Laboratório de Poções escrita por Ly Anne Black


Capítulo 3
Tônico Memorizador – Mr. Prado


Notas iniciais do capítulo

Ao contrário de Bervely, eu não estou absolutamente segura da ordem em que os relatórios me forem entregues, então, estou seguindo a sequência em que os salvei aqui, me perdoem qualquer inversão nesse sentido.

*Não consegui anexar a imagem ao capítulo, depois volto para tentar novamente.



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Bervely pegou o pergaminho seguinte, consideravelmente mais leve que o primeiro.

– Esse é o relatório do Sr. Prado. Tônico Memorizador, foi como ele entitulou a poção. Começa com a lista de ingredientes… raspas de cedro, pétalas de flor de tecélia, rabos de anescárdias bolivianas, pétalas de solácias…

– Colhidas em que lua? – Snape a interrompeu prontamente.

– Plantadas e colhidas durante a lua cheia. – achou a informação no texto, bem ao lado do ingrediente. – E ele cita que deve deixá-las sob a luz do sol durante cinco dias. Mais uma planta que absorve energia?

– Energia térmica, apenas. Continue.

Pó de osso de búfalo negro da Malásia… uau, que específico. Hum, poção Wiggenweld previamente preparada. Havia algo nas regras dessa tarefa prevendo a incepção?


Incepção era como se chamava o uso de poções prontas no preparo de outras. Normalmente se tratava de uma técnica arriscada, visto que pequenas variações na primeira poção poderiam interagir com o restante dos ingredientes da segunda, resultando em efeitos inesperados.

– Não, mas vamos ver se o Sr. Prado consegue usar a técnica com sucesso antes de mais nada.

Ela assentiu, intimamente torcendo para que a receita não resultasse num fracasso completo.

Pele de ararambóia, sem picar, dois caldeirões… ele explica mais abaixo. Uma observação aqui, caldeirão de liga metálica de ferro e zinco não recomendado, para evitar corrosão… o segundo caldeirão pode ser de qualquer metal, mas preferencialmente bronze.

– Hum. – Snape se curvou para mais uma anotação. Bervely sorriu, sabia que ele gostava quando os alunos prestavam atenção no uso dos caldeirões, especialmente no que se referia ao material mais apropriado.

– Modo de preparo… – ela deu uma olhada nos tópicos, comprazendo-se com o nível de detalhes, e começou a ler.


Despeje meio frasco da Poção Wiggenweld dentro do caldeirão, e aqueça a uma temperatura média durante 10 minutos, misturando sempre no sentido horário, de 2 em 2 minutos.


Ao final do processo, a Poção Wiggenweld terá evaporado, deixando no caldeirão apenas o soro da mesma, que deverá apresentar uma aparência esverdeada e liquefeita. Com a colher, reserve o soro num frasco durante 3 dias. Limpe o caldeirão.


– Ah, fico feliz que ele se lembre de limpar o caldeirão. – divertiu-se ao ler a nota em voz alta. Snape nada disse, apenas rolou os olhos e fez um sinal para que prosseguisse.


Volte após os 3 dias os quais o soro da Poção Wiggenweld esteve reservado. Pegue a pele de ararambóia não picada, e coloque-a no pilão.


Amasse a pele com a almofariz rigorosamente durante aproximadamente 5 minutos. Atente-se ao muco que a pele deverá soltar (soltará apenas se estiver fresca. Caso perceba que a pele não soltou muco, ela não está apta para a poção). O muco é um pouco corrosivo e poderá causar queimaduras leves caso entre em contato com a pele do preparador da poção.


– Não é odiável quando a pele de araramboia não solta muco?

– A senhorita está especialmente falante hoje, Srta. Black. – Snape pontuou, num tom casual.

– Desculpe. Eu estou apreciando particularmente essas análises. Devíamos fazer isso mais vezes, quiçá todos os sábados.

– Ou então devíamos nos ater aos relatórios e deixar as elocubrações aleatórias para o final. – sugeriu, apesar do toque de humor em suas palavras.


Após ter esmagado a pele da ararambóia, perceba que no pilão há uma espécie de pasta verde (devido à coloração da pele), misturada com um líquido de cor azulada (o muco da pele). Coe a pele de modo que todo o muco seja separado da mesma. Descarte o muco.


Pique em fatias grossas os rabos de anescárdias bolivianas (é preferível que possuam tamanho médio e que a quantidade seja de aproximadamente 10 a 13, no máximo).


Agora que todos os ingredientes que deveriam ser previamente preparados já foram, pegue as pétalas de solácias, as quais deverão ter sido previamente colhidas durante a lua cheia e deixadas sob a luz do sol durante 5 dias (essas informações encontram-se na seção “Ingredientes”) e misture-as com o soro do Poção Wiggenweld no caldeirão.


Aqueça o caldeirão a uma temperatura alta, sem misturar, e deixe ferver até a mistura alcançar uma coloração rosa bem forte. Apague o fogo.


