*LIGAÇÃO ON*

— Alô?

— Que voz é essa? Eu te acordei? - Day falou

— Sim - esfreguei meus olhos ainda grudados

— Alysson, já está tarde para você estar dormindo

— Tive uma noite difícil. Fale logo o que quer, Daisy - rolei na cama

— Pelo jeito alguém acordou de mau-humor - bufou - só liguei para te lembrar que vamos naquele bar hoje à noite

— Ah, Day, nem sei se vou mais. Estou um pouco desanimada com tudo que está acontecendo. Você acredita que ontem cruzei com Adrien e ele basicamente me falou que alguma coisa aconteceu na boate, mas não quis me falar o que é?

— Alysson, você não pode me deixar na mão assim. Meu pai só vai deixar eu sair se for com você, ele nem sabe que Gabe vai. E como assim algo aconteceu?

— Day, nem pedi meu pai ainda. Se ele deixar, eu penso no seu caso. E eu também não sei o que aconteceu, estou morrendo de curiosidade aqui.

— Que estranho isso. Será que ele não está inventando?

— Se ele está inventando, não parece nada. Vou levantar e conversar com meu pai, Day. Te dou notícias mais tarde

— Beleza

*LIGAÇÃO OFF*

— Está saindo? - perguntei para meu pai, que estava saindo

— Sim - falou assustado como se estivesse nervoso - eles precisam de mim no hospital. Vai ficar bem aqui? - segurou meu rosto entre as duas mãos

— Aida está aqui?

— Não, ela vai ficar em um hotel por enquanto. Achei melhor, pelo menos por agora

— Então vou ficar bem - dei um meio sorriso

— Então posso sair tranquilo - me deu um beijo na testa e soltou meu rosto

— Pai? - ele parou na porta e olhou pra mim - posso sair com Daisy hoje à noite? Uma banda que gostamos vai cantar num bar

— Um bar? - me olhou desconfiado

— Sim, um bar. Só que não é um desses bares pé de cachorro não, é um bonitinho - ri

— Tudo bem. Não vou demorar, filha - assentiu

Não sei porquê, mas estava desejando que ele não me deixasse ir, dessa forma eu poderia ficar em casa pensando em tudo que está acontecendo e o que não está. Também achei muito estranho a forma que ele saiu de casa. Ele sempre me acorda para avisar que está saindo, dessa vez parecia não estar planejando me avisar nada, só sair sem ser notado. Não perguntei nada porquê não quero mais confusão na minha cabeça agora.

Comi um pedaço de bolo de cenoura que tinha na geladeira com um pouco de vitamina de banana e fui assistir um pouco de televisão na sala. Eu estava uma bagunça, tanto mentalmente quanto fisicamente. Não tomo banho desde quando voltei da festa, estou com minha calça de moletom velha e uma blusa regata suja de molho da janta de ontem, e um cabelo que precisa urgente de um encontro com um pente. Não estou animando para fazer nada, só me levantei da cama para não morrer de fome. Sei que não tenho o melhor relacionamento com Aida, mas as ações dela me afetam muito, afinal, ela é a minha "mãe".

Mandei uma mensagem para Daisy informando que eu vou poder ir até o bar hoje. Pude sentir sua animação pelo SMS. Levantei do sofá para pegar mais um pedaço de bolo, e quando estava voltando, já com o bolo na boca, a porta do apartamento se abriu e ouvi meu pai me chamando.

— Já voltou? Pensei que era uma cirurgia longa - falei de boca cheia enquanto andava até a porta

— Surpresa - meu pai apontou para a pessoa do seu lado

— Ethan! - gritei surpresa - o que está fazendo aqui? - fui abraçá-lo

— Essa é a surpresa que eu havia lhe falado. Gostou? - retribuiu meu abraço

— Claro que gostei! Pai, por que não me falou nada? Eu teria tomado um banho

— Assim não seria uma surpresa, meu amor - riu - vou deixar os dois sozinhos. Se precisarem de mim, vou estar no meu quarto

— Podia ter tomado um banho mesmo - tampou o nariz de brincadeira

— Cala essa boca! - empurrei ele e o levei até o sofá da sala - agora é sério, o que está fazendo aqui?

— Meus pais resolveram se mudar para cá também. Eles nem me falaram nada até precisarem, queriam fazer uma surpresa. E ai, gostou?

