A lenda dos amantes do Tempo escrita por Geovanna Ferreira


Capítulo 28
ÚLTIMO CAPÍTULO! " Nós somos estrelas de constelações diferentes... "


Notas iniciais do capítulo

EU TO MAL, NÃO TO ACREDITANDO QUE DEPOIS DE QUASE SEIS MESES E 180 PAG ESTOU DIZENDO ADEUS À BERNARD, REGINA, ELIZA, HENRY E A ESSA HISTÓRIA QUE APRENDI A AMAR! ESPERO DO FUNDO DO CORAÇÃO QUE GOSTEM DO DESFECHO DA FIC, E POR TUDO QUE É MAIS SAGRADO!!! COMENTES, VOCÊ QUE NÃO COMENTOU AINDA, COMENTE NESSE EPISÓDIO FINAL DE NOSSOS PERSONAGENS!! CADA UMA DAS PESSOAS QUE ACOMPANHAM, POR FAVORRR!! QUEM PUDER ESCREVER UMA REVIEW, SEREI ETERNAMENTE GRATA! É ISSO PESSOAL! ESPERO QUE GOSTEM E ME DESCULPEM PELA DEMORA, FIM DE ANO É COMPLICADO!!! OBRIGADO A TODOS QUE LERAM, QUE CHEGARAM ATÉ AQUI! AGORA VOU CUIDAR DO MEU ORIGINAL E LUTAR PARA PUBLICAR! ATÉ MAIS, ESPERO QUE ESSA HISTÓRIA TENHA FEITO VOCÊS UM POUQUINHO MAIS FELIZ!



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" Eu sei que vou te amar
Por toda a minha vida eu vou te amar
Em cada despedida eu vou te amar
Desesperadamente, eu sei que vou te amar

E cada verso meu será
Pra te dizer que eu sei que vou te amar
Por toda minha vida

Eu sei que vou chorar
A cada ausência tua eu vou chorar
Mas cada volta tua há de apagar
O que esta ausência tua me causou

Eu sei que vou sofrer a eterna desventura de viver
A espera de viver ao lado teu
Por toda a minha vida "

Tom Jobim

Da fotografia, Eliza lia a mente de Regina. A prefeita estava fixa em seu sorriso enigmático à horas, horas em que nó na garganta não se desfazia, que a sensação incomoda não ia embora. Liz continuava a lhe encarar, a lhe desafiar a seguir o pedido que gritava em seu coração.

Que fosse em busca do livro.

Ele lhe daria todas as respostas. Ela sentia, ela sabia.

O título, paradoxalmente, lhe enchia o peito de esperanças, e pavor.

_ A lenda dos amantes do Tempo...

Regina saiu de seu quarto, atravessou seus jardins e chegou à rua. Sem tirar o olhar da foto, da mulher presa no papel, começou a andar por sua cidade fantasma, ainda tragada por ela.

O que Eliza tentava lhe dizer?

Ao avistar a pequena a biblioteca municipal, a rainha respirou fundo e foi em frente, cruzou a avenida. Após entrar e fechar a porta atrás de si, sentiu-se instantaneamente oprimida pelo lugar.

Passou os olhos por prateleiras abarrotadas de livros.

Parecia uma tremenda e ingênua insanidade o que fazia.

De seu balcão, a bibliotecária a fitava, com estranhamento, tão surpresa quanto a própria Regina, por estar ali. A ignorando, a prefeita meteu-se entre as estantes. Caminhou desconfiada entre elas por longos minutos, com medo de olhar atentamente para os volumes e encontrar o que tanto procurava.

Estaria preparada para enfim saber o que acontecera?

Regina concluiu logo que suas buscas seriam inúteis. Se dirigiu novamente à entrada da biblioteca, pronta para sair dali, mas...

A imagem sorridente de Bernard surgiu a sua frente. Henry estava em seu colo, e Eliza segurava sua mão.

Não podia fugir. Não deles.

Lentamente, deu meia volta e recomeçou a caminhar, tensa.

Escondida no canto mais remoto da sala estava uma estante, etiquetada como “ Literatura inglesa. “

Regina estremeceu.

Vasculhou as obras espremidas na prateleira a sua frente e então percebeu surpreendida o livro que estava bem diante de seu rosto.

A lenda dos amantes do Tempo. Com o título escrito numa letra floreada.

Trêmula, ela puxou a lombada. No centro da capa esverdeada margeada por delicados ramos de flores, havia um casal, desenhado em dourado brilhante, olhos presos um no outro, mãos dadas em posição de dança.

Bernard e Regina.

A prefeita tombou levemente sobre a estante, tamanho o choque.

Minutos depois, abriu o livro, indo para a página inicial tomada pelo nome Eliza Meredith Bell. Na outra, uma singela frase feita à caneta arrancou de Regina a primeira lágrima de muitas que viriam.

“ Para a Rainha, que viveu conosco dias que continham a eternidade. “

Regina não teve dúvidas. A própria Eliza havia escrito aquilo, sabendo que de alguma forma, aquele exemplar em especial chegaria até ela.

Ali mesmo, sentada no chão da biblioteca, ela inicio sua leitura. Não havia ninguém no lugar e dera um jeito de levar a funcionária, que a vigiava a distancia, para longe. Estava completamente sozinha, com seu passado, seu futuro.

