A Jornada do Príncipe escrita por Andy


Capítulo 2
Capítulo 2


Notas iniciais do capítulo

Olá, leitores lindos! ^-^
Finalmente, aqui está o segundo capítulo! A ideia é continuar postando de 15 em 15 dias, como eu fazia no começo de "A Razão do Rei".
Eu fiquei muito contente com a recepção da fanfic! Muito obrigada pelo carinho e por todos os comentários, acompanhamentos e favoritos! Tudo isso significa muito para mim!
Dedico este capítulo à LivDsloan, que faz as fanarts mais incríveis do mundo! Obrigada!
Sem mais delongas, ao capítulo! /o/

P.S.: Ah, sim! Caso vocês fiquem perdidos... Há uma mapa da Floresta Verde no final do capítulo! ^-^'



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É impressionante a velocidade com que se consegue viajar quando se tem um cavalo e um pônei e não se tem que decapitar nenhum orc no caminho. Não que isso deixasse Gimli contente.

— Nem um orc! Nem unzinho! Ah, bons tempos aqueles em que a gente podia apostar quantos cada um matava, não eram, Legolas? — O anão estava particularmente mau-humorado naquele dia. Havia dias que tinham partido, e o maior desafio que tinham enfrentado tinha sido uma chuva passageira de primavera. Além disso, ele se sentia enjoado cavalgando sozinho no pônei, pois não conseguia domar o animal direito, e ele ficava trotando esquisito, sacolejando. Mas Gimli preferia morrer a pedir a Legolas para levá-lo na garupa de seu cavalo como antigamente.

— Sim, sinto falta de derrotar você! — O elfo praticamente gritou para que o anão o ouvisse. Ele estava vários metros à frente de Gimli, que se atrapalhava o tempo inteiro.

Mais por costume do que por necessidade, ele procurava olhar adiante com seus olhos aguçados, buscando antecipar o que os esperava. Ao terminar de subir a pequena colina em que se encontravam, ele não pôde evitar um sorriso um tanto nervoso.

— Ei, Gimli! — Legolas fez o cavalo dar meia-volta para olhar para o amigo lá embaixo. — Vamos logo com isso, sua lesma de Isengard, você precisa ver isto!

Gimli, que ainda resmungava alguma coisa sobre “mostrar para ele quem derrota quem” tentou dar um leve tapinha no pônei para fazê-lo andar mais rápido. Mas todos sabem que anões são incapazes de qualquer leveza, então, logicamente, o resultado foi um pônei correndo desembestado em ziguezague colina acima e freando repentinamente quando Legolas tomou as rédeas. Um Gimli furioso foi direto ao chão, de cara na relva ainda molhada.

— Seu elfo maldito, eu juro qu... — Ele se interrompeu ao erguer a cabeça e ver a enorme mancha verde-clara que se estendia no horizonte até onde os olhos podiam ver.

— Contemple a Floresta Verde de Greenwood(1). — Legolas não pôde evitar que o orgulho inundasse sua voz ao dizer aquele nome, há tanto tempo esquecido da língua dos homens. — Meu reino. Enfim restaurado ao antigo esplendor verde.

~~ ♣ ~~

Já era quase noite quando os companheiros finalmente alcançaram as margens da Floresta Verde. Então Legolas parou, perscrutando as árvores lentamente. Ele estreitou os olhos, pesando suas opções.

— O que foi? Por que paramos? — Gimli chegou alguns minutos depois e parou ao lado dele.

— Não devemos entrar por aqui.

— Ora, por que não?

— Estaríamos perto demais de Dol Guldur. Sabe-se lá que forças malignas ainda vivem na velha fortaleza.

— Forças malignas? Nós derrotamos Sauron! Nós podemos com meia dúzia de orcs! — Gimli pulou de seu pônei animado, já puxando seu machado e andando em direção à floresta.

Legolas o segurou pelo colarinho quando ele passou a seu lado.

— Não seja tolo! É melhor não provocar as forças do mal, se podemos evitá-lo.

— Me largue! Ora essa! Você é um covarde, orelhudo, sempre foi!

Os olhos de Legolas faiscaram para Gimli, acessos pela velha rivalidade que os dois amigos faziam questão de manterem viva, mesmo depois de todos aqueles anos. Foi nesse instante, porém, que uma lebre saiu correndo de dentro da floresta e passou em disparada bem ao lado de Gimli, que se assustou e pulou fora do caminho dela. Legolas riu, soltando o anão.

