Matheus acordou na manhã seguinte e olhou para a pessoa ao seu lado na cama, era Ana. Ele a encarou com certo desanimo, pois lembrava-se do que havia feito com Mayara na noite anterior, mas ao se lembrar da noite que teve com Ana o desanimo dava lugar a uma euforia. “Meu Deus” pensava ele confuso com tantos pensamentos conflitantes.

Como a garota parecia dormir bem profundamente, Matheus decidiu ir embora sem acorda-la, pegou suas calças no chão e as vestiu, colocou a blusa e se dirigiu até a cozinha onde tomou um copo de água e pegou as chaves do carro. Abriu a porta da casa e foi até seu carro. Quando sentou no banco do motorista decidiu tirar o celular do bolso e olhar, havia 1 ligação de Mayara. Olhou o horário, e como já não era tão cedo, decidiu ligar.

—Oi gata.

—Oi – Disse a garota.

—Ahn... Desculpe por ontem, perdi a noção do tempo pois estava assistindo o jogo com meu pai.

—Assistindo o jogo? Mas você não tinha dito que dormiu? – Ela perguntou confusa.

—É, isso, mas antes de dormir eu estava assistindo o jogo – Disse tentando contornar a falha na mentira.

—Ah, sim. – Respondeu.

“Ufa, me safei” – pensou. - Então gata, quer que eu vá aí hoje? – Perguntou.

—Eu não sei... Eu vou ver e te aviso. Depois nos falamos, preciso desligar. Beijo.

Mayara desligou, deixando o rapaz confuso, mas ele não prestou muita atenção, simplesmente deu de ombros e ligou o carro para voltar para casa.

...

Em sua casa, Mayara havia acabado de desligar o telefone e ainda estava deitada na cama. Havia tido um sonho, um sonho que a fez repensar todas as suas decisões nos últimos dias. Sonhou com a noite em que conheceu Alex.

Era um dia muito chuvoso e ela estava em um boteco, embaixo do toldo esperando a chuva passar. E Alex apareceu com uma amiga de Mayara, Catharina; que convidou a garota para  se juntar aos dois e beber um pouco. Como ia ficar lá de qualquer forma ate a chuva passar, decidiu aceitar, mas Catharina precisou ir embora mais cedo, deixando os dois estranhos sozinhos para conversar. No começo Mayara ficou com medo do clima ficar esquisito, afinal haviam acabado de se conhecer, mas a conversa fluiu a noite inteira, como já se conhecessem há tempos. No final da noite Alex a levou para sua casa e na portaria do prédio dela os dois deram seu primeiro beijo.

Mayara se lembrava de cada detalhe do sonho, que fora completamente fiel ao que havia acontecido naquela noite. Aquilo trouxe de volta todas as lembranças que teve com Alex nesses últimos meses em que estavam namorando, o que a fez perceber que o rapaz sempre fora muito gentil com ela, diferentemente de Matheus, que muitas vezes agia com indiferença e a deixava confusa com suas atitudes e jogos de conquista.

 “Chega” – Pensou decidida. “Preciso me afastar do Matheus”.

O sonho havia aberto seus olhos e a decisão de terminar tudo com Matheus era o certo se fazer, afinal gostava de Alex, e a coisa com Matheus era muito mais carnal, o que provavelmente não teria futuro, ainda mais devido a personalidade do rapaz. Não valia a pena perder o que estava construindo com Alex. Ela havia matado sua vontade de passar mais uma noite com Matheus, e aquela noite teria de bastar para acalmar seus desejos; mas apesar disso, sentia seu coração esmagado de culpa pela traição, o que a deixava mais decidida. Pegou o celular e digitou uma mensagem para Matheus.

“Desculpe, mas não posso mais fazer isso. Precisamos parar por aqui, amo o Alex e não quero perde-lo. Por favor, não torne isso mais difícil do que já está sendo. Sei que parece ser uma decisão repentina demais, mas na realidade já devia ter sido tomada muito antes, antes do beijo que demos a alguns dias, antes... Há dois anos atrás quando peguei um avião de volta para o Brasil. Naquele momento nossa história deveria ter acabado e nossos caminhos nunca mais deveriam ter se cruzado.”