— Claro que gostei, seu bobo! - me joguei nele e dei um selinho - que saudades desse seu cheiro

— Pena que eu não posso dizer o mesmo - ele ficou rindo enquanto eu batia nele com almofadas

— Sabe, você veio numa hora mais que perfeita. Tudo está simplesmente fora de controle nessa casa - contei tudo que havia acontecido desde nossa última conversa, a não ser todas as partes que envolviam Adrien, achei melhor cortar ele da conversa.

— Caraca, Aly, nem acredito que sua mãe fez isso. Ela realmente ultrapassou os limites, sempre foi fria e sem paciência, mas bater em você não tem nem explicação.

— Exatamente! Não aceitaria isso nem do meu pai, que não foi nada mais nada menos que perfeito, imagine dessa cobra!

— Sinto muito - acariciou meu rosto - há algo que eu possa fazer?

— Na verdade, tem sim. Você vai sair comigo hoje a noite. Fui escalada para ficar de vela, mas agora que meu lindo namorado está aqui, não haverão velas.

— Tudo bem. Vou avisar meus pais e passo aqui mais tarde, ok? - levantou do sofá

— Já está indo? - fiz cara triste

— Sim, tenho que arrumar as coisas na casa nova - me puxou para fora do sofá

— Até parece que já não está arrumada - revirei os olhos - está dando desculpas para me deixar - fiz drama

— Óbvio, estou te dando uma brecha para tomar um banho - riu

— Ah, nem estou fedendo tanto assim - me cheirei

— Seu nariz já está acostumado com esse fedor - riu - depois volto, Aly - me deu um beijo na testa

— Tudo bem. Até mais tarde - abracei ele

************************************

Depois que Ethan saiu, eu ainda fiquei um bom tempo na frente da televisão comendo porcaria, já que era isso que eu tinha planejado para hoje até Daisy me enfiar nos planos dela. Depois de me livrar parcialmente de minha preguiça, fui tomar o tão esperado banho. Entrei no banheiro e já fui me despindo. Joguei aquelas roupas no cesto de roupa suja, mas elas tinham que ser jogadas num incinerador, seria melhor. Ri comigo mesma e entrei em baixo do chuveiro, que estava morno. Não acredito que Ethan voltou para a minha vida, isso é ótimo. Mesmo com os amigos que fiz aqui, me senti um pouco sozinha, mas agora que ele está junto comigo, esse sentimento foi embora.

Saí do banho me sentindo outra pessoa, uma limpa e cheirosa. Fui procurar no meu guarda-roupas por uma roupa para a minha primeira noite com Ethan aqui. Optei por um vestido preto com flores brancas justo no tronco e soltinho em baixo, uma jaqueta de couro preta, uma meia-calça preta e uma bota até um pouco abaixo dos joelhos. Depois de vestida, passei o perfume mais cheiroso que eu tinha e passei uma maquiagem simples. Peguei minha bolsa e coloquei meus documentos, carteira, um pouco de maquiagem e outras bobagens. Não muito tempo depois, escutei o barulho da campainha da porta.

— Uau, tomou um banho! - fingiu surpresa 

— Você também está bonito, Ethan - ele estava vestindo uma calça azul-escuro, uma blusa preta, uma jaqueta de couro marrom e um sapato preto.

— Estou brincando, Aly. Você está maravilhosa. E cheirosa - riu

— Obrigada. Agora vem cá para eu te abraçar - ele abriu os braços e ficamos ali abraçados por um tempo. Eu adoro esse perfume que ele está usando, aposto que usou de propósito

— Pronta para ir?

— Sim, só vou avisar Daisy - nós fomos para o elevador enquanto eu avisava Day que estávamos descendo

— Oi, Alysson - entrou no elevador e olhou para Ethan - e estranho

— Day, esse é Ethan, meu namorado

— Da sua terra natal?

— Exatamente - abracei o braço de Ethan

— Bem-vindo, Ethan. Sou Daisy - eles apertaram mãos

— Obrigada - ele abriu aquele sorriso lindo que tem

— Como vamos chegar lá, Day? - perguntei

— Gabe me mandou a localização. Ele ia vir me buscar, mas do jeito que meu pai é, eu não quis arriscar nada

************************************
Chegamos no bar, que não era muito longe do prédio que moro. Eu e Ethan nos sentamos em umas das mesas enquanto Daisy ia procurar Gabe. O bar não era muito grande, mas também não era pequeno. Tinha um palanque onde a banda já tinha começado a tocar, um bar em forma de cubo no centro do bar, uma escada em espiral que dava para a entrada e saída do local e várias mesas e cadeiras. Ethan ficou falando sobre o quanto a banda era boa, que cantava os covers muito bem, até Daisy chegar com seu par.

