A lenda dos amantes do Tempo escrita por Geovanna Ferreira


Capítulo 8
A desconhecida dos olhos cinzentos


Notas iniciais do capítulo

Prequel de Once Upon a Time. Tudo ocorre antes de Regina adotar seu filho Henry, e a série começar. Fanfic de minha autoria. Protegida contra plágio.



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_ Regina!

Um grito agoniante cortou a escuridão.

Um chamado.

Alguém fugia, ofegante, a passos frenéticos.

Um bebê sem rosto e sem corpo chorava, doentiamente.

A rainha estava ali, e também não estava. Não sentia-se real. Um cheiro de queimado invadiu o ar, denso. Estava sufocando. O frio gelava seus ossos, que pareciam feitos de fumaça.

Ela se lançou na névoa, desnorteada, e pode distinguir os contornos dos cortiços fundidos com a noite negra.

Ratos soavam junto a risadas demoníacas, vindas de janelas parcamente iluminadas.

Estava de volta ao End East.

A respiração descompassada, o choro e os passos continuavam, uma macabra música a embalar o suplício, tão altos que aparentavam pertencer a ela mesma, Regina.

Ela corria, seguindo um rastro de sangue.

De repente tudo pareceu sumir. Só havia o nada. Só o ofegar, o choro e passos a prosseguirem, infinitos, ensurdecedores. O sangue se estendia até onde a vista alcançava.

Ela viu uma faca ensanguentada cair ao chão. O barulho do metal em contato com o solo percorreu seus ouvidos, fincando-se em sua mente, tornando insuportável carregar sua própria cabeça.

A arma caíra diante de um vulto encapuzado.

Cora segurava uma criança, ainda a berrar. Seu olhar era assombrado, perdido, talvez em outro mundo.

_Regina...Regina...Regina! - ela gritava, cada vez mais desesperada.

A filha quis alcança-la. Mas, ao tentar, algo a puxou, de volta ao reino dos vivos.

Com um salto, a prefeita sentou-se na cama. As dez unhas apertavam o lençol enquanto arquejava, procurando em vão se recuperar do pesadelo. Estava empapada de suor.

Ela olhou o relógio na parede.

Três da manhã. Em ponto.

As cortinas estavam abertas, revelando a rua coberta pela luz prateada da madrugada.

Não lembrava-se de ter as deixado abertas.

Incomodada até com a própria sombra, Regina tentou dormir, sem conseguir abandonar a sensação de que da esquina, alguém a vigiava.

Acordou cedo no dia seguinte a aquela noite estranha. Na verdade, não pregara o olho. Logo ouviu a voz rude de Ms MacGregor ralhando com sua pobre ajudante, Sarah. Não demoraria teria que pagá-la novamente.

Regina suspirou e ainda na cama, se esticou para pegar sua bolsa de moedas.

Estava vazia.

Ela ensaiou usar um pouco de mágica. Fazer surgir algum dinheiro. Mas parecia que naquele mundo ela não possuía o pleno controle sobre seus poderes.

Regina enfiou-se num vestido e foi para a rua. Enfim se acostumava com o lugar. Já conseguia se localizar, chegar a casa de Bernard.

Sorriu ao pensar nele.

Bernard.

Rapidamente, vendo pessoas entrando em armazéns, comprando, vendo os pennys passarem de mão em mão, retornou ao seu problema financeiro. Não tinha nenhum penny, nenhum xelim, que dirá libra. E ela sabia, se não resolvesse a questão logo, perderia a razão. Mas como?

Caminhou por mais alguns minutos até que um local em particular lhe chamou a atenção.

Regina passou de uma calçada a outra, atravessando o pavimento de paralelepípedos. O branco imaculado daquela loja se destacava entre as outras, fazendo que os estabelecimentos que o rodeavam, localizados em uma das maiores ruas de Londres, Regent Street, parecessem nada demais, meras vendinhas de periferia. O nome La duchesse, estava pintado em dourado na fachada. Regina parou diante de uma das várias vitrines. Vestidos, perfumes, tecidos e chapéus eram dispostos de modo a aparentarem ser uma obra artística.

