Sussurros Sob o Véu escrita por Lee Sun Hye
Notas iniciais do capítulo
Capítulo não betado.
Boa leitura!
PS.: Apreciem com moderação! kkkkk
Capítulo I: Mais sakê, por favor!
“Na vida, não existe algo como ‘Eu não tive escolha’. Até mesmo não fazer nada é uma escolha. E, às vezes, esta pode ser a pior de todas”.
— O celular dela está tocando. Será que ela não está escutando? Por Kami-sama, será que ela morreu?!
O barman, que observava tudo atrás de um balcão de mármore preto, encarou zangado o filho, dando um peteleco na boca do adolescente, o que o fez soltar uma exclamação de dor e levar a mão aos lábios.
— Não diga uma coisa dessas, baka. O pai dela nos mataria se isso acontecesse. – A maneira séria como disse aquilo fez o jovem engolir em seco.
O homem pigarreou, colocando o copo que secava na prateleira atrás dele, e ordenou.
— Certo. Vai lá dar uma cutucada nela. – Com um empurrão, obrigou o filho a ir à mesa onde uma jovem mulher mantinha a cabeça deitada sobre os braços, alheia ao barulho de conversas e arrotos ao seu redor.
O filho do barman se aproximou lentamente, passo ante passo, o braço estendido, e subitamente se instalou o silêncio; todos no bar passaram a observá-lo com atenção. Ele sentiu uma gota de suor escorrer pela testa. Pra começo de tudo, ele nem queria estar ali. Nem deveria. E agora... E se ela realmente já estivesse morta, ele tocaria um cadáver? Porque, pelo jeito como ela se atracou nas garrafas de sakê – o que denotava que ela: 1) Era uma novata em bebedeiras, ou 2) Estava muito desesperada -, não seria de se surpreender...
O rapaz balançou a cabeça. Só o pai para lhe causar um trauma daqueles.
Estava a poucos centímetros de tocar o braço da mulher quando, subitamente, ela ergueu a cabeça e soltou uma gargalhada.
O jovem gritou e deu um passo em falso, o coração aos pulos. Os outros homens começaram a rir e seu pai, atrás do balcão, meneou a cabeça com uma careta, desgostoso.
A mulher olhava para o rapaz, mas ele não sabia ao certo se ela conseguia vê-lo – seus olhos acinzentados pareciam desfocados devido ao excesso de bebida alcoólica que ingerira nas últimas duas horas.
— Uuuau. – ela exclamou, groguemente. — Eu me sinto tããão bêbada! – Outra risada, interrompida por um soluço. Então apontou o dedo indicador para o rapaz. — Você... já se sentiu assim?
— Ahm... N-não...
Que situação, ele pensou. Começava a se sentir muito constrangido.
— Eu também não! – ela sorriu; parecia feliz em encontrar alguém como ela. Voltou sua atenção para o copo em cima da mesa. Pegou-o, quase o deixando cair, e então fez beiço quando o virou para baixo e só algumas gotas caíram.
— Mais sakê, por favor!
O jovem olhou para o pai, que lhe fez com irritação um sinal com a mão para que se aproximasse da mulher e se livrasse dela o quanto antes.
Hesitante, o jovem se aproximou mais um pouco e falou alto.
— Com licença, tem alguém para vir buscar você?
Ela inclinou um pouco a cabeça para o lado, confusa com a pergunta, então soltou um muxoxo.
— Eu tenho alguém? Nããão... – e despencou outra vez a cabeça sobre a mesa.
Ai, caramba, pensou o rapaz, como eu odeio esse lugar.
Ele deu um cutucão no ombro dela.
— Ei... Ei! Você não pode dormir aqui.
— Mas eu estou tãão cansada...
— Você precisa ir pra casa!
Naquele momento, a porta foi aberta e um grupo de três mulheres e dois homens entrou no bar. Eles estavam animados, falando alto e rindo, e se dirigiram ao balcão para pedir bebidas sem nem notar o clima que se instalara no estabelecimento. O único que notou as tentativas do filho do barman de tirar uma mulher bêbada dali foi o que fechou a porta depois que todos entraram.
Assim que pousou os olhos azuis na mulher, sua expressão se transformou de sorridente para perplexa.
— Hinata? – ele chamou, se aproximando da mesa e afastando o rapaz para o lado, que cambaleou para longe agradecendo por alguém ter aparecido para salvá-lo daquela situação.
