A lenda dos amantes do Tempo escrita por Geovanna Ferreira


Capítulo 24
" Eu sempre te encontrarei "


Notas iniciais do capítulo

GEEENTE OLÁ!!! ESSE CAPÍTULO É UM DOS QUE MAIS MEXERAM COMIGO! ESPERO QUE GOSTEM! ELE TA SINCRONIZADO COM O EP 2X17 - WELCOME TO STORYBROOKES. EU DEI UM OUTRO SIGNIFICADO A ELE. SE QUISEREM DEPOIS, ACHO QUE VALE ASSISTIR NOVAMENTE! A MAIORIA DAS CENAS SÃO AS MESMAS! MAAAAAS COMO VOCÊS LEEM A FIC, VÃO ENTENDE-LAS DE UM OUTRO JEITO. COMENTEM! SÉRIO! PRECISO SABER A OPINIÃO DE VOCÊS QUANTO A BOMBA ABAIXO! BEIJOS! EM BREVE TEM MAIS!



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" Boa noite meu anjo hora de fechar os olhos
Guarde as perguntas para outro dia
Eu acho que sei o que você tem me perguntado
Eu acho que você sabe o que tenho tentado dizer

Eu prometi que nunca te deixaria
E você deve sempre saber
Que onde você for
Não importa onde esteja
Eu nunca estarei longe

Boa noite meu anjo hora de dormir
Ainda há muito que eu quero dizer
Lembre de todas as canções que me cantou
Quando navegamos numa balsa de esmeralda

E como um barco no oceano
Estou te levando para dormir
A água é escura e funda
Dentro deste antigo coração
Você sempre será parte de mim

" Boa noite meu anjo, hora de sonhar
E sonhe com o quão maravilhosa sua vida será
Um dia sua criança vai chorar e se você cantar essa música de ninar
Então em seu coração sempre terá uma parte de mim

Um dia todos nós partiremos
Mas as músicas de ninar continuarão
Elas nunca morrem e é assim que nós estaremos juntos. "

Goodnight my angel - Celtic Woman

_Toma. Isso mesmo, segure mais forte. Não, puxe as pontas. O mais apertado que puder. – o pai pacientemente auxiliou o filho no desafio de produzir uma pulseirinha. Afinal, tinham todo o tempo do mundo. Estavam acampados num lugar totalmente isolado, onde nenhuma preocupação poderia os alcançar. Não havia nada nem ninguém a não ser eles, seu carro e sua barraca, por quilômetros e quilômetros.

_ Olha só! Nada mal para o seu primeiro! - o homem sorriu, orgulhoso de seu garoto.

_ Vermelho e verde como os sabres de luz de Luke e Darth.

O pai tirou do bolso da jaqueta mais um daqueles objetos feitos de linha que eles insistiam em fabricar em meio a floresta escura.

_ Um para sua coleção. Seu avô me ensinou a fazer isto quando eu tinha a sua idade. - ele olhou nostálgico para o singelo amontoado de fios que formavam o souvenir.

_ Você está me dando? É meu agora?

O pai estendeu o objeto, como resposta.

_ Você não era muito bom quando tinha minha idade, não é?

Os dois sorriram.

_ Tudo bem, espertinho.

O homem retirou agora um relógio do bolso e checou as horas.

_ É hora de começar a fazer o jantar. – ele se levantou e no mesmo instante, perdeu sua tranquilidade, já que uma ventania se iniciou sem nenhum motivo aparente, balançando tudo ao redor. Do alto das árvores, ele viu, algo se aproximava. O pai trocou um olhar preocupado com o filho e após, foi até o radinho de pilha.

_ O que é aquilo? - perguntou o menino, olhando para o céu.

_ Deve ser uma tempestade elétrica... – respondeu o homem, pouco convincente.

Uma chuva de raios caiu, assustando o garoto.

_ Apague o fogo! - ordenou o pai.