— Venha. — disse, em um tom zombeteiro. — Vamos um pouco mais para o leste, só para garantir.

— Bicho maldito! — Gimli, que havia corado levemente, ainda resmungava enquanto subia em seu pônei.

Os dois andaram para o leste até Legolas ficar satisfeito com a distância, e finalmente entraram sob as copas das árvores. Os animais tinham dificuldades em andar ali (e Gimli mais ainda), mas Legolas não queria abrir mão deles, pois teriam um longo caminho para percorrer ao sul depois de terem passado pelo antigo palácio de Thranduil.

— Eu estou falando, Legolas, é um atraso de vida! A gente devia ter largado essas criaturas há muito tempo! — Gimli reclamou, ainda esfregando o traseiro dolorido com uma mão, depois de ter caído do pônei pela nona vez só naquele dia.

— E como você pretende carregar todos esses mantimentos? Você come como um porco!

— Porco é o seu passado!

— Eu já perguntei se você não quer vir comigo, como nos velhos tempos.

— E quem você acha que eu sou? Uma dama indefesa? O que está sugerindo, que eu não posso andar no meu próprio pônei?

Legolas revirou os olhos e fez seu cavalo contornar com cuidado outra árvore. Então, ele percebeu uma coisa e puxou as rédeas, sobressaltando um pouco o animal.

— Shh, shh, shh! — Ele deu leves batidinhas no pescoço branco dele para acalmá-lo.

— Que “shh” nada! — Gimli continuava falando, contornando a árvore pelo outro lado. — É claro que tem muita comida! Estamos numa floresta, ora essa! — O anão parou ao ver a expressão do outro. — O que foi?

Legolas apontou. Bem à frente deles, no tronco de uma árvore particularmente grande, havia a marca de uma enorme mão branca, já meio amarronzada e desgastada pelo tempo, mas ainda claramente visível.

— Saruman! — Gimli exclamou, espantado. — Eu não sabia que aquele maldito havia passado por aqui também!

— Nem eu... — Legolas praticamente sussurrou, instigando o cavalo a avançar lentamente em direção à árvore.

— Essa marca me traz muitas, muitas lembranças. — O anão estava sério, como se só agora reconhecesse os horrores que aquela floresta havia vivenciado.

O elfo estendeu a mão lentamente, como se temesse se queimar, mas enfim tocou a marca na casca da árvore. O toque era áspero e seco, apesar de estarem em plena primavera.

— Foi uma tragédia que Saruman tenha pendido para o mal. — observou. — Antes disso, em sua época como O Branco, ele foi um dos grandes entre os grandes(2).

— Ah, você e seu sentimentalismo!

— Reconhecer a grandeza de nossos inimigos é reconhecer a nossa própria. — Legolas sorriu, aquele mesmo sorriso torto que herdara do pai.

— É, tá bom, chega de filosofia élfica barata, antes que eu tire esse sorrisinho da sua fuça à força! — Gimli já estava voltando a seu estado rabugento natural. Estava ficando pior com a velhice que se aproximava. — E vamos arrumar logo um lugar para acampar, que eu estou com fome!

— Porco... — O elfo falou baixinho, já voltando a andar.

— O quê? O que disse?

Legolas apenas riu e continuou a abrir caminho entre as árvores.

~~ ♣ ~~

Legolas tinha esperanças de que eles pudessem chegar ao palácio de Thranduil ainda naquela noite, mas quando as trevas ficaram tão densas que Gimli não parava de dar de cara com as árvores, ele foi obrigado a admitir que era hora de armar acampamento para passar a noite. Escolheram uma clareira que conseguiram encontrar próximo ao Rio Encantado. Eles já haviam passado pela Velha Estrada e se aproximavam das Montanhas da Floresta. O elfo alertou Gimli para que não bebesse da água do rio, porque não se sabia quanto da antiga magia negra dos tempos de Thorin Escudo de Carvalho(3) ainda restava nele. Aliás, de preferência, era melhor que o anão simplesmente não tocasse em nada, só fosse dormir e pronto.

