A lenda dos amantes do Tempo escrita por Geovanna Ferreira


Capítulo 17
A história de Bell


Notas iniciais do capítulo

"Fecho meus olhos...
E lá na escuridão vejo sua luz
Você vem até mim pelos meus sonhos noite afora
Pega minha mão...
Apesar de estar a tantas estrelas de distância
Sei que nossos espíritos, nossas almas, são uma só
Nós demos voltas em torno da lua, tocamos o Sol
Então aqui... nós vamos ficar...

Para sempre
Eternamente
Além daqui e em direção à eternidade
Para sempre... eternamente....
Para nós não há espaço nem tempo
Nenhuma barreira que o amor não apague
Aonde quer que você vá eu ainda sei que no meu coração você vai estar aqui comigo

Desse dia em diante...
Tenho certeza de que nunca mais vou estar sozinha
Sei que meu coração provavelmente sempre soube
Que o amor tem poder, é tudo o que ele tem
Para sempre... eternamente...
Além daqui e em direção à eternidade
Para sempre... e eternamente
Você será uma parte de mim
Para sempre... eternamente...
Nossa incerteza do amanhã vai atravessar o céu
Para sempre... eternamente...
Vamos continuar além do adeus "

For always - Lara Fabian



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Ás duas da tarde em ponto daquele belo sábado, Regina parou em frente a mansão da família Bell. Por um mero acaso ou talvez, porque alguém calculadamente planejara aquilo, a porta estava entreaberta. Ela enfiou a cabeça e olhou dentro. Sorriu. Bernard estava ao longe, provocativo e relaxado, vestido com uma camisa parte desabotoada que revelava seu peitoral bem feito. Ele a respondeu sorrindo da maneira mais charmosa que era possível humanamente sorrir. A esperava.

Ela deu um passo e Bell correu ao seu encontro como um garoto arteiro.

_ É solicitada lá em cima, madame!

Regina franziu a testa e ele a botou no colo, sob protestos. Bernard a carregou escada acima enquanto a rainha mexia as pernas e gargalhava.

Chegando ao quarto, Bell a colocou suavemente sobre os lençóis. Provocou-lhe cócegas, a despenteou, e então sem mais delongas arrancou-lhe as roupas com violência. Bernard era o amante mais ardente e carinhoso que tivera. Permitia ser dominado e também dominar, a ensinava e era ensinado, oferecia-lhe doses intensas de prazer que a fazia entrar em transe, confundindo mente e sentidos. Eles se amaram por horas, ainda insuficientes para saciar a fome que tinham um do outro, o desejo agressivo que os devorava chegando quase a provocar dor física, a sufocar. Um toque, um beijo e a fagulha estava acesa. Seus corpos se atraíam como imãs, estavam destinos à aquela paixão urgente, à apaziguá-la na cama. Fizeram amor até que exaustos e suados, dormiram um nos braços do outro, nus e de pernas entrelaçadas. A rainha acordou com beijos sob seu abdômen. O rosto de Bernard cintilava. Ele raspava a barba rala em sua pele, a acariciando, a mimando, a agradecendo. Ela fugiu de seu olhar, agoniada. Sabia o que pensava. Nas crianças que nasceriam daquele ventre. Rezava que uma delas já estivesse ali, um pedacinho deles, unido, eterno e que fosse igual a ela. Sentiria tanto ciúmes de suas menininhas quanto sentia de Liz. Teriam a mesma beleza estonteante da mãe, os mesmo cabelos negros a cair em cascata pelas costas, o olhar marcante, correriam para lá e para cá com sua irmã mais velha, que as chamariam de “ meus bebês “ e cuidariam delas com o zelo que cuidava de suas bonecas.

Regina escapou do cômodo, parcialmente coberta por um vestido fininho. Ao voltar, trazia Henry. Caminhava devagar, fixa e encantada com o bebê. Era difícil crer que um ser tão frágil seria sua salvação, já estava sendo.