— Gente, esse é o Gabe - se referiu a um cara alto e negro - Gabe, esses são Alysson e Ethan

— Prazer em conhecer vocês - falou com sua voz grossa e se sentou na frente de Ethan

— Boa noite, sou Bettany e vou atender vocês hoje. Querem alguma coisa? - fizemos nossos pedidos para a garçonete que havia nos abordado

— Gostei desse bar, nunca vim aqui antes, e morei aqui minha vida inteira - Day disse

— Eu costumo vir aqui com uns amigos meus toda semana. Sempre tem música ao vivo, uma de minhas paixões - Gabe falou

— Eu prefiro as versões de CD,  posso ouvir melhor as batidas e o ritmo da música. As vezes os instrumentos não são tão destacados quando está ao vivo - Ethan opinou

— Claro que não, da para ouvir claramente - Gabe riu

— Depende muito da banda. Quando são shows de cantores e bandas profissionais, o som fica melhor. Eles tem equipamentos para isso, mas quando são bandas como essa - apontou para a banda que estava cantando - o som não fica muito bom

— Você é louco, cara - Gabe riu

— Escuto muito isso - Ethan riu - então, ainda está na escola?

— Não, Gabe já está na faculdade - Day respondeu

— Sério? Qual curso - apoiei os braços na mesa

— Medicina - a garçonete chegou com as bebidas

— Sério? Meu pai é médico. Dominic Keller

— Seu pai é Dominic Keller? O neurocirurgião?

— Sim - falei no meio de risadas

— Ele é muito famoso na minha faculdade. Acho que é um ídolo para qualquer estudante de medicina, na verdade. Você pretende seguir o mesmo caminho dele?

— Ainda não sei. Na verdade, não tenho ideia da carreira que vou seguir

— Eu sei que quero ser advogada, assim como meu pai. E você, Ethan? - Day colocou um amendoim na boca 

— Arquiteto - respondi por ele - é irritante o quão bom ele é em matemática! E ele leva jeito para a coisa - cutuquei a barriga dele e recebi um sorriso

— Isso mesmo - ele colocou o braço no meu ombro. Ficamos os quatro conversando por um tempo, até que Day e Gabe foram se sentar no balcão do bar, acho que querem um tempo a sós.

— Eth, eu ainda não estou acreditando que você está aqui. Parece que estou sonhando

— Não está sonhando, estou aqui e não pretendo ir a lugar nenhum tão cedo. Não sem você, claro - encostou a testa na minha

— Ainda bem - coloquei minha mão em seu rosto e estávamos quase encostando nossos lábios, eu podia sentir sua respiração quente passando pela minha pele

— Que momento lindo! Estou quase triste por interromper - uma pessoa com voz masculina se sentou em nossa frente

— Adrien? - falei surpresa - Você está me seguindo?

— Quem é esse cara, Alysson? - Ethan assumiu uma posição protetora 

— É - pausei e olhei para Adrien, que estava com um sorriso convencido no rosto - é aquele cara que me salvou daquele bêbado

— Tem certeza? - fingiu confusão - Naquela boate eu parecia ser um pouco mais que isso - abriu um sorriso convencido e cheio de malícia - Principalmente quando você estava com o corpo colado ao meu, passando a mão no meu cabelo, dançando daquele jeito simplesmente provocante, e é claro - ele deu uma pausa, sorriu e chegou o corpo para frente - me beijando

— Seu desgraçado - Ethan levantou da cadeira

— Falei alguma coisa errada? - levantou e sorriu

— É melhor sair daqui, babaca - Ethan se aproximou e Adrien ficou onde estava

— Acho que não. Além do mais, estou doido para repetir aquele beijo, não posso fazer isso se não estiver aqui, não é mesmo?

Ethan, nada mais que furioso, acertou um soco em cheio na cara de Adrien, que deu um sorriso de lado e retribuiu o soco bem no nariz. Ethan cambaleou para trás e recebeu mais um soco no rosto e outro na boca no estômago.

— Vamos lá, playboy - Adrien provocou Ethan, que mal estava em pé

— Parem os dois - tentei segurar Ethan

Ethan se livrou de mim e agarrou seu adversário pelas costelas, o jogou no chão e distribuiu socos por seu rosto. Adrien rapidamente se livrou de Ethan, que permaneceu no chão, se levantou e chutou o estômago e as costelas dele. Logo depois, deu um último soco no rosto do garoto que mal se movia no chão.