O homem loiro se agachou perto da mesa para ficar diante da mulher, que ainda tinha os olhos fechados, e sacudiu de leve o braço que estava esticado diante dele.
— Hinata Hyuuga?
Com dificuldade, Hinata Hyuuga abriu os olhos. Ela demorou alguns segundos para reconhecer o rosto que a observava com tanta aflição, mas quando reconheceu, ergueu a cabeça e a apoiou na mão, um sorriso se formando nos lábios.
— Naruto-kuun... Você vem sempre aqui? – murmurou ela bobamente.
Naruto Uzumaki meneou a cabeça.
— Hinata. O que você está fazendo aqui? E desse jeito? – Ele finalmente percebeu as cinco garrafas vazias de sakê que estavam amontoadas na outra ponta da mesa. — Por que bebeu tanto?!
Ela franziu o cenho, e erguendo a outra mão, afastou um pouco o polegar e o indicador, mostrando a quantidade que supostamente bebera.
— Eu sóóó bebi um pouquiiinho. Nadinha, nadinha.
— Naruto! Cara, sério que você vai ficar dando bola para ela? Ela ‘tá um porre! Vem cá!
Naruto olhou zangado para o amigo que falara aquilo.
— Eu já vou, Kiba!
Quando voltou sua atenção outra vez para a Hyuuga, viu que ela o observava com os olhos semicerrados, como se estivesse ponderando alguma coisa.
— Hinata? – perguntou lentamente, sentindo-se de repente nervoso com a forma como ela o encarava.
Incrível. Nunca antes lhe passou pela cabeça que ele pudesse ficar nervoso por causa de Hinata Hyuuga.
— Hum... Naruto Uuuzumaki... Naruto Uzumaki! Por que eu não pensei nisso? – Ela de súbito bateu na própria testa, rindo de si mesma. Então, recuperando-se do ataque de riso, falou com o tom de voz mais sério que ela conseguiria estando daquele jeito. — Naruto-kun.
— O-o quê?
Hinata se ajeitou na cadeira, tentando ficar sentada ereta, embora cambaleasse consideravelmente para os lados, e juntou as mãos uma na outra, como se rezasse. Sorriu novamente, numa tentativa falha de parecer sedutora.
— Naruto-kun. Case-se comigo.
— Ah!
Mesmo Hinata já estando corada por causa da bebida, Naruto percebeu as bochechas da Hyuuga ficarem ainda mais vermelhas, e quando compreendeu, finalmente, o significado daquelas palavras (por Kami-sama, ela estava propondo para ele!), ele também sentiu o rosto quente.
Atrás de si, ouviu seus amigos cochichando e rindo, provavelmente tendo escutado a proposta da Hyuuga, e sentiu-se, além de envergonhado, muito aborrecido. Conhecia Hinata Hyuuga desde criança, e podia jurar com os pés juntos que ela jamais teria dito tais palavras, tão descaradamente, estando sóbria. Mas, principalmente, ela jamais beberia tanto a menos que tivesse com algo realmente ruim incomodando-a.
O silêncio prolongado do loiro fez Hinata morder o lábio.
— Você... não quer?
— Eu... Hinata... Não é tão simples assim.
— Po-por que... não? - Os olhos dela começaram a se encher de água, e Naruto pensou “Baka! Baka! Baka!” enquanto tentava resolver uma situação tão embaraçosa quanto aquela. – P-por favor, Naruto-kun! Você precisa me aj-judar... Eu s-só tenho você.
Naruto sentia todos os olhares sobre os dois, e detestou olhar para o rosto de Hinata Hyuuga e ver a expressão magoada que o encarava.
E detestava ainda mais não ser capaz de correspondê-la – por mais que a situação não pudesse ser considerada ao todo séria. Hinata Hyuuga era uma mulher jovem, linda e companheira, e em todas as vezes que por acaso se encontraram, ela sempre o apoiava e ria das bobagens que ele dizia. Ela nunca o julgava pelos erros que cometia, nunca nem ao menos parecia se preocupar com algo assim.
Mas, mesmo se Hinata o tivesse pedido em casamento em qualquer outro momento ou lugar que não esse, Naruto também duvidava ser capaz de aceitá-la. Porque seu coração sempre pertenceu à mãe do filho de seu melhor amigo.
