Um novo trilhar escrita por Nyne


Capítulo 15
Capítulo 14 - Seguindo em frente


Notas iniciais do capítulo

Olá!
Consegui postar dentro do programado, mas caso atrase o próximo, não se desesperem, estou dando treinamento para uma moça que começou a trabalhar comigo, então os dias tem sido muito corridos.
Espero que gostem do capítulo e deixem reviews ♥



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Suzana ainda estava chocada com tudo o que ouvira. Carlos não conseguia olhar para ela, olhava para cima ou para frente, mas nunca nos olhos da esposa. Ela segurou o rosto dele com ambas as mãos e o fez olhar pra ela. Carlos chorava.

– Consegue entender agora o porquê eu ser contra a adoção? Aquela mulher fez de tudo por mim, me amou de verdade, mas quando o meu pai biológico reivindicou o direito dele... Mesmo depois de tudo o que ele fez... Ele levou a melhor.

Ela parecia o compreender agora.

– Seu medo sempre foi adotarmos uma criança e os pais biológicos dela aparecerem e tirarem ela da gente?!

– Já vi vários casos assim Suzana. Essa não é a minha área de especialização, mas vi muitos casos assim de perto. Vi pais adotivos terem que entregar os filhos pros pais biológicos pelos motivos mais banais que você pode imaginar, isso quando o próprio filho não decide conhecer os pais biológicos. No meu inconsciente, sempre tive medo de alguma dessas coisas virem a acontecer.

– Eu também tenho esse medo. Cheguei a imaginar no que eu faria caso isso acontecesse. Mesmo que não pareça Carlos, sempre tive minhas dúvidas e medos quanto à adoção. Nunca expus porque você sempre evitou falar sobre isso. Mas agora eu consigo entender seus motivos.

Enfim ele a olha novamente.

– Me perdoa?

– Não tenho do que perdoar você.

– Eu nunca te contei essa história... Mas não era por vergonha, era por doer demais a cada vez que eu lembrava.

– Tudo bem Carlos, eu entendo. Está tudo bem. Só não entendi bem uma coisa.

– O que?
– A enfermeira que adotou você até o... - Suzana barrou as palavras - O homem que seria seu pai te tirar dela... Você disse que só depois de anos a encontrou e mantinha um contato escondido com ela, é isso?

– Sim.

– E ainda mantém esse contato?

– Sim.

– Então porque eu nunca a vi? Por que não a conheço?

– Ela não queria que ninguém soubesse. Tinha medo do meu pai e no começo quando soube que minha mãe estava doente, também não queria me afastar dela.

– E ela mora longe daqui? Qual o nome dela?

– Não mora tão longe, mas também não chega a ser nossa vizinha. O nome dela é Selma.

– Eu gostaria de conhecê-la.

Carlos olhou Suzana surpreso. A mulher por sua vez tinha um sorriso iluminado diante dele.

– Está falando sério?

– Claro, porque não estaria?

Ele sorri e abraça Suzana fortemente.

– Obrigado. Obrigado por não ter me deixado depois de saber dessa história de horror.

– Que mulher seria eu se te abandonasse depois de saber de um trauma que te fere até hoje? Na alegria e na tristeza esqueceu?

Carlos sorri e abraça a esposa, ficando assim com ela por incontáveis minutos.

**************************************************************

A mulher estava sentada em seu antigo sofá assistindo uma novela.

A casa era simples, tendo apenas um quarto, uma pequena sala e uma cozinha. Os móveis antigos e a decoração de cores fortes passavam a sensação de uma casa de avó.

A campainha toca.

A mulher se levanta e segue em direção a porta. Pergunta quem era antes de olhar pelo olho mágico.

– Sou eu.

Um sorriso surpreso se forma em seus lábios. Conhecia aquela voz melhor do que ninguém, mas mesmo assim olha pelo olho mágico para ter certeza que não estava sonhando.

Após confirmar o que já sabia, abre a porta.
– Oi mãe.

– Carlos!

Ela o abraça e recebe um beijo na testa. Em seguida, o olha um pouco nervosa.

– Aconteceu alguma coisa? Você está bem? Poderia ter me ligado filho, eu teria ido até você...

Ele ri.

– Posso entrar?

– Claro, claro. - diz sem jeito.

Ele senta no mesmo sofá que a mulher estava alguns minutos atrás. Ela senta ao seu lado com ar de aflição.

– Aconteceu alguma coisa filho?

– Eu contei a verdade pra Suzana. Tudo.

– E como ela reagiu?

– Ficou chocada, mas quem não ficaria ao ouvir aquilo tudo? Mas um dos meus maiores medos não se concretizou. Ela não vai me deixar.

– Ela te ama Carlos.

– Eu sei. Mesmo nos últimos tempos nós termos passado por tantas coisas... Cheguei a pensar que ela pediria o divorcio, mas não. Ela me consolou e entendeu o meu lado de uma forma que, sinceramente, eu jamais imaginei que ela ou qualquer outra pessoa pudesse entender.

– Que bom que está conseguindo enfrentar esses fantasmas filho, isso me deixa muito feliz.

– Eu falei da senhora também. Ela quer te conhecer.

– A mim?

– Sim, a senhora. Ela vai fazer um almoço neste domingo e quer que a senhora vá.

A mulher deu um sorriso quase infantil tamanha era sua felicidade.

– Eu vou claro que vou. Só preciso que me passe o endereço e...

– Eu venho te buscar mãe. Não precisa se esconder nunca mais.

A mulher toca o rosto de Carlos e sorri com os olhos cheios d'água.