Aquela que carregava toda a mágoa do mundo foi o primeiro conto lido, sobre uma mocinha que perdera sua família, sua dignidade, sua alegria simplesmente por ser uma bruxa. Charlie ainda conseguira amar, alguém que nunca pudera ter. E isso acabara por praticamente a matar. Fora consumida pelo ódio, pela falta de amor que experimentara desde o dia de seu nascimento.

Regina arregalou os olhos quando uma ideia veio à sua mente.

Maise.

O anjo guardião falava sobre Sarah, um anjinho que descera a Terra por dias contados, com a missão de ensinar sua mãe humana o sentido da vida, para fortalece-la, para curar sua alma despedaçada. Apesar de tão pequenina, tão frágil, conseguira tudo isso.

Sonhos de papel falava sobre uma princesa, presa num castelo amaldiçoado. Um dia um jovem bate por engano no castelo. Ao perceber onde fora parar, teme encontrar uma megera, mas encontra a princesinha, assustada, desesperada por viver. Sem nem ao menos saber se podem, juntos eles quebram a maldição e fogem para o mundo, para realizarem todos os sonhos que sonhara nos anos que passara aprisionada. Queria ver as maravilhas do planeta, escrever suas histórias, conhecer, com seu salvador, lugares tão fantásticos que nem mesmo a imaginação poderia inventar. Antes porém, tiveram uma garotinha e um garotinho. Estavam pronto para sua aventura, mas... toparam com um homem mal, perverso e invejoso que destruíra seus sonhos rasgando-os como papel, manchando-os com sangue e sangue.

Annabeth.

O nome do próximo conto provocou um calafrio em Regina.

O menino que a Rainha amava.

_ Era uma vez, um bebê órfão...

... Que vivia com sua família num lugar distante, onde só havia sombras, dor e incerteza. Quando já acreditavam que não sairiam daquele inferno, uma mulher surgira, trazendo luz. A aquela que viera ser a mãe do menino sem mãe. Numa noite de ventania, um demônio disfarçado de sombra veio levar o garotinho para nunca mais. Ela então doara sua vida ele, por eles. Oferecera metade de seu coração para que nada de mal acontecesse, e a outra parte, deixara no peito de seu menininho, que crescera, tornara-se um homem, cruzara os oceanos em busca de algo que não sabia o que era, sentindo e ouvindo sempre em seu coração, um chamado, um voz a lhe conduzir. Porque fora salvo, e amado por ela, tornara-se também um herói, tocara a existência de centenas de pessoas, fizeram o bem até mesmo em seu último dia de vida. Ela afinal estivera com ele em cada manhã, cada momento, em cada ato de bondade feito.

Lágrimas corriam livremente pela face de Regina.

_ Henry...

Ela fechou os olhos e sorriu. Foi como se ele a abraçasse.

Na página seguinte um olhar desamparado, velho conhecido seu, cruzou com Regina. Uma garotinha, vestida por uma camisola, estava desenhada.

Eliza.

Ela escrevera a história de todos eles, para que ela soubesse, para que os encontrasse.

Regina leu o título da próxima história e sentiu seu corpo inteiro vibrar.

A lenda dos amantes do Tempo.

A muito tempo atrás, no topo da montanha mais alta vivia uma garotinha do cabelo de fios de ouro, seu irmãozinho e seu pai, o homem que nunca sorria, naquela que todos chamavam de a casa dos amaldiçoados. Ela não entendia porque os chamavam assim, nem porque a tristeza habitava seu papai. Achava que tinha algo a ver com sua mamãe, que virara passarinho e fora morar no céu, entre as nuvens. Numa manhã ensolarada, quando já achavam que eram a dor em que viviam, que estava impregnada no telhado, no chão de sua residência e também em suas almas, uma moça bateu a porta de sua mansão. Logo que a viu, algo se acendeu no pai, como se um sopro de vida tivesse sido dado a ele. Instantaneamente se apaixonou por seus mistérios, seus olhos escuros mais escuros que a noite, por sua coragem de subir a montanha, por não se importar com quem eles eram. Quando perguntou porque fora parar ali ela lhe dissera que o vento a conduzira, dissera que lá encontraria o que tanto precisava, amor. O pai então lhe mostrou seu peito, o coração despedaçado e ela lhe confessou que também, faltava-lhe metade do seu. Foi tão simples, tão natural a eles. Uniram seus corações, tornaram-se um só. Por dias eles se amaram, longe do mundo, em seu cantinho. Junto a suas crianças, sorriram, sonharam, estiveram realmente vivos. E eles não queriam nada além disso.

