A Jornada do Príncipe escrita por Andy


Capítulo 33
Capítulo 33


Notas iniciais do capítulo

Boo! Assustei vocês? owo
Como foi o feriado, leitores lindos? Espero que tenha sido melhor que o meu, já que eu passei o tempo todo elaborando planos de aula. Ufa!
Então, gente... Eu estou com um medão desse capítulo. Pelo que li dos comentários (lembrando que: EU LEIO TODOS! ♥), não sei quanto das expectativas de vocês vou conseguir atingir... Estou preocupada de verdade. Pensei até em parar a fanfic por umas semanas para reformular tudo. MAS! Mas aí eu parei para pensar e, ah, vocês sempre apoiaram a história do jeito que ela é, não é mesmo? Qual seria o sentido de mudar agora? Então... Eu queria agradecer. Muito obrigada por serem leitores tão incríveis! Tão compreensivos e, acima de tudo, tão fiéis. Vocês me dão segurança suficiente para explorar, para arriscar, para criar sem ter medo de que meu público vá simplesmente desaparecer de uma hora para outra. Isso, para um autor, não tem preço. Muito obrigada mesmo!
Bom, estou ansiosa para ver as reações de vocês. Muito ansiosa. Espero que gostem do capítulo, apesar de qualquer coisa.

Xoxo

P.S.: Tem algo legal nas notas finais. Uma coisa que faz tempo que estou querendo revelar...

P.P.S.:Eu já comentei que esta fanfic tem 34 capítulos...?



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A primeira coisa que Legolas percebeu foi o frio. Era um frio estranho. Não era tão intenso quanto o que ele havia experimentado algumas vezes na Terra Média, mas ainda assim, era um frio particularmente penetrante, que parecia dominar tudo, invadir cada espaço que havia no elfo. Era como se sua própria alma estivesse fria. Disso resultava uma sensação incômoda e indefinível, como um calafrio permanente, constante.

Devagar, ele se levantou, ou julgou ter se levantado, embora não houvesse chão sob seus pés para servir como referência. Ele tinha a impressão de estar flutuando, mas não era como estar na água, e nem no ar. Não era uma sensação boa, como quando voamos em sonho. Era como estar em queda livre, sem o deslocamento de ar para indicar que se está caindo. Era nauseante. Legolas não havia se dado conta ainda, mas era isso o que significava estar em pleno nada.

A escuridão ali era tão absoluta que Legolas não conseguia ter certeza se estava de olhos abertos ou fechados. Era uma escuridão densa, e o elfo imaginou que se movesse os braços, poderia senti-la fluindo a seu redor. Ele tentou. Não sentiu nada. Mesmo assim, as trevas pareciam sufocá-lo, como se se fechassem sobre ele.

Ele olhou de um lado para o outro e girou. Eram movimentos estranhos, considerando que não havia qualquer ponto de referência. Mesmo tendo um senso de direção melhor que o de muitos, ele logo ficou sem saber para que lado estava olhando quando “acordou”.

Não havia nada ali. Absolutamente nada.

Nem ninguém.

— Madlyn? — Ele sussurrou, mas foi incapaz de ouvir a própria voz, apesar de ter certeza de que havia falado. — Madlyn?! — Ele tentou chamar mais alto, mas o silêncio permaneceu intocado.

Legolas começou a sentir o desespero se fechando sobre seu coração. Ele não tinha nada para fazer. Lugar algum para ir. Nada para usar como guia. Estava completamente só, totalmente desamparado.

Pior.

Ele era nada.

— Madlyn!

Quando ele estava começando a entrar realmente em pânico, porém, julgou ter visto algo longe, muito longe. Ele estreitou os olhos, pensando que talvez fosse uma miragem. Mas sem dúvida havia uma espécie de brilho lá adiante, a uma distância quase longe demais para seus olhos élficos captarem. Sem se preocupar em questionar o que podia ser, ele começou a correr na direção da fraca luz.

