Criminal escrita por Ana


Capítulo 3
Abuse


Notas iniciais do capítulo

Olá! Mais um capítulo para vocês! Espero que gostem, boa leitura.



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As primeiras aulas passaram bem rápido, foram basicamente os alunos que não tem nada para fazer falando sobre os acontecimentos na aula de Sandra. Cora acabou voltando na segunda aula e disse que Day foi para casa, que era um assunto delicado e que Craig sabia disso, mas continuava apertando na mesma tecla. Depois da terceira aula, fomos liberados para o intervalo. Cora e Chris foram para o refeitório e me chamaram para ir junto, mas acabei descobrindo que nessa escola podemos sair para comer fora, então optei por sair da escola para comer. Peguei minha bolsa, coloquei-a dentro do armário e coloquei meu cartão de crédito e o de identificação da escola no bolso da calça.

Consegui sair da escola sem problemas, mas se não voltar na hora certa, a escola liga para meus pais. Resolvi ir até uma lanchonete que vi quando estava vindo para escola hoje. No caminho, percebi que aqui as pessoas são apressadas e todas parecem estar muito preocupadas com trabalho. Agora sei que aqui é um lugar perfeito para minha mãe, fria, apressada, perfeccionista, sem tempo para família. Essas pessoas todas parecem precisar de um relaxamento, de um fim de semana num SPA, numa casa de campo sem seus celulares. Um de meus maiores pesadelos e acabar ficando assim, achando que a coisa mais importante da vida é trabalho e dinheiro. Fui brutalmente retirada de meus devaneios quando um estranho esbarrou em mim.

— Ah, me desculpe – falei

— Olhe por onde anda garota! – gritou um cara não muito mais velho que eu

— Eu já pedi desculpas! E foi você que esbarrou em mim - gritei de volta

— Ah, tanto faz! – disse ele antes de revirar os olhos sair andando com seu cigarro na boca

Odeio pessoas assim. Vê se pode, um babaca desses esbarra em mim e ainda fica gritando. Cheguei na lanchonete e pedi torta de limão e refrigerante de guaraná. Coisas feitas com limão são simplesmente maravilhosas, menos bolo, não sou muito fã de bolo de limão, prefiro de chocolate com morangos. Só de pensar nesse bolo, me lembro da festa de aniversário que Ethan organizou para mim quando fiz 17 anos, foi perfeita! Ele me conhece muito bem, sabe de tudo que eu gosto, até porque antes de namorarmos, éramos melhores amigos. Não consigo me lembrar de uma fase da minha vida que Ethan não estava presente. Nossos pais são amigos, então eles viviam na minha casa desde que éramos pequenos. Quando acabei de comer, paguei com o cartão de crédito e voltei para a escola.

Como era o primeiro dia de aula, os professores não passaram quase nada, usaram as aulas para nos conhecer melhor e conversar. Conheci bastante gente, a maioria parece ser bem bacana. Não vi mais Craig na escola, acho que levou uma suspensão logo no primeiro dia de aula. Quando o sinal bateu, fiquei um pouco aliviada, quero ir para casa e conversar com Ethan, contar tudo que aconteceu hoje, incluindo aquele babaca que esbarrou comigo hoje.

Saí da sala junto com Cora e logo encontramos com Chris, que disse que tem um GPS na cabeça e consegue localizar Cora em todos os lugares. Ficamos conversando um tempo, mas resolvi ir para casa, então me despedi dos dois e saí com destino a meu apartamento. Quando cruzei a esquina da escola, me deparei com uma rua vazia, o que achei estranho, pois todas as ruas que entrei eram cheias de gente. Acho que me perdi. Ainda entrei em outras ruas, mas continuo perdida, não tenho ideia de onde estou. O pior é que nem voltar eu sei.

— E ai gatinha. Vamos ali no beco brincar, vamos? – Um homem com bafo de cachaça me abordou e segurou meu braço

— Me solte, seu bêbado fedido! - gritei

— Fique de bico calado gatinha, eu sei que você quer, senão não estaria andando por ai com essa sua calça justa - ele começou a lamber minha face

— Já mandei me soltar! Você sabe quem sou eu? Se fizer alguma coisa vai apodrecer na cadeia!

— Você não é nada mais do que minha vadia. Mesmo se eu for para a cadeia, vai valer a pena, olha só esse corpinho - ele começou a passar a mão em mim

— Me solte! - comecei a gritar no meio do choro

— Já mandei calar a boca, prefiro minhas vadias quietinhas - ele puxou meu cabelo para trás, machucando minha cabeça 

— Solta a garota - escutei uma voz familiar vindo de trás de mim

— Olha o super-herói! Veio para salvar a donzela? - ele se virou para o cara que me é familiar - Não se preocupe, ela está em boas mãos! - disse o drogado com sarcasmo e ainda segurando meus cabelos para trás. A esse ponto eu não conseguia nem falar mais nada de tanto chorar, estava tremendo.