Senhoras muitíssimo bem vestidas enchiam o lugar. Uma em especial, a mais arrumada, andava de um lado para o outro, comandando todos ao redor.

Regina olhou para além dos produtos expostos na vitrine e enxergou uma moça, a encarando ferrenhamente de um balcão, com seus curiosos olhos cinzas. Sentiu um arrepio.

Entrou na loja, contemplando o teto alto, o lustre a pender dele, as paredes forradas por estampas trabalhadas, os pequenos objetos de cristal esverdeado sobre mesas e armários de ferro. Tudo era de um inegável bom gosto. Ela vasculhou em busca da moça do olhar cinzento. Não a encontrou. Era diferente, com um tom de pele caramelo, e olhos que não pareciam humanos. Certamente não era dali.

_ Precisa de alguma coisa? - perguntou uma mocinha.

_ Um emprego. – respondeu Regina, relutante.

_ Isso é com Madame Duchamp. Boa sorte. – disse a funcionária com uma risadinha amistosa, a preparando para o que viria a seguir.

Regina não precisou de avisos para saber quem era Madame Duchamp. Soube desde o primeiro instante que a vira junto a clientes, por sua postura aristocrática, a percorrer o espaço como uma rainha, que era a dona.

A vendedora a levou até a dita cuja.

_ Senhora, com licença, senhorita está em busca de emprego. – disse respeitosamente.

A mulher de meia idade a olhou com o nariz empinado, num misto de esnobismo e desprezo. Para ela, Regina, apesar de mortalmente bonita, era provavelmente mais uma menina interiorana cheia de pretensão, uma atrevida que não conhecia seu verdadeiro lugar. Ela nada disse. Foi cuidar das freguesas.

A prefeita enrubesceu. Ah se estivessem na Floresta Encantada. Aquela mulherzinha iria conhecer o preço de zombar da rainha.

Se controlou. Algo a impediu de sair pela porta e nunca mais nem passar por aquela rua. Ficou a observar cada movimento da ordinária, por um tempo infindável, a assistindo falar com sotaque francês propositalmente forçado, rindo e gracejando para aquelas damas cheias de pose que apareciam para comprar as últimas novidades da moda parisiense.

Madame Duchamp fora uma das francesas mais belas de seu tempo. Casara-se com um duque de Sussex e com ele morara por anos na Índia, até a trágica morte do homem. Por bocas maliciosas, corria o boato e que ela o havia envenenado com chá. Nada fora comprovado, claro. Viúva e endinheirada, Duchamp voltara do oriente e abrira a mais cara e ostentadora loja de Londres, La duchesse, onde atendia a alta sociedade londrina, damas e alguns cavalheiros, todos afoitos por vestir luxo, exibindo assim sua classe social, seus privilégios. Os chapéus eram a especialidade da casa. Pagava-se libras e libras para ter um deles na cabeça.

Regina notou quando uma mulher adentrou na boutique, causando borburinho. Madame Duchamp perdera levemente a cor. A desconhecida passava os olhos frios ao redor com expressão enojada.

_ Caríssima! - disse Madame como se fosse a criatura mais amável do universo.

A mulher nem se deu o trabalho de cumprimenta-la. Estava ali uma concorrente sua, de peso. Tão arrogante e antipática quanto ela.

A vendedora ao lado de Regina tremia, sem conseguir conter sua agitação.

_ Óh céus! - desesperou-se ela.

_ Qual o problema? - perguntou Miss Mills.

_ Aquela é princesa Luisa.

Regina não pode entender a dimensão do que a moça dizia.