Não existe tempo no Eterno Vazio. Mas se existisse, Legolas talvez tivesse corrido durante um ano inteiro, até que finalmente o brilho começou a se tornar levemente mais intenso e a tomar forma. O elfo se concentrou, tentando correr ainda mais rápido.

Finalmente, ele parou. O brilho, que estava agora bem à frente dele, era na verdade uma luz tremeluzente como a chama de uma vela prestes a ceder à força do vento e se apagar. Enquanto Legolas observava, a luz se movimentou e, lentamente, assumiu os contornos do corpo de Madlyn. A elfa, ou seu espírito, como Legolas adivinhou que fosse, dormia. Ela estava encolhida, parecendo sentir muito frio, e seu rosto tinha uma expressão angustiada, como se ela estivesse tendo um pesadelo.

— Madlyn? — Legolas se abaixou e pôs a mão sobre o ombro dela, balançando-a gentilmente. Ela nem se moveu. — Madlyn!

Nada. Legolas a sacudiu um pouco mais violentamente, agora:

— Madlyn! Madlyn!

Ela não deu qualquer sinal de que o havia ouvido, ou sequer sentido seu toque. Ele começou a se desesperar. Teria chegado tarde demais? Angustiado, ele ficou olhando o rosto dela. Ela estava sofrendo, isso era bem claro.

De repente, uma ideia lhe ocorreu. Ele se aproximou um pouco mais e chamou, num tom gentil:

— Erin?

As pálpebras dela tremeram ligeiramente e Legolas se afastou para não a assustar. Ela abriu os olhos bem devagar e piscou pesadamente. Parecia confusa, como se tivesse dormido daquele jeito durante muito, muito tempo.

— Madlyn? — Legolas chamou. E embora não saísse som algum de seus lábios para romper o silêncio, a elfa pareceu ouvi-lo, pois estremeceu e abriu os olhos de uma vez. Ela os estreitou ao olhar para ele, como se a luz a incomodasse.

— Legolas? — Quando ela falou, não houve som, mas Legolas pôde ouvi-la claramente em sua cabeça. Era como se ela falasse diretamente para sua alma. Ela pôs a mão na frente do rosto, piscando com força. — Não. Não pode ser! Legolas está feliz longe, muito longe daqui. Vá embora!

— Não! Não, Madlyn! — Legolas mal conseguia conter a felicidade arrebatadora que tomou conta dele ao perceber que era capaz de se comunicar com ela. — Sou eu! Eu vim buscar você! Eu vim para te tirar daqui!

— Impossível! Vá embora!

— Madlyn, me escute! Eu vim por você, eu...

— Vá embora! — Ela o empurrou. A força foi tamanha que pegou Legolas de surpresa, empurrando-o a uma grande distância, maior do que ele suporia possível.

Madlyn começou a correr na outra direção, e seu brilho fraco foi se afastando cada vez mais.

— Não! — Legolas começou a correr atrás dela.

Apavorado, ele pensou que não conseguiria alcançá-la. Ele a perseguiu durante o equivalente a dez horas. Até que de alguma forma, finalmente, seus dedos se fecharam em torno do pulso dela. Madlyn se virou para olhá-lo, parecendo furiosa.

— Por favor, você tem que me escutar!

Ela puxou o braço com violência, livrando-se dele, mas não saiu correndo de novo. Ela o encarou. Legolas respirou fundo, sentindo-se um tanto intimidado pela frieza nos olhos dela.

— Eu não amava você.

Ele viu a mágoa passar apenas brevemente pelo rosto dela, antes de ele tornar à fúria:

— E você veio até aqui para me dizer isso?!

— Não! Escute! — Ele estendeu a mão, pedindo para ela esperar. — Eu não amava você, mas eu pensava que sim. Eu tinha certeza de que te amava, eu não menti para você. Nunca. Mas... Mas eu não podia amar você, Madlyn.

