Amandil - Sombras da Guerra escrita por Elvish Song


Capítulo 16
Fogo de Dragão


Notas iniciais do capítulo

E agora, chegamos ao momento em que Smaug aparece. As coisas vão ficar críticas para Amandil... Capítulo dedicado à Gato Cinza!



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Amandil se abaixou e tocou a água rubra sobre as pedras; estavam às margens do lago, que os anões pareciam ter atravessado rumo à cidade. Sangue, certamente de Kili, que recebera uma flecha Morgul na perna... Precisava alcançar o jovem e curá-lo logo, ou ele não sobreviveria, mas era melhor não falar isso para Tauriel... Virando-se para a elfa ruiva, ela falou:

– Os orcs atravessaram pela ponte. Vai levar mais tempo, se tentarmos fazer isso.

– Sei como resolver o problema. – Tauriel correu pela margem até um barranco, no qual se dependurou por uma das mãos; Legolas e Amandil não puderam ver o que fazia, mas ao voltar para cima da terra, tinha uma corda nas mãos. Puxando-a, fez flutuar uma balsa para fora do abrigo escavado na encosta – uma coisinha que uso esporadicamente. Já me serviu bem outras vezes, e servirá de novo.

Com um sorriso de aprovação, Legolas saltou para a balsa junto da irmã; Amandil, porém, não os seguiu. Preocupado, o elfo perguntou:

– Não vem conosco? O acerto era irmos juntos atrás dos orcs, e depois até o dragão.

– Vou ganhar tempo indo direto para a montanha. – disse a moça.

– Nós vamos com você! Isso foi o acerto! – protestou Legolas, saindo da balsa e segurando Amandil pelo pulso, para impedi-la de cometar alguma loucura.

– Não! – a princesa de Lórien negou com veemência, e se soltou – Planos mudam, Leg. Encontrem os orcs, matem os que puderem, e extraiam deles todas as informações que conseguirem, isso é o essencial! São orcs de Gundabad... Sei que estão, de algum modo, relacionados com Azog, e com a Sombra. Vocês precisam descobrir mais, para poder contar a nosso rei, e eu... Tenho um dragão a matar. – Os irmãos iam dizer mais alguma coisa, mas a jovem os impediu – sei o que estou fazendo; sou a única que porta uma arma capaz de perfurar a pele de Smaug, e a única que já viajou com os anões. Precisamos cumprir nossos papéis, ou tudo estará perdido. – vendo a hesitação de seu noivo, ela se afastou – Não há tempo a perder! Vão! Rápido!

Anuindo, os irmãos tomaram os remos e impulsionaram a embarcação, seguindo com cuidado através do lago cheio de rochas, olhando para trás a todo momento, culpando-se por permitir que a moça cometesse aquela loucura; porém, ela estava certa: nenhum dos outros dois possuía a força de magia da jovem, tampouco uma arma que pudesse perfurar couro de dragão. O que podiam fazer era cumprir sua missão para com o mundo em que viviam, descobrindo mais sobre as forças que, em breve, marchariam contra seu próprio povo.

Amandil, por sua vez, começou a saltar de pedra em pedra, cruzando o rio até a outra margem; dali, seguiria direto até a trilha oculta na montanha, onde ficaria de tocaia para seguir os anões. Só quando o dragão se manifestasse é que, então, poderia se revelar. Não antes disso.

O caminho encosta acima seria penoso para qualquer um, mas uma enorme vontade movia a moça, que percorria a trilha íngreme velozmente, correndo, escalando, fazendo o possível para ganhar tempo e chegar à trilha certa antes do grupo com o qual já viajara.

*

Escondida por entre as pedras, para que os anões não a vissem – seu plano de tentar se aproximar para curar Kili havia falhado, uma vez que o jovem ficara para trás - Amandil tentava encontrar um modo de passar pelo grupo e entrar na caverna; Bilbo estava lá dentro, sozinho, com uma fera assassina desperta! Os ruídos que vinham do túnel aberto só confirmavam suas certezas quanto a Smaug estar acordado. Ouvindo um novo rugido, ela não mais resistiu: que se danasse qualquer plano! Bilbo estava em perigo, e a discussão entre Thorin e Balin quanto a entrar ou não resultaria na morte do rapaz!