Como uma mãe atenciosa, Regina o depositou no colchão.

Vê-los lado a lado, pai e filho, a encarando, a fez perceber o quanto amava os dois homens, o quanto queria ser parte de suas vidas. De bruços observava calada, junto a Bell, os bracinhos e perninhas gorduchas do menino no ar. Henry esticou os dedinhos e suas pequenas mãos alcançaram os dedos de Regina e Bernard, ao mesmo tempo. Eles se entreolharam, deliciados, entendendo tudo.

Eram uma família.

Henry deu sinais de que começaria a chorar e imediatamente, a rainha o pôs no colo e o embalou. Ele dormiu com a mãozinha minúscula sobre o coração dela. Bernard a abraçou por trás e Regina sentiu-se a pessoa mais realizada do mundo, por tê-los ali, Henry, um pesinho em seus braços, o peso do conforto, de seu final feliz, real e concreto. E Bell, a envolvendo, a sustentando, sendo seu mundo.

Sem Eliza, suas risadinhas e comentários adoráveis, a casa era menos alegre. Mas por outro lado, não ter a presença carregada de Ms Davis impregnando a residência, os vigiando, era uma dádiva. Do início da tarde à madrugada eles estiveram nos quatro cantos da mansão, juntos, livres, soberanos de um reino só seu e de seu amor. Alimentaram os peixes de Liz da fonte do quintal, sentaram debaixo da sombra de uma árvore e lá ficaram, mudos, grudados, em paz. Regina ainda meio sem jeito, percorreu o jardim com Henry, mostrando-lhe as flores. Brincaram o quanto puderam de ser o que mais queriam ser.

Um lar.

_ O que está fazendo? - perguntou Bernard, quando a rainha pegou um tinteiro e com uma pena começou a rabisca-lo. Para além das cortinas cerradas, o entardecer se apoderava de Londres. Estavam sentados confortáveis sobre almofadas, numa sala escurecida.

_ Espere e verás! - respondeu ela, como uma menina sapeca, continuando a fazer contornos.

Ele a assistiu trabalhar no desenho, concentrada e jeitosa, com mechas a caírem sobre seus olhos. Era linda, e sua, para sempre. Todo o sempre.

_ Em outra vida, me disseram que meu verdadeiro amor teria um leão em seu braço. – revelou ela, mostrando o que havia desenhado. Bernard mirou o bicho em sua pele, intrigado.

_ Pronto! Tinker acertara. Ele não só tem um baita de um leão no braço como é forte e resistente quanto um!

_ Tinker?

_ É! Esqueça! - disse Regina, balançando a cabeça, corando levemente.

Ele beijou sua testa, e ela fechou os olhos.

_ Venha!

Bernard a arrastou pelos cômodos até uma grande sala, cheia de quadros e assentos.

_ Conheça um dos mais velhos integrantes da família! - falou ele, abrindo os braços.

Regina olhou para o imenso trambolho negro o qual ele apontava.

_ O que é isso?

Bell a fitou espantado.

_ Regina, nunca viu um piano antes?

Ela balançou a cabeça, confirmando que não.

_ De que mundo você veio?

A rainha arregalou os olhos.

_ Vamos, toque nas teclas e veja o que acontece. – disse ele a puxando para perto do instrumento.

Regina olhou para o piano por um instante. Passou os dedos pelas teclas amareladas, gastas pelo tempo. Era ridículo, mas estava com medo de ser surpreendida por aquilo. Com cautela apertou uma tecla. Um som agudo preencheu o lugar. Ela retirou a mão instantaneamente dali, virando-se atônita.

Bell ria de sua inocência.

_ É assim mesmo que se faz. Você aperta as notas uma após a outra e logo tem uma melodia.

_ Deixe-me ajuda-la.

Ele posicionou um banquinho diante do instrumento e depois sentou-se nele com ela, a envolvendo tal como fizera quando estavam na cama com Henry.