Num noite estrelada, a moça cochichou à garotinha que ela era uma bruxa, mas uma bruxa boazinha. A menina achou aquilo muito interessante. Só que o segredo começou a querer sua liberdade, iniciou suas tentativas de saltar de sua garganta. Ela não sabia que as palavras naquela parte do planeta podiam ser atômicas. Ao dizê-las a uma mulher maldosa, ao dispará-las no ar, contou o maior segredo da moça, seu ato foi como um feitiço que a levou a embora junto a toda a esperança, a paz e a alegria que existiam na menininha, em seu pai e seu pequeno irmão. Ao se dar conta do que fizera, a menina foi incapaz de chorar, suas lágrimas secaram, assim como ela inteira. Restou apenas a casca do que fora, a culpa, o ódio por si mesma. Já seu pai se afogou num mar de tristeza e silêncio. A garotinha cresceu, com o peito agoniado, vendo seu pai adoecer, morrendo lentamente em vida, sabendo que devia salvá-lo, que devia trazê-la de volta. Ela rodou o mundo, foi até o reino dos elfos, dos elefantes, até as fadas mas nada, a ninguém a vira. Porém uma fadinha a levara para além da Floresta de todas as cores, até o lago guardião de todas as memórias. Ele sim, poderia a ajudar. Em suas águas esverdeadas ela vira novamente a moça, e algo que ela nunca os contara: que era a rainha de um reino, anos distante, congelado pela solidão. Quando fora até eles, estava fugindo dele, de seus fantasmas, de si. A fadinha dissera-lhe que não desanimasse em sua jornada, livros eram mágicos, portavam mensagens que atravessavam terras, talvez fossem uma esperança. A garotinha que crescera então escrevera muitas e muitas histórias, confiando que chegariam até a Rainha, que ela entenderia que eles a chamavam, a esperavam. Mas nada aconteceu, e a jovem via seu pai se esgotando... se esgotando... Cada célula dela sabia que devia salvá-lo, fazer algo antes que fosse tarde demais. A moça foi além de seus limites, desafiou um homem mau e até mesmo o poderoso Tempo. Conseguiu viajar por ele, chegar à terra da Rainha. Quando olhou ao redor, para aquele reino tão diferente de tudo que já vira, seu coração vibrou: havia conseguido o impossível, estava ali. Ela percorreu o lugar em desespero, sem poder mais esperar. Pensou que se desintegraria primeiro de alegria ao vê-la, do outro lado de uma rua, completamente diferente, em roupas modernas, ainda dona da mesma beleza estonteante, e depois de desgosto, por sentir rápida e fatalmente que estava se dissipando, indo embora dali. Um segundo após, fora o fim. E assim se terminou seu sonho, tão logo começara. A moça voltara para sua terra, seu lugar, e se deixou levar pela vida, ainda mais apagada. Continuou ao lado do pai, como sempre estivera, sem nunca lhe contar uma palavra sequer sobre o que vivera. Não possuía esse direito, de tortura-lo, de libertar esses fragmentos de verdade que o feririam como uma flecha envenenada diretamente em seu coração. Ela foi deixando os anos passarem, se arrastarem, foi assistindo o pai tornar-se frágil como uma borboleta com asas de papel enquanto a culpa corria por sua corrente sanguínea. No dia em que todos sabiam, seria o adeus, ela abriu as cortinas de seu quarto, deu de cara com jardins, árvores, o céu azul e tudo lhe pareceu defeituoso, morto. Chorou sozinha, permitindo que o cansaço acumulado e sufocado por décadas a consumisse inteira. Era tão injusto. Mas era tarde até mesmo para chorar. Não queria e ainda assim se obrigou a aguentar firme, ser forte. Já vinha fazendo aquilo a tanto tempo... Na sala da mansão encontrou seu irmão, seus olhos de eterna incompreensão, sua mágoa velada por nunca ter sido de fato, um deles. Não poderia ser diferente, ele nunca poderia compreender. Ele não sentira, não vivera, não fora marcado a fogo pelo que acontecera. Pelo menos ele, fora poupado. Ela se sentiu mil anos mais velha que ele, sentiu-se orgulhosa do homem que ele se tornara, ainda que para isso, o preço pago por isso fora alto demais. Notou também seu olhar dolorido quando o pai pediu para ficar a sós com ela. Pediu desculpas por tudo, em silêncio. Entrando no quarto do pai, ela sentou-se numa cadeira, ao lado da cama dele. O silêncio se colocou entre eles. Ela fitou suas mãos, de cabeça baixa.

_ Filha... olhe para mim.

Ela obedeceu, e suas pupilas claras marejadas por lágrimas encontraram as do velho homem.

Ele sorriu.

_ Não chore... está tudo bem, sempre esteve.

A mulher nada disse em resposta.

_ Eu sei o que você pensa, o que sente, o quanto sofre. Não compensa, Liz. Acalme seu coração.

Ela sustentou o olhar e viu no pai uma estranha tranquilidade.

Como ele poderia estar daquela forma naquele momento? – a pergunta berrava dentro dela

O senhor estendeu sua mão enrugada à filha, fazendo um claro convite. Ela a segurou. O toque aqueceu a palma da moça, e a encheu de calma.

_ Só quero que saibam.... que amo muito vocês, mais que tudo nessa vida.

O semblante do homem se entristeceu um pouco.

Ela ponderou sobre quem seria o “ vocês”.

_ Gostaria de ter sido melhor... ter me dedicado a vocês como a senhorita aqui se dedicou a mim. Mas, agora, apenas posso pedir que... não lamente por mim, não se culpe mais. Acredite, não, não tive uma vida ruim, longe disso.

Ele fechou os dedos nos dela, firme. Ela arregalou os olhos, surpresa por seu pai saber exatamente o que se passava com ela.

O homem olhou ao redor.