— Você acha que eu sou o quê? Uma criança? — Gimli se deitou na relva e se virou de lado, de costas para Legolas. Estava de mau humor de novo, como sempre ficava quando o elfo começava a querer mandar demais, e ele sabia que ele tinha razão.

— Não, apenas um anão terrivelmente tolo e teimoso.

— Tolo é...!

— Já sei, já sei. Vamos dormir. Temos que retomar o caminho daqui a algumas horas.

De fato, apenas algumas horas depois, Legolas despertava. Ali, em sua terra, sentira suas energias se recarregarem mais rapidamente que o normal, como não sentia havia anos. De muitas formas diferentes, o elfo se sentia verdadeiramente em casa. O cheiro, os tons das árvores, tudo ali era familiar. Ele se levantou e estendeu os braços alongando-se e fechando os olhos enquanto o fazia. Quando os reabriu, porém, teve uma surpresa desagradável.

— Pilin? — chamou, baixinho. — Pilin!

Ao lado, no chão, Gimli ainda roncava.

Legolas se apressou em olhar ao redor, num raio de cinquenta metros, mas o cavalo não estava em lugar algum. O pônei também havia sumido, e, junto com eles, toda a sua comida. O elfo achou melhor voltar para o acampamento e acordar o amigo.

— Gimli! Gimli!

— É meu... O ouro é todo meu... — O anão resmungava.

— Gimli!

— Não! Não vem que não tem!

Legolas se impacientou e se pôs de pé, dando um chute em Gimli que o fez rolar dois metros e bater de encontro a uma árvore. O anão imediatamente se pôs de pé, puxando o machado e olhando ao redor como um louco.

— O que é? O que foi? Cadê aquele maldito dragão?

— Gimli, onde estão os animais?

— Hein?

— O cavalo e o pônei, Gimli, onde estão?

— E eu que sei? Você que é o cavaleiro aqui!

— Eles sumiram!

— Ah, bom, já vão tarde!

Legolas olhou feio para o anão:

— Eles e toda a nossa comida!

— Eu já disse, estamos numa floresta! Podemos nos virar sem isso!

— Ah, é? Quero ver quando você estiver com fome!

— Veremos!

~~ ♣ ~~

Sem o pônei, não demorou muito para que Gimli começasse a reclamar de cansaço. Legolas ficava provocando-o, chamando-o de molenga para o instigar a andar como nos velhos tempos, mas no fundo estava preocupado. Ele reconhecia que Gimli havia envelhecido muito desde aquela época, mas durante a Guerra do Anel, ele costumava ser capaz de caminhar dias inteiros, ainda que reclamando. Agora, eles mal se aproximavam da Trilha dos Elfos, e Gimli já parecia a ponto de desmaiar.

— Falta pouco agora, Gimli!

— E... qu...m se... import...a?

— Você quer parar um pouco?

— N...ão!

Legolas parou para esperar pelo anão, que havia ficado para trás. Enquanto isso, olhava em volta, tentando reconhecer o lugar. A caverna que sua mãe havia mencionado devia ficar em algum lugar por ali. Pelo menos, a vala devia(4). O elfo a havia procurado algumas vezes, mas em vão. A mãe nunca chegou a levá-lo lá, e ele jamais pediria ao pai. Ele estava pensando a respeito distraidamente, quando julgou ter ouvido um barulho numa árvore pouco acima de sua cabeça.

Ele estreitou os olhos para a folhagem, tentando ver através dela, mas não percebeu nada. De repente, viu um esquilo saltando de uma árvore para outra. Pelo visto, os animais tinham voltado à Floresta Verde.

— Por... Por que... você par... parou? — Gimli, que praticamente se arrastava, finalmente chegou até ele.

— Você parece horrível! Quero dizer, mais que o normal. Tem certeza de que não quer fazer uma pausa?

— Horríveis... são... essas... orelhas...!

Legolas riu:

— Você realmente não se enxerga por trás dessa barba, não é? Tudo bem, então. Vamos! A Trilha dos Elfos está logo ali adiante, está vendo? — Ele apontou. — O palácio fica numa colina ao fim dela, passando o Rio da Floresta.