Eles pegaram duas pás e jogaram terra sobre a fogueira que haviam aceso horas antes. Trovões continuavam a cair, parecendo querer atingi-los.

_ Entre na barraca! - gritou o homem.

O garoto correu, seguindo a ordem.

_ Papai!

O pai foi ao encontro do menino. O que estava acontecendo? Porque o mundo havia enlouquecido? Eles colocaram suas cabeças para fora e viram as ondas monstruosas de fumaça verde e roxa vindo em sua direção. Jogaram-se para dentro no momento em que elas engoliram a barraca.

_ Vai ficar tudo bem, filho. – o pai acalmou seu menino, sem saber que já não havia volta, nada seria como fora, nunca mais.

Regina passou os primeiros seis meses após sua volta quase que somente dentro de seu quarto, de cortinas fechadas para a luz, para a vida. Perdeu por vezes a noção de dia e noite. Apenas deixava-se ficar, encolhida em sua cama, sem falar nada, sem abrir os olhos. Morta. Ela não chegou a perceber percebeu isso. Manhãs e noites vinham mas o tempo de fato não passava, não ali.

Desde que voltara, não trocara palavra com Gold. Ele não perguntou coisa alguma e nem ela foi até ele. Topavam ocasionalmente e seguiam seus caminhos, satisfeitos por guardarem seus segredos só para si. Mas o homem percebia, algo no olhar, a feição mais triste, a dor que emanava dela. Regina estava mudada. Havia semanas em que ninguém na cidade a via. E então a notavam andando sozinha, sentada em bancos da praça, de cabeça baixa.

O que havia acontecido durante aquele período em que estivera longe?

Por inúmeras vezes ela se sentou frente ao globo em seu escritório e ficou estática, fixa por horas, diante de um pequeno país.

Inglaterra.

Aquele era seu ritual, seu flagelo do qual não conseguia se livrar.

Assim se passaram os dias, os meses, os anos. Com a rainha não se importando consigo, não se importando com Storybrookes, doente de tanto pensar neles.

Bernard, Henry.

Sua obsessão. O tempo os desbotou, porém continuavam ali, em sua carne, em sua mente, em sua vida.

1990

Ela piscou, estranhando a claridade. Mecanicamente se levantou e se aprontou. Parou frente ao espelho de seu quarto para arrumar o cabelo e viu uma mulher de gelo. Ficou segundos ali, encarando o nada que restara da moça que Bernard amara.

Lembrou-se do sonho da noite passada.

Seria sonho?

Henry.

Uma lágrima se acumulou no canto de seu olho maquiado.

Ainda mirando seu reflexo ela desejou que aquele dia não fosse como todos os outros, vazio. Desejou houvesse algum jeito, alguém que pudesse salvá-la de sua vingança, seu passado.

Regina saiu para a rua. A passos rápidos e firmes, ela passava por pessoas sem lhes cumprimentar, com as mãos em seus cotovelos. Percebia algo errado, que não sabia dizer o que era.

Naquele dia completava-se três anos que voltara.

_ Regina!

A rainha virou-se subitamente. Por milésimo de segundo, viu o rosto de uma moça loira. Ao piscar os olhos, ela já não estava mais ali.

Ela tentou processar o que vira. Chegou a conclusão que era coisa de sua cabeça. Frequentemente ouvia suas vozes, corria atrás de desconhecidos pensando ter visto algum deles. Os Bell.

Ela seguiu caminho e entrou no Granny’s. Se sentou num banquinho, o mais longe que pode das mesas e das pessoas. Fez um pedido e aguardou. Não demorou, Grannys colocou um prato a sua frente. Um homem adentrou no lugar e foi falar com ela. Regina sorriu. Conversaram brevemente.

