Bittersweet escrita por Ana Paula Puridade, Lua


Capítulo 5
Capítulo 5


Notas iniciais do capítulo

E aqui estamos nós em mais um capítulo.
Preparados para mais um capítulo emocionante?
Vou deixar de baboseira e deixar que vocês leiam logo o capítulo.



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NARRAÇÃO DO KAI

A Primeira parte dos meus planos já havia sido executada, agora eu teria que ter paciência até o momento de saber se realmente foi funcionou ou não.Com outra pessoa eu poderia aproveitar esse tempo de espera, mas não com Bonnie Bennett, a Salvadora da Pátria! Ela continua não contribuindo para a nossa boa convivência, se não precisasse dela para o processo do que eu queria talvez já a tivesse matado ou pelo menos a torturado até ela colaborar.

Quando não evita me encontrar, ela só faz reclamar por eu ter a "violentado". O que fiz... Não me causa orgulho, mas era um meio para um fim. O jeito menos angustiante de fazer isso foi a dopando, com ela inconsciente e não lúcida. Mas não posso negar que foi mais que um meio, eu sentia atração por Bonnie e não era de agora, desde o MundoPrisão tive essa atração, depois que eu me fundi com o Luke e as malditas emoções boas dele vieram para mim, eu tive ainda mais. Tentei ser bom com ela, mas como sempre Bonnie preferiu o lado difícil.

— Beba! — disse eu, entregando o copo de suco com um pouco da droga que havia dado a Bonnie anteriormente.

Ela me olhou como se quisesse me matar e tenho certeza que o faria,exceto pelo fato que eu absorvia a magia dela dia a dia, deixando-a fraca.

— Não serei estúpida em beber algo que venha de suas mãos, Kai, já fui uma vez e não serei novamente.

Bufei.

— Beba logo de uma vez! — ordenei.

— Já disse que não! — Bonnie bateu minha mão para longe, derrubando o copo.
Eu acho incrível como ela consegue sempre me levar a fazer as coisas do jeito mais difícil, ela jamais coopera.

— Já que é assim que você quer, então iremos pelo lado mais difícil. — a segurei pelo braço, puxando a para perto e tirando do bolso uma seringa reserva. Bonnie arregalou os olhos, usando as duas mãos pra me empurrar no peito.

— Por quê quer me dopar outra vez? O qua vai fazer comigo agora?

Se um olhar matasse, eu já estaria abaixo da terra. Bonnie me encarava furiosa, de punhos cerrados junto ao corpo, respiração ofegante. Pura ira.

— Preciso sair sem ter que me preocupar com você fugindo.

— Pra isso tem que me drogar? Tenho certeza que já deve ter colocado feitiços na casa pra me impedir de fugir, feitiços que eu não vou conseguir quebrar sem a magia que você está tirando de mim.

Arqueei a sobrancelha.

— Você é esperta, mas eu prefiro me prevenir.

Avancei nela de novo, a segurando com força e deixando-a sem saída dessa vez.

— Não Kai, por favor! — pediu ela.

— Por que você não colabora? As coisas poderiam ser mais fáceis.

— Eu prometo que eu vou colaborar, só não me drogue de novo.

A encarei, nem sequer cogitando que ela estivesse dizendo a verdade.

— Desculpe, BonBon, mas eu não confio em você! — injetei a droga em sua veia.

Ela engoliu em seco quando sentiu a agulha sob sua pele, aceitando que agora não tinha mais jeito. Aos poucos foi perdendo os sentidos até finalmente ficar desacordada, a levei para o quarto e tranquei a porta, dei ordens a Maria para não deixa-la sair do quarto, caso ela acordasse. Não podia baixar a guarda e confiar em Bonnie, ela é mais traiçoeira do que eu possa imaginar, sempre acha um modo de me trair, mas desta vez ela não conseguirá.

Precisava sair daquela casa, ficar preso durante dias me fazia lembrar do maldito Mundo Prisão que meus próprios parentes me aprisionaram, mas o que me satisfazia era saber que não sobrou nenhum deles, apenas eu. Depois do que fizeram comigo, matá-los não me causou qualquer remorso.