Ela fechou ainda mais a cara ao ouvir aquele nome. Legolas tentou não se deixar abalar.

— Eu não podia amar você porque... Porque eu não compreendia você. O tempo todo, eu sentia que eu não conhecia você. Que não fazia ideia de quem você era. E era verdade. Eu realmente não a conhecia nem um pouquinho. Por isso eu não podia amar você. Mas agora... — Ele sorriu, deixando que seus sentimentos escapassem para sua voz. — Agora eu a compreendo. Eu pensava que eu amava você. Mas amor... Amor é o que eu estou sentido agora.

— Mentiroso! — Ela praticamente cuspiu a palavra. A raiva era tão intensa em sua voz que fez a mente de Legolas doer. — Eu vi você com a Tauriel!

Legolas arregalou os olhos, mas logo se recompôs.

— Então você viu...

— É ela quem você ama. É ela quem você sempre amou!

Ele balançou a cabeça levemente.

— Não, Madlyn! Tauriel... Eu realmente a amo. Muito. E sempre vou amar. Mas como a uma velha amiga. Na verdade, eu devo muito a Tauriel. Porque foi ela quem me ajudou a compreender você. Foi ela quem me mostrou que eu estava vendo tudo errado, porque apesar de tudo... Apesar de tudo, você me protegeu, Madlyn. — Ele deu um passo em direção a ela.

Ela recuou instantaneamente.

— Você nunca disse que me amava, mas... Não precisava. Você estava me mostrando isso o tempo inteiro, em cada atitude sua. Você me salvou. E salvou Gimli. E Gildarion. Você não é má. E eu sou um idiota por não ter percebido isso antes. Além disso... Eu sempre tive dúvidas. Eu não conseguia compreender o que eu sentia por você, porque a dúvida era como uma nuvem sobre meu coração, enevoando tudo. E foi Tauriel quem ajudou a dissipar essa nuvem. — Ele fez uma pausa. — O que você viu, Madlyn, foi eu encerrando para sempre a minha história com Tauriel. Ou a história que eu inventei que tinha com ela. Todas as minhas fantasias... Elas não valem nada, diante da realidade do meu amor por você.

Pelo que pareceu uma eternidade, Madlyn apenas o encarou, inexpressiva. Legolas sentia-se sufocar pela angústia, enquanto mantinha os olhos fixos no gelo do olhar dela. Então, ela sorriu. Mas não era o sorriso que ele queria. Era um sorriso de puro escárnio. Era sombrio, cruel. Inconscientemente, ele recuou um passo.

— Você pensa que me compreende, Legolas. Mas está terrivelmente enganado.

Ele franziu as sobrancelhas. Ela riu com desdém.

— Eu quase tenho pena de você. — Ela deu um passo na direção dele. — Fui eu quem comandei o ataque dos orcs a Gondor!

Legolas recuou de novo, arregalando os olhos.

— Depois que Sauron caiu, eu jurei vingança contra a Sociedade do Anel. Durante anos, eu me esforcei para reunir tantos orcs quanto possível e os escondi na antiga fortaleza de Dol Guldur. Sim, bem debaixo dos olhos dos elfos verdes! Não foi difícil, já que vocês, supersticiosos, nunca iam até lá. Eu escondi meu exército cuidadosamente, esperando que vocês se julgassem livres dos orcs. Enquanto isso, eu os treinei e arquitetei cuidadosamente o meu plano.

— Mas eles raptaram você, eles quase...

Madlyn riu de novo.

— Escute a história toda, sim, amorzinho?

“Quando Elessar morreu, eu fiquei furiosa. Eu vi que tinha esperado demais. Eu queria que ele tivesse sentido na pele a força da minha ira. Mas agora eu teria que me contentar com o que restava da Sociedade do Anel... E com Gondor, seu maior aliado.