Luisa era uma das filhas da rainha Vitória, uma das herdeiras do trono inglês, a ovelha negra da família e nem por isso, menos ilustre, menos real, menos insuportável que seus parentes e toda a elite. Buscava um vestido, um chapéu. O que a loja tivesse de melhor e mais sublime. Para um jantar com o czar russo.

Todos os empregados e até Madame Duchamp puseram-se a cerca-la, enchendo-a de opções e sorrisos desconfortáveis. Ela mal olhava o que lhe traziam. Eram todos patinhos nas mãos da detestável princesa. Madame parecia até mesmo humilde, em volta da fulana.

Regina observava-os de longe, calmamente.

A batalha já durava quase meia hora. Nada parecia adequado a mulher.

Já estavam todos fartos, Madame Duchamp não escondia seu constrangimento.

Não contavam que Regina aparecesse, de queixo erguido, confiante a carregar um vestido, oferecendo-o a princesa.

Madame a fuzilou pela insolência. Ela rebateu no mesmo tom, a desafiando.

Os olhos de Luisa faiscavam contentamento.

A realeza agora se olhava no espelho, envaidecida. O vestido púrpura sugerido pela rainha moldara seu corpo disforme, tornando-o até atraente. Regina voltou, com um chapéu ricamente ornamentado, colocando na cabeça de Luisa, conseguindo deixar seu rosto menos pálido e insosso.

_ Pronto.

Todos ao redor emudeceram diante daquela proesa. Regina sorria triunfante.

Em seus tempos de reinado, acompanhava de perto, minuciosamente o trabalho de alfaiates que fabricavam suas roupas. Tinha visão e uma noção de moda apurada.

_ Nosso expediente é das nove às cinco e meia. Seja bem vinda. – disse Madame Duchamp, pasma, derrotada, a Regina.

Estava admitida.

Ficara combinado que ela moraria aos fundos da loja, junto as outras meninas que ali trabalhavam. Isso era bom. Economizaria recursos. Madame apenas exigia pontualidade e que estivesse na cama às dez. A prefeita foi até a pensão e pegou seus pertences que se resumiam em vestimentas. Que alivio que estava livre da horrenda Ms MacGregor. A garota que lhe atendera quando chegara, Amy, se mostrou muito receptiva. A noitinha, apresentou-lhe a algumas colegas, lhe contou da rotina por ali. As moças nos dormitórios, riam, conversando tranquilas, longe dos olhos tirânicos da patroa, falando de namorados, planejando passeios para o fim de semana.

Regina ficou sozinha por alguns minutos. Ainda não estava enturmada.

A moça morena, do olhar cinza que lhe causara arrepio apareceu como se surgisse do nada, como se fosse um fantasma. Havia desaparecido pela tarde toda. Tocou-lhe o braço. Seu toque era frio como neve.

_ Eu sei quem você é. – disse num sussurro, sorrindo sugestivamente, de um modo que indicava que sabia mais do que era seguro saber, mais do que qualquer um sabia.

Suas pupilas brilharam, ficando por um quarto de segundo, brancas.

E a sumiu novamente.

Amy veio e levou uma Regina atordoada até um quarto. Havia duas camas. Roupas estavam sobre uma colcha. Alguém já dormia ali.

_ Você ficará aqui.

_ No seu quarto? -

_ Não... – respondeu sem jeito. – sua colega de quarto... – fez uma pausa - .... será, Abigail. – disse de uma vez.

Regina não entendeu. Amy estava terrivelmente desconcertada. Como se aquele fosse um assunto delicado e proibido.

_ Aquela... dos olhos. – explicou-se.

A rainha entendeu. Aquela, que lhe aterrorizara instantes antes.

Amy deixou o quarto, como se fugisse.

Quem seria? E porque apavorava tanto Amy?

O que sabia sobre Regina?

Ela logo descobriria.


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Notas finais do capítulo

A história tem ligação com a terceira temporada da série. Mas é possível lê-la perfeitamente sem ter assistido a temporada. Enjoy! :D



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