_ Não percebe? Não sente? Ela está aqui, conosco... – ele cerrou as pestanas e sorriu, não parecendo alguém a beira da morte. _ e sei, me escuta, em qualquer outro lugar que também esteja.

A moça prendeu a respiração.

_ Éramos estrelas de constelações diferentes, solitárias e sem brilho, mesmo que em meio a tantas outras. Vivíamos estáticos em pontos distintos do universo, a anos luz de distancia, desacreditados que algo um dia pudesse mudar. Era para nunca termos nos encontrado, mas estava escrito, quis o destino assim e por um breve, improvável e encantado tempo nossas vidas se encontraram, se tocaram, se fundiram. Foi o bastante, para dissipar a escuridão de nossas almas, para sempre, para nos iluminar pelo resto de nossa existência. Meros dias que junto a vocês, meus filhos, são o motivo que me faz agradecer por ter nascido, dias que jamais terminaram, que valeram por meses, anos, que encheram toda minha vida...

A moça limpou uma lágrima que escorria por sua bochecha. Depois, sorriu orgulho por seu pai.

_ Eu ainda a sinto, a vejo, a amo. Ela é parte de mim e eu dela. Estou com ela em todos os momentos, e ela sabe que pode me sentir, no vento, nas coisas que a fazem sorrir, se fechar os olhos e perceber as batidas de seu coração.

A mulher se inclinou e beijou a mão idosa do homem, percebendo que enfim estava liberta de décadas de dor. A luz da manhã estava em seu pai, um passarinho entrou pela janela, tudo parece perfeitamente bem e ela então viu o herói que tinha a sua frente, o homem sábio que ele era.

_ Sorria, minha menina, pois o que vivemos, eu, você, seu irmão, ela, é o que de mais mágico e raro existe: o amor, em todas as suas formas.

Ao ver o pai sendo colocado naquela que seria morada eterna, debaixo da terra, da árvore mais bonita e florida do cemitério, a moça que depois de tanto já era quase uma senhora, foi simplesmente feliz: por ter sido sua filha, por ele ter partido em paz, o homem que a sua maneira, amou a eles, e à Rainha, até o final.

Regina tinha o livro aberto comprimido contra seu peito e incontáveis lágrimas rolando por sua face. Abraçada às páginas, a seu passado, sua história, a eles, um único pensamento a invadia.

Bernard morrera pensando nela, ainda a amando.

Regina pensou por um momento que era impossível sentir tanta dor, e amor, confundidos.

E então fez o que ele mandara, fechou os olhos, ouviu seu coração.

Ele estava ali, nela.

E um chamado também, urgente, vital.

Subitamente, ela piscou, levantou-se e deixou a biblioteca, em total desespero, com o livro de Eliza bem preso em sua mão. Chegando a rua, ainda com o rosto vermelho de choro, movimentou os dedos e desapareceu numa nuvem de fumaça. Um segundo depois estava em meio a escuridão de seu mausoléu, diante de uma caixinha. Ela respirou fundo e a abriu. Tremula, pegou alguns vidrinhos verdes que estavam depositados no interior do objeto.

Estaria certa em fazer aquilo?

Insegura, enfiou os frascos no bolso de seu casaco e moveu novamente a mão para sumir outra vez.

Um instante após, a prefeita se materializou na estrada deserta que ligava Storybrookes ao mundo. Ela fechou os dedos das mãos nas palmas. Sequer respirava.

Bernard lhe dissera, na biblioteca, lhe dissera, a levara até aquele ponto... Estava equivocada de insistir, de estar ali?

Um carro vermelho surgiu sobre o asfalto e foi diminuindo a velocidade até parar. Uma porta se abriu e um garotinho saiu de lá correndo, exatamente o mesmo de quando Regina o vira pela última vez: de touca, com o rostinho apavorado.

Owen.

Ele correu quase até o limite mágico que escondia a cidade, com a testa franzida de choque. Movimentava a cabeça para lá e para cá, como se não estivesse convencido de que não havia nada ali, a não ser mais estrada e árvores.

Muda, ela o assistia, se odiando por ser o motivo de seu sofrimento.

_ Era aqui! Eu juro! - ele gritou, olhando para trás.

Havia alguém no carro. Regina não conseguia ver quem.

Sem se dar por vencido, Owen virou-se novamente, para ela, olhando-a nos olhos com extrema angústia.

Mas não podia enxerga-la.

_ Filho... não há cidade alguma. – a pessoa misteriosa saiu do automóvel e caminhou até o garoto.

E naquele momento, Regina pensou que desmaiaria. O ar fugiu-lhe, as pernas ameaçaram ceder.

Bernard.

Despenteado, com a barba por fazer, vestido de acordo com aquele século, com jeans, camiseta e tênis, uns quinze anos mais velho do que Regina se lembrava, ainda dolorosamente belo. Colocou a mão sobre o ombro de Owen.

Era ele, e não podia ser.

Novas lágrimas brotaram no canto dos olhos agora arregalados da Rainha. Ela arfava sem conseguir lidar com o que estava acontecendo.

Ele havia voltado para ela.

Estava diante dela, depois de todos aqueles anos.

_ Mas tio Tom...

_ Vamos Owen.

Os dois homens deram meia volta, com intuito de retornar para o carro.