Com um salto, ela saiu de seu esconderijo e correu como um raio para a porta de pedra; atônitos com a súbita aparição da elfa, nenhum dos anões teve tempo de reagir, ou mesmo de tentar impedi-la, antes que a moça se enfiasse pela abertura e descesse correndo as escadas, guiada unicamente pelos sons. Um elfo em seus salões? Uma simples mulher elfa tinha coragem para adentrar seus salões, e enfrentar o dragão lá dentro, enquanto eles aguardavam do lado de fora? Aquilo foi demais para Thorin, que parou de impedir a entrada dos demais, ele próprio desembainhando a espada e indo atrás da mulher, sem reparar no sorriso satisfeito de Balin, aliviado por saber que, enquanto tivessem de enfrentar o dragão, seu rei voltaria a ser ele mesmo.

Embora não conhecesse os caminhos – ou as armadilhas – de Erebor, a elfa era ágil em seus reflexos: com velocidade surpreendente, saltou por sobre o alçapão que se abriu à sua frente, e depois escorregou sobre os joelhos para driblar a lâmina que se projetou da parede. Isso sequer reduziu o ritmo de sua corrida, guiada pelo som de pedra sendo esmagada. Podia ouvir atrás de si os passos dos anões, mais lentos que os dela, e gritou para eles:

– Pretendiam deixar Bilbo morrer antes de entrar, é isso? Desde quando se tornaram covardes? – mas não parou para ouvir o que diziam. O túnel se tornou uma passarela aberta que fazia uma curva abrupta, quase provocando a queda da mulher; estupefata, ela fitou a enorme sala do tesouro (que devia ter o tamanho de todo o palácio de Thranduil!) abarrotada de moedas, joias, tesouros de toda sorte. Mas não havia sinal de Bilbo, nem de Smaug... Onde estariam?! Sem medo, com a espada desembainhada, ela desceu a rampa e se lançou naquele labirinto de corredores abertos e pontes, atrás de seu amigo.

Como em resposta à sua pergunta silenciosa, o halfling veio direto a seu encontro, correndo pela passarela onde estava a elfa; de olhos arregalados em susto, Bilbo exclamou:

– Amandil! Você não devia ter vindo! – e olhando para trás – O dragão... – mas antes que terminasse de falar, uma torrente de chamas escorreu pelo corredor, vindo em direção a ambos. Não havia para onde fugir!

Dando um passo à frente, Amandil pronunciou seu encanto em ritmo frenético, e as labaredas se abriram ao meio, circundando a dupla sem fazer-lhe qualquer mal. Abrigando o amigo sob sua capa, a moça começou a guia-lo para fora; contudo, de repente uma enorme pata se apoiou bem à sua frente, e a moça olhou para cima: ao ler sobre Smaug – os livros se referiam a ele como um dragão jovem e pequeno – não fora aquela a imagem que fizera... A serpente poderia facilmente dar a volta na sala do trono, enroscada em si mesma! AQUILO era um dragão pequeno?!

– Oras – Smaug baixou a cabeça, e seu olho era metade do tamanho da elfa – o que temos aqui? – o focinho enorme e pontiagudo a farejou, como se ele a estivesse provando – elfa. Já senti o cheiro de sua raça, mas nunca o seu. – o dragão parecia deliciado – carrega algo dentro de si... Algo que reluz mais do que o ouro, e que é muito, muito mais valioso... – a língua viperina se projetou para fora, tocando o rosto da mulher, que se defendeu com a espada – então, você tem uma Matadora de Dragões em seu poder – disse Smaug, fitando Maranwër e recolhendo a língua que sangrava – tinha pensado em mantê-la viva, como parte de meu tesouro... Mas acho que não. – com essas palavras, o peito do dragão começou a reluzir em vermelho e laranja, enquanto se preparava para cuspir outro jorro de chamas.

Por uma segunda vez a elfa separou as labaredas, que não a queimaram, nem ao halfling que ocultava atrás de si, mas aquelas chamas eram muito mais quentes, e exigiram muito mais da força da princesa para se defender. Se Bilbo não estivesse ali, correria na direção do dragão e fincaria sua espada na falha das escamas – podia vê-la de onde estava, mesmo através da cortina de fogo - mas isso implicaria em deixar o pequeno desprotegido. Primeiro tinha de pô-lo em segurança!