Graham era o mais próximo que tinha de um amigo, de alguém. Um dia, meses antes, ela enfim o notou, viu nele o pesar, a solidão que tinham em comum. Lentamente, foi desistindo de resistir, deixou que ficasse por perto, de novo. No início era doído demais imaginar outro homem que não Bernard lhe tocasse. Ainda era penoso, mas acabara cedendo. Não fazia diferença. Dava seu corpo a Graham, na esperança vã que o sexo pudesse aplacar um pouco de sua dor. As vezes o chamava só para ficar deitada, agarrada a ele, chorando noite a dentro. Nesses momentos, Graham ficava quieto, sem nada entender, sem coragem de se mexer, de perguntar qualquer coisa.

_ Oi. Você gosta de panquecas de maçã, também? - uma voz infantil perguntou.

Um garotinho estava ao seu lado, a encarando inocentemente com seus olhos claros.

Um calafrio percorreu a espinha de Regina.

_ Quem é você!? - questionou ela, com visível desespero.

Ela esperou a resposta, atônita, sentindo todos seus órgãos se petrificarem e tudo ao redor sumir, restando só o menino em seu campo de visão. Seu rosto a hipnotizava. Era incapaz de piscar.

O pai logo se juntou a criança.

_ Sou Kurt Flynn. – se apresentou ele, depois de desculpar-se pelas maneiras do filho.

O homem estendeu a mão à rainha e ela a pegou, hesitante. Ele parecia ter seus cinquenta e poucos anos, era um bocado caipira e o principal, esbanjava orgulho de seu garoto. Rindo, começou a falar sobre arranjar um hotel, um local para passarem a noite e o desespero de Regina cresceu.

Aquilo estava tremendamente fora do lugar.

Ninguém poderia sair da cidade, muito menos sair.

O menininho continuava a encará-la, deseducado, a desconcertando cada vez mais.

Quem eram aquelas pessoas e como foram parar ali?

À noite, Regina tentou conciliar o sono. Acabou rolando na cama a madrugada inteira, enquanto o rostinho sorridente do garoto se colocava diante de suas pupilas, insistente, como se tentasse se comunicar com ela.

_ Owen Flynn... – balbuciava Regina para si mesma, no escuro de seu quarto.

Mais cedo dispensara Graham, porém, antes, perguntou dos dois visitantes. Ele não soube dizer muito sobre eles. Apenas o que lhe disseram: que estavam acampando perto dali e então o clima enlouquecera, uma fumaça estranha apareceu, tomou a floresta e tudo ao redor. Para se proteger, entraram na barraca que armaram entre as árvores. Na manhã seguinte, ao saírem dela, Storybrookes havia surgido, misteriosamente. Graham não conseguiu explicar isso.

Regina ouviu o xerife em silêncio, mal disfarçando o quanto estava apavorada.

Quantos incontáveis dias iguais não haviam se passado desde que saíra da Floresta Encantada e viera para aquele mundo?

A questão não lhe saía da cabeça. A rainha gastou horas pensando nas partes desconexas daquela história. Até que...

_ Maldição do sono! - exclamou Regina, enfim entendendo.

Sua maldição agira neles de uma forma diferente.

Os adormecera.

Passaram sete anos dormindo, congelados segundo o tempo daquele reino, e por algum motivo, haviam acordado só agora.

Regina fez tentativas de seguir seu dia normalmente, mas pensamento voltava neles. Chegou até mesmo a caminhar pelas ruas, os procurando.

Porque duas pessoas estranhas lhe afetavam tanto?

Talvez porque fossem justamente estranhos na sua cidade, no seu domínio.

Decidiu logo que devia livrar-se deles, o mais rápido possível. Por invadirem sua área, e no fundo, por despertarem nela sentimentos conflituosos os quais não podia compreender. Por sua presença a tornarem novamente, fraca e tola.

Ela entrou no Granny’s decidida a eliminar de uma vez por todas as surpresas desagradáveis do dia anterior.

Não demorou a vê-los. O garoto insolente estava sentado em seu lugar habitual. Regina se aproximou e autoritariamente o mandou sair de seu banco. Owen se recusou e o pai soltou risadinhas frente a resposta do filho. Agiam como não soubessem quem era ela, quem estavam desafiando.