_ Acredito firmemente que a música é um tipo de magia dessa terra. Ela nos permite eternizar qualquer sentimento, lembrança e até mesmo pessoas em forma de som. Nunca fui talentoso mas sempre gostei de sentar aqui e tocar um pouco, faz bem à alma. Agora vamos ver como se sai como pianista.

Ainda apreensiva, Regina movimentou seus dedos duros pelo instrumento, arriscando algumas notas. Bernard colou-se a ela e carinhosamente, posicionou suas mãos sobre as delas, as direcionando, as conduzindo, continuando a melodia que a rainha iniciara. Ela podia sentir sua respiração perto de sua nuca, seu perfume, o calor de seus dedos nos dela. Todos seus movimentos, ainda que ela não levasse o menor jeito para tocar, eram harmoniosos e afetuosos, como não deixavam de ser em qualquer ocasião.

_ Não, não nasci para isso! - confessou Regina, interrompendo. Ela se levantou e escorou no piano. Serena, distraiu-se apreciando os quadros espalhados pelo lugar. Admirado com a cena, Bernard reiniciou a música antes esboçada por ela. Completamente hipnotizado, começou a traduzir em som a mulher que amava, seu belo rosto, a calmaria e a incrível força que dela emanavam. Regina não percebia que Bell a depositava em notas, a transformando numa melodia delicada, sombria e ao mesmo tempo forte que daquele dia em diante, ele tocaria sempre que a dor fosse insuportável, sempre que pensasse que iria enlouquecer, que quisesse a prefeita ali, em seus dedos, em sua vida. A música nunca chegaria a ir para uma partitura. Bernard a guardou na memória, cada mero “dó”, cada parte, seu pequeno tesouro. Resolveu chama-la de Regina.

Ao notar a situação, a rainha sorriu um sorriso divertido de repreensão. Bell parecia um menininho radiante quando estava com ela e acabava por fazê-la sentir também uma pessoa diferente, como se os anos não houvesse passado. Ele fazia desabrochar eu melhor. Era estranho e maravilhoso. A antiga Regina, doce e boa, rapidamente recuperava seu posto, como se todo esse tempo estivesse aprisionada dentro de seu peito, desesperada para sair.

Foram eles que prepararam seu jantar, se divertindo horrores na tentativa de cozinhar um arenque com batatas que não saiu muito bem como o planejado. Erraram no tempero e o peixe passou do ponto no sal. Mas comeram mesmo assim. Não se importaram. Fora tudo bonito e romântico demais para se preocuparem com a comida. Colocaram uma pequena mesa, redonda e de ferro, no jardim e ao redor, encheram de luminárias, na mesa, nas árvores, na grama em meio às flores. As luzes das dezenas de velas iluminavam seus olhos enquanto eles bebiam vinho e aproveitavam as batatas, experimentando uma alegria quase infantil por terem feito um jardinzinho mágico só deles.

Bernard sabia, precisava fazer mais uma coisa com Regina, antes que a noite terminasse. A levou até o segundo andar da mansão, até a janela de seu quarto e suas cortinas esvoaçantes. Ele apoiou o pé fora do baixo parapeito, lhe estendendo o braço. Ela hesitou um instante e então agarrou sua mão e lançou-se com Bell à aquela inconsequência. Subiram no telhado. O vento soprava forte, zumbindo, balançando cabelos, dificultando tudo. Ele a ajudou a se equilibrar e dar alguns passos e ambos riram do medo da rainha. Sentaram num ponto que consideraram seguro, com pernas encolhidas e olharam ao redor, para a paisagem imutável: casas espalhadas por onde a vista alcançava, janelas iluminadas aqui e acolá, incontáveis chaminés soltando fumaça, grandes construções de Londres ao fundo. A cena os fez emudecer. Com o olhar perdido à frente, sorrindo, como se nem se desse conta do falava, Bernard disse:

_ Quando pequeno, jurava que daqui, se esticasse o pescoço e me concentrasse, veria um pedacinho da França... Costumava pelo menos uma vez por semana eu costumava vir aqui, com Nicholas... – a nostalgia em seus olhos se apagou repentinamente- e depois, com Annabeth. – terminou a frase num sussurro. Seu rosto se fechou. Ele mirou o nada. Um silêncio desconfortável pairou entre eles.