Ela não poderia perde-los. Não de novo.

Desesperada, Regina retirou um dos frascos de sua roupa, o abriu, libertando um feitiço voou diretamente para a barreira mágica que protegia Storybrookes.

_ Por favor... por favor... – sussurrava Regina, implorando para que desse certo.

Percebendo que algo estava errado, Tom e Owen viraram e viram uma fumaça roxa dissolver a parede invisível e por trás dela, o rosto desamparado de Regina surgir.

_ Você... – disse o menino, com os olhos azuis gélidos, transbordando ódio em sua voz. _ Onde está meu pai?!

Morto.

A rainha engoliu a seco e fitou o semblante carregado de Tom.

Mesmo que tentasse, estava sempre os ferindo.

_ Owen... – Reginao chamou, estendendo as mãos.

_ PAPAI!? PAPAI? - gritava o garotinho, histericamente.

Em meio aos gritos de Owen, Regina rapidamente destampou o outro vidrinho que trouxera.

Os dois a encararam sem entender.

_ Me desculpem... – disse ela, inclinando o frasco.

Uma fumaça verde envolveu tio e sobrinho, desaparecendo quase que de imediato.

Eles piscaram repetidas vezes. Regina aguardou, numa ansiedade generalizada.

Owen a olhou desconfiado, como se só então a notasse ali.

_ OI!? - o garoto sorriu abertamente, não sendo nem de longe o menino amargurado que de segundos antes.

_ Olá. – Regina respondeu, sorrindo.

O feitiço de perca de memória havia funcionado.

Um recomeço.

_ Titio, acho que estamos perdidos. - sugeriu Owen, coçando a cabeça, todo encantador.

_ Então vamos dar um jeito de achar o caminho certo!

_ Pois bem senhor...? - iniciou Regina

_ Tom, Tom Flynn Bell.

_ Tom, logo escurecerá. Porque não ficam? Posso ajudar.

Ela caminhou até eles.

_ Sou Regina, a prefeita Regina Mills. – ela lhe ofereceu a mão e ele a pegou, a cumprimentando, rebatendo o olhar sensual da rainha da mesma maneira.

Indeciso, Tom olhou para um Owen sorridente.

_ Porque não?

Ela sorriu outra vez, vitoriosa.

_ Só vou precisar de uma carona.

_ Claro. – disse o tio.

Enquanto faziam o trajeto até o centro da cidade, Regina olhava para a janela, contendo a vontade desesperada de ficar fixa em Tom. Num dado momento, não aguentou, o fitou, extasiada. Uma hora antes estava na lendo o livro de Eliza, lendo as palavras que Bernard enviava para ela, a cem anos de distancia. E agora, ele estava ali, ao lado dela, dirigindo tranquilamente. Desejava tocá-lo, beija-lo, ter um abraço seu. Mas evitava até mesmo olhar demais, temia se denunciar. Tom acabou falando que estavam indo acampar, mas misteriosamente acabaram se perdendo. Regina assentiu a cada palavra ouvida.

Do banco traseiro Owen reclamou de fome. Resolveram parar na Granny’s para comer alguma coisa. O lugar estava praticamente vazio. Com seu entusiasmo infantil, o menino sentou-se num dos bancos do restaurante, o mesmo que ocupava quando se encontrara com Regina pela primeira vez. Granny se aproximou para anotar os pedidos.

_ O que vai querer, Owen? - indagou a prefeita, sorrindo - deixe-me adivinhar, panquecas de maçã?

Ele formatou sua boca em um “o”.

_ Como você sabe?!

_Tenho poderes... – respondeu Regina, brincalhona.

As panquecas de Owen e as tortas da prefeita e do tio logo foram colocadas diante deles. Owen mal terminara de comer pediu permissão para ir brincar com um garoto que o chamava, do outro lado do restaurante.

Tom e Regina ficaram sozinhos.

_ Sabe, nunca imaginei que um dia estaria aqui - Tom deu uma golada em seu cappuccino e sorriu - muito menos na situação em que me encontro. Nunca me imaginei pai, e agora sou um. – ele olhou para o sobrinho e depois para Regina.

_ Me desculpe, você não tem nada a ver com isso...

_ Não! - ela agarrou com força o braço dele, no balcão. Os dois pararam e miraram os dedos de Regina sobre a pele de Tom.

_ Fique a vontade...

Tudo que acontecera antes em Storybrookes estava definitivamente apagado. Era como se nunca houvesse existido.

_ Obrigado. – ele sorriu de um jeito que fez Regina derreter. Foi verdadeiramente Bernard.

_ Sei o que é a vida te levar por caminhos diversos, para depois mudar seu mundo completamente, outra vez.

_ Trabalhei anos num dos maiores bancos do país, odiando cada segundo que passei lá. Até que larguei tudo para realizar meu sonho, viajar o mundo, fotografando. Já passei pela Ásia, América do Sul, Austrália, me enfiei até mesmo nas savanas africanas...

_ E nunca teve ninguém que o fizesse ficar de vez, em algum lugar? - perguntou Regina, sugestivamente.