— Hinata. – ele disse seu nome, se inclinando um pouco mais perto dela para que pudesse sussurrar as palavras e assim, só ela ouvir. Com delicadeza, envolveu as mãos frias da Hyuuga com as suas e as apoiou sobre o colo da moça, desse jeito tendo um pretexto para não olhá-la nos olhos. — Eu te acho uma garota incrível, e eu adoro você, você sabe disso. Mas... Talvez eu não possa ajudá-la. Não desse jeito. Não... Me casando com você. Eu... Amo outra pessoa, Hinata. Desde criança, eu amo a mesma pessoa, e por mais louco que isso seja, eu ainda não desisti dela. Não tenho mais forças para desistir.
Naruto deixou um sorriso pequeno e envergonhado crispar os lábios enquanto pensava naquela que amava durante quase sua vida inteira. Vê-lo daquele jeito fez Hinata sentir o coração virando chumbo dentro do peito. Tentou afastar as mãos do Uzumaki, subitamente enjoada e sóbria demais para aquilo, mas seu gesto só ajudou para ele apertá-las ainda mais ao redor de suas mãos e, finalmente, erguer a cabeça e fixar seus olhos azuis nos dela.
— Sei que estou sendo egoísta ao dizer isso, Hinata, mas acho que eu não poderia ser feliz... E nem você. Sinto muito mesmo.
Os dois se encararam por alguns segundos, até Hinata novamente fazer menção de se soltar do aperto de Naruto, dessa vez com mais força - tinha a impressão de que iria vomitar a qualquer momento.
Naruto não pareceu perceber. Levou uma das mãos na nuca, um gesto comum seu, e soltou uma risada – mas continuou segurando firmemente a outra mão da Hyuuga.
— E, de qualquer forma, se você não estivesse tão bêbada como agora, acredito que não teria sido capaz de me fazer esse tipo de pergunta!
Se a intenção de Naruto Uzumaki era a de fazer Hinata sorrir e, assim, amenizar o clima entre os dois, bem, não surtiu o efeito desejado. Na verdade, o comentário só ajudou para a Hyuuga se sentir irritada, muito mais irritada do que magoada pela rejeição que recebera.
Levantou-se da cadeira num pulo, assustando Naruto – o que o fez cair sentado no chão -, enquanto as palavras “Não ser capaz” pareciam ferver em seu corpo como se houvesse veneno correndo pelas veias.
Hinata notou os amigos de Naruto cochichando entre eles, lançando olhares a ela, e as três garotas, que a Hyuuga nunca havia visto, levaram as mãos à boca para abafar os risinhos debochados. Sentiu-se corar de raiva, e soube que, se Naruto não tivesse se levantado naquele exato momento e colocado as mãos sobre seus ombros, ela teria ido até eles para confrontá-los.
— Você tem como ir para casa? – ela ouviu Naruto perguntar, e com dificuldade olhou para ele. Ele sorriu, alheio à súbita frieza estampada no semblante dela. — Quer que eu a acompanhe?
Tão gentil, tão bonito, e tão distante dela, mesmo quando era capaz de sentir o toque quente dele sobre a pele.
— O-obrigada, Naruto. – murmurou apenas, as lágrimas novamente ardendo em seus olhos.
Para alguém que estava quase entrando em coma alcoólico alguns minutos antes, foi surpreendente vê-la correndo tão desesperadamente porta afora do bar.
Naruto fez menção de segui-la, mas sentiu alguém segurá-lo pelo braço.
— Fica na tua, Kiba! – gritou, afastando a mão.
— Te liga, cara. Você já destruiu o coração da coitada e ainda vai querer correr atrás dela?
— Caso não tenha percebido, seu baka, ela não está em condições de chegar sozinha e viva em casa!
Mas quando Naruto saiu do bar e a noite fria e escura o envolveu, não havia mais nenhum sinal de Hinata Hyuuga.
***
As ruas estreitas estavam vazias, impregnadas pela plenitude do silêncio à noite, que era quebrado apenas pelo som das corujas piando nas árvores e das rodas do carro triturando os cascalhos ao passar. A lua se escondera atrás de espessas nuvens logo depois de passarem pelo portão da cidade, e a única luz que iluminava o trajeto vinha dos faróis do veículo.
