Gêmeos no Divã escrita por Lady Black Swan


Capítulo 38
EXTRA — Luciano epílogo: A peça!


Notas iniciais do capítulo

E afinal o momento da despedia, obrigada a todos que chegaram até aqui. ♥ ♥ ♥



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Às 7h00min em ponto O ciclo sem fim em sua versão instrumental começou a tocar no celular de Luciano e logo não demorou a que um pequeno assovio — um tanto quanto agudo e desafinado — se juntasse à melodia também, ele devia ter trocado aquele alarme há tempos, mas sempre se esquecia... Além do mais Suzaku parecia gostar bastante da melodia também, ele apenas não sabia dizer se era sorte ou azar Suzaku houvesse gostado tanto da música, já que era capaz de assoviá-la por vários minutos a fio — seu recorde era de vinte e sete minutos seguidos!

Girando em sua cama Luciano conseguiu localizar o celular ao lado do travesseiro, meio enterrado debaixo dele e, com um deslizar de dedo na tela, encerrar de uma vez a música do alarme... Mas é claro que o assovio continuou.

Ele tentou ignorar aquilo, pondo o travesseiro sobre a cabeça, como sempre tentava, mas acabou falhando, como falhava todas as manhãs, e tendo que, inevitavelmente, se levantar de uma vez.

—Tá bem Suzy-Suzy, você ganhou. — riu, ainda meio bocejando, se arrastando para fora da cama e puxando o pano escuro de cima da gaiola de seu amigo.

O passarinho ainda assoviou mais umas últimas notas de sua música favorita em direção ao seu pequeno espelho dentro da gaiola antes de Luciano abrir a portinha da gaiola e ele voar para sua mão e dali para seu ombro.

Antes de vir morar com o pai Luciano sempre era acordado pela mãe que, fosse dia útil ou final de semana, sempre vinha acordá-lo antes das 7h00min, porque Dona Mayara não gostava de dormir até tarde e nem de ver ninguém dormindo.

Isso sempre foi motivo de brigas entre os dois, se a mãe não gostava de vê-lo dormir, então que não entrasse no quarto dele, mas a mãe insistia que o silêncio vindo do quarto de Luciano já a incomodava, ele sugeria que ela ligasse a televisão, mas ela achava muito mais fácil simplesmente ir acordá-lo. E agora que ela não estava ali Luciano meio que sentia falta dessas brigas, porque com ou sem Dona Mayara, ele continuava sempre, de uma forma ou de outra, acordando cedo, pois nunca se lembrava de desativar o despertador e quando o desligava não podia voltar a dormir porque Suzaku não parava de cantar até que ele estivesse de pé.

—Confesse Suzaku, você e minha mãe estão mancomunados para não me deixar dormir. — Luciano acusou saindo do quarto, e o esperto passarinho fez-se de inocente erguendo a asa direita para limpar ali debaixo.

Bem, ao menos agora ele podia dormir pelo menos até as sete.

Levou um susto quando encontrou o pai na cozinha, já pronto pra sair com a mochila nas costas onde guardava o uniforme da policia — pois nunca saía uniformizado de casa —, pois apesar de morarem juntos ele tinha a impressão de quase nunca vê-lo.

—Mayara mandou uma mensagem. — avisou-o quando o avistou, nenhum “bom dia”. — Disse que você vai passar o final de ano com ela?

Luciano podia sentir Suzaku andando de um lado para o outro em seus ombros, enquanto alternava-se entre piar e assoviar algo que parecia de maneira bastante suspeita com trechos aleatórios de “O ciclo sem fim”.

—Bom dia. — disse por sua vez — Hum... Ela me sugeriu isso, mas eu ainda não decidi. — respondeu — Fica tão longe!

—Compre uma passagem de avião. — o pai o observou por cima da xícara de café, e o relembrou: — Você tem dinheiro para isso.

De fato Luciano tinha, e o pai certamente não se ofereceria para comprar sua passagem, ele ainda se resentia de ter tido que lhe pagar pensão durante todos aqueles anos.