_ Não. As pessoas pensam em fotógrafos e logo nos imaginam como seres de outro mundo, descolados, que arrasam corações por onde vão. Só que sou um homem a moda antiga. E nunca encontrei alguém que realmente se encaixasse ao meu jeito, que valesse a pena, que balançasse esse cara meio tímido, aqui. Engraçado que estou conversando com você e a timidez ainda não apareceu.

Regina não piscava, de tão admirada. As semelhanças com Bell não acabavam. Ela sentiu a solidão omitida de Tom, somente através de seu rosto, suas palavras. Sua vontade era se inclinar mais um pouco e beijar aquela boca.

_ Eu pretendia, aliás pretendo, lançar um livro com minhas fotografias, experiências de viagem. E depois talvez escreva ficção, gosto muito de escrever. Pensava mais nisso antes do acidente que matou meu irmão e minha cunhada.

_ Lamento...

Tom emanava tristeza e cansaço. A prefeita quis abraça-lo, desesperadamente.

_ Éramos muito distintos, até na aparência, mas gêmeos. Sinto sua falta. Recebi a notícia da morte e então vi que não poderia deixar meu sobrinho sozinho. Tive que me adaptar a uma paternidade aos avessos.

_ Você é admirável, Tom. – sussurrou Regina, com olhos brilhando.

_ Por acaso isso é seu? - Granny se aproximou, empunhando uma espécie de maço, preso por uma fita vermelha.

_ Oh, sim! Deve ter caído de meu casaco!

Tom observou o amontoado de fotografias, nostálgico.

_ Para completar meu pai morreu a um mês atrás, e minha mãe também. Acho que dona Annia não aguentaria viver num mundo em que o doutor Henry Bell não estivesse vivendo.

Regina se arrepiou com a menção de Henry.

Um mês atrás?

Owen e o pai haviam dormido por anos, congelados. Parecia improvável, mas Tom era irmão gêmeo de Kurt, e a única explicação era que devido a sua conexão, também houvesse adormecido, por todo esse tempo.

_ Agora somos só eu e Owen. – disse ele, olhando para as fotos. – Tive que empacotar as coisas deles, resolvi guardar essas raridades.

A imagem amarelada que estava no topo do conjunto era ilustrada por uma família, dois garotinhos sorridentes, uma mulher de aparência frágil e delicada e um homem incrivelmente simpático, de dentes brancos brilhantes. Todos estavam sobre patins, de mãos dadas, brincando na neve.

Regina fitou o homem. Soube, era ele. Henry.

_ Posso ver? - pediu ela.

Tom estendeu as fotografias à prefeita que começou a passar o dedo sobre o papel, sobre o rosto bonito de Henry.

_ Ele tem certo magnetismo, não? Sempre teve. Meu pai era uma dessas pessoas que atraem multidões. Era um médico excelente e antes de tudo, um ser humano maravilhoso.

Regina estava presa naquele olhar manso, no sorriso gentil.

Seu menino.

A rainha colocou a fotografia no fim do amontoado, revelando uma onde dois meninos de uns dez anos, certamente Kurt e Tom, posavam abraçados, impecáveis em seus uniformes de beisebol. No meio deles havia a mesma moça da primeira foto.

_ Sua mãe?

_ Sim. Era russa. Quando era menino ouvia tanto falar de Anastasia Romanov que fantasiava que mamãe era a própria princesa perdida e eu, logo, um príncipe.

_ Você e seu irmão... eram realmente diferentes. – comentou Regina.

_ Ainda mais quando se tratava de personalidade. Kurt era o sociável, o garoto cheio de amigos e habilidades.

Ao ouvir aquilo, a prefeita recordou-se de Bernard e seu irmão, Nicholas.

Regina não conseguiu esconder sua surpresa ao se deparar com a próxima foto.

Ela estava sentada no chão, sobre um tapete, abraçada aos pequenos gêmeos, de olhos fechados e língua para fora, fazendo careta junto deles.

Eliza.

_ Minha tia. Uma mulher distante, cheia de mistérios, mas gosto de me lembrar dela assim, alegre, brincalhona...

Na imagem seguinte eles continuavam abraçados, dessa vez sorrindo para a câmera. Eliza estava estranha, justamente por estar com um sorriso nos lábios, e ainda mais bela. Aparentava estar tão feliz, ser tão amorosa para com seus sobrinhos.

_ Ela era escritora, sabe, das boas. Talvez tenha sida tia Liz quem mais me inspirou a escrever. Tenho certeza que ela gostava mais de mim... Depois de ler as coisas que eu escrevia quando moleque, ela sempre sorria, me dava um tapinha carinhoso na cabeça e dizia: “ bom trabalho, garoto! “

Tom parecia estar deliciado com suas lembranças.

Ele era inacreditável, ele era mistura de todos eles. Annabeth, Bernard, Eliza, Henry...

_ Era bem excêntrica. Um dia enquanto passávamos férias na Inglaterra, sem mais nem menos ela parou de beber seu martini e disse: Tom, acredita em destino? Pois guarde bem, você encontrará pessoas inimagináveis, preciosas...

Regina olhou para Tom, atônita.

_ O que foi? - perguntou ele, com seu sorriso sedutor.

_ Nada...

Ela passou automaticamente a foto. Ao voltar o olhar deu de cara com Bernard.

O corpo de Regina se enrijeceu instantaneamente.