Algumas horas depois, para o imenso alívio de Gimli, eles chegaram aos Salões do Rei Élfico. O lugar estava coberto de poeira e de teias de aranha (felizmente num tamanho normal, e não as pavorosas teias das aranhas gigantes que outrora habitaram a Floresta). O aspecto geral era de abandono completo, e Legolas não esperava que fosse diferente. Mesmo assim, estava feliz por estar ali. O lugar lhe trazia muitas lembranças, algumas boas, outras terrivelmente dolorosas, mas por isso mesmo ele fizera questão de visitá-lo uma última vez antes de partir.

— Bem-vindo, Mestre Anão, aos salões de Thranduil, Senhor Sob as Árvores.

O anão ofegava demais para responder. Aliás, ele se atirou ao chão ali mesmo, tentando regularizar a respiração. Legolas estranhava o amigo, mas estava fascinado demais pela visão dos salões do pai para lhe dar maior atenção. Ele se aproximou de uma das pilastras e tocou a pedra. Estava fria, e mesmo a memória élfica de Legolas não fazia justiça ao padrão intricado da decoração.

O elfo olhou adiante, e a luz que se infiltrava pelos portões abertos não seria bastante para que o companheiro visse, mas ele via.

— O trono de meu senhor Thranduil!

— Onde? — Gimli, que parecia estar se recuperando, mal conseguia divisar o próprio Legolas na escuridão.

Legolas não lhe deu ouvidos e se afastou, ziguezagueando pelos caminhos de pedra tortuosos, praticamente correndo até estar diante do alto e enorme trono do pai. O anão não ousou segui-lo e ficou para trás. Legolas ficou apenas admirando o trono, sem ousar chegar mais perto. Ele ainda se lembrava da última vez em que vira o pai sentado ali, pouco antes de abandonar o reino atrás de...

Ele balançou a cabeça rapidamente para expulsar aqueles pensamentos. Tentou, em vez disso, se recordar de outras coisas. Lembrou-se da mãe, de como ela costumava ficar com o pai ali, ao lado direito do trono, quando ainda era seu avô, Oropher, quem nele se sentava. Fazia muito, muito tempo.

— Vá em frente. — Gimli, que tinha recolhido um galho seco na floresta e transformado em uma tocha, tarefa fácil para qualquer anão que se preze, se aproximou. Ele jamais diria isso a Legolas, mas estava admirado com a beleza daquele lugar, mesmo no estado em que ele se encontrava. O tamanho do trono de Thranduil o intimidava.

— O quê?

— Sente-se nele!

Legolas não tirava os olhos do trono.

— Eu não me atrevo.

— Como não? Se Thnranduil não está aqui, então ele é seu de direito!

Legolas franziu as sobrancelhas. A ideia de ser rei sempre o repelira, desde jovem, e ainda o repelia hoje com a mesma intensidade.

— Não. Meu pai não está morto. Ele ainda é o rei de Greenwood. Sempre será.

Gimli soltou um grunhido de indignação.

— Ora essa, se fosse eu... Mas me explique uma coisa. Por que a galhada? De onde eu venho, isso significa outra coisa...

O elfo precisou se esforçar para conter o riso antes de se voltar para o amigo.

— Acho que podemos passar a noite aqui.

— Aqui?

— Sim, enquanto decidimos o que fazer agora, sem comida e sem os cavalos. Acho que merecemos um descanso.

— Ah, bom, se você queria descansar, era só falar! Eu estou perfeitamente em forma, poderia andar a noite toda.

Legolas não pôde conter um sorriso sarcástico.

— Sei. Então... Será que você pode providenciar mais tochas? Este lugar não tem mais o encanto élfico que o mantinha iluminado. — Legolas olhou em volta, tentando contar rapidamente quantas tochas seriam necessárias. — Os quartos reais ficam naquela direção. O meu é o da direita. O do meio era do meu pai, não devemos entrar nele. Você pode ficar com o da esquerda... Ele pertencia à minha mãe, antes de ela se casar com o meu pai.

— Por que eu tenho que ficar num quarto de mulherzinha?

Legolas revirou os olhos.

— Acho que você vai se surpreender quando entrar lá. Minha mãe não era o tipo de elfa que você está pensando. — Legolas hesitou. — Pensando bem, meu pai nunca tocou naquele quarto, desde... Bom, não importa. Nós nunca voltaremos a este lugar, de qualquer modo.