Antes que as labaredas findassem, ela segurou o Pequeno com força e sussurrou:

– Confie em mim, Bilbo – e com essas palavras, atirou-se da beira da plataforma para o meio do tesouro abaixo, usando o próprio corpo para amortecer a queda. Doeu, mas nem tanto quanto imaginava; Smaug, ao ver sua presa escapar às chamas de seu interior, algo que nunca antes acontecera, rugiu em fúria!

– Quem é você, que resiste ao poder de meu fogo?

– Sou aquela que vai destruí-lo – respondeu a elfa, numa cena que seria cômica, se não fosse perigosa: uma criatura tão pequena, desafiando um ser enorme como aquele! Smaug riu:

– Pode resistir ao fogo, então. Vou mata-la com meus dentes e garras! – e assim falando, pisou com força sobre a montanha de ouro, errando a elfa por poucos centímetros. As peças douradas escorregaram, tornando impossível à jovem pôr-se em pé ou guiar a direção na qual ia, e o dragão se preparava para abocanhá-la! Foi neste instante, quando achou que morreria, que uma voz masculina grave e forte se fez ouvir:

– Smaug! – o dragão se virou, reconhecendo não só a voz, mas o cheiro do recém-chegado – Como ousa reclamar este tesouro como seu? Como ousa deitar-se sobre aquilo que o MEU POVO construiu?! – Thorin se postava corajosamente num corredor vários metros acima, enfrentando o réptil sem hesitar – Esta é a nossa terra, este é o nosso ouro, e nós viemos retomá-los!

Enquanto o dragão se distraía, confrontando o rei anão, este sinalizou brevemente para a elfa, que compreendeu: indo para junto de Bilbo, puxou uma enorme peça dourada – parecia uma estátua ou algo do tipo – depois outra, e mais outra. Aquilo desestabilizou a montanha de tesouros, que escorreu sobre si mesma, enterrando as patas de Smaug e fazendo-o perder seu apoio, caindo sobre seu estimado ouro.

Com Bilbo à sua frente, a dama correu para as pequenas portas e passagens nas paredes da sala; precisavam se esconder de Smaug – ou melhor, ela precisava esconder o hobbit de Smaug! – e logo! Entraram num corredor largo, cujo pé-direito teria mais de cinquenta metros. Sem saber para onde seguir, ela optou pelo caminho mais iluminado; com efeito, não tardou a entrar no que um dia fora um arsenal, e ali, entrando por outra porta, estavam os anões – faltavam Fili, Kili, Bofur e Óin, que certamente haviam ficado para trás por causa do ferimento do mais jovem. Ela os encarou com receio, imaginando o que fariam, mas Balin se aproximou dela com um sorriso:

– Não tem ideia de como fico feliz por vê-la, menina! Pensei que estivesse morta!

– Não vai tardar a estar – começou Thorin, que acabava de entrar no salão de armas – não vamos todos tardar a morrer, a menos que encontremos um modo de derrotar Smaug. – ele fitou Amandil e, mais lúcido do que estivera nas últimas semanas, cumprimentou-a com a cabeça – pensamento rápido, princesa.

– Obrigada por me salvar. Outra vez – respondeu ela. Thorin era ele mesmo, mais uma vez, e isso a deixava muito feliz! O anão fitou as armas, todas inúteis contra a fera – Acho que sei como matar a besta, mas teremos de chegar às forjas.

– Ele vai nos ver. – ponderou Dori – certo como a morte.

– Não se nos separarmos – afirmou o rei – Nori, Ori e Dori, sigam pelos corredores da ala leste; Bifur, Bombur, Dwalin e Glóin, pelos da oeste. Balin, Amandil e Bilbo, venham comigo. Vamos dividir a atenção do dragão, e pelo menos alguns de nós chegarão às forjas. – assim dizendo, ele tomou caminho por um corredor menor, que desembocava numa espécie de sacada à sala do tesouro, onde Smaug farejava, à procura de sua presa – Hey, seu verme! Estamos aqui! Venha me pegar!

Eles recuaram de volta para dentro da parede, mas sabiam que tinham de correr; de fato, a barreira de pedra veio abaixo quando o dragão usou todo o seu peso para golpeá-la. Enveredando à direita, o grupo escapou às chamas, e continuou seu percurso, enquanto ouvia as provocações de Dwalin chamarem a atenção da besta. Talvez sobrevivessem até as forjas!

*

– E agora, Thorin? – perguntou Balin, que mistura enxofre com salitre para produzir algo que Amandil não conhecia – qual é o plano?