— Na próxima você morre - Deu mais um chute na barriga de Ethan e saiu

— Ethan! - fui correndo até ele com os olhos marejados e apoiei sua cabeça em meu colo

— Eu - tossiu - vou matá-lo 

— Cara, você não vai matar ninguém agora - Gabe apareceu - vamos para um hospital

— O que aconteceu aqui? - Day veio desesperada - não posso ir ao banheiro por um segundo que vocês se envolvem em confusão!

************************************
Fiquei todo o percurso chorando e ligando para meu pai, pedindo a ele para ir até o hospital. Quando chegamos lá, meu pai nos dirigiu até uma sala de exames e colocou Ethan na maca.

— Alguém pode me explicar o que aconteceu? Pensei que iam num bar "bonitinho" - disse preocupado e já realizando uns exames em Ethan

— Pai - eu não conseguia falar direito de tanto chorar

— Ele se envolveu numa briga. Não sabemos o motivo - Day viu minha dificuldade e falou

— Ethan não é de ficar se envolvendo em brigas. Vocês sabem quem é o cara? - colocou uma lanterna médica no olho do mais novo paciente

— Não - Day olhou de lado para mim

— Bom, ele levou uma boa surra, mas vai ficar bem. Vou levar ele para uma TC só para ter certeza, mas acho que tudo deve ficar bem. Alysson, pode ligar para os pais dele para a liberação do exame e para a internação?

— Internação? - levantei a cabeça

— Claro, minha filha. Não quer que eu mande o menino de volta para a rua assim, quer?

— Não, claro que não! Eu ligo sim

Pedi licença e me retirei do quarto que Ethan estava inconsciente. Não sei porquê ele foi se meter em briga com aquele doido criminoso! Nem acredito que beijei aquele lunático. Liguei para a mãe de Ethan, que ficou muito preocupada com o estado do filho e ficou me pedindo detalhes que eu não sabia dar. Não demorou muito para os pais dele aparecerem no hospital. Eles foram direto até meu pai, que explicou tudo com detalhes para eles, disse que tudo ia ficar bem, mas precisava fazer uns testes para ter certeza, que Ethan fraturou uma costela e está inconsciente no momento. Eles assinaram o formulário para liberar os testes e a internação.

— Pai, eu posso ficar com ele?

— Filha, é melhor ir para casa, amanhã tem escola

— Mas pai, eu preciso ficar aqui, é meu namorado

— Eu sei que é, mas os pais dele já estão aqui. Não há nada que você possa fazer por ele agora. Provavelmente ele só vai acordar amanhã mesmo, não há necessidade alguma de você ficar aqui. Você pode ir embora com seus amigos ou quer que eu chame um Uber? Não posso sair agora

— Eu vou com eles mesmo. Tchau, te vejo em casa - abracei e ele e lhe dei um beijo na bochecha

Gabe levou eu e Day até nosso apartamento. Foi um caminho silencioso, ninguém falou nada. Quando chegamos ao apartamento, deixei os dois sozinhos no carro para ficarem de amassos e fui direto para meu apartamento. Quando cheguei na porta, não tive uma surpresa muito agradável.

— O que você está fazendo aqui?

— Cadê o playboy? - Adrien estava parado na minha porta. Ele tinha a boca cortada e a bochecha roxa

— Graças a você, no hospital

— Ele realmente não aguenta nada - aquele sorriso convencido que eu odeio ainda está estampado em seu rosto

— Adrien, o que você está fazendo aqui?

— Vim ver se precisa de consolo - Ele saiu da porta e chegou mais perto de mim. Seu cheiro de cigarro e rosas penetrou minhas narinas, parece que já senti seu cheiro antes

— Suma da minha frente, babaca. Sabe quem você colocou no hospital? Meu namorado - juntei minha força, que não era muita, e comecei a dar socos em seu peito

— Seu namorado? - riu - uau, você não pareceu ter um namorado enquanto dançava e me beijava - segurou minhas mãos - pare com isso, está quase fazendo cócegas. Além do mais, eu posso achar um melhor uso para essas suas mãos

— Saia da minha frente, Adrien - me soltei de suas mãos

— Como quiser - levantou as mãos como se estivesse se rendendo e foi em direção ao elevador

— Como sabe qual é meu apartamento?

— Conheço um pessoal - ele deu um sorriso e as portas do elevador se fecharam