— Eu vou ter que pedir de novo? É isso mesmo? - ele jogou seu cigarro no chão e fechou as mãos

— Não tem que pedir nada, tudo que tem que fazer é sumir da minha frente para eu poder brincar com a minha barbie - deu um beijo nojento na minha face

— Era melhor ter soltado na primeira vez - ele partiu para cima do bêbado e o arrebentou de tanta porrada que distribuiu por seu corpo

— Ei, chega! - segurei seu braço. O bêbado já estava no chão sem nem se movimentar, estava inconsciente 

— Chega nada, esse filho da puta merece morrer! Viu o que ele pretendia fazer com você?

— Sim, eu estava lá. Mas se ele merece morrer ou não, não depende de você, e sim da justiça! Não se iguale a ele e faça uma burrada dessas! - ele parou de chutar o bêbado e me encarou por um momento. Lembrei de onde o reconheço - Ei, você que esbarrou em mim hoje cedo? - ele me encarou por um momento, como se tentasse lembrar de alguma coisa.

— Sim, fui eu. Você deveria aprender a olhar por onde anda - emburrou a cara

— Ah, cala a boca! Você que esbarrou em mim

— Como quiser - ele acendeu um cigarro e saiu andando pelo lugar que veio

— Ei! - tentei chamar sua atenção, mas ele fingiu não ouvir e continuou andando - estou falando com você! - corri atrás dele

— O que mais você quer? - me olhou com impaciência

— Eu estou perdida. Pode me levar até meu prédio? Sou nova por aqui

— Só pode estar brincando comigo. Aonde você mora?

— No "The village" 

— Se eu soubesse que era cheia da grana, teria pedido dinheiro para te tirar das mãos daquele babaca ali atrás - assoprou a fumaça para o lado

— Vai me levar ou não? - cruzei os braços

Ele assentiu com a cabeça e começou a andar. Ele não falou nada até chegarmos em meu prédio, o que foi um certo alívio, pois não queria conversar com ninguém, principalmente depois do que acabara de acontecer.

— Obrigada 

— Não se enfia naquela área de novo não, falou? - continuou andando

Ao chegar no apartamento, fui direto para o banheiro tomar um banho. Nem quis testar minha nova banheira, pois parecia que se eu ficasse de molho na água desse bêbado, eu ia vomitar. Liguei o chuveiro, me despi e adentrei o mesmo. Coloquei o chuveiro no quente dessa vez para matar qualquer traço daquele abusador e me esfreguei muito com a bucha de banho. Quando terminei o banho, me olhei no espelho e vi que minha pele branca agora estava meio avermelhada. Fui para o quarto, vesti minha camisola de seda e me sentei na cama com meu notebook. Entrei no skype e vi que Ethan estava online, então liguei para ele.

*SKYPE ON*

— Oi princesa! - parece que ao ouvir sua voz, tudo de ruim que aconteceu no meu dia sumiu. Parece que ainda estou lá com ele

— Oi Eth! Que saudade de você!

— Nem parece! Mandou um SMS e depois mais nada 

— Ah, Eth! Eu estive ocupada, você sabe. Muita coisa para fazer

— Eu sei, meu bem. Estava brincando

— Você não tem ideia do que aconteceu! Estava voltando da escola quando um bêbado me abordou na rua querendo me levar para um beco. Ainda estou tremendo. Quando cheguei em casa, me esfreguei tanto com a bucha! - comecei a chorar 

— Bem que eu vi que você está mais vermelha, já ia perguntar o motivo. Mas você está bem? - ele fez uma cara de preocupação - não chore, Aly! Já passou

— Sim. Por pura sorte do destino, um cara apareceu e me ajudou, deu uma boa surra naquele doido. Mas acabou que o cara que me ajudou também era um babaca

— Ele também tentou abusar de você? Aly, que lugar é esse que você está morando?

— Não, seu bobo - ri no meio das lágrimas - ele só tem umas atitudes idiotas mesmo. 

— Já contou aos seus pais?

— Claro que não! Está ficando doido? É bem capaz de eles colocarem um guarda para andar comigo - ri

— Isso é verdade - riu

— Como vão indo as coisas ai?

— Vão bem, só que não como eram quando você estava aqui. Comecei uma nova série, Sherlock Holmes. Acho que é uma das melhores que já assisti na minha vida! Eu já encomendei os livros -riu

— Acho que já ouvi falar dessa série, fiquei sabendo que é muito boa mesmo, talvez eu assista se tiver tempo - nós ficamos nos encarando por um instante 

— Eu te amo, você sabe, né?

— Sim, eu sei. E eu também te amo, Eth

— E eu esqueci de te dizer, eu tenho uma surpresa para você!