– Temos de acender as forjas.

– Elas estão geladas! – constatou Dwalin – não temos fogo para acendê-las!

O anão pensou alguns instantes antes de, com um sorriso triunfante, perguntar:

– Não mesmo? – e assim dizendo, correu para fora das enormes forjas, em direção ao ponto onde o dragão tentava forçar passagem através das pilastras grossas como o próprio corpo – Hey, Smaug! Você ficou muito gordo e lento com a idade! Venha nos pegar, sua lesma!

As palavras do rei deram certo, pois outra vez o peito do dragão se incandesceu, e as labaredas jorraram para dentro da ferraria; os anões se esconderam atrás das grossas colunas de pedra, apenas levemente chamuscados enquanto o calor extremo acendia as fornalhas, mortas há tanto tempo. Chamas se acenderam no interior das enormes torres abobadadas, e os anões se lançaram aos foles; percebendo um detalhe em meio à confusão, Amandil se dirigiu a Thorin:

– Ele está se cansando. Dragões vivem do fogo, se alimentam dele, respiram sua essência... Cada vez que ele cospe fogo, desperdiça sua força... Se ele ficar fraco o bastante, posso cravar minha espada no coração dele.

– Essa vingança é dos anões, Amandil! – respondeu o anão, ríspido – Se nosso plano falhar, então você pode tentar usar este espeto para matar o dragão, embora eu duvide que vá funcionar. – e voltou-se então para Bilbo, que estava no alto de uma escadaria, junto a uma alavanca – pode puxar, Bilbo!

– O que você vai fazer, Escudo-de-Carvalho? – insistiu a moça.

– Se quer ser útil, bruxa, ajude-me a levar o dragão para a sala do trono. – respondeu o anão. Ainda não perdoara Amandil, mas tinham um objetivo em comum, agora: sobreviver, e matar o dragão. Depois lidaria com ela, e com suas feitiçarias, mas, no momento, precisava da magia da mulher.

Ouro líquido começou a escorrer pelas ranhuras escavadas no chão, fluindo a partir das caldeiras. Compreendendo o que o anão pretendia, a elfa soube de imediato que não iria funcionar; argumentar com Thorin, porém, seria inútil! Tudo o que podia fazer era enfrentar o dragão e tentar mata-lo enquanto ainda estava enfraquecido!

Como uma pantera ágil, ela correu de volta para fora da sala de forja, direto na direção do dragão. Ao vê-la, ele não tentou cuspir fogo, pois já percebera que a elfa simplesmente desviava as chamas; algo nela o intrigava, o irritava e o atraía, como se ela fosse uma reluzente peça de ouro. Não, mais ainda... Era uma vontade de tê-la muito maior do que sua necessidade por ouro. Uma vontade de mata-la e obter o que estava naquele coração pulsante, fosse qual fosse a jóia ali guardada.

– Você não sabe a hora de parar, elfa. Nada pode me matar – sibilou, serpeando a enorme cabeça na tentativa de abocanhar a guerreira, que se esquivou para o lado. Uma cauda enorme e musculosa açoitou o ar, errando a jovem por pouco, destruindo uma coluna que estava no caminho. Com um sorriso de desafio, a princesa enfrentou seu adversário:

– Você não é nada, lagartixa crescida! Ancalagon, Glaurung... Estes sim, eram dragões de verdade! E mesmo assim foram mortos. Ancalagon, ao cair, quebrou três montanhas inteiras... Você é só um filhote que pode caminhar à vontade dentro de uma montanha. Você não é nada! – suas palavras irritaram ainda mais a fera, que despejou fogo outra vez. Tal era sua reação natural, e não podia contê-la ante a afronta sofrida. Ele cuspia fogo, golpeava com a causa, com as garras, tentava morder, mas aquela mulher parecia ser feita de vento! Nunca o dragão vira alguém tão rápido!

Esquivando-se aos golpes da fera – o que exigia toda a sua velocidade e concentração – Amandil começou a guia-lo para a sala do trono. Aquele lugar era rodeado por rampas, escadarias e sacadas que a deixariam na altura perfeita para golpear o peito da besta! Mas tinha de fazer isso antes que Thorin executasse seu plano, ou tudo estaria perdido!

