Já havia anoitecido quando terminamos tudo. E agora, sentamos nós cinco no gramado dos Ducan, onde Carl havia ‘feito’ uma pequena fogueira, com vários pedaços de madeira velhos. Eu estava muito animado com isso tudo e morrendo de fome, mas com muita vergonha para pedir um dos sanduíches que Charlie havia feito.

— Carl! — exclamou Camily. — Vai lá pegar o violão.

O gordinho faz careta.

— Por que eu? — reclama. — Tem quatro pessoas aqui além de mim, poxa.

— Por que você é o único que não está fazendo nada, só comendo — murmura ela. E sim, o coitado do Carl estava quase de vela ali. Eu estava conversando com Charlie (e não, não nos beijaremos em público, já conversamos sobre isso; foi constrangedor) e Camily abraçada no gramado, junto a Ethan.

Mesmo contrariado, ele se levanta e entra na casa, fazendo com que eu volte minha atenção á Charlie.

— Qual seu estilo de música preferido? — volta a falar esticando os braços para o alto, como se estivesse se espreguiçando.

— Hum... Acho que gosto um pouco de tudo — dou de ombros. — Eletrônica, heavy metal, pop rock, rock... Essas coisas.

Charlie soltou uma risada, assim que terminei de dizer.

— Não consigo te imaginar ouvindo heavy metal — diz, se deitando no gramado. Imito o movimento, me acomodando ao seu lado.

— Hm... Eu gosto — murmurei, olhando as estrelas.

— Eu também — resmunga, e o olho de relance para o lado, vendo-o sorrir. — Quer continuar com o jogo de perguntas?

— Não vejo problema. É sua vez?

— É, acho que sim. Não é bem uma pergunta — suspira. — Mas quero muito que você me diga.

— Pode dizer — concordo curioso.

— Me conte tudo sobre você, Sebastian. Sem deixar nenhum detalhe.

Contar sobre mim. Isso me lembrou um pouco o primeiro dia de aula (não faz tanto tempo assim), que o professor Joshua me pediu para dizer sobre mim mesmo na frente de todo mundo. A diferença, é que desta vez, eu me sinto totalmente confortável.

— Minha vida não é tão interessante assim — alertei-o.

— Tudo vindo de você é interessante para mim.

Abri a boca para responder, mas fui interrompido pela voz vinda da porta, era Carl, reclamando.

— Aqui está, Camily — diz emburrado.

— Dá pro Charlie, ué, não sou eu que toco — ordena ela, que estava fora do meu campo de visão, assim como o gordinho.

Em questão de segundos, o garoto deitado do meu lado levanta de uma vez e recebe em silêncio o objeto que Carl estende.

— Vamos cantar! — a baixinha bate palmas, animada.

— O que? — Ethan se pronuncia, enquanto eu apenas observo Charlie afinar o violão com um sorriso no canto da boca.

— Quero... Jason Mraz!

— Ah, não! As musicas dele não são boas — reclama Carl. — Melosas demais.

— São ótimas! — a garota retruca.

— Que tal “I'm Yours”? — sugiro, dando um leve sorriso.

— E é por isso que te amo, Seb! — manda um beijo em minha direção. — Sei essa música de trás pra frente! — e, virando para Charlie, pergunta mais calma: — Sabe tocar, maninho?

— Como não saberia tocar uma música do Jason, sendo que a pessoa mais fanática por ele está bem aqui na minha frente? — riu sem tirar os olhos do violão.

— Estou louca para mostrar pro Sebastian minha voz de musa inspiradora! — exclamou, me contagiando. Acho a letra muito bonita e adoro a melodia dessa música, mesmo não a sabendo toda de cor.

— O violão já está pronto — avisou o moreno do meu lado.

— Vamos, vamos — berrou Camily. — Um, dois, e...

Charlie começou a tocar o ritmo, e notei que a garota acompanhava batendo as mãos na coxa, sem fazer muito barulho. Quando chegou a hora de cantar, ela foi a única que abriu a boca, deixando sua voz melodiosa sair.

Well you done done me and you bet I felt it

I tried to be chill but you're so hot that I melted

I fell right through the cracks, now I'm trying to get back

Me impressionei, nunca imaginaria que Camily cantava tão bem assim. Ethan também cantarolou baixinho o ultimo verso, enquanto enlaçava seus dedos nos da namorada. Senti meus olhos brilharem ao ver aquela cena.

Before the cool done run out, I'll be giving it my bestest

And nothing's going to stop me but divine intervention

I reckon it's again my turn to win some or learn some

But I won't hesitate no more, no more

It cannot wait, I'm yours

Até Carl batia palmas no ritmo da música, com um sorriso torto nos lábios.

Well open up your mind and see like me

Open up your plans and then you're free

Look into your heart and you'll find love love love

Listen to the music of the moment people dance and sing

We just one big family and

It's your God-forsaken right to be loved love loved love loved

Comecei a cantar também, principalmente no verso “Look into your heart and you'll find love love Love”, que era uma de minhas partes preferidas da música toda. E, Charlie tocava tão bem que era contagiante fazer parte da brincadeira.

So I won't hesitate no more, no more

It cannot wait, I'm sure

There's no need to complicate, our time is short

This is our fate, I'm yours

I've been spending way too long checking my tongue in the mirror

And bending over backwards just to try to see it clearer

My breath fogged up the glass

And so I drew a new face and I laughed

I guess what I be saying is there ain't no better reason

To rid yourself of vanity and just go with the seasons

It's what we aim to do, our name is our virtue

Estranhamente, Carl também cantava. Senti vontade de perguntar “e aí, cadê a música chata e melosa agora, espertinho?”, afinal, eu gostava do cantor.

But I won't hesitate no more, no more

It cannot wait, I'm yours

Well open up your mind and see like me

Open up your plans and damn you're free

Look into your heart and you'll find that the sky is yours

Please don't, please don't, please don't

There's no need to complicate

Cause our time is short

This oh this oh this is out fate, I'm yours!

Ao terminar a música, Camily começou a bater palmas exageradamente, se levantando da grama. Causou risada em todos nós, até ela se embolava com seu riso. Ethan, ficou em pé também, laçando-a em um abraço carinhoso. Virei-me para Charlie (não querendo ficar visualmente de vela) e notei que ele sorria para frente, mas, ao sentir meu olhar, me fitou sussurrando:

— Concorde — ordenou.

Antes que eu perguntasse o que queria dizer com aquilo, ele segurou meu pulso e se levantou, me puxando junto.

— O Sebastian disse que está com frio. Vamos lá pegar uma blusa minha pra ele — anunciou simplesmente. Carl assentiu, já Camily e Ethan... Digamos que estavam muito ocupados.

Em silêncio, fui arrastado para dentro da casa, e não me atrevi a pedir para Charlie me soltar. Sua mão era quente e reconfortante.

— Aonde vamos? — indago curioso.

— Para meu quarto — murmurou. Senti minha barriga se embrulhar e fiz careta. — Não se preocupe — riu. — Só que te mostrar uma coisa.

— Uma coisa...?

— Uhum. Você vai gostar garanto.