Mesmo que não estivesse olhando pela janela – Sasuke Uchiha decidira fingir estar cochilando, com os olhos fechados e a cabeça apoiada no encosto do banco -, ele sabia, quase como se pudesse sentir, que estava sendo observado. Sob as pálpebras, imaginava as cortinas sendo puxadas quando o carro passava pelas residências e as pessoas se afastavam das janelas, a curiosidade brilhando em olhos cheios de fúria, hostilidade e, talvez, medo.
Sentindo o peso do silêncio que se abatera sobre o Uchiha assim que viram os primeiros resquícios da cidade, o taxista falou alto demais, numa tentativa de parecer animado e, no entanto, deixando claro o leve tremor que entoou entre as palavras:
— Estamos quase chegando, senhor.
— Hum. – Sasuke Uchiha murmurou, sem fazer qualquer questão de prolongar uma conversa que não estava disposto a trocar.
O taxista tentou manter sua atenção à estrada e apertou ainda mais as mãos ao redor do volante, rezando para voltar para casa são e salvo.
No entanto, repentinamente, gritou:
— QUE P-
O taxista pisou no freio de supetão, e Sasuke sentiu seu corpo ser lançado para frente – sentiu o cinto apertar sua clavícula, evitando o choque da cabeça contra o para-brisa.
— Que merda foi essa?! – exclamou irritado, olhando para o homem ao seu lado, que agora tremia visivelmente, os olhos fixos e arregalados num ponto à frente do carro.
— E-e-eu-eu... A-a-acho que-que-que... – Um engasgo. — A-a-a-a-atrop-pelei... Alguém!
O Uchiha olhou novamente para frente, mas não viu nada nem ninguém sendo iluminado pelos faróis do carro. Aborrecido, desafivelou o cinto e saiu. Ele não estava realmente esperando encontrar uma pessoa desmaiada na frente do carro, então o primeiro pensamento que teve ao ver uma mulher ali, inconsciente, foi o de que o Kami lá de cima só podia estar de muita sacanagem com ele.
— Por Kami-sama! – Sasuke ouviu o motorista exclamar apavorado ao sair do carro e ver o corpo no chão. Sasuke não olhou, mas teve a impressão de que o homem estava com a voz embargada. Viu pelo canto do olho o homem levar as mãos à cabeça, num ato de desespero. — Eu a matei! Eu vou ser preso! O que será da minha esposa? E das minhas filhinhas? O que elas pensarão de mim? Como elas viverão sozinhas s-
— Fica quieto! – sibilou o Uchiha com impaciência, e o taxista o obedeceu imediatamente, mordendo o lábio.
O Uchiha fitou por uns instantes a mulher, sem poder ver seu rosto por estar caída de lado, o cabelo espalhado por cima, mas logo notou que não havia sinal de ferimentos nas mãos, braços e pernas, nem sangue no veículo ou no chão. Aproveitando o silêncio, Sasuke se agachou próximo à mulher e afastou algumas mechas do cabelo escuro – ouviu o taxista resfolegar com medo - para tocar a lateral do pescoço.
Imediatamente sentiu a pulsação dela contra seus dedos, e até seu coração pareceu pesar menos, ele até então não tendo percebido que estava preocupado com a situação na qual poderia se meter. Se eles realmente tivessem atropelado ela e ela morresse, estando Sasuke envolvido, adeus vida e qualquer outro objetivo que ainda ousava ter.
— Ela está viva. – explicou para o taxista, fazendo menção de se levantar. Naquele instante, no entanto, a mulher agarrou a mão dele e se virou no chão, aninhando-se ao braço dele como se fosse um travesseiro.
Dormindo. E pelo cheiro de álcool que Sasuke sentiu quando ela abriu a boca num bocejo, muito bêbada.
Mas não foi o fato dela estar dormindo no chão, nem o fato de estar bêbada, que fez Sasuke arregalar os olhos, e sim porque agora que podia ver claramente o rosto dela, molhado pelas lágrimas, a reconhecia. Mesmo depois de dez anos. Como se alguma vez conseguira esquecer a expressão desolada da garota que deixara para trás.
Hinata Hyuuga.
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Pois bem, esse capítulo foi "curtinho". o.O
Os próximos possivelmente serão maiores. hehe
Na verdade, esse capítulo foi bem introdutório. Mas posso garantir que a volta do Sasuke à cidade vai gerar muitas tretas #oqueeuamo
O que acharam?