A rainha quis transformá-los em insetos ali mesmo.

Tinham de ir embora, já. Estava farta dos dois. Se fosse preciso, sairia do restaurante naquele minuto, usaria magia e consertaria o carro velho de Kurt que fizera-lhe o favor de estragar.

Educadamente, ela lhes falou que poderiam partir no fim de semana. O pai agradeceu, daquele seu jeito que lhe dava nos nervos.

_ Vamos. - ele se levantou, indo pegar seu casaco próximo a porta. O filho o seguiu, e enquanto caminhava, olhou para trás, para Regina sozinha no espaço que antes ocupavam.

Owen levou a mão ao bolso, pensou um instante e deu meia volta. O garotinho estendeu o braço à rainha, com um sorriso sincero. Ela observou a simplória pulseirinha que lhe era oferecia.

_ O que é isso?

_ Um presente por me deixado sentar no seu lugar.

_ Para mim? - perguntou Regina, assustada com a gentileza. Ela sorriu, consternada, e pegou o artesanato. O menino enfim deixou Granny’s com o pai.

Havia algo escrito no meio da pulseira. Ela inclinou a cabeça para ler. Feitas com tinta de caneta numa caligrafia infantil havia o que ela identificou como iniciais.

O. F. B

Regina saiu transtornada do restaurante. Não sabia o que sentia. Tinha a necessidade de se livrar dos Flynn. Ao mesmo tempo, recordava o rostinho de Owen, olhava a pulseirinha que ganhara sem conseguir evitar ficar balançada.

Ninguém nunca se lembrava dela.

Na metade do caminho de volta à mansão, trombou com Mary Margareth que cheia de terror faltara desculpar-se por existir.

Não era para ser assim. A maldição devia fazer todos a amarem.

Somente uma única pessoa ainda poderia amá-la.

Owen.

Regina se aproximou e afastou do telefone público várias vezes. Desejava demais fazer a ligação, mas uma força a impedia.

Ela olhou uma última vez para a pulseira e pensou no que Bernard diria.

“ Vá em frente! “ - sua voz ecoou em seus ouvidos.

Ansiosa, ela discou e esperou que Kurt atendesse. Era como uma mocinha cheia de expectativas. Quando ouviu a voz do homem do outro lado da linha, mal conseguiu falar. Segurava o telefone firme numa mão e na outra o seu presente. Ele seria seu amuleto da sorte. Os convidou para jantar em sua casa, e ao receber uma resposta afirmativa, deixou escapar um sorriso que a anos não sorria.

Eles jantavam em silêncio. O pai soltou um elogio sobre a lasanha da prefeita e o filho continuou apático, deseducado. Desde que chegara ele estava daquele jeito, como se profundamente incomodado de estar ali. Regina pediu sua ajuda para fazer uma torta e o garoto foi para a cozinha, restando os dois adultos. O pai logo começou com suas risadinhas:

_ Owen é uma pessoa muito transparente, ele puxou de sua mãe...

_ Ela está em New Jersey com o chefe?

O semblante de Kurt se fechou.

_ Ela morreu a seis meses...

Regina amargou seu comentário.

Owen era uma menino sem mãe.

_ Sinto muito.

_ Por isso eu trouxe ele aqui, na verdade. Pensei que acampar, um novo ambiente, talvez o ajudaria a esquecer as coisas, mas...

_ Eu também vim para cá tentar recomeçar. – disse ela, como se viajasse entre suas memórias. Regina mirou Kurt - não acabou do jeito que eu esperava.

_ Porque não?

_ O quão boa é a vida se você não tem ninguém para compartilha-la?

Regina e Owen empurraram a forma para dentro do forno.

_ Voialá! - disse a rainha, desamarrando seu avental.

_ Então... porque você não é uma mãe?

Ela não esperava essa pergunta. Seu sorriso congelou.