Acabei indo parar em Mystic Falls. Eu sabia que os amigos de Bonnie não deviam estar conformados por eu ter levado-a, sabe se lá o que estavam tramando contra mim. Quem sabe eu poderia torturar alguns deles, na verdade eu preferia torturar o Damon, acho que é por ver a devoção que Bonnie tem a ele, ela foi capaz de se sacrificar mesmo depois de todo o meu discurso anti-Damon.

Logo ao chegar na cidade, me surpreendi ao ver vários cartazes de "Desaparecida" com a foto da Bonnie por todos os lados, aquilo era ridículo, eles realmente achavam que encontrariam a Bonnie? Todos os cartazes que eu encontrei, os arranquei, aquilo era pura perca de tempo, queria saber quem teve a ideia inútil.

O primeiro lugar da minha parada foi a casa de Bonnie e lá a situação era ainda mais estupida, estava cheio de viaturas e policiais, será que eles poderiam ser tão patéticos a ponto de chamar a policia para procurá-la?

— Já reviramos a casa toda novamente, Senhor, não encontramos absolutamente nada. — disse um dos policiais ao homem que eu reconheci sendo o novo Xerife da cidade.

— Vou informar isso ao jovem Donovan, ele tinha esperanças de encontrarmos algo nesta casa. Mesmo assim fiquem aqui caso alguém apareça, qualquer pista pode ser de grande ajuda para nós.

Aquilo era tão ridículo que me fascinava, então decidi fazer parte de um dos atos afinal de contas eu precisava me divertir um pouco.

— Com licença, — me aproximei. — Vocês tem alguma noticia da Bonnie?

— Infelizmente não, rapaz, você é algum amigo dela? —perguntou o Xerife, encarando-me desconfiado.

— E sou Kai Parker, o namorado dela. Estava viajando, mas quando soube do desaparecimento voltei o mais rápido que pude.

Ele colocou a mão no cinto, meio que esperando que eu ficasse amedrontado pelas armas.

— Sinto muito, mas eu não sabia que a Bonnie tinha um namorado.

Dei um curto passo pra trás, fingindo que o truque dele de me afugentar com a visão das armas tinha surtido efeito.

— Eu estava viajando a trabalho, esperávamos contar a todos sobre nós quando eu chegasse. E eu... Eu planejava pedi-la em casamento, mas com tudo isto eu estou preocupado, tenho medo de não ver ver a Bonnie novamente.

Ele respirou fundo, a história do casamento aparentemente o comovendo.

— Iremos fazer todo o possível para encontrar sua namorada. — disse um dos policiais.

— Obrigado, foi um prazer conhecê-los.

— Qualquer noticia apareça na delegacia, senhor Parker! — disse o xerife.

— Obrigado, Xerife. — me retirei antes que continuassem conversando, não porque tive medo que suspeitassem de mim, mas porque estava ansioso para ir a minha próxima parada: A casa dos Salvatore.

Usei meu feitiço de invisibilidade e entrei na casa, estava tendo algum tipo de reunião, eu encontrei uma velha amiga do meu pai entre eles, com certeza eles estavam fazendo algum tipo de plano contra mim, eu não poderia vir em hora melhor.

— A bruxa já nos deu a localização de Bonnie, com certeza iremos encontrar o Kai também. — disse Stefan.

— Eu irei matá-lo e dessa vez ele irá fazer uma viagem somente de ida para o inferno! — disse Damon.

Será que esse estúpido ainda acha que pode me matar? Morri uma vez por que estava desprevenido, mas agora ele não teria outra chance, antes eu o mataria.

— Damon, temos que focar em recuperar a Bonnie, depois você pode fazer o que quiser com o Kai. — Caroline alertou.

— Primeiro a Bonnie, depois você pode fazer o que faz de melhor Damon, estragar tudo! — disse Matt, provocando o vampiro.

Vi quando Damon se preparou para atacar Matt, mas Stefan o impediu.

— Vamos nos preparar para resgatar a Bonnie, depois vocês acertam suas diferenças! — Stefan se pronunciou, os outros concordaram e saíram em duplas. A loira foi com o humano, Damon foi com o irmão.

Então os estúpidos acham que podem me pegar desprevenido? Eles terão uma grande surpresa, Bonnie não sairá do meu lado até que meu plano esteja totalmente completo e eu não precise mais dela.