Havia dito demais. E não havia como voltar atrás.

_ Quem é Nicholas...? - perguntou Regina, receosa, se odiando por intrometer-se. Simplesmente não podia deixar de perguntar, impedir-se de ansiar conhece-lo, saber o que tanto lhe aflingia.

_ Foi meu irmão.

Bernard cerrou as pestanas, dolorosamente. Tomando coragem, continuou a falar, como se de alguma forma, necessitasse por tudo para fora.

_ Cresci numa das mais importantes e intimidantes propriedades da Cornualha. Bem no meio dela, a mansão imensa, fria e sempre vazia em que vivíamos estava erguida, a mais de trezentos anos, desafiando quem quer que fosse a passar e não admirá-la. A odiava profundamente, e também ao silêncio enlouquecedor que a dominava e só era quebrado pelos passos dos criados zanzando, apáticos e calados. Seria tudo completamente insuportável se não tivesse Nicholas ao meu lado. Um garoto louro, de olhos verdes intensos e um rosto marcante, habilidoso em qualquer coisa que se propusesse fazer. Sabia caçar, falar francês, e conquistar as pessoas, atrair olhares e admiração. Era três anos mais velho que eu e meus pais o exibiam como um troféu. Todos sabiam, quando chegasse a hora faria o que estava predestinado a fazer: assumir os acres e acres de terra da família, sendo assim o senhor de tudo o que possuíamos. Seria sem dúvidas um grande homem. Eu vivia à sua sombra mas não me importava, ele era de fato extraordinário. Amei meu irmão demais, foi meu único amigo. - Bernard engoliu a seco, como se fosse incapaz de prosseguir. _ Minha mãe, a órfã de uma família extremamente rica, os Watson, casou-se ainda muito nova com um homem duro que nunca sorria e fez dele o sentido de sua vida. Patrick Bell foi seu marido, seu deus, seu dono. Sofreu muito, por anos a fio, com sua ausência. Papai trabalhava aqui em Londres, no banco, nos deixando abandonados na propriedade. Isso não impedia que rumores sobre seus casos chegassem até mamãe. Nos acostumamos com ela trancada em seu quarto, debilitada, sofrendo resignada. Durante todo o tempo aceitou estoicamente as traições, presa em convenções estúpidas, achando que tudo devia ser daquele jeito mesmo. Foi uma boa mãe e apesar de não ser amada, uma boa esposa. Tenho certeza, o dia mais feliz de sua vida foi também o mais triste. Era uma tarde quente de verão e meu pai estava em casa, milagrosamente, atencioso conosco. Decidimos passar algumas horas na praia. Atravessamos o campo juntos, os meninos na frente, brincando, papai e mamãe atrás, de braços dados. Colocamos uma toalha no chão e fizemos um piquenique, na areia, que se estendeu até o entardecer. Nicholas e eu nos enfiamos na água iluminada pelo sol, enquanto as gaivotas voavam pelo céu alaranjado. Nick era bom em muitas coisas, não nadando. Se contentou em ficar parte mais rasa. Eu fazia graça, tentando chamar a atenção de meus pais, mas via que eles só tinham olhos para meu irmão. E naquele momento, senti um pouco de inveja e ressentimento por isso. Tive uma insana ideia. Entrei mais e mais no mar e fiz de tudo para ser notado, rindo e gritando. Fingi por segundos um afogamento, até perceber que as ondas estavam de fato me levando e eu mal conseguia de colocar o pé no chão. Lembro de Nicholas vindo em minha direção, papai lançando-se na água e o rosto de minha mãe ao longe, horrorizado. Apaguei. Quando acordei, já não éramos quarto, e sim dois. Meu pai e meu irmão de apenas onze anos haviam morrido afogados por causa de uma idiotice minha.