Enquanto corria, com o dragão em seu encalço, ouvia as vozes dos amigos a chamarem-na:

– Amandil! Volte para cá! Ele vai mata-la! – eles tentavam chamar a atenção da fera, lançando-lhe bolas de ferro que explodiam ao contato com a besta, mas sequer faziam mossa nas escamas rígidas. Não adiantou: o dragão queria a elfa, queria-a morta, queria se embriagar no sangue daquela que carregava um enorme tesouro dentro de si, tesouro este cuja natureza Smaug queria descobrir.

Perdoem-me, meus amigos, mas às vezes temos de fazer coisas que os outros podem não julgar certas. Se eu não fizer isso, todos nós morreremos.” – era esse o pensamento da elfa, enquanto se jogava por um escoadouro de água, ouvindo a parede se arrebentar atrás de si. Não sabia onde ficava a sala do trono, mas, pelo plano de Thorin, e pela direção dos dutos de ouro líquido, sabia a direção a tomar. Para sua felicidade, a íngreme descida a levou direto a sua meta!

Havia no salão um enorme molde, para dentro do qual escorria o ouro líquido. Ou ela se apressava, ou não conseguiria matar Smaug antes que os anões cometessem o maior erro de suas vidas! Esquivando-se às tentativas do dragão de esmaga-la, perfura-la ou cortá-la ao meio, ela viu com desespero que Bilbo também estava naquele recinto! Precisava chamar toda a atenção de Smaug sobre si, ou o Pequeno estaria morto!

Ela escalou com agilidade as cordas que pendiam do molde de pedra – estava tão quente que o calor irradiado queimava sua pele à distância – até alcançar a elaborada cornija que arrematava a linha onde o teto se apoiava nos capitéis das colunas. Correu por aquele caminho estreito, sempre tendo o dragão atrás de si, mal conseguindo manter o equilíbrio quando as asas poderosas se agitavam, causando rajadas de vento fortíssimas. Estava já no outro extremo da nave quando se voltou para seu inimigo:

– está enfraquecendo, Smaug? Isso é uma pena! Ainda nem começamos! – e como provocação, lançou uma flecha dentro da narina do monstro, que rosnou e se livrou do projétil com um menear da cabeça.

– Mas eu já estou terminando. – respondeu a fera, abocanhando a cornija, errando a elfa por milímetros. Os espinhos no focinho do dragão abriram rasgos no braço da guerreira, que quase caiu de seu apoio precário – acha que não sei de onde vieram? Portam armas e armaduras da Cidade do Lago, daqueles pescadores miseráveis com suas balestras e setas negras! E você... Você, feiticeira, que usa as armas da floresta! Talvez seja hora de eu fazer uma pequena visita a Esgaroth, e depois, transformar sua floresta em uma lareira! – ele despejou mais um jorro de chamas sobre a garota, e estas ela mal conseguiu suportar; mesmo separando-as, eram quentes demais, e a dama sentiu pequenas bolhas estourando em sua pele. Ao se afastar, frustrado por não conseguir matar sua presa, o dragão continuou – veja seus amiguinhos do lago morrerem, então, e agonize por eles!

– Não pode fazer isso! – a voz que se manifestou foi a de Bilbo, que se revelava corajosamente – eles não têm culpa de nada!

Com a atenção do dragão voltada para o halfling, a moça preparou o salto: não poderia errar, sua espada tinha de se cravar exatamente na falha entre as escamas! Mais um pouco, e a fera estaria na posição perfeita para a estocada...

– Você se importa com eles – rosnou o dragão, rindo – ótimo. Será mais prazeroso quando eu os vir queimar. – Perfeito! Amandil saltou, mas nesse instante uma voz chamou o dragão, fazendo-o se virar subitamente:

– Smaug! – era Thorin, empoleirado sobreo molde de pedra, atrás do qual se postavam os demais anões. – Por muito tempo você usurpou o que era nosso. Mas esta cidade pertence aos anões! Este ouro é dos anões!

Com o movimento súbito do dragão, a espada da moça se cravou até o punho no ombro da besta, e não em seu peito; aquilo não era sequer um arranhão no couro duro e grosso dos ombros fortes, e a moça foi jogada no chão por um movimento rápido do monstro, que lhe deu tanta atenção quanto à picada de um mosquito. Escudo-de-Carvalho era seu novo alvo.

