paciente, sem muito sucesso.

– Porque se eu errar sequer uma sequência ele irá destruir toda a network da SHIELD, isso inclui todas as bases,operações,arquivos, a vida de todos os agentes cadastrados e projetos ... – ele ponderou, passando a língua sobre os lábios para só então completar – Tudo irá desaparecer, é o mais incrível suicide program que eu já vi na vida – ele finalizou e encarou o pequeno objeto com certa admiração e medo.

– O que é que esteja nesse chip é importante o suficiente ou perigoso o suficiente para fazê-la protegê-lo tão bem e eu quero saber o que é – Coulson finalizou e olhou para a sala de interrogatório onde a câmera mostrava a menina recém acordada e ainda meio aturdida - E eu irei descobrir, eventualmente. – O homem completou pondo o chip no bolso – Ative o detector de mentiras, agente Simmons – ele ordenou antes de partir até a sala de interrogatório na companhia de May.

– Oh! Isso é excitante, Fitz, nosso programa mede pressão sanguínea, dilatações da pupila, ritmo cardíaco entre inúmeras outras variáveis, se ela estiver mentindo, iremos saber – ela anunciou num ar orgulhoso na direção de Ward, que apenas forçou um sorriso, deixando o cômodo.


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