Gimli, ainda cismado, se afastou para providenciar as tochas. Na verdade, ele quis deixar Legolas sozinho com suas memórias. Sabia que o amigo precisaria disso. Ele gostaria de ter tido esse tempo em Moria, anos atrás, quando descobriu o destino de seu primo Balin e de seu povo. É claro, Legolas não estava tornando a um cenário de guerra, e as pessoas com quem ele convivera ali não estavam mortas. Mas, considerando a forma como ele e elas deixaram aquele lugar, era quase tão difícil quanto, voltar.

Legolas caminhou em direção aos quartos, sem ter muita certeza de que queria fazê-lo. Como ele dissera a Gimli, evitou o quarto de Thranduil, o quarto do Rei. Ele não entraria ali de forma alguma. Em vez disso, dirigiu-se a seu próprio quarto, hesitando um pouco à porta, com medo do que encontraria ao entrar. Quando o fez, porém, surpreendeu-se ao ver como tudo estava exatamente como ele havia deixado ao partir. A luz que se infiltrava pela janela era mais que suficiente para seus olhos e não havia dúvidas. Não havia um pergaminho sequer fora do lugar.

Ele se aproximou devagar da cabeceira da cama e suas mãos tremiam ao pegar o pequeno esquilo de madeira que a mãe fizera para ele quando ainda era um pequeno elfo. Foi logo após sua primeira caçada sozinho, quando ele retornou trazendo um único esquilo, depois de ter gastado todas as suas flechas e de ter quase se perdido na Floresta. A lembrança fez o coração dele se apertar, e ele largou o brinquedo onde estivera.

Virando as costas para a cama, ele se voltou para uma das prateleiras, e o que viu ali fez seu rosto queimar. Ele se apressou em remover aquele pedaço de pergaminho velho dali e atirou-o embaixo da cama. Ele não podia permitir de modo algum que o anão visse aquilo, porém não queria destruí-lo, por alguma razão. Ele ainda se lembrava de como tinha gastado horas trabalhando naquele retrato da... Legolas saiu do quarto correndo, como se dessa forma pudesse fugir da própria memória. A ideia de que seu pai havia visto aquilo o deixava ainda mais embaraçado.

Antes que percebesse, Legolas estava no antigo quarto da mãe. Ali, tudo permanecia exatamente como era nos tempos de solteira dela. Não havia nenhum tipo de decoração, pelo menos não do tipo que se esperaria encontrar no quarto de uma elfa. Nas paredes, havia tapeçarias representando vários tipos de arcos e de flechas diferentes. Numa prateleira alta, repousavam alguns pergaminhos a respeito de táticas de tiro, que Legolas copiara para si quando era adolescente. Em uma das paredes repousavam os velhos arcos de treinamento da mãe, que ela usara quando era criança/adolescente. Legolas nunca tocou neles, e não o faria agora. Apenas sobre o criado-mudo havia um pequeno vasinho, em que Syndel sempre mantinha tipos variados de flores, mas, é claro, agora não havia nada ali.

Quando o elfo retornou ao salão principal, viu Gimli sentado à porta, cercado de pedaços de madeira de vários formatos diferentes. Com a ponta de seu machado e com uma habilidade surpreendente para um anão (pelo menos, era o que Legolas achava; em todos aqueles anos de amizade, o elfo nunca perdera a visão dos anões como criaturas desajeitadas e de modos grosseiros, porque, bom, era assim que Gimli era), ele os moldava em formatos apropriados para tochas.

— Estou fazendo suportes também. — O anão explicou. — Esse lugar não tem nada de útil!

— Tudo bem. Mas, ei, você não quer parar um pouco e me acompanhar numa caçada? Está quase na hora do jantar. Nós podemos pegar alguns esquilos, eu os vi correndo na floresta.

— Esquilos! Eu sou um caçador de orcs, não de esquilos! Vá você, fadinha da floresta!

Legolas ficou olhando para o amigo por um instante. Naturalmente, Gimli jamais recusaria uma caçada, mesmo que fosse de mosquitos. Ele consideraria um desafio e quereria apostar com Legolas, como sempre. Mas agora, por mais que ele tentasse esconder, não escapava aos olhos do elfo como ele estava cansado. Legolas temia que talvez eles tivessem esperado demais para partir em direção ao Oeste. Mas como poderiam ter deixado Aragorn?

— Entendo. Tudo bem. Eu volto logo.