Olhou para a tela do celular fixamente, relendo varias vezes a mensagem que havia ficado muito mais longa do que o planejado. Após alguns segundos de hesitação apertou o botão de enviar e colocou o celular no criado mudo. Levantou-se da cama e se dirigiu ao banheiro para lavar o rosto, pois ficaria muito nervosa se permanecesse na cama esperando uma resposta. Quando abriu a porta do quarto para tomar café, Muffin veio correndo em sua direção, o que a fez sorrir e esquecer suas preocupações.

...

Matheus chegou em casa e foi direto para seu quarto. Sentou-se na cama e pegou o celular para ver a mensagem de Mayara. Mas no momento em que ia desbloqueara tela, alguém bateu à porta.

“Droga” – Pensou. – Entre.

—E aí cara. Tudo certo? – Era Raul. – Sua mãe abriu a porta para mim.

—E aí. – Disse se levantando para cumprimentar o amigo. – O que você está fazendo aqui?

— Preciso de uma ajudinha cara. – Raul tinha um jeito de falar meio largado, lembrava um surfista, o que não era estranho, afinal ele surfava mesmo. – Eu vou sair com uma gata hoje, mas não tenho um terno legal porque o meu irmão precisou usar o meu e está lavando. Vamos em um lugar chique por que a mina é rica e não posso fazer feio. – Disse piscando um olho.

Matheus riu.

— Pode pegar o meu. Está no guarda roupa.

— Valeu mano, me salvou. – Disse Raul animado, se dirigindo ao armário.

— Cara, você anda passando bastante tempo com a Ana ultimamente, será que vai dar em algo? – Perguntou enquanto experimentava a camisa social.

— Não, essa mina não me interessa muito, é gostosinha mas não tem conteúdo.

Raul riu. – Conteúdo cara? Que parada é essa? – Nesse momento ele terminava de ajeitar a gravata.

— Sei lá, tem mulher mais interessante por ai, entendeu?

—Entendi cara. Mas de qualquer forma, como eu estou? – Perguntou dando uma voltinha, já todo vestido.

—Tá ótimo, vai impressionar. Me deixe orgulhoso. – Matheus deu um sorriso.

Raul agradeceu pelo terno e se despediu do amigo.

Quando ele saiu, Matheus voltou sua atenção ao celular, se sentou novamente na cama e começou a ler a mensagem. A cada palavra que lia, ficava mais confuso. Leu e releu várias vezes a mensagem, talvez até mais vezes do que Mayara lera antes de envia-la. Pegou suas chaves e se levantou. Não podia deixar aquilo daquele jeito, precisava tirar satisfações com ela.

...

Após tomar seu café, Mayara já se sentia mais leve. Havia tirado um grande peso das costas, e agora podia se acertar com Alex, decidiu ligar para e ele e convida-lo para ir à sua casa, afinal não o via há dias.

—Alô. – Ele disse quando atendeu.

—Oi meu amor, desculpe estar tão distante nesses últimos dias, mas já me sinto bem melhor.

—Não tem problema Ma – Ele respondeu calorosamente.

—Então, liguei para perguntar se você não quer vir aqui em casa hoje.

—Hoje eu não posso querida, mas amanhã estou livre, pode ser?

—Combinado, estou morrendo de saúdes. Beijos. – Ela desligou e colocou o celular em cima da mesa e começou a olhar fixamente para o prato vazio em sua frente. Ela se sentia muito mal por ter traído Alex, mas sabia que se seria muito pior contar algo para ele, afinal ela não estaria arriscando só o seu relacionamento, mas também uma relação de família. Ela estava perdida em seus pensamentos até que a campainha tocou.

Ela se levantou a abriu a porta. Era Matheus.