_ Acho que as coisas não andaram nesse sentido.

Ela caminhou até o outro lado da cozinha.

_ Que pena. Você seria uma muito boa.

__ Obrigado, Owen.

Aquelas palavras foram como o abraço de que ela tanto precisava.

Debruçaram-se sobre a mesa, para esperar que a torta ficasse pronta. Regina queria saber tudo sobre aquele garotinho. Foi sua vez de questioná-lo.

_ E o que está achando de Storybrookes?

Ele murchou.

_ Está parecendo melhor que New Jersey.

_ Não sente falta de sua casa, seus amigos?

_ Eu odeio lá. – ele fez uma pausa, como se fosse difícil continuar _ Todas as crianças de minha escola estão me tratando de forma estranha... – confessou, com sua vozinha quase embargada.

Regina desejou coloca-lo no colo, o acalmar, livrá-lo de toda a dor.

_... Pelo que aconteceu com sua mãe.

Owen assentiu.

_ Ninguém entende. É como se...

_ ... estivesse faltando um pedaço do seu coração.

Eles compartilharam um sorriso tristonho.

Kurt apareceu na porta e Regina decidiu de súbito que tinha de convencê-lo a ficar.

Pois... talvez houvesse ainda uma chance para ela.

O homem recusou a oferta para recomeçar a vida em Storybrookes.

Mas ela não desistiria fácil.

A campainha soou. Graham. Regina foi atende-lo e ao voltar, não encontrou Owen e nem Kurt. Andou pelos cômodos, a procura deles até que, um som a obrigou a paralisou. Ela o seguiu, prendendo a respiração, entrando numa espécie de transe.

Deu um último passo inseguro e encontrou Owen numa sala, frente ao piano que ela nunca tocou, dedilhando desengonçadamente as teclas numa sequencia que a fez cerrar as pestanas.

Quando abriu os olhos, eles estavam marejados.

Ela se aproximou, inebriada pela canção, uma velha conhecida. A mesma melodia que 102 anos atrás Bernard criara para ela, dela. Para traduzí-la em música, para eternizar a mulher que amava.

Ao nota-la ali, Owen se afastou do instrumento.

_ Porque você está chorando?

Regina se ajoelhou, ficando à altura dele. O menino se preocupou. Ela arfava, tinha os olhos molhados. Estava passando mal?

Trêmula, agarrou suas mãozinhas e se esforçou para fazer a pergunta derradeira:

_ Owen... essa música... como você a conhece?

_ Meu vovô... ele me ensinou, como o pai dele o ensinou a muito tempo atrás.

Regina pensou que iria desmaiar, mas seguiu em frente, com cuidado:

_ Como chama seu vovô?

Owen ficou um segundo em silêncio.

_ Henry... Bell.

Regina praticamente caiu sobre ele. Deu-lhe um abraço sufocante que durou minutos. O volume de seu choro o assustou um pouco, mas ele ficou ali, deixando que as lágrimas dela molhassem sua camiseta.

A rainha olhou para a criança, o abraçando ainda mais. Queria sentir sua pele, seu calor, provar a si de que era real.

Dessa vez, o enxergou.

Reencontrou Bernard, a mesma boca, os mesmos olhos tristes.

“ Eu sempre te encontrarei... “

A promessa ecoou, a um século de distância.

Ele atravessara mares por ela.

Havia a encontrado.

Ao voltar do banheiro, Kurt estranhou ver Regina desnorteada, agarrada a Owen, com o rosto vermelho de tanto chorar. Ela voou até ele e o levou a um corredor.

_ Diga-me! Seu pai! Henry.... - a rainha suspirou - Onde está? - ela perguntou com uma ânsia doentia.

Ele franziu a testa, desconfiado.

_ Lamento... ele morreu a um mês atrás.

Sete anos atrás.

Ela se encolheu e fez uma careta involuntária de dor. Ficou sentida demais por um desconhecido, para Kurt.