NARRAÇÃO DO DAMON

Não me permiti descansar. Não poderia sabendo que, a cada segundo que passa, Bonnie pode estar sendo obrigada a fazer alguma coisa que não quer. Não conseguiria sabendo que, enquanto estou aqui a salvo, ela pode estar correndo perigo. Mas, o mais importante que tive que admitir para mim mesmo é que eu não seria capaz de descansar enquanto Bonnie não estivesse ao meu lado, salva.

O pessoal e eu estávamos fazendo o possível, mas eu achava que ainda não era o suficiente. Queria fazer o impossível pra trazer Bonnie de volta e acabar com Kai. Matt, com toda sua imbecilidade revirou Mystic Falls e as cidades vizinhas com cartazes de “Desaparecida”, eu tinha certeza que todo o estado da Virgínia sabia que Bonnie estava desaparecida. Apesar de eu acha que isso não teria resultado, também não fui contra, aliás, mesmo que uma única pessoa tivesse visto Bonnie e pudesse nos dizer onde, já seria de alguma utilidade, seria mais informação do que tínhamos.

Também fomos atrás de uma bruxa para fazer um feitiço de localização, Kai tinha escondido muito bem seus rastros e os de Bonnie e a bruxa que tínhamos não era tão forte, por isso ela demorou dias para conseguir encontrar algo e quando encontrou não era uma informação precisa, poderia muito bem ser nada, mas ainda assim decidimos averiguar.E foi desse jeito que fui parar dirigindo meu carro numa estrada, no meio do nada, com Stefan no banco do carona. Ele fazendo anotações num mapa, eu prestando atenção na estrada, nas plantações, nos pastos e fazendas.

— Aquela Bruxa inútil. — praguejei. — Não tem nada aqui, nem sequer um barraco.

— Melhor fazermos uma pausa.

— Não preciso de uma pausa.

— Você não, mas o carro sim. — Stefan apontou o painel mostrando que a gasolina estava quase no fim.

— Ok. — bufei. — Vou dar a volta.

O posto mais perto estava há uns três minutos, tínhamos passado por ele alguns quilômetros atrás, então fiz um retorno e chegamos lá quando o combustível estava literalmente no fim. Stefan foi até a loja de conveniências ao lado enquanto eu desci para abastecer, mas não foi até que eu tivesse terminado que acabei ouvindo um ruído estranho vindo das árvores logo atrás de mim. Primeiro eu achei que era algum animal, mas o ruído continuou e logo foi seguido por um baque surdo, então eu percebi que era uma pessoa. Pus a bomba no lugar e segui o lugar de onde o barulho tinha vindo e meu coração deu um salto dentro do peito ao ver Bonnie caída entre as árvores.

— Santo Deus! — me abaixei ao lado dela, mordendo o pulso e empurrando em sua boca.

Ela empurrou meu braço pra longe, mas quando focou os olhos em mim e viu que era eu tentando ajudá-la, jogou os braços ao meu redor e me abraçou com força, aliviada.

— Não acredito. Eu consegui. Eu me livrei dele. — ela murmurou com a voz trêmula, eu senti lágrimas quentes no meu pescoço e percebi que ela estava chorando.

A apertei junto a mim, tão forte que acabei assustando a mim mesmo com a intensidade daquele abraço, mas não me importei, empurrei meu rosto em seu cabelo, sentindo o calor da pele dela e o cheiro suave que emanava. Queria lhe passar a segurança de que tudo iria melhorar, que eu não deixaria acontecer nada a ela enquanto estivesse do meu lado, queria que ela soubesse o quanto eu me importava com ela e o quanto sentia sua falta.

— Está tudo bem agora. — murmurei. — Vai ficar tudo bem, eu prometo.

— Não vai, não. — ela se apertou mais a mim, como se procurasse abrigo. — Ele vai vir atrás de mim.

— Eu vou lidar com ele, não vou deixar ele chegar perto de você.

— Não, ele vai matar você. Eu fugi e agora ele vai matar todos... — de repente ela se afastou, me olhando com olhos assustados cheios de lágrimas. — Ai meu Deus. Eu tenho que voltar.

— O que?

— Tenho que voltar antes que ele perceba que eu fugi ou ele vai matar todos vocês.

— Bonnie, não. — a segurei pelos ombros, fazendo-a me encarar.