~~ ♣ ~~

Não foi difícil para Legolas caçar esquilos mais que suficientes. Na verdade, foi nostálgico, depois de tantos anos treinando com a mãe naquela mesma floresta. No entanto, ele ainda tinha esperanças de encontrar algo maior do que um esquilo e por isso continuava andando.

Ele não ouviu nada nem sentiu a presença dela. Só percebeu que ela estava ali quando ela saltou sobre ele, com um grito de ataque. Legolas não viu nada além de um borrão negro, mas reagiu rápido, saindo do alcance da lâmina dela a tempo por apenas alguns milésimos de segundo.

Por um momento, foi como se o tempo houvesse parado, enquanto os dois se encaravam. Legolas a analisou rapidamente, olhando-a de alto a baixo, e se surpreendeu quando notou as orelhas, pontiagudas como as dele. Não era possível, havia algo de muito errado ali. Ele tinha certeza de que ele e Arwen eram os últimos elfos da Terra-Média. Além disso, ele nunca havia visto um elfo de cabelos negros antes(5). Para completar, ela tinha cabelos curtos demais, de forma que, se não fosse pelo rosto claramente feminino, Legolas pensaria que se tratava de um homem.

Ela vestia-se completamente de preto. Quando ela fez um movimento na direção dele, Legolas rapidamente pegou uma flecha e ergueu o arco. Foi tão rápido que ela se sobressaltou. Essa era a reação a que o elfo loiro estava acostumado.

— Largue a faca. — Ele praticamente sibilou, mantendo os olhos fixos nela, a flecha apontada para o meio de sua testa.

Ela obedeceu, e sorriu para ele como se não se importasse. Legolas tentou ler os olhos dela. Eram azuis, mas não como os dele. Os dele eram de um azul profundo e sereno, como o céu. Os dela eram de um azul instável e cortante, como o tom que vemos quando há uma descarga elétrica. Penetrante.

— Quem é você?! — Ele perguntou, num tom autoritário.

— Quem era o anão? — A voz dela era suave, mas as palavras atingiram Legolas como o corte de uma navalha.

Mapa de Greenwood e arredores (livro "O Hobbit")


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Notas finais do capítulo

(1)“Greenwood” significa literalmente “Floresta Verde”, em oposição à “Mirkwood”, “Floresta Negra”, como o lugar ficou conhecido ainda no livro d”O Hobbit”, quando Sauron se instalou em Dol Guldur. No entanto, assim como em “A Razão do Rei”, eu optei aqui por utilizar o nome de “Greenwood” para me referir ao reino élfico em que governava Thranduil, e “Floresta Verde” para me referir à floresta em si. O reino élfico de Greenwood não tomava a floresta inteira, apenas uma porção ao norte dela.

(2)Tudo bem, talvez Legolas dificilmente dissesse isso, mas eu não resisti a fazer essa pequena homenagem a Sir Christopher Lee. Que ele possa descansar em paz. Em sua época como O Branco, ele certamente foi um dos grandes entre os grandes, e nós jamais o esqueceremos.

(3)Em “O Hobbit” (livro), esse rio era extremamente perigoso, e cruzá-lo foi uma das maiores dificuldades de Thorin e sua companhia.

(4)Esta é outra referência à minha fanfic, “A Razão do Rei”. Nela, Syndel, a mãe de Legolas, menciona uma caverna repleta de vagalumes, aonde ela foi com Thranduil quando eram jovens.

(5)Ok, muita gente está perguntando nos comentários "Mas, Sakura, e a Arwen? Ela não tem cabelos escuros também??" Então, gente... A Arwen tem cabelos escuros, sim, mas CASTANHO-escuros. Os cabelos dessa elfa da minha história são realmente pretos, negros como a escuridão. Eu sei que é fácil de confundir, porque eu mesma tenho os cabelos da cor dos da Arwen, e já pensaram que meu cabelo era preto, mas não é. E no filme a maiorida das cenas em que a Arwen aparecem são meio escuras, então dá pra confundir mesmo. Mas se prestar atenção, dá pra ver que o cabelo dela é castanho, não preto. ^^' (OBS.: Eu estou lendo "O Senhor dos Anéis" no original em inglês, e o Tolkien descreve o cabelo da Arwen como sendo "dark", não "black".)