Bernard abaixou a cabeça. Regina não ousava se mexer, pronunciar alguma palavra.

_ Na noite do funeral cogitei também, me afogar e acabar logo com minha desgraça. Mas havia uma propriedade a qual cuidar e minha mãe. Eu devia a ela minha vida, faria o que quisesse, estaria sempre preso à sua vontade ainda assim sabia que não eximiria minha culpa por ter lhe tirado o marido e o filho precioso. Mamãe deixou-se consumir pela dor, definhou rapidamente. Envelheceu em questão de dias, tendo ataques psicóticos frequentemente. Os anos passaram e eu cresci tentando ressuscitar Nicholas em mim, sendo o homem que ele seria, como se fosse eu e não ele a morrer. Não me permitia nenhum divertimento, nenhum descanso. Pensava não ser digno de qualquer alegria, por menor que fosse, ao contrário, acreditava merecer meu sofrimento. Apesar de desde a infância detestar a mansão, aquele modo de vida sufocante o qual estávamos fadados a viver, as regras sociais, as hipocrisias não tive escolha senão me submeter. Havia matado indiretamente parte de minha família, levando a alma de minha mãe para a cova também. As paredes, os quartos e incontáveis salas da casa eram muito úteis como barreiras entre nós. Pouco conversávamos, não nos olhávamos. Sabíamos que o elo se rompera quando papai e Nick foram enterrados e não havia como consertá-lo. Aos vinte e três anos fiz o que devia fazer, desposei uma jovem da região escolhida por mamãe. Não sentia vontade de casar, não possuía amor algum para dar, mas casaria, daria netos, cumpriria minha obrigação. Fui conhecer Annabeth somente na noite de núpcias. - Bell falava cheio de admiração: _ Era uma mocinha de dezoito anos recém completados, geniosa, de cabelos da cor do mel e olhos assombrosos, cheios de vida. Também não queria o casamento. Queria ser livre, queria traçar seu próprio caminho, longe das imposições da sociedade. Crescera ao ar livre, entre as flores, em contato com os bichos, de pés descalços, correndo pela floresta, nadando nua no mar, descontentando terrivelmente seus pais por isso. Nos apaixonamos de imediato. Muito paciente, Annabeth curou-me as feridas abertas, fazendo-me acreditar que um recomeço era possível, de que já havia se martirizado demais pelo que acontecera. Renasci, graças ao seu amor, a sua determinação. Planejávamos viajar o mundo, conhecer a Índia, a China, o Brasil! Quem sabe, a Austrália. As possibilidades eram infinitas. E depois de rodar bastante, viveríamos no pequeno chalé localizado em minha propriedade, livres e felizes enquanto ela escrevia seus contos de fadas.

Regina ergueu uma sombrasselha, sutilmente.

_ Era uma escritora maravilhosa. Tinha uma imaginação infinita, via magia em tudo, vivia me contando suas histórias cheias de duendes, bruxas, magos e fadas. Jurava que quando pequena conversara com uma delas!

A rainha pensou na mulher de concreto do cemitério.

_ E então subitamente minha mãe adoeceu mais, acometida por uma enfermidade desconhecida que a impedia de andar. Não havia como a abandonarmos em nome de nossa felicidade. Decidimos adiar tudo e nos mudamos para Londres onde ela teria os melhores médicos a disposição. Assumi o antigo emprego de meu pai no banco e confesso, nunca passei um dia bom sequer naquele lugar. Mas não podia causar mais dor à mamãe. Ela agonizava diariamente, aprisionada a uma cama. Ms Davis, que era sua ama desde a juventude e uma das pessoas que ela mais amava, por ter a ajudado a sobreviver à morte dos pais, ficava vinte quatro horas ao seu lado, como um cão fiel. Nesse meio tempo Eliza nasceu e vivemos bons anos que duraram pouco demais, aproximadamente sete. Annabeth nunca parou de escrever. Queria lançar um livro. Um maluco aparecera uma vez, muito interessado em seus contos, principalmente num deles, “ A salvadora “. Seu nome era... Isaac. Desaparecera sem deixar rastros. Logo depois mamãe morreu, sendo seguida por Annabeth.