Aqueles olhos verdes cheios de dor e lágrimas me encarando deram-me a certeza de que eu iria até o fim para mantê-la livre de Kai. Uma lágrima solitária fez caminho por sua bochecha e ela virou o rosto para que eu não a visse chorar.Não me contive e estendi a mão, enxugando a lágrima com o polegar.

— Bonnie, olha pra mim. — pedi, mas ela nem se moveu, então eu pus as duas mãos em seu rosto, fazendo-a me encarar e olhei seriamente em seus olhos. —Não precisa se preocupar com a gente. Eu não vou deixar Kai fazer mais nada com você. Eu prometo. É uma promessa, ok?

Ela passou vários segundos apenas com os olhos fixos nos meus antes de responder.

— Ok.

—Tudo bem. — concordei. — Vamos sair daqui. Consegue levantar?

— Consigo. — respondeu, aceitando a mão que lhe ofereci de ajuda.

— Como conseguiu fugir?

— Eu... Eu não me lembro.

Franzi o cenho. Ela não lembrava?

— Consegue se lembrar se Kai fez algo pra você? Ele te machucou?

— Sim. — ela apertou as mãos uma na outra. — Ele não queria que eu tentasse algo contra ele, então absorvia minha magia todos os dias.

Estranho, eu achei que Kai a tinha levado justamente pelas magias que somente ela poderia fazer, mas ao invés disso ele a deixava sem magia.

— E o que mais?

— Ele... Ele me dopava sempre que saía pra eu não tentar fugir quando ele não estivesse.

— E fez mais alguma coisa?

— Ele... — Bonnie se interrompeu, ela abriu e fechou a boca algumas vezes como se fosse falar algo, mas desistiu, por fim mordendo o lábio e baixando os olhos.

— Ele fez não foi? Aquele filho da puta! — cerrei os punhos, sentindo a raiva tomar conta de mim, mas essa raiva logo passou quando eu vi Bonnie engolir e em seco e levantar o rosto, seus olhos agora não tinha nada além de frieza.

— Eu quero que você vá embora. — disse ela.

— O quê? Bonnie, eu disse que não precisa se preocupar...

— Não é isso. — interrompeu-me. —Você quer saber se o Kai me machucou, não é? Sim, ele me machucou, ele me fez algo que eu nunca vou ser capaz de esquecer e vai me atormentar pelo resto da vida, não importa quanto tempo passe. E sabe o que é pior, Damon? Eu culpo você. — a voz dela falhou como se ela própria não acreditasse que estava dizendo aquilo. — Eu não queria, mas fico pensando que se eu não tivesse trocado sua vida pela minha, eu estaria salva agora, sem traumas e Kai nunca teria feito comigo o que fez... No fim das contas, acho que é só o destino te retribuindo, não é mesmo? Alguns dias atrás você me culpava, agora sou eu quem culpo você.

Engoli em seco, de maxilar travado e sem fala. Havia um nó na minha garganta, lágrimas ardendo por trás dos meus olhos e não existiam palavras pra eu dizer o quanto estava arrependido por toda magoa e ressentimento que descontei em Bonnie, minha angústia só aumentava ao vê-la ali, com dor no olhar, com emoções danificadas e com raiva de mim. E era tudo minha culpa.

— Me deixa ajudar você. — pedi.

Ela se afastou.

— Eu não quero a sua ajuda.

— Bonnie...

— Eu não quero sua ajuda porque não quero ficar em dívida com você. Não quero te dever nada. Da última vez que aceitei sua ajuda, você me humilhou sempre que pôde, me jogou na cara que se pudesse voltar no tempo teria escolhido diferente. Não quero ter que passar por isso outra vez.

A cada frase, um peso a mais surgia em meus ombros, pesos que eu sabia que merecia.

— Me perdoa. — foi tudo o que consegui dizer.

— Já te perdoei. — ela respondeu. — E agradeço por ter gastado seu tempo me procurando, mas não preciso de você aqui, eu posso me salvar sozinha.

Mas eu queria que ela precisasse. Queria que ela me abraçasse de novo e chorasse no meu ombro, não porque eu a achava fraca, mas porque eu queria consolá-la, queria poder segurá-la nos braços mais uma vez, apertando-a forte e enterrar meu rosto no seu pescoço, sentido novamente o calor da sua pele e o cheiro suave dos seus cabelos. Queria, queria muito, que ela dissesse que precisava de mim como eu estava sentindo que precisava dela.