— O que? - perguntei animada 

— Se eu falar não vai ser surpresa, né! - revirou os olhos 

— Mas agora vai me deixar curiosa! Sabe que a curiosidade me tortura

— E eu amo te torturar, você sabe

Ficamos umas duas horas conversando, até que eu escutei meu pai fazendo barulho na cozinha, então me despedi de Ethan para ajudar meu pai a fazer a janta, pois ele é um desastre no fogão.

*SKYPE OFF*

— O que está arrumando aqui, em? - cheguei falando como se eu estivesse o pegando fazendo alguma coisa errada

— Tentando fazer a janta - riu - sua mãe vai chegar mais tarde hoje

— Novidade - falei com sarcasmo 

— Não começa, Alysson. Me ajuda aqui, corte esses temperos e os coloque na panela

— Eu sei o que fazer, papai. Estou preocupada mesmo é com você, que está mexendo isso errado! - tomei a colher da mão dele e mexi o conteúdo da panela - Vá cortar aqueles temperos você, é cirurgião, tem mais jeito com a faca

— Isso é verdade - riu - você é mesmo a minha salvadora 

Enquanto preparávamos o jantar, ele contou como foi o dia dele. Eu adorava ouvir as histórias do hospital, sempre são interessantes e nunca previsíveis. Meu pai sempre diz que nunca entra numa sala de cirurgia e sabe exatamente o que vai acontecer, pois cada caso é diferente do outro. As cirurgias nunca são as mesmas, principalmente ele que é um neurocirurgião. 

— Boa noite - minha mãe chegou em casa com a mesma cara de sempre, como se ela não quisesse estar ali, como uma criança que foi obrigada a sair de um parque de diversões para ir visitar os avós no interior

— Boa noite, meu amor! - meu pai limpou as mãos e foi a seu encontro. Da pra ver que ela está forçando o sorriso que acabou de abrir para meu pai, só que ele é muito bobo e não percebe. Eu ainda acho que ela ainda vai se cansar dessa família e sumir

— Não vai me dar boa noite, Alysson? - ela apoiou a mão no balcão da cozinha

— Boa noite - falei rapidamente

— Olhe para mim na hora de falar comigo! - elevou a voz

— Assim como você olha para mim quando falo com você? - falei com sarcasmo 

— Dominic, essa menina está passando dos limites - ela falou com meu pai

— Não o envolva nisso, Aida. Lute suas próprias batalhas! Agora me responda, se você não olha para mim quando eu tento falar com você, por que eu deveria olhar para você quando tenta falar comigo? 

— Porque sou sua mãe, o que falo é mais importante. E você sempre vem falar comigo quando estou trabalhando

— Você sempre está trabalhando, Aida - disse ainda sem tirar os olhos da panela - Então quer dizer que quando você vem falar comigo sobre qual vestido eu devo usar para seus eventos de trabalho, isso se torna mais importante do que minha primeira menstruação, meu primeiro namorado, minha virgindade - dei ênfase na última coisa, pois ela ainda não sabia que eu não era mais virgem

— Como assim sua virgindade? Você não é mais virgem? - arregalou os olhos 

— Não, Aida, não sou mais uma virgem - nesse momento eu desliguei o fogo e olhei em sua direção

— Você sabia disso, Dominic? - meu pai estava encostado na parede olhando para nós como se fossemos nos matar a qualquer momento

— Pai, fique fora disso. - estendi a mão aberta em sua direção - Sim, mãe, ele sabia. Você acha que eu conversei com quem antes de fazer alguma coisa? Acha que eu arranjei camisinha e remédio para não engravidar com quem?

— Por que não falou sobre isso comigo, Dominic? - ela olhou furiosa para meu pai

— Eu falei sobre isso com você, Aida. Perguntei se sabia e você assentiu. Estava respondendo e-mails. 

— Dominic, todo mundo sabe que eu não presto atenção enquanto trabalho! Estava focada nos e-mails!

— Viu, pai! Eu disse! Isso é tudo que ela faz, responde e-mails e trabalha. Eu já te avisei que ela não da a mínima para essa família. Não sei nem porque se incomodou de construir uma em primeiro lugar

Saí correndo da cozinha em direção ao quarto, bati e tranquei a porta. Logo depois escutei meu pai me chamando e batendo na porta. Minha mãe provavelmente já foi responder seus e-mails para esquecer o que acabou de acontecer na cozinha, meu pai é, e sempre foi, o único que se importa com as coisas que eu faço. Acho que se eu simplesmente sumisse, minha mãe nem daria falta. Me joguei na cama e mandei mensagem para Ethan contando tudo que acabara de acontecer, ele é o único que entende, cresceu comigo, viu o que acontecia nessa casa. Só ele sabe me consolar. Depois de desligar, acabei dormindo sem jantar mesmo, não queria nem olhar para a cara daquela coisa que, infelizmente, é minha mãe. Mãe não, acho que podemos chama-la de doadora de óvulo. 

 


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Notas finais do capítulo

Chegamos ao final de mais um capítulo. Espero que tenham gostado. Me deem feedback, obrigada.



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