_ E o que ele era?

Nada fazia sentido para o homem.

_ Médico... – respondeu, com receio.

Regina sorriu.

_ E seu avô? Bernard?

Ele não entendia onde ela queria chegar.

_ Ele... olha, desculpe, não me lembro. Ele faleceu quando eu tinha a idade de Owen.

Regina fechou os olhos, como se uma estaca houvesse perfurado seu peito.

O pai olhou para o filho.

_ Vamos, Owen.

Já tivera o bastante. Aquela mulher não parecia em seu perfeito juízo.

_ NÃO! - gritou ela. _ Vocês não podem ir.

Kurt arqueou uma sombraselha.

A rainha moveu imperceptivelmente os dedos. Raios começaram a cair lá fora. O repentino vento ameaçava a quebrar as janelas. A tempestade se iniciou de imediato.

_ Não poderão ir. – respondeu ela com um sorriso nervoso.

Sem outra alternativa, Kurt aceitou dormir na mansão. Às onze e meia, incomodado com a situação e com o luxo todo do quarto, se ajeitou numa cama de casal com o filho e logo, em poucos minutos, dormia um sono profundo. Ele não viu Regina na soleira, escondida pela penumbra, fixa em Owen, em sua respiração, seus cílios, os dedinhos segurando o cobertor, cada mínimo detalhe.

Poderia ficar ali pelo resto da vida.

Quando deitou em sua própria cama pensou que o sono não viria. Mas veio, sem sonhos.

_ Miss Mills... – uma vozinha a chamou e ela se perguntou se não estava grogue e por isso ouvia aquilo _ Miss Millss!

Não era impressão sua. Owen estava ali, de pijamas, sobre o lençol. Ela piscou, momentaneamente alerta.

_ Posso dormir aqui? Tenho medo de tempestades e papai se aborrece com isso. – disse o garotinho, constrangido.

Ele se enfiou na cama junto a ela, colando seu corpinho à Regina. Ela o abraçou e entrelaçaram os dedos. Só assim Owen conseguiu enfim pegar no sono.

Estou deitada com o neto de Henry em meus braços, ela pensava, querendo chorar, sentindo o cheiro bom do menino, experimentando uma felicidade que pensara jamais ser possível a ela, novamente.

“ Nosso filho, Bernard. A criança que nunca tivemos, meu amor. “

Custava acreditar que aquilo estava acontecendo, que a vida seria finalmente justa com ela.

_ Porque você está chorando, de novo?

Owen virou-se, a surpreendendo. Ficaram cara a cara, com os narizes separados por poucos centímetros.

_ Por nada, querido...

E então ele depositou um beijo em seu rosto.

Regina o assistiu dormir por horas, até o amanhecer, imaginando a vida que teriam juntos. Ele seria seu menino, o reizinho de seu reino, sua cidade. Daria a seu pequeno Bell tudo que desejasse. Antes, só precisava arranjar um jeito de ficarem. Usaria a magia, se necessário.

Para o café da manhã Regina providenciou tortas, bolos, frutas, pães, comida bastante para um batalhão. Kurt não gostou da forma como que a rainha agiu enquanto comiam. Não tirou os olhos de seu filho um segundo sequer. Era como se estivesse louca, como se Owen tivesse se tornado inexplicavelmente, sua obsessão.

O mais rápido possível, sob os protestos da anfitriã, eles deixaram a casa. Owen argumentou que não queria ir, mas acabou se despedindo, a encheu de beijos e prometeu voltar ao fim do dia. Regina aproveitou esse tempo para ajeitar um quartinho, arranjar presentes, preparar um novo lar para o garoto.

Seu filho.

Ele ficaria, já estava decidido.

Depois de tudo pronto, foi até o mecânico, pedir que a ajudasse. Que segurasse o carro dos Flynn o quanto pudesse.

Kurt fora mais rápido. Já havia pegado o automóvel.