Firmei meus pés no chão, encarando-a desafiadoramente.

— Então temos um problema porque eu não vou sair daqui sem você comigo.

Ela me olhou firme, do mesmo jeito que eu a estava olhando.

— Damon... — a voz de Stefan nos interrompeu, mas nem Bonnie e nem eu fomos capaz de quebrar o olhar.— Damon... — meu irmão chamou de novo e dessa vez eu olhei, só que quando virei o rosto na direção dele, não tinha nada lá. Voltei meu olhar pra Bonnie e ela também tinha sumido. — Damon...

[...]

— Damon...

Ouvi bem ao fundo a voz de Stefan, mas quando abri os olhos, a primeira coisa que perguntei foi:

— Onde está Bonnie?

— Calma, — ele esticou a mão pra tocar no meu braço. — Estamos procurando por ela.

O encarei confuso, notando que estávamos no meu carro, Stefan dirigindo, eu no banco do carona.

— Como estamos procurando? Já achamos! Ela estava aqui.

— Você pegou no sono, acho que acabou sonhando.

— Não, não Stefan. — balancei a cabeça. — Paramos pra abastecer, acabei encontrando a Bonnie, ela tinha conseguido fugir.

— Não paramos para abastecer, o tanque está cheio.

Franzi o cenho e encarei o painel do carro, era verdade.

— Mas ela estava comigo. — murmurei.

Senti meu irmão reduzir a velocidade, passando a dirigir mais devagar e eu já sabia o que estava por vir. Uma palestra.

— Não vamos encontrar ela nesse ritmo. — falei.

Ele revirou os olhos, mas aumentou a velocidade outra vez.

—Olha, Damon...

— Não, Stefan. — o interrompi. — Não precisa me dar um discurso, só precisa me ajudar a encontrar Bonnie e acabar com a vida do Kai.

Ele respirou fundo, desistindo do discurso e crispou os lábios.

— Eu só ia dizer, — ele me olhou. — Que pode contar comigo. Pra qualquer coisa.

— Eu sei. — respondi, — Eu sempre soube.

Ele assentiu e eu inclinei minha cabeça no encosto do banco do carro, pensando no sonho. Na verdade, se eu tivesse que dizer, isso aqui parecia muito mais sonho que o outro, tinha sido real de mais pra acreditar que não era.

— Stefan. — chamei.

— Sim?

— Você... Você acha que a Bonnie me culpa?

Ele ficou vários minutos em silêncio, sem dizer nada.

— Entendi. — falei. — Ela culpa.

— Não é isso. — disse ele. — Eu estava pensando no assunto. A verdade é que não tem como saber. Por um lado, Bonnie sempre fez tudo sem esperar nada em troca, sempre fez tudo por amor, altruísmo e lealdade... E... Uau... Como é que eu nunca reparei nela antes?

O encarei.

— O que?

— Como eu não reparei nela? Com todas essas qualidades?

Apertei meus olhos na direção dele, o encarando sério.

— O que você está querendo dizer?

— Foi só um comentário. — Ele deu um sorriso. — Voltando ao assunto, Bonnie sabia o que estava fazendo quando foi com Kai. Mas por outro lado, não sabemos o que está acontecendo com ela agora, não sabemos se ele fez algo ruim a ela... Então pode ser que talvez ela não te culpe ou talvez sim, te culpe.

— Eu me culparia.

— Você se importa com ela mais do que admite.— ele murmurou. — Na verdade, acho que vocês dois têm mais sentimentos entre vocês do que percebem.

Eu encarei a estrada, fui incapaz de olhá-lo porque sabia que ele estava falando a verdade. Fixei meus olhos num posto de gasolina de que nos aproximávamos. Então eu pisquei.

— Para o carro. — falei.

— O que?

— Para o carro. — repeti. — Nós já passamos por aqui antes?

— Ainda não. — disse ele. — Por quê?

— É o mesmo posto de gasolina do meu sonho.

— Tem certeza?

— Absoluta. É o mesmo posto. Se Bonnie não estiver aqui, está por perto.

— Ok, então vamos procurar.

Stefan me jogou uma mochila com verbena, pequenas estacas, materiais de primeiros socorros (no caso de encontramos Bonnie machucada) e outros dispositivos. Ele pegou uma igual e nos dividimos na busca. Eu ficaria com o lado da estrada em que estava o posto, ele procuraria no lado contrário.