O senhor Bernard Bell estava sentado numa poltrona, com seus dois netinhos em cada um de seus braços. Ele sorria, orgulhoso, e também como se a situação, um velho segurando dois bebês fosse muito engraçada.

Regina não se preocupou com a possibilidade de Tom achar muito estranho sua fixação naquela fotografia em especial. Fitou Bernard por longos minutos.

_ Meu avô.

_ Sua família inteira devia ser extraordinária, mas ele - Regina engoliu a seco e continuou, com a voz embargada – parecia alguém digno de se estar perto, de se amar.

_ Sim. Tenho poucas lembranças dele. Só me lembro de vovô me contar uma história, sobre uma rainha. Cabelos negros, olhos escuros marcantes. Regina, como você.

Uma lágrima solitária rolou pela bochecha de Regina.

Tom não perguntou nada. Apenas a limpou com seu polegar e então entrelaçou seus dedos com os da prefeita.

1937

Uma após a outra, ele movimentava as pernas, com dificuldade, caminhando sem saber para onde seus passos o encaminhavam. Os pés pesavam como chumbo, os olhos não viam nada a não ser a total escuridão.

Seria a morte assim?

Um eterno e vão caminhar sentido ao nada?

O que aconteceria a seguir?

_ Bernard.... Bernard... – uma voz grave vibrou, preenchendo tudo.

Ele balançou a cabeça, enlouquecido para achar de onde vinha o som, mas havia só a completa ausência de luz.

_ Você já aguentou tanto... bem mais do que muitos homens suportariam...

Ele prosseguiu sua caminhada.

_... tantas provações, tantas perdas...

O lugar começou a tornar-se cinza escuro. Ele ainda não entendia o que acontecia.

_ Bernard... e se o passado fosse um menino que acabara de nascer? Pronto para viver, descobrir o mundo e o amor?

Bell andava... andava.... e seus membros iam ficando mais leves. Como se a velhice ficasse para trás, e a morte também.

_ E se a vida, essa senhora indecifrável, lhe oferecesse uma merecida trégua? Quatro infinitos dias?

Bernard agora se deslocava a firmes, movido pela esperança de que algo o esperava. Uma estranha névoa tomou conta de seu campo de visão para logo se dissipar, fazendo surgir uma porta, velha conhecida sua.

A centímetros dele estava a porta de seu quarto na mansão de Londres.

Tudo tornou-se de súbito nítido.

_ Vá e viva, Bernard....

Ele tocou na maçaneta dourada. Sua mão era jovem e lisa outra vez. Apertou a maçaneta, sentindo sua textura maciça, se convencendo de que aquilo era verídico. Depois, trêmulo, empurrou a porta.

O que encontrou do outro lado, o paralisou, fez duas lágrimas se derramarem por seu rosto. Havia uma inconfundível silhueta, na cama. A cabeleira negra caia pelas costas, o mesmo perfume a impregnava o espaço. Ao lado, agarrada a ela, estava uma garotinha loura como um anjo, com seus olhinhos claros fechados, num sono profundo. Junto dela, um bebê, também adormecido. Dormiam em paz, como que no colo de sua mãe.

E estavam.

Com ela, eles.

Sua família.

Bernard ergueu o olhar e encarou o homem belo, irradiando juventude, refletido no espelho.

Ele mesmo.

Era como se 1888 nunca tivesse ido embora. Como se o adeus, toda dor e saudade jamais chegassem a acontecer.

Ele deu alguns passos e cuidadosamente, se inclinou sobre ela, beijando seus lábios quentes.

Sim, era real.

Ele sentiu a corrente percorrer seu corpo ao colocar sua boca na dela.

Regina piscou, sonolenta, dando um sorriso maroto.

Bell não conseguia controlar o fluxo de lágrimas.

_ Bernard...? - perguntou ela, se endireitando.

Ouvir aquela voz novamente aqueceu seu peito.

_... porque está chorando, meu amor? - ela colocou a mão delicadamente sobre o rosto dele. Uniram seus narizes. Bell fechou os olhos e somente deixou-se ficar por um minuto, apreciando sua dádiva.

_ Papai...?

A vozinha doce de Eliza soou. Ela esfregou as pestanas e logo sorriu, mais alerta que nunca.

Chegava a doer em Bernard vê-la daquela forma, sua menininha, antes de ser destruída, de ter a infância tomada, antes de anos de procura e culpa.

_ Liz... Henry... – ele desceu o olhar até o neném, que estava bem maior desde a última vez em que estivera com Regina. O pegou.

Seu garotinho literalmente sorriu para o pai.

Bernard temia que se respirasse, eles sumissem.

__ O que está acontecendo, Bernard? - questionou Regina, pegando Henry.

Como explicaria que era um velho de mais de oitenta anos e inexplicavelmente, estava ali, junto a todos que perdera?

Eliza colocou-se debaixo de um dos braços do pai, que envolveu Regina e seu filho no outro braço. Estava abraçado a todo seu mundo.

_ Amo vocês, amo vocês... nunca se esqueçam...

_ Bobo! - riu a rainha – nós também amamos muito o papai, não é mesmo Liz, Henry? Acho que está na hora de por o bebê no berço.