– Você quer tanto o nosso ouro, dragão? – perguntou o rei – Então, pegue-o! Nós teremos nossa vingança! – e gritou ordens na língua anã, ao que todos da companhia puxaram as travas que mantinham o molde de pedra. Este ruiu, deixando em seu lugar uma imagem colossal do rei Thror, feita em ouro puro. Ao ver aquilo, a elfa correu e ajudou o hobbit a subir do chão para um lugar mais elevado, antes que ambos fossem calcinados.

O dragão, porém, parecia fascinado. Encantado com o brilho do ouro, aproximou-se da estátua; foi só quando estava perto demais que, de repente, o objeto explodiu, pois a fina camada que esfriara e endurecera não era o bastante para reter todo o ouro fervente dentro de si. Milhares de litros de ouro puro e fervente se derramaram sobre o dragão, derrubando-o, cobrindo-o, assim como todo o chão da sala. Fechando os olhos, desesperada, Amandil gritou para Thorin, de seu apoio na cornija:

– Seu tolo! Eu lhe disse que dragões respiram e se alimentam da força do fogo! Só o que conseguiu foi fortalecê-lo ainda mais!

Com efeito, Smaug emergiu do ouro líquido – ele próprio tingido de dourado, e a jovem teve de reconhecer que poucas vezes vira algo tão belo – fortalecido, porém mais furioso:

– Vingança?! Vingança! Eu vou lhes mostrar o que é vingança! Seu mundo está prestes a cair, anão!

Com a força de mil olifantes, o dragão se jogou contra a parede da sala do trono, e então contra a muralha frontal de Erebor; com batidas possantes de asas, ergueu-se alto no céu, espalhando gotas de ouro e livrando-se do peso extra. Sem sequer olhar para trás, para os estupefatos anões, voou como uma sombra da morte na direção da Cidade do Lago. Segurando Bilbo com força, para que o Pequeno não caísse no ouro fervente abaixo, a elfa caminhou até a segurança de uma ponte. Havia falhado outra vez, e agora, muitos iriam sofrer por causa disso.

Mas ainda não havia acabado, para a jovem elfa: Thorin a fitava com olhos frios - pelo visto, ainda não esquecera o que se passara em Mirkwood - e aproximou-se da mulher.

– Ou tem muita coragem, ou é muito estúpida em vir até aqui. Ter nos ajudado contra o dragão não muda nada, feiticeira.

– Imaginei que diria isso. – suspirou ela, cansada após toda a magia que usara para fugir do fogo, e de toda a corrida e caçada através da enorme Erebor. – Mate-me agora, Thorin, ou vou partir. Aquela besta precisa ser detida.

– E não será você a detê-la. – respondeu o anão, voltando-se para seus homens – Tranquem-na numa cela.

– O quê?! – foi Bombur, o pacífico Bombur, quem protestou – Mas ela está do nosso lado!

– Eu não posso confiar num elfo dentro de nossas paredes. – Thorin soava frio. – Prendam-na numa cela, isto é uma ordem – e com um sorriso cínico, lembrando-se das palavras de Thranduil, na Floresta – mas é claro, providenciem para que tenha todo o conforto possível. Ela ainda não foi condenada por coisa alguma, afinal.

Enquanto era conduzida por um decepcionado Balin e um revoltado Dwalin até o que pensou ser uma cela – mas que se revelou ser um quarto, simples, porém relativamente confortável – ela só conseguia pensar em seu fracasso, e em como poderia revoga-lo. Suas esperanças de fuga se encerraram, contudo, quando uma corrente de ferro foi presa a seu tornozelo, e a outra extremidade à parede, dando-lhe mobilidade apenas para andar pelo quarto.

– o que é isso? – perguntou, confusa.

– Algo que magia nenhuma pode abrir, princesa. – respondeu Balin – sinto muito, são ordens de Thorin.

Com aquelas palavras, eles saíram e trancaram a porta, deixando a jovem sozinha, no escuro. Decididamente, a situação não poderia ser pior!


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Notas finais do capítulo

Gostaram? Agora o circo armou de vez! O que Legolas não fará, quando descobrir que sua amada está presa nas profundezas de Erebor? E Thranduil? Como reagirá à notícia?
E, é claro, ainda temos os moradores de Esgaroth, furiosos por terem perdido absolutamente tudo, devido aos anões. Também há o mal do ouro que, passado o momento de perigo, voltará a se apossar de Thorin, agora com ainda mais força. Muitas emoções pela frente!
kisses!



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