[...]

NARRAÇÃO DA BONNIE

Eu não queria chorar, mesmo assim acordei com lágrimas nos olhos. E eu sabia que tinha sido um sonho, porque nele eu tinha conseguido fugir. No sonho Damon me encontrava em um posto de gasolina à beira da estrada, nos abraçávamos tão forte que cheguei a pensar que iria me fundir a ele, mas então ele perguntou o que Kai tinha feito comigo e a magoa apareceu, eu falei que o culpava, falei que não queria ele ali, que não precisava da ajuda dele.

Agora isso estava me fazendo pensar: será que estavam mesmo me procurando? No dia em que tentaram me libertar do Mundo Prisão, Caroline estava mais preocupada com uma ceia de Ação Graças que comigo. Enquanto estive lá presa, Jeremy esteve bebendo e pegando outras garotas. Stefan, bem, ele sempre procurou por Damon, não por mim. Alaric não teria nem roubado o Ascendente deJo se não tivesse sido compelido (e agora está de luto pela morte dela), Matt estava em um drama sem fim com Enzo. E Damon... Bem, ele tentou me salvar umas duas vezes, mas também estava com o foco em seu próprio drama para reconquistar Elena (que tinha apagado as lembranças por vontade própria).

No fim das contas eu estava por mim mesma, completamente sozinha, assim como agora. Tive que salvar a mim mesma antes, teria que salvar a mim mesma agora. Meus amigos não viriam. Ninguém viria.

Levantei da cama, ainda meio sonolenta, malmente zonza. Eu sabia que ainda estava sob efeito da droga de Kai e ainda sentia meus dedos dormentes. Entrei no banheiro e joguei água no rosto, esperando que me despertasse, mas o que fez esse trabalho foi olhar por entre uma das frestas da janela e ver, num dos terrenos que rodeava a casa, Damon se aproximando.

— É Damon. — sussurrei. Não me preocupei em pensar se aquilo era real ou efeito da droga, apenas corri para fora do banheiro, escada abaixo, não estranhando o fato da porta da frente estar aberta. Parei na varanda, onde Kai estava de pé, como se me esperasse.

— Onde pensa que vai?

— Eu vou sair daqui. — disse firme.

Ele apenas sorriu e indicou o lugar por onde estava vindo Damon.

— À vontade.

Eu vacilei, estranhando a ação dele, mas acabei me afastando e correndo em direção ao Salvatore mais velho, apenas para dar de encontro a uma espécie de campo de força que me impedia se seguir adiante.

— Maldito Kai. — praguejei. — Maldito, maldito!

— Pensei que fosse dar o fora. — a voz dele surgiu às minhas costas, me causando raiva.

— Você é um desgraçado. — falei entredentes. — Damon! — gritei, esperando que ele olhasse em minha direção, me ouvisse ou qualquer coisa. Queria que ele soubesse que eu estava perto.

— Acho que ele não te ouviu. — Kai caçoou. — É um feitiço de ocultação bem legal, sabe? Você está dentro do círculo, pode ver a casa e as pessoas. Damon está fora e não vê nem ouve nada.

Fechei os olhos, respirando fundo.

— Eu. Odeio. Você.

— E mesmo assim eu sou o único disposto a te mostrar a verdade.

— Do que você está falando?

Ele se aproximou e tocou meu rosto, no mesmo instante bati a mão dele para longe de mim.

— Só eu vejo como você é única, por isso te escolhi. Mas pra eles, pros seus amigos, você é descartável.

— Para.

— Você sabe que falo a verdade, BonBon.

— Não me chama assim.

Ele sorriu.

— É um apelido exclusivo do Damon? Sabe que ele é o primeiro a te achar descartável, né? Ele pode estar te procurando agora, mas é pra depois poder dizer que fez a parte dele e não ter a consciência pesada. Só por isso. Ele seria o primeiro a te trocar...

Kai parou de falar quando meu punho fechado acertou o rosto dele. Eu não sou uma lutadora, nunca fui a uma academia de box e nem assistia as lutas na TV, mas fechei meu punho com força e quanto mais ele falava, mas a raiva me consumia. Acabei acertando o punho nele. Usei toda minha raiva. Deve ter doído. Ele passou a mão no canto do lábio, limpando o filete de sangue de um ferimento que já estava cicatrizando.