“O meu plano era simples: atacar de surpresa e vencer antes que o novo rei, que ainda devia estar abatido pela morte do pai, antes que ele pudesse sequer entender o que o tinha atingido. Mas eu não contava que você e Gimli fossem deixar o reino tão cedo.

“Quando eu salvei o anão, foi apenas para ganhar sua confiança. Aliás, quem você pensa que envenenou a água do rio, para começo de história?

Legolas sentiu como se ela tivesse lhe dado um tapa na cara. Ela sorriu, percebendo que o estava machucando.

— Quando eu vi que você pretendia realmente partir, eu o segui e avisei sobre o ataque a Gondor. Eu sabia que você voltaria correndo para ajudar o seu rei. Foi fácil, muito fácil. E você nem desconfiou de nada. Eu ainda consegui levá-lo até Dol Guldur! Eu precisava voltar lá para me comunicar com a elite do meu exército, que estava me esperando. Ah! Você não sabe como foi tentador... Eu poderia tê-los matado ali mesmo. Teria sido muito simples, e vocês nem saberiam o que tinha acontecido. Mas era justamente esse o problema. Eu queria que vocês vissem o filho de Elessar cair. Queria que soubessem por que estavam sendo punidos.

“Então eu esperei e ordenei que os orcs fossem pacientes. E aí eu os levei a Gondor. Salvar a rainha foi uma coincidência, mas serviu direitinho para os meus planos. Foi ali que eu consegui conquistar totalmente sua confiança. E, melhor ainda, conquistei também o seu coração, não foi? Sem nem tentar! Eu não estava contando com isso. Foi muita sorte.

— Mas você lutou ao nosso lado! — Legolas se esforçava para impedir que as lágrimas o dominassem. A mente dele trabalhava rapidamente, lutando para fazer com que aquilo fizesse sentido.

— Lutei! Porque eu não esperava que a defesa de Gondor fosse tão eficiente! Uma coisa deve ser dita em favor dos seus amigos... Eles sabem lutar. E suas alianças são muito sólidas. Eu pensei que Rohan romperia com Eldarion no instante em que nós destruíssemos algumas de suas vilas... E também pensei que Thorin não se desviaria do ouro de Aglarond para lutar em uma batalha que não fosse dele. Eu estava errada.

“E logo que percebi que aquela luta estava perdida, eu decidi recuar... E esperar por uma segunda chance. Enquanto isso, era melhor manter a confiança que eu tinha começado a conquistar com você. Ela poderia me ser útil no futuro. Foi por isso que eu comecei a lutar ao lado de Gondor. E você estava tão preocupado em “me proteger” que nem notou como os orcs hesitavam em me atacar. Você nem viu como eles estavam todos confusos.

— E a caverna? A lava? Aquilo também fazia parte do plano? — A tristeza de Legolas estava lentamente se transformando em raiva. Mas esta última também, às vezes, se traduz em lágrimas. Algumas começaram a escorrer pelo rosto dele, prateadas, sem que ele pudesse evitar. — Você podia ter morrido!

Madlyn abriu um sorriso torto para ele. Cruel como o de Eöl. Ou pior.

— Você lembra que agora há pouco eu mencionei minha “elite”? Uma parte dos meus orcs estavam ocultos nas sombras. Magia negra. Complicadíssima. Saruman jamais a dominou. Mas eu sim. Sauron tinha muito orgulho de mim por isso. Eu ocultei os melhores dos meus soldados. Os outros orcs não podiam vê-los e pensavam que eu os havia matado. Era um dos meios pelos quais eu os controlava. Medo.

“Orcs são criaturas vingativas. Quando viram que eu tinha ‘mudado de lado’ e que a luta estava perdida, os ‘orcs da luz’ decidiram me capturar. Eles viram como você me defendia e pensaram que você estava apaixonado por mim. Acharam que você iria me querer de volta e que pagaria um bom preço por isso. É claro, eles são idiotas. Não pensaram que você iria caçá-los daquele jeito.