Após ter alcançado o efeito esperado, retire, uma a uma, as pétalas de solácias, que, após o procedimento, deverão apresentar coloração esbranquiçada. Descarte-as.


Despeje no caldeirão a pasta formada a partir da pele de ararambóia. Imediatamente, ao entrar em contato com a pele, o conteúdo do caldeirão deverá escurecer de modo que o rosa forte se torne uma cor próxima do vinho.


Sem aquecer, misture o conteúdo do caldeirão lentamente, no sentido anti-horário, à medida que acrescenta o restante de Poção Wiggenweld (lembre-se que fervemos apenas meio frasco no início). Você perceberá que o líquido, que antes era opaco, começará a ficar transparente gradativamente, até que chegue ao ponto em que você conseguirá ver sem problemas o fundo do caldeirão. A cor não será alterada.


– Eu me pergunto quanto tempo teria demorado para o Sr. Prado encontrar o balanceamento correto dos ingredientes, para conseguir essa transparência ao final. – Snape pensou em voz alta. Bervely deu uma olhada de novo na lista de ingredientes, confirmando algo que percebera antes.

– Ele não revelou as quantidades dos componentes usados. Acha que está escondendo-as de propósito?

– Talvez. Se o balanceamento tiver exigido metade do trabalho que imagino, talvez ele se sinta inclinado em proteger as proporções a fim de preservar o conhecimento do preparo só para si.

– Não vejo porque ele iria querer esconder uma informação como essas do senhor, professor. Se a poção é para fins acadêmicos, deveríamos ser capazes de replicá-la.

– Pocionistas tendem a ser bem criteriosos com a revelação de suas criações, Sra. Black. – rebateu o professor num tom sombrio. – Queira prosseguir.

Ela retomou o relatório, ainda pensativa.


No outro caldeirão (preferencialmente bronze), despeje as pétalas de flor de tecélia e o pó de osso de búfalo negro da Malásia.


Logo que entrar em contato com o pó de osso, as pétalas de flor de tecélia começarão a se liquefazer num líquido dourado. Quando estiverem totalmente liquefeitas, acenda o fogo em temperatura baixa.


Misture o conteúdo do caldeirão (em qualquer direção, nessa etapa não haverá alteração). Perceba que o líquido tenderá a escurecer, alcançando uma cor como bronze. É o pó de osso dissolvendo no líquido. Ao final do processo, despeje o resultado no caldeirão de liga de ferro e zinco, lembrando-se de retirar a colher de pau de dentro do mesmo, caso esteja.


Ao fazer isso, a cor deste caldeirão, que antes era vinho, e bem transparente, deverá se tornar amarronzada. A partir desse momento, de maneira alguma você deverá tocar no conteúdo dentro do caldeirão, que se tornará extremamente ácido. É recomendável também manter-se um pouco afastado, para que os olhos não ardam.


Imediatamente, despeje as raspas de cedro dentro do caldeirão, e a cor se tornará amarelada, a consistência, pastosa, e o líquido tornará a ser opaco. Nos primeiros minutos, é normal a poção desprender fumaça, é a acidez sendo dissipada pelo cedro. Espere de 5 a 10 minutos para que possa ser consumida.


– E esse é o fim do processo – anunciou, agora pensando no pó de osso de búfalo negro da Masália. Não conhecia as propriedades do ingrediente, jamais o usara, e tinha quase certeza que não existia no estoque da escola.

– Uma média de três dias de preparo, contando com o descanso do soro de Winggeweld. – o professor anotou a informação. – Combinação de ingredientes interessantes. Algum palpite sobre o efeito da poção?

– A partir do nome, eu diria que serve para fortalecer a memória de quem a bebe. – cogitou, um tanto perdida. – Mas o processo é bastante complexo, não é, para um simples tônico de memória?

– Um ponto a se considerar. Pode prosseguir.

– Efeitos esperados – ajeitou-se na cadeira, interessada – A poção, como o próprio nome diz, deverá tonificar a memória de quem a bebe, mas a seu modo. O que se espera da poção, quando a mesma está pronta, é que, quando quem a bebe pensa, ao mesmo tempo, em certo fato ou informação, ele a terá guardada na memória para sempre. Ou seja, a poção não vai deixar o consumidor menos esquecido, mas vai guardar na mente da pessoa a memória desejada, por toda a vida. Exemplo: finja que o senhor está com receio de esquecer a data do aniversário da sua mãe. Então o senhor bebe o Tônico Memorizador ao mesmo tempo que pensa na data, e assim o senhor nunca mais a esquecerá.” – Bervely riu – O senhor está com medo de esquecer o aniversário da sua mãe, professor?

Snape, que não tinha passado na fila de senso de humor antes de ser jogado no planeta Terra, não deu mostras de apreciar o comentário. Ele estava curvado novamente sobre o pergaminho, o cabelo oleoso ameaçando cair sobre a testa.

– Os alunos vão gostar dessa.