— Você tem muita força para uma garota do seu tamanho. — disse sério, então ele passou direto por mim, indo para fora do “círculo” do feitiço que encobria a casa. — Damon. — chamou.

Damon ficou rígido quando ouviu a voz dele.

— O que você vai fazer? — perguntei.

Kai me ignorou, enquanto Damon virou em direção a ele segurando uma estaca.

— Só quero conversar. — Kai ergueu as mãos.

— Não quero conversar. Onde está a Bonnie?

— Ela está mais longe do que você imagina.

Damon ergueu a cabeça em alerta.

— Sei que ela está por perto. Onde?

— Está? — Kai sorriu. — Como tem certeza?

— Estou aqui. — chamei. — Damon, eu estou aqui.

— Um feitiço localizador é bem preciso. — Damon respondeu.

Kai se fez de ofendido.

— E você acha que eu não ia me prevenir contra um misero feitiço localizador? Você só está aqui agora, Salvatore, porque eu quero. Acha que não senti a magia da sua bruxa de quinta tentar derrubar a minha? Eu escondi muito bem meus rastros e os de Bonnie, depois manipulei o feitiço da sua bruxa pra vir parar aqui, no lugar errado.

— É mentira, eu estou aqui, Damon, ele está mentindo.

Todas as minhas tentativas de que ele me ouvisse eram inúteis.

— A sua viagem até aqui não será uma completa perda de tempo se você ouvir o acordo que tenho pra te propor.

— Não quero acordos com você.

— Mas esse envolve Elena. — ressaltou Kai, o que foi suficiente para ganhar atenção total de Damon. — Eu lancei aquele feitiço em Elena, eu posso tirar. Tudo o que você tem que fazer é nunca mais procurar por Bonnie e convencer os seus amigos a não procurarem também.

Eu não estava respirando, estava imóvel, sem reação. Assim também estava Damon, que apenas encarava Kai sem dar sequer uma palavra.

— Eu não acredito que você está fazendo isso. — murmurei.

O sorriso de Kai apenas aumentou.

— Vamos lá, Damon, não há o que pensar. Nós dois sabemos o que você quer.

Quando Damon suspirou e deixou cair no chão a mochila que estava em seus ombros, eu sabia que estava perdida.

— Sabia que você faria a escolha certa.

Mas então Damon o encarou com fúria e jogou a última estaca que estava em sua mão na perna de Kai, fazendo-o cair de joelhos com um grunhido de dor.

— Você. Não. Sabe. Nada. Sobre. Mim. — ele usou a velocidade vampira para se aproximar, puxar a estaca e a enfiar na barriga de Kai novamente. Tudo em segundos. — Deixa eu te contar uma coisa, não pense que você pode me manipular, porque não pode. Não ache que eu salvei a Bonnie por causa do perdão da Elena, porque não foi. Ela me perdoou até quando matei o irmão dela, acha que não me perdoaria dessa vez?

Damon empurrou Kai no chão, pisando na garganta dele enquanto continuava a falar.

— Eu posso ter agido como um idiota, eu sou covarde demais pra admitir na frente dela, ou do meu irmão, ou de qualquer outra pessoa, mas é fácil admitir na sua frente porque você é um idiota também. — ele agachou, encarando Kai, enquanto o perfurava com a estaca outra vez. — Eu salvei Bonnie por mim mesmo. Salvei porque sabia que ela merecia ser salva, merecia uma vida completa e feliz. E mais do que isso, salvei porque queria minha amiga ao meu lado durante os próximos 60 anos. E isso quer dizer que eu não vou parar de procurar por ela, ficou claro?

Eu não sei como me senti ao ver Damon confessando aquilo, mas meu coração estava batendo acelerado, minha boca estava seca e eu estava sorrindo. Não sabia se era bom ou ruim, não sabia que me agradava o fato de o Damon só admitir algo assim quando achasse que eu estava longe... Mas para o bem ou para o mal... Eu fiquei feliz em ouvir aquilo.


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Notas finais do capítulo

E ai amores, o que acharam do capítulo?
Deixem nos comentários iremos adorar ler cada um deles.
Beijos, Até o próximo Capítulo.