“Eu não conhecia aquela caverna, mas ela serviu muito bem aos meus propósitos. Aquele ambiente escuro, a lava... Tudo serviu para criar toda uma dramaticidade para impressionar ainda mais você. Eu não podia ter planejado melhor.

“Eu vi você e Gimli na entrada da caverna. Então, fiz sinal para que os orcs das sombras, que estavam por todos os lados ali, não se intrometessem e aguardassem o meu comando. Eu queria fazer um teatrinho. Assim, eu poderia me aproximar ainda mais de você. E poderia voltar para Gondor, me aproximar do rei. Se no fim das contas você não me salvasse, meu capitão me salvaria. E os ‘orcs da luz’ que tinham tentado me raptar teriam sido destruídos.

“É claro, o seu salvamento heroico foi ainda melhor do que eu esperava. Foi ali que eu percebi que estava começando a ganhar seu coração. Foi assim que você me deu uma arma muito melhor do que todo um exército orc. Você me deu o poder para te destruir completamente.

“E acho que consegui. Afinal, olha só onde você veio parar, amorzinho!

Ela deu um giro, enfatizando o Vazio em que eles estavam e depois piscou para ele, debochando. Legolas passou o braço sobre os olhos, tentando parar as lágrimas e se forçou a olhar para Madlyn.

— Mas depois você não fez nada em Gondor. Você partiu conosco. Você desistiu de se vingar do reino?

— De jeito nenhum! Mas eu não podia abandonar você. Não quando eu estava apenas começando a dominá-lo. Quando você estava começando a abrir esse coraçãozinho para mim. Além disso, apesar de ser a cara de Elessar, Eldarion não foi um membro da Sociedade. Você e Gimli eram os últimos membros originais que eu ainda podia alcançar. Eu não podia perdê-los de vista.

— Então foi tudo fingimento? As conversas à beira da fogueira, as risadas...

— Os abraços, os beijos, os carinhos... Tudo! Não, espere! Nem tudo. Aquilo não foi fingimento. Aquela noite, em Menegroth. Sabe, até que para um jovenzinho inocente e inexperiente, você sabe o que faz... Eu me diverti muito com você. Não precisei fingir nada. — Ela sorriu maliciosamente para ele.

Legolas preferiria que ela tivesse lhe dado um soco no estômago.

— E depois que eu consegui o que queria... Eu pensei que estava na hora de acabar com isso de uma vez. — Ela fez uma pausa. — Sim, caso você ainda esteja em dúvida, fui eu quem mandei aqueles orcs atacarem vocês perto do Lago Evendim. Eu já tinha percebido que seu ponto fraco em batalha era que você se orientava demais pelo som. Por isso, mantive alguns dos meus orcs ocultos nas trevas. Para confundir você. E fui eu quem os orientou a te separarem do Gimli, também. Você percebeu, não foi? Que você era o alvo o tempo inteiro?

Ela se calou, assistindo ao sofrimento de Legolas enquanto ele processava tudo o que ela havia acabado de lhe contar. De vez em quando, uma lágrima escapava ao controle dele, e Madlyn acompanhava seu trajeto com os olhos, com um sorriso torto dançando nos lábios.

Subitamente, porém, a expressão no rosto do elfo mudou, tornando-se mais branda. Ele pareceu ir se acalmando gradualmente, como se um pensamento o tivesse confortado. Até que uma última lágrima escorreu. Ele não a enxugou, mas empertigou-se levemente. Madlyn ficou olhando para ele, desconfiada. Ele ergueu a cabeça para encará-la. E então, para a surpresa dela, ele sorriu. Um sorriso sincero.

— Nada disso muda o fato de que você me salvou, no final. Você não permitiu que eles me matassem. Talvez tenha sido sem querer, não importa. Você não foi capaz de assistir à minha morte. E você se dispôs a dar a sua vida em troca da minha.