– Esperei tanto pelo momento que enfim faria parte da sua vida. Esse momento chegou.

– E dessa vez ninguém vai me afastar da senhora, pode ficar tranquila.

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O dia do almoço chega. Suzana estava acabando de preparar tudo quando Carlos diz que está indo buscar Selma.

– Você acha que ela vai gostar de mim?

– Claro que vai, por que não gostaria?

– Não sei... Ela sabe que nós não podemos ter filhos?

– Sabe. Eu conversei muito com ela na época que você estava ruim.

– Ela então não vai me culpar indiretamente por não poder dar netos a ela?

Carlos olha nos olhos de Suzana, em busca do brilho que há muito tempo havia se apagado.

– Você nunca teve culpa de nada. Nenhum de nós teve. Você sabe disso.

– Mas ainda assim tenho medo dela achar que sou pouca coisa pra você por isso.

– Ela nunca acharia isso Suzana, até porque mesmo longe ela sempre viu o quanto você me fez bem.

– Fiz?

– E faz. - diz dando um beijo na testa dela. - Vou busca - lá, volto logo.

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– Você acha que ela vai gostar de mim?

Virando a esquina de casa Carlos ri.

– Ouvi a mesma pergunta dela quando estava vindo buscar a senhora.

Selma ri.

– Vou responder o mesmo que respondi pra ela. Claro que vai, porque não gostaria?

– Acho que essas perguntas sempre devem surgir na cabeça das sogras e noras quando vão se conhecer.

Carlos estaciona e desliga o carro. Antes de descer pede um favor a mãe.

– Na cabeça dela, agora ela é menos mulher porque teve que retirar o útero e acha que talvez a senhora não goste dela por isso. Então por favor, evite ao máximo tocar nesse assunto tudo bem? Agora que ela está começando a reagir quanto a isso tudo.

– Não se preocupe, não direi nada.

Carlos segura a mão da mulher e deposita um beijo nela. Descem do carro e seguem em direção a entrada da casa.

– Amor? Chegamos.

Suzana que estava na cozinha segue até a sala, onde o marido e a mãe os aguardavam.

– Mãe, essa é a Suzana. Suzana, essa é minha mãe.

A mulher deveria estar na casa dos cinquenta anos, tinha a pele cor de caramelo levemente enrugada e os cabelos escuros.

– Muito prazer, Suzana.

– Selma, o prazer é todo meu. O Carlos falou muito de você.

– Espero que bem. - brinca Suzana.

– Muito bem. Ah, trouxe uma torta de limão - diz estendendo uma caixa para Suzana - Só tem que colocar na geladeira.

– Não precisava se incomodar dona Selma, mas obrigada.

– Me chame só de Selma. Dona me deixa mais velha do que já sou. - diz de uma forma brincalhona.

– Já está pronto amor? Estou morrendo de fome.

– Já, estava só esperando vocês chegarem pra poder servir.

Durante o almoço, Suzana e Selma conversam bastante. Suzana conta sobre seus quadros e exposições que já havia feito e Selma conta sobre a infância de Carlos, sobre o trabalho no hospital e sobre os anos que só conseguiu ter contato com ele às escondidas. Carlos estava gostando de ver como as duas estavam se dando bem.

No inicio da noite, Selma se despede de Suzana.

– Muito obrigada pelo almoço Suzana, estava tudo uma delícia.

– Fico feliz que tenha gostado. A torta também estava ótima.

– Da próxima vez o almoço será na minha casa.

– Só marcar que com certeza iremos sim.

– Vou levar ela em casa, daqui a pouco estou de volta. - diz Carlos dando um beijo na testa de Suzana.

No trajeto até sua casa, Selma era só elogios a Suzana.

– Agora que a conheci pessoalmente consigo entender o porquê de você ser tão apaixonado.

Ele ri sem jeito, mas Selma consegue captar uma tristeza por trás daquele sorriso.

– O que foi filho?

– Se a senhora gostou dela agora devia ter a conhecido antes. O sorriso era tão mais feliz, o olhar tão mais iluminado... Não é mais assim hoje por minha culpa.

– Não diga isso. A culpa não foi sua e nem dela. Deus por algum motivo quis que fosse desse jeito.

– Sei que não devo questionar Deus mãe, mas se tivéssemos um filho, se a nossa neném não tivesse morrido, tenho certeza que a Suzana seria muito mais feliz. Talvez até eu mesmo me transformasse em um homem melhor, sei lá.

Selma fica calada o restante do caminho. Ao chegar à porta de sua casa, se despede de Carlos, mas antes de sair do carro o olha.

– Como você se sente depois de contar sua história pra Suzana?

– Mais leve.

– Acha que superou a questão da adoção de vez?

– Sinceramente mãe? Não sei. Sinto-me melhor depois de ter dividido isso tudo com ela, mas alguns medos ainda estão aqui Mas por que a pergunta?

A mulher segura uma das mãos de Carlos entre as suas.

– Você é um ótimo homem filho e hoje pude ver com meus próprios olhos que a Suzana é uma ótima mulher. Vocês dois têm muito amor entre si e acho que esse amor tem que ser repartido com alguém que precise dele.

– O que a senhora quer dizer?

Selma sorri.

– Carlos, você melhor do que ninguém sabe o que quero dizer.

Ela dá um beijo no rosto do filho que ainda parece um tanto perdido.

– Boa noite querido. Obrigada pelo jantar. - diz ela ao sair do carro.


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Notas finais do capítulo

Farei o possível pra postar o próximo semana que vem.
Se passar disso, já sabem o porque. Não se desesperem e nem me abandonem ok?
Beijão!



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