– Vão ficar absolutamente viciados no efeito, já vejo esse bando de preguiçosos bebendo litros e litros de Tônico Memorizador ao invés de meter as fuças nos livros.

– A não ser que as reações adversas sejam bizarras – ela riu-se. – Ah, aqui. “A poção pode causar ao seu consumidor uma leve e momentânea agitação mental, resultando em confusão e muitos pensamentos por vez. Neste caso, é recomendado se acalmar e esperar o efeito passar. Se tomada em quantidade excessiva, a poção pode fazer retornar à mente de seu consumidor algumas lembranças desagradáveis, mesmo que não tenham sido as que foram direcionadas à poção. O uso da poção não é recomendado para lembranças extremamente fortes, já que pode ocorrer acidentalmente o efeito contrário, e a lembrança ser perdida para sempre.” Podia ser pior, honestamente.

– Há um motivo para esquecermos certas coisas – Snape comentou, dessa vez ele mesmo puxando da caixa de amostras a poção do Sr. Prado, e dando uma boa olhada nela – E o ser humano dificilmente possui o discernimento necessário para escolher o que deve se lembrar para sempre, e o que seria melhor deixar se perder.

– Então essa é outra poção terrivelmente perigosa que pode levar um bruxo experiente à loucura?

Ele notou o tom de deboche nas palavras dela, e lhe estreitou um olhar perigoso.

– Está zombando, Srta. Black?

– Longe de mim, senhor.

– Pode me informar as contra-indicações do Tônico Memorizador do Sr. Prado?

Ela buscou a informação no pergaminho sem demora.

– “A poção não deve ser utilizada por portadores do mal de Alzheimer, especialmente o do tipo bruxo, pois as pétalas de flor de tecélia, utilizadas na preparação, podem reagir com o cérebro, acelerando a progressão da doença. Pessoas que estejam sob o efeito de poções preparadas à base do popularmente chamado “ingrediente padrão” também não devem fazer o consumo do Tônico Memorizador, já que a o osso do búfalo negro da Malásia pode reagir com o mesmo e causar um efeito inesperado.” Alzheimer do tipo bruxo?

– É como algumas pessoas chamam a doença crônica induzida por sucessivas exposições ao feitiço Obliviate. O cérebro não só apaga memórias de longo prazo que nunca foram o alvo do feitiço como passa a ser incapaz de registrar memórias novas.

– Alguém devia fazer uma poção medicinal para isso… Ah, veja. Ele colocou a razão pela qual escolheu criar o Tônico: “Essa poção pode ser considerada como uma grande utilitária para a comunidade bruxa, como um facilitador, um avanço na comunidade. Direto as pessoas esquecem coisas, e apenas lutando muito contra a própria mente, e às vezes nem assim, conseguem tal lembrança de volta. Essa poção veio como uma facilidade a mais para a comunidade, para que contratempos assim não tenham a necessidade de acontecer mais. O segundo motivo pelo qual escolhi essa poção, é que eu mesmo sou uma pessoa extremamente esquecida. Eu simplesmente não gravo números, datas, essas coisas tão pequenas e corriqueiras nas nossas vidas, e por isso eu resolvi criar essa poção, para que nunca mais nós tenhamos que passar tal aperto. Há também, um motivo extra. Alguns dias atrás estava lendo uma fanfic a qual a protagonista tinha se esquecido do motivo para ter parado em tal lugar. Eu te digo com toda a certeza que, se ela tivesse tomado o Tônico Memorizador, ela jamais se esqueceria do motivo.” … Ele estava lendo uma fanfic?

Ela procurou pelo olhar de Snape a fim de obter algum esclarecimento, mas o mestre parecia tão perdido quanto ela.

– Nunca ouvi o termo antes.

– Acha que é uma coisa de trouxas?

Snape deu de ombros.

– Irrelevante. Parece que o Sr. Prado foi motivado especialmente pelas razões pessoais citadas ao final, a sua insatisfação com a própria memória.

– Isso é ruim?

– Não. Eu coloco os motivos pessoais são os mais mobilizadores. Devemos seguir adiante?

Enquanto Bervely pegava o próximo pergaminho, lhe ocorreu fazer uma pergunta atrevida, que estava na ponta da língua, e não pode se convencer a engolir de volta.

– Professor Snape… se o senhor fosse testar a poção em si mesmo, em que lembrança pensaria?

– Em como certos alunos de hoje são abelhudos, Srta. Black, em comparação aos de antigamente. É algo de que eu vivo me esquecendo – ele murmurou, sem tirar os olhos das notas que finalizava.

Bervely mordeu um sorriso. Talvez um pouco do senso de humor tivesse salpicado no mestre por acaso, afinal de contas.

(Continua…)


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Notas finais do capítulo

~ O Tônico Memorizador é propriedade intelectual de João Pedro Prado Artiaga Moreno ~

Eu percebi a homenagem, João, mas Bervely claramente não sacou a indireta!

#QueroTonicoMemorizadorPraEstudarPraConcurso



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