Madlyn arregalou os olhos, que instantaneamente se encheram de lágrimas prateadas. Ela deu um passo para trás, negando com a cabeça.

— Eu aposto que você não pensou em galvorn. Nem em Mandos, nem em Valinor. Se morresse na Terra Média, você iria para Aman. Direto para o palácio de Mandos, onde o seu maior medo te esperava: o julgamento dos Valar. E este inferno. Mas você não pensou em nada disso, porque me salvar era muito mais importante.

As lágrimas começaram a escorrer pelo rosto da elfa. Ela continuava tentando negar com a cabeça, mas o fazia menos energicamente.

— Eu poderia até acreditar, quem sabe, que você realmente fez tudo o que fez só para me machucar. Que você só queria que eu me apaixonasse por você, para depois partir o meu coração. — Ele deu dois passos em direção a ela. Ela recuou apenas um. — Eu poderia acreditar nisso. Mas se fosse esse o caso, eu acho que o feitiço teria se voltado contra você. Você não esperava se apaixonar por mim também.

— EU AMO SAURON! — Ela gritou, dando um largo passo para trás, afastando-se dele.

Legolas recuou com o susto.

— Eu amo o Sauron! — Madlyn gritou de novo, chorando ainda mais intensamente, agora. — Ele não era apenas o meu mestre! Ele era o amor da minha vida!

Legolas ficou apenas olhando para ela, em choque.

— Quando eu fui até Dol Guldur, eu estava procurando apenas por abrigo, mas eu acabei encontrando muito mais. Sauron não era nada do que vocês dizem! Nada do que suas canções desprezíveis contam! Ele era gentil, atencioso... Ele olhou para mim e viu não uma elfa das trevas... Ele viu a mim! Exatamente como eu era! Uma garota que tinha um coração! E ele me ofereceu tudo o que eu buscava: proteção e um lugar para ficar. Mas mais do que isso, ele me ofereceu carinho. Compreensão. Cuidado. Ele me ensinou a lutar, me ensinou a ser forte. — Ela parou para respirar e tentou sem sucesso enxugar as lágrimas. — E me deu amor. — Ela sorriu levemente, apesar dos soluços. — Ele me fez sua rainha e me prometeu que, quando ele tivesse o controle do mundo, nunca mais eu seria mandada embora de lugar nenhum. Ele prometeu que tudo o que fosse dele, seria meu.

As sobrancelhas de Legolas se uniram numa expressão que Madlyn não conseguiu decifrar. Ele deu um passo lento em direção a ela, como se temesse assustá-la.

— Mas você e sua Sociedade estragaram tudo! Sauron era tudo para mim, e vocês o mataram! Vocês o atiraram ao Vazio e mancharam o nome dele, dizendo mentiras horríveis a seu respeito! Você pensa que eu te amo?! Ao contrário! EU TE ODEIO! Você e todos os seus amigos! Eu os odeio com todas as minhas forças! Vocês mataram o amor da minha vida! — Ela o encarou com olhos furiosos. — Você, principalmente, Legolas! Eu te odeio mais do que todos os outros, porque se não fosse por você, o Um Anel seria meu! Seria de Sauron! Mas você se colocou no meu caminho! Eu te odeio! Você não sabe como eu sofri! Cada vez que eu tinha que te beijar, eu sentia nojo, eu... — Ela se calou, surpresa, quando Legolas se adiantou a passos largos e a abraçou, apertando-a com força contra o peito.

Ela levou alguns segundos para se recuperar do choque.

— Não! Me solta! — Ela começou a se debater, mas Legolas a segurou com mais força. — Me solta!

— Não.

— EU TE ODEIO!

— NÃO!

Madlyn parou de se debater e começou a tremer, chorando intensamente.

— Não... — Legolas baixou o tom de voz para um quase sussurro. — Eu sinto muito, Madlyn.