Regina levantou-se e começou a caminhar. Bernard e Eliza a seguiu. No quartinho, que estava exatamente igual, ela colocou o menino para dormir. Ficaram cada um de um lado do berço, observando Henry.

Como é linda, como a amo, desesperadamente, dizia Bell, para si, enquanto assistir Regina fitar seu filho. Ela de repente ergueu o rosto até as estrelinhas pendurada sobre o menino. Elas se movimentaram e cintilaram, como que por mágica.

_ E se duas estrelas solitárias, desafiassem as leis do Tempo, do universo, e viajassem, apenas para se terem, para se amarem? – sussurrou Regina, olhando para os penduricalhos.

Foi demais, para Bernard. Ele contornou o berço e sufocou Regina num abraço, beijando-a com um desespero de uma vida inteira.

Ela soube, eles souberam. Estavam ali, juntos, novamente. Não fizeram perguntas, apenas se amaram. Regina chorava, por saber que não era sonho, de alguma forma, por um capricho da vida, um milagre temporal, eram um só, outra vez.

_ Eu disse... que sempre te encontraria. –falou Bernard.

Quatro dias... - ele ouviu a voz.

_ Vamos! - ele a puxou mansão a fora.

_ Para onde?

_ Surpresa!

Henry, Eliza, Bernard e Regina logo se enfiaram numa carruagem e rapidamente, com uma sutil ajuda da rainha, chegaram à propriedade da família Bell, na cornualha, ao anoitecer.

Não tinham tempo a perder.

Iria realizar seu sonho.

Durante o trajeto, Liz foi no colo do pai, sem parar de falar um minuto sequer, lhe contando das histórias fantásticas e mirabolantes que surgiam em sua cabecinha.

_ Papai... – iniciou ela - acho que serei escritora, um dia...

Bernard riu diante do comentário, e depois olhou para Regina, conspiratório.

_ Isso mesmo! E não deixe que ninguém lhe convença do contrário! Escute bem, Liz... – disse o pai, a trazendo mais para perto - não deixe se apagar a luz de seu coraçãozinho, não deixe que a menininha encantadora que é vá embora.

_ Combinado papai!

Mal chegaram ao chalé em que se hospedariam, a casa da Eliza adulta, a Liz criança e seu irmão adormeceram, exaustos da viagem.

Bernard e Regina ficaram a sós. Assistiram às estrelas, agarrados, por horas. Quando chegou a hora, ele a carregou para a cama, a despiu, beijou cada centímetro de seu corpo. Depois perceberam, estavam os dois com lágrimas nos olhos. E então se fundiram, se devoraram, pela noite toda. De todas as formas, fazendo juras, com uma violência provocada pelos anos distantes.

Na manhã seguinte foram à praia com as crianças, rolaram na areia, foram banhados pelo vento, dançaram uma mágica valsa num salão de mesma forma mágico, todo feito de cristais, na mansão principal, acompanharam os primeiros passinhos de Henry, de Bernard à Regina, ficaram simplesmente no chalé, em paz, gratos pelo simples fato de poderem se olhar, se tocar. À noite outra vez se consumiram, até perderem as forças. Viveram seus dias com calma, deixando tempo se esticar. Foram até os jardins murados que Katherine e décadas depois Eliza cuidaria. Estavam intactos, eram verdadeiros tapetes coloridos que se estendiam aos muros. Colheram flores, fizeram piquenique, brincaram nos balanços presos às arvores. Passaram a tarde embalados pela risada pura de Liz não se aguentando de tanta felicidade por se balançar.

Regina segurava Henry e sorria de seu Bernard, por como um menino, estar a enchendo de rosas, margaridas, colocando-as atrás de suas orelhas, no cabelo.

_ Minha rainha...

No dia da despedida, tudo que sentiam era gratidão. Deram seus corpos e almas uma vez mais um ao outro, passaram suas horas restantes na cama, apenas se acariciando, mudos, com suas crianças.

_ Te amei, te amo, e te amarei por toda a eternidade... – sussurrou Bernard.

Eliza e Henry estavam entre eles, adormecidos. Suas mãos estavam entrelaçadas, sobre as duas crianças.

E então os amantes do Tempo se beijaram, pela última vez.

Regina abriu seus olhos marejados. Estava em seu quarto, em Storybrookes, mas ainda tinha o cheiro dele na pele, o gosto dele na boca. Podia sentir os corpinhos dos meninos encostados nela.

Ele continuava a seu lado, na cama.

Bernard.

Tom.

Tudo acontecera muito rápido, e ainda assim, fora natural, como não podia deixar de ser. Em poucos dias, fizeram amor. Lá estava ela, com as roupas dele, camiseta e uma calça de pijama, sem ter palavras para o que acabara de viver.

_ Regina? - chamou Tom, vendo seu rosto encharcado.

_ Miss Mills? Titio? - perguntou Owen chocado, da porta, por Tom estar ali. - _ posso dormir com você, com vocês? Não consigo pegar no sono. - completou, com olhos arregalados.

_ Sim...

Descalço, o garoto se aconchegou no meio de Regina e Tom. Ela os abraçou, olhando para os dois com o coração transbordando.

Jamais estaria sozinha outra vez.

Pois, era uma vez um homem que a cem anos atrás, prometera, e cumprira.

A encontrou.

E estaria junto dela.

Para todo sempre.


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