Ele parou de falar abruptamente e lançou um olhar suplicante à Regina.

_ Eu também a matei. Assassinei a todos eles. Nicholas, papai, mamãe e Annabeth.

A rainha balançou a cabeça, se recusando a concordar com aquilo.

_ A engravidei, mesmo sabendo que ela queria esperar para ter outro filho. A assisti sofrer até a morte, por horas, gritando em desespero por não conseguir dar à luz a um bebê grande demais para seu corpo diminuto. Por pouco, quase não perco os dois. Naquela noite horrorosa, deixei Henry, ainda quente do ventre da mãe berrando nos braços de Ms Davis e Annabeth fria no quarto, já moribunda, e fui até o Tâmisa, atordoado e bêbado, com o impulso de me jogar nele, pondo um fim em tudo, certo de que a profecia dita por uma vidente que consultei por brincadeira, numa feirinha, aos seis anos de idade, era realmente meu destino: de que eu não teria muito tempo com aqueles amava. Nunca. - ele fez uma pausa - Corre pela cidade de boca em boca que somos de fato uma família de desgraçados. Sou amaldiçoado. – a expressão desamparada de Bernard provocou um aperto em Regina.

_ Não! - a voz de Regina saiu desesperada.

_ Não sei o que me impediu de pular. Talvez no fundo, eu soubesse que você viria, que estava a caminho.

Uma lágrima corria pelo rosto da prefeita.

_ Vendi a propriedade e me enfurnei no trabalho, só saindo de casa para ir ao Banco e depois voltar e me esforçar para ser o melhor pai que podia ser, para meus filhos. Sobrevivi não querendo sobreviver, por Eliza, por Henry, me arrastando pelos dias por eles, sabendo que estava morto para vida. E então eu vi uma luz- Bernard parecia prestes a chorar - que era você. Quando eu era só abismo e dor, você veio até a mim, e me salvou. Obrigado. – sussurrou.

Bernard despencou sobre Regina. Ela o abraçou e acolhendo sua cabeça, permitiu que ele chorasse lágrimas sufocadas por anos, por toda uma vida. O vento voltou a rugir e eles se abraçaram mais forte. Juraram, naquele momento, que suportariam tudo, estavam juntos e nada os abalaria.

Voltaram ao quarto. A rainha olhou-o fundo nos olhos, em silêncio, transmitindo toda a admiração que sentia por ele, por ter aguentado tanto, o próprio inferno na Terra, sozinho. Beijou-o de modo suave, nos lábios. O despiu com cuidado e começaram a fazer amor, igualmente perturbados pela trajetória de Bell. Ela o conduzia, querendo desesperadamente curar sua alma torturada com seus beijos, com seu corpo, sua paixão. Eram iguais. Amantes, amaldiçoados.

Aconchegada sobre o peito de Bernard, Regina adormeceu ouvindo as batidas de seu coração, forte e acima de tudo, sobrevivente.


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Notas finais do capítulo

Prequel de Once Upon a Time. Tudo acontece antes de Regina adotar seu filho Henry e a série começar. Fanfic de minha autoria, já devidamente protegida contra plágio. A foto relaciona-se com a história mas não é cem por cento fiel. Se curtirem comentem, recomendem! É muito importante para mim! Esse capítulo é mais longuinho, mas também é um dos mais surpreendentes! Espero que gostem! * Cornualha é uma área literonea da Inglaterra *



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