Madlyn estremeceu. Percebendo que ela não ia fugir, Legolas afrouxou um pouco o abraço para não a machucar e ergueu uma das mãos até sua cabeça, começando a afagar seus cabelos.

— Você sofreu tanto... Desde pequena, tudo o que você conheceu foi rejeição. Primeiro Eöl, depois Lyn, Thingol, Maeglin... Todos sempre abandonavam você, lhe davam as costas. E você não fez nada para merecer isso, exceto ser você. Mas você não tinha escolha. Você não podia mudar quem você era, não é? Por mais que tentasse, não havia nada que você pudesse fazer.

Madlyn agarrou a frente das vestes dele com força e enterrou o rosto em seu peito:

— Eu te odeio, eu te odeio, eu te odeio... — Ela murmurava, de forma mecânica.

— E aí, quando você finalmente encontrou alguém que não te rejeitou, alguém que te aceitou... Alguém que valorizava quem você era, em vez de te desprezar por esse mesmo motivo... Era natural que você confundisse esse sentimento com amor.

— Eu amo Sauron! — Ela ergueu uma mão e socou o peito dele, mas sem força nenhuma. Era mais um gesto de frustração do que um ataque. Legolas não chegou nem a cambalear.

— Eu entendo que você tenha se apaixonado pela ideia de ser amada por Sauron. Não poderia ter sido diferente, considerando a sua história. Ele estava oferecendo aceitação, algo que você nunca encontrou antes. Era evidente que você iria se apaixonar por ele. E ele sabia e se aproveitou disso. E como se aproveitou! Ele conseguiu que você continuasse lutando por ele mesmo anos após sua morte!

Madlyn soluçou. Legolas estreitou o abraço, descendo suavemente a mão até sua cintura.

— Eu acho que no fundo você sabe que ele não a amava de verdade, não é? Você sabe que Sauron só amava o poder.

Madlyn reagiu tentando empurrá-lo com raiva. Legolas foi mais rápido e a segurou com força.

— Eu sei... Eu sei que você está confusa... A paixão pode nos confundir. Você se apaixonou pela ideia de finalmente ser aceita por alguém, e confundiu isso com amor. Mas, Madlyn... O que você sente por Sauron não é amor. E nem o que ele sentia por você, se é que sentia alguma coisa.

— Mentiroso! Você não sabe o que eu sinto! Você diz que me compreende, mas você não entende nada!

— Shh... — Legolas tentou acalmá-la.

— Eu amo Sauron! E ele me amava também!

— Mas olha só o que esse “amor”... O que esse sentimento fez com você! Ele fez com que você vivesse solitária. Fez com que seu povo partisse e te deixasse para trás. — Madlyn tremia, chorando nos braços dele. — Fez com que você vivesse perseguida pelas trevas, cega por elas... Esse sentimento a impediu de ver o paraíso, Madlyn, a terra de Eru! E, no fim de tudo, ele te atirou a este inferno.

A elfa não respondeu. Legolas esperou, deixando que ela se acalmasse e que suas palavras se assentassem no coração dela.

— Veja o quanto você sofreu... O quanto está sofrendo agora mesmo. O ódio faz isso. A raiva. O ciúme, o medo, a insegurança, a rejeição, a inveja... — Ele ergueu a mão para afagar o cabelo dela de novo. — Mas o amor... O amor jamais faria isso com você, Madlyn. O amor jamais te condenaria.

Enquanto Legolas falava, tanto ele quanto Madlyn puderam sentir nitidamente parte do frio que sentiam desde o momento em que acordaram no Vazio se dissipando. Madlyn sentia como se algo a estivesse aquecendo de dentro para fora. A sensação era boa. Bem lentamente, insegura, ela ergueu os braços e envolveu a cintura de Legolas.

O elfo sorriu levemente.

— O amor jamais a deixaria sozinha na escuridão.