—Aquele cachorro do Otávio! — ainda se lembrava de sua mãe esbravejando uns quatro anos antes — Ele acha que não precisa mais pagar pensão! Disse que você já tem dinheiro o bastante par não precisar mais do dele! E vai falar com os advogados, os advogados! Mas ele vai ver só uma coisa! Não é apenas questão de dinheiro, é responsabilidade! Você é filho dele também, ele precisa tomar responsabilidade disso!

No fim o pai perdeu a causa e acabou tendo que continuar a lhe pagar pensão — e à mãe também —, mas ao menos agora ele se livrara, mesmo que temporariamente, da pensão de Luciano, já que o acolhera sob o seu teto.

Embora fosse surpreendente que ele não houvesse exigido nenhuma pensão de D. Mayara.

—Minha preocupação é o Suzaku. — afirmou erguendo o braço esquerdo quando o passarinho começou a andar por ali — Vir até aqui já foi estressante para ele, e foi apenas umas poucas horas de carro, uma viagem de avião seria muito pior, isso sem falar da volta, não posso fazer isso com ele. E eu não tenho com quem deixá-lo.

Virou a mão, dobrando-a levemente quando o amigo acomodou-se ali, piando feliz.

—Tudo bem, então a avise quando decidir. — o pai deixou a xícara vazia sobre a mesa. — Estou saindo, tranque tudo.

Ele com certeza não se ofereceria para ficar com Suzaku enquanto Luciano visitava a mãe no sul, e nem Luciano seria louco de pedir, ou então seria capaz de voltar para casa e descobrir que, por uma razão ou outra, sua calopsita havia se transformado em um periquito.

—Tudo bem. — assentiu. Ele podia perguntar para Ayume se ela podia ficar com ele, mas na verdade também tinha receio que Suzaku se sentisse solitário sem tê-lo por perto durante tanto tempo e morresse de tristeza... — Ah! — lembrou-se de repente, Suzaku saiu voando para cima da geladeira de onde anunciou seu pedido de socorro, pois “havia sido transformado em um passarinho” e o pai parou à porta da cozinha — Hoje teremos a peça da escola, então irei sair à tarde. Igor irá me deixar e me buscar.

Não sabia qual a opinião do agente quanto a ter que lhe servi de motorista sempre que o seu responsável não o pudesse fazer, especialmente agora que nem sequer moravam mais na mesma cidade, mas essa fora uma das condições impostas para que Luciano pudesse trabalhar como ator, essa parecia ser uma das poucas coisas em que a mãe e o pai concordavam, isso e o fato de nenhum dos dois querer ter mais filhos.

Até onde Luciano sabia, ninguém nunca havia mencionado nada sobre esse acordo se estender além de sua vida profissional, mas Igor nunca havia reclamado disso.

—Conhece as regras. — o pai o relembrou.

Luciano sorrir.

—Ligar assim que for sair de casa e de novo quando chegar à escola. Ligar quando for sair da escola e de novo quando chegar a casa. — recitou.

—Isso. — o pai assentiu — Não deixe de me ligar também se algo acontecer.  — e franzindo o cenho acrescentou um tanto irritado: — E tire aquele pássaro da geladeira, não quero fezes na minha cozinha!

Oh certo, ele ainda tinha algum tempo livre antes de ter que sair de casa então ele resolveu aproveitar um pouco desse tempo para ir limpar a gaiola de Suzy, e saiu da cozinha sabendo que Suzaku o seguiria voando logo atrás, pois sempre que estava em casa o amiguinho o seguia para todos os lados.

...

Luciano chegou à escola por volta das 15h, duas horas antes do horário para o inicio da peça, mas obviamente os atores precisavam estar ali mais cedo para arrumar-se e aqueles que participavam da produção, mais cedo ainda. E Luciano era ambos.

Estava justamente indo em direção ao auditório e se perguntando se Ayume já haveria chegado quando Olivia e Glenda saíram repentinamente dali, enganchando os braços aos seus e o arrastando para longe.

—Você não quer entrar ali! — Olivia o advertiu.

—Por que, o que há lá? — Luciano se surpreendeu.

Como se habituara a passar a maior parte do tempo com os gêmeos os outros amigos de Ayume, Olivia, Glenda e Renato, quase não falavam com ele, na verdade ele tinha a impressão de nunca ter ouvido a voz de Glenda antes.

—Os irmãos de Ayume! — Olivia o advertiu, como se falasse do próprio furacão Catrina vindo.

—Quais deles?

—Os três. — Glenda respondeu com tom baixo e meio nervoso.

—Isso. — Olivia concordou — Mas o mais novo sumiu...

E olhou em volta procurando o pequeno ninja.

—Os irmãos de Ayume não são tão ruins. — disse.

Luciano, pelo menos, conhecera dois dos três irmãos da namorada e eles não pareciam tão ruins... Claro, eles gostavam de fazer uns comentários perturbadores enquanto assistiam “Sobrenatural”, do tipo “Qual será a sensação de ter os miolos fervidos? Deve ser pior do que ter as unhas arrancadas uma por uma” e “ouvi dizer que enfiar palitos debaixo das unhas também é bem doloroso”, mas nada além disso.

Se bem que até então a querida irmãzinha deles ainda não era sua namorada... Namorada. Luciano gostava de como isso soava, embora fosse gostar mais ainda se Ayume também se referisse a ele dessa maneira mais vezes...

—Dos Reis, você tem certeza que você e a nossa Pequena Ayume estão mesmo em um relacionamento? — Murilo perguntou, ou ao menos ele achou que fosse Murilo na hora, de dentro do provador, numa das últimas vezes em que foram ao atelier do sogro de Luciano para experimentar as roupas.

—Claro que tenho. — ele respondeu, sem entender o porquê daquela pergunta repentina.

Tem certeza? — Vinicius questionou ao seu lado, fitando o teto de forma entediada enquanto esperava o irmão acabar de se trocar — Ela nunca se referiu a você como namorado dela, não é?

—Isso é...! — Luciano se calou, isso era verdade? Tinha certeza que Ayume já o havia chamado de seu namorado em algum momento... Não? — Vocês só estão tentando me confundir. — bufou — Os dois estavam lá quando ela aceitou meu pedido de namoro!

A porta do provador se abriu, revelando um Murilo enfiado num grande vestido amarelo, embora a parte superior estivesse folgada demais.

—Será mesmo? — ele deu um enorme sorriso, mostrando que essa era exatamente a intenção dos dois.

Ao seu lado Vinicius virou a cara e cobriu a boca para abafar a risada, Luciano apenas não sabia se ele estava rindo dele ou do irmão em um vestido de princesa, provavelmente os dois.

—Estão todos vestidos aí?! — Ayume gritou lá de fora, entrando logo depois com uma mão sobre os olhos — Estão descentes? Eu estou entrando.

—Estamos decentes. — Luciano respondeu.

—Ótimo. — Ayume tirou a mãos dos olhos e franziu o cenho para o gêmeo de vestido — Vinicius, o que faz com o vestido de Murilo?

O agora revelado Vinicius cruzou os braços e deu de ombros.

—Eu vou ter que usar o vestido no fim, então é melhor que sirva nos dois, além do mais se temos as mesmas medidas que diferença faz quem experimenta?

—E ele perdeu no cara ou coroa! — o agora revelado Murilo riu ao seu lado.

—Pare de rir e seja um pouco útil irmão. — Vinicius virou-se, mostrando o zíper aberto nas costas — Venha me ajudar aqui. Caramba, por que as mulheres gostam dessas coisas que não se dá para vestir sozinho?

Eles haviam trocado de identidade de novo? Então aquele ao seu lado direito era Murilo?

Luciano suspirou aqueles dois nunca iam deixar de confundi-lo.

—Ah, as coisas que fazemos por amor! — os gêmeos suspiraram dramaticamente depois de o zíper estar fechado.

Aquele vinha sendo o bordão deles nas últimas semanas.

Ayume sentou ao seu lado.

—Que cara é essa?

—Que cara? — ele estranhou.

Ela lançou um olhar de relance aos amigos, que riam e provocam-se entre si.

—Eles te disseram alguma coisa?

Luciano hesitou.

—Não...

Não lhe pareceu que Ayume realmente tenha acreditado em sua resposta, mas ela aceitou-a mesmo assim.

—Tudo bem. — levantou-se plantando um beijo em sua testa — Mas não deixe eles mexerem com a sua cabeça, eles só estão te perturbando porque são ciumentos.

É claro que ele riu e disse a ela que não havia com o que se preocupar, já estava acostumado o bastante com os gêmeos para não se perturbar mais com as brincadeirinhas deles... E então ficou com aquilo por dias na cabeça.

Até que finalmente perguntou a ela se já havia contado em casa sobre os dois, e Ayume respondeu:

—Eu falei com a minha mãe no dia em que começamos a namorar. E falei com meu pai um pouco antes de vocês chegarem, na primeira vez em que foram ao atelier.

—Espera! O que?! — ele se assustou de repente — Então ele já sabia naquele dia?! Por que você não me avisou antes?! E eu... Caramba eu acho que nem tinha penteado o cabelo naquele dia! Eu penteei o cabelo? Eu acho que não, eu estava de folga então...

Foi quando Ayume o surpreendeu com um selinho, fazendo-o se acalmar... E também calar a boca.

—Meu pai te achou um cara divertido. — afirmou — Mas você não tem permissão para chamá-lo de “sogro”.

—Talvez o tio Camilo fosse achá-lo ainda mais divertido se colocasse nele o vestido. — os gêmeos provocaram sorridentes que em algum momento entre as várias visitas ao atelier de seu sogro eles haviam começado a chamá-lo de “tio”, assim como Ayume também chamava aos pais deles de “tio” e “tia”.

Os dois haviam chegado do nada, se inclinando por trás do banco onde estavam Luciano e Ayume, e ela inclinou a cabeça para trás, virando-a para ambos os lados para cumprimentá-los com um selinho como sempre faziam.

—Ignore-os. — disse a Luciano.

No entanto os gêmeos continuaram sorrindo para ele, provavelmente o imaginando em um vestido de princesa. Então Luciano ignorou-os.

—E quanto aos seus irmãos?

—Hum... Você recebeu alguma mensagem minha, uma ligação, áudio ou qualquer coisa assim, onde eu dizia que queria terminar e que você não devia voltar a falar comigo nunca mais?

Luciano estremeceu.

—Não.

—E você recebeu alguma caixa cheia de cobras de papel que pularam em você? Ou talvez com escorpiões de brinquedo, mas que por um momento assustador pareceram bem reais?

—Hã... Não?

—Ótimo. Então eles ainda não sabem. — ela sorriu — E a propósito se receber uma ligação ou mensagem dessas fale comigo pessoalmente assim que puder, e se receber qualquer encomenda do tipo assim não precisa ligar para a polícia, eles são inofensivos... Hum, tenho certeza.

Embora seu tom levasse a crer que ela não tinha certeza alguma.

Mas Luciano sabia que Ayume só estava exagerando... Hum, com certeza.

Bem, ao menos ela havia contado aos pais, isso já era alguma coisa.

Não que qualquer um de seus sogros — só porque o pai de Ayume o tinha proibido de chamá-lo de sogro, não significava que Luciano não podia se referir a ele dessa forma em segredo — tivesse feito questão de lhe mandar uma solicitação de amizade no Facebook, assim como sua mãe fizera no instante em que contara a ela sobre Ayume.

—Os três encurralaram Renato lá dentro. — Olivia disse de repente, trazendo Luciano de volta de seus pensamentos — O menorzinho deu um choque no coitado.

—Ao menos não foi muito forte... — Glenda comentou hesitante.

—Mas foi de propósito! — Olivia afirmou, Luciano não tinha muita certeza se gostaria de sabe como ele fez isso — O mais velho está fazendo Renato carregar umas caixas enormes, disse que deu “um jeito terrível nas costas”.

—Eu acho que vi o do meio chutá-lo entre os calcanhares também. — Glenda afirmou com uma careta — Aquilo foi perigoso, ele podia ter caído.

—E agora o pestinha sumiu! — Olivia lembrou-se irritada.

—Os gêmeos! — Luciano deu-se conta de repente — Onde estão Vinicius e Murilo?!

Afinal mesmo que fosse Luciano o namorado, eram os gêmeos o verdadeiro risco, o que é que fariam os irmãos de Ayume — se é que eles realmente eram tão ruins assim — se vissem não um, mas dois caras ao mesmo tempo abraçando e beijando à sua irmãzinha?!

—Oh, eles estão bem, Ayume já os contrabandeou para longe dos irmãos. — Olivia girou os olhos — Quem você acha que jogou o pobre Renato aos leões?

De repente houve um estouro e as garotas pularam de susto, alguém também gritou — provavelmente Luciano — e um cheiro muito familiar, como o daquelas bombinhas que eram estouradas na época de festas juninas, começou a subir.

Mas por que alguém teria estourado uma bombinha daquelas em novembro?

—Que gêmeos são esses que a minha irmã contrabandeou?

Havia um trio de sinais perfeitamente alinhados na horizontal debaixo de seu olho direito, mas a voz, o formato dos olhos, o corte de cabelo, o nariz pequeno, o porte físico, tudo era tão incrivelmente semelhante à Ayume, que repentinamente Luciano entendeu porque ela era tão boa em diferenciar os gêmeos.

Pois com ela e seu irmão menor era a mesma coisa, os dois eram simplesmente idênticos e talvez até um possível trabalho de clonagem, quer dizer, ele já havia visto fotos antes, mas ao vivo...! Era muito mais impressionante!

—Jun Jorge! — as garotas sibilaram irritadas.

E o menino teve uma reação muito similar à da irmã quando seu segundo nome era dito em voa alta:

—Não me chamem assim! — ele bateu o pé no chão — É JJ!

Havia um ban-dad colorido em seu antebraço.

—O que foi que aconteceu aí? — Luciano perguntou curioso.

O garoto o olhou irritado.

—Não que isso seja da sua conta Boneco Ken, mas eu me queimei fazendo pipoca.

E ele também parecia tão desastrado na cozinha quanto à irmã... Boneco Ken?!

Por acaso ele estava falando ali com uma fusão de sua namorada com os gêmeos?! Luciano olhou-o espantado. Mas logo sua teoria maluca foi refutada — e ainda bem! — quando a própria Ayume em pessoa chegou para chutar o traseiro — literalmente — do irmão mais novo.

—Seja educado! — ela o repreendeu.

—Boo, a mamãe disse sem chutar! — o mais novo reclamou.

—E ela também disse: sem bombinhas, sem estilingues, sem vômito falso, sem cobras, aranhas ou escorpiões de brinquedo. — Ayume enumerou.

Seu irmãozinho bufou.

—Eu nunca fiz vômito falso! — Defendeu-se.

—Santiago fez na Páscoa passada. Caramba, não sei por que papai trouxe vocês!

—Para ajudarmos. — o garoto sorriu.

—Ajudar! — Ayume bufou cruzando os braços — Um de vocês até poderia ajudar, mas os três juntos só causam caos e discórdia...! Ah, Lorde Zucker, você chegou.

Luciano ergueu uma mão.

—É.

Desde o momento em que a viu pela primeira vez, Luciano sempre achou Ayume uma coisinha pequena e fofa, no entanto esses não eram adjetivos aos quais ela gostava de ser relacionada com frequência, então ele geralmente os mantinha para si — ou os compartilhava com os gêmeos —, mas ainda assim era comum que ele esquecesse o quão pequena Ayume realmente era.

E ali estava ela, uma adolescente de dezessete anos, lado a lado com seu irmão quatro anos mais novo — JJ completaria treze anos