Regina correu até a mansão, entrou em seu escritório e destrancou o coração de Graham. Através do órgão, ordenou que o xerife os impedisse de Storybrookes. Ao girar sua cadeira topou com Kurt, petrificado diante do que acabara de presenciar. Com um movimento rápido, fechou a caixa na qual guardava o coração.

Ela se levantou e tentou desesperadamente se explicar, em vão. Nada do que dissesse iria funcionar.

_ Espere... Foi apenas um desentendimento.

_ Não, eu entendi. Estamos indo. – respondeu o homem, se aproximando da porta.

_ Eu não vou machuca-lo. Por favor, não vá embora. – suplicou a rainha, com olhos desamparados.

Seguindo as ordens de Regina, Graham apareceu para prender o homem, pulou em cima dele, o agarrou. Apesar disso, ele conseguiu fugir. Chegando à calçada, Kurt entrou em seu carro e um segundo depois saiu cortando as ruas da cidade, em completo desespero. Olhando compulsivamente para o retrovisor, a espera de qualquer sinal da dupla.

Logo os avistou. A prefeita e seu capacho, num outro automóvel, metros atrás deles. Kurt girou o volante, executando uma manobra brusca que confundiu Graham e Regina. Por um mero instante, pensou ter despistado os dois. Ele respirou aliviado. Já avistava os bosques, estavam saindo daquele lugar.

_ PAI!

A viatura ressurgiu dentre as árvores e se colocou no meio da estrada, obstruindo-a. Kurt usou toda sua força para frear o carro.

_ Certo, escute. – disse, desprendendo o cinto de segurança do garoto - Corra para floresta, o mais longe que puder. E ligue para seu tio, vá!

_ Não, não vou sem você.

O pai preferia morrer a se separar de seu garotinho.

Mas... não teriam escolha.

Kurt olhou para Graham, lá fora, pronto para prende-lo.

_ Há um motivo para ter te dado isso - ele apontou a pulseirinha que o filho segurava, tentando esconder sua voz embargada - Porque enquanto o tiver, estarei com você. Você consegue. Corra! Vá!

Aquelas foram as últimas palavras que pai e filho trocaram.

Owen abriu a porta e correu. Regina também saiu de seu veículo.

_ Você pode ter a cidade toda a seus pés, mas não meu filho! - gritou Kurt para Regina, enquanto lutava contra Graham. _ Não pode obriga-lo a ficar com você!

Um pouco antes dos limites de Storybrookes, Owen olhou para trás.

_ Pai!

_ Não pare, corra!

O garoto voltou-se para frente, porém virou novamente ao ouvir Regina chamando-o.

_ Owen... está tudo bem, não vou machuca-lo. – disse Regina, calmamente, se aproximando.

Não poderia perde-lo. Não poderia permitir que cruzasse a linha.

_ Porque está fazendo isso?

_ Apenas queria que ficasse comigo. Você disse que gostou daqui. – ela se encurvou e ficou à altura de seu rosto apavorado. Sorriu e tocou seus ombros: _ Você quer ficar aqui, não quer?

_ Não desse jeito. – respondeu Owen, chorando.

Ela nunca esqueceria o medo e a decepção que enxergou em seus olhinhos. O mal e a dor que causou ao menino que queria tanto proteger.

_ Desculpe-me... apenas... queria que fossemos felizes.

E então ela o soltou, o deixou ir.

E ficou ali, o assistindo correr para longe, dela, de sua cidade, seu amor.

Lágrimas saltaram de seus olhos .

Estava tudo acabado.

Falhara até mesmo com ele.

Viera até ela e o machucara, o obrigara a partir.

Bernard.


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Notas finais do capítulo

Aqui está algumas cenas do ep. Se quiserem, leiam o cap e depois vejam, se deliciem :D https://www.youtube.com/watch?v=JchghxuQsnY https://www.youtube.com/watch?v=E3HpiNhNQ- https://www.youtube.com/watch?v=B6OqNBJ-a6c



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