Ele a afastou gentilmente, apenas o suficiente para poder olhar para ela. Ela mantinha a cabeça baixa. Gentilmente, ele pôs a mão sob o queixo dela e o puxou para cima, para que ela olhasse para ele. Quando ela o fez, uma lágrima escorreu do canto do olho dela. Legolas sorriu gentilmente, olhando fundo em seus olhos.

— O amor jamais a empurraria para as trevas. Ao contrário, ele é luz.

Madlyn sentiu a onda de calor que tomava conta dela se expandir ainda mais, partindo do lugar em que ficaria seu coração, se ela tivesse um corpo. Insegura, ela estendeu a mão para tocar o rosto de Legolas. O sorriso dele se ampliou, e seus olhos pareceram cintilar. Madlyn afagou o rosto dele suavemente.

É impossível precisar quanto tempo eles permaneceram assim, apenas olhando nos olhos um do outro. Madlyn continuava chorando, mas o motivo agora não era mais nem mágoa, nem tristeza, nem raiva, nem ódio. Enquanto ela olhava fundo nos olhos de Legolas, cada um desses sentimentos pareceu diminuir lentamente, até desaparecer. No lugar deles, crescia outro muito mais forte. Mais forte que qualquer coisa que ela já havia sentido antes. Por isso ela ainda chorava. Ela não conseguia conter esse sentimento que pulsava, aquecendo-a, afastando o frio e as trevas.

Legolas também o sentia. Nitidamente. Como jamais havia experimentado antes. Bem lentamente, tomando cuidado para não assustar Madlyn, ele se inclinou, aproximando o rosto até que seus lábios pousaram suavemente sobre os dela.

Por um breve instante, Madlyn não se moveu. Então, ela fechou os olhos e, bem devagar, envolveu o lábio inferior dele com os seus, puxando de levinho, com carinho. Ela sentiu quando Legolas sorriu ao retribuir, segurando mais firme em sua cintura, puxando-a em direção a si. Com delicadeza, ele foi pouco a pouco aprofundando o beijo, e Madlyn entreabriu os lábios, dando-lhe permissão. Os lábios dele se moviam apaixonadamente, ávidos por demonstrar todo seu amor. Quando ela correspondeu da mesma forma, enroscando os dedos aos cabelos em sua nuca, uma lágrima escapou dos olhos de Legolas, que ele mantinha fechados.

Se Legolas e Madlyn pudessem ver a si próprios naquele momento, se assustariam ao ver como uma luz douradada os envolveu e, apenas por um instante, iluminou todo o Grande Vazio.


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Notas finais do capítulo

MÚSICA TEMA DO LEGOLAS E DA MADLYN

Nos momentos de desespero, um autor busca inspiração onde pode. Quando estava no meio dessa fanfic mais ou menos, eu percebi que havia cometido um erro terrível, que comprometia toda a história, lá no capítulo 3. Na época, eu estava escrevendo o capítulo 12 e já tinha postado o 3. Não tinha mais volta. Então, é claro, eu entrei em pânico e parei completamente de escrever. Até que um dia me deparei com essa música, que resolveu todos os meus problemas, porque ela me deu uma ideia muito louca, que foi o que vocês acabaram de ler. Então, todo (ou quase todo) o romance de Madlyn e Legolas foi inspirado nessa música. Se vocês a ouvirem e prestarem atenção à letra, vão entender um monte de coisa. E também vão ver por que eu nunca compartilhei antes. Seguem os links:

Original: https://www.youtube.com/watch?v=96MiYk9VYvc
Traduzida: https://www.youtube.com/watch?v=xz_QUQ0C1NQ

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E aí, o que acharam do capítulo? Foi muito diferente do que estavam esperando? Melhor? Pior? Sejam sinceros! Eu vou ficar feliz em explicar para quem quiser o meu ponto de vista e o porquê de a história ter caminhado dessa maneira.

Mais uma vez, obrigada por tudo! Preparem os coraçõezinhos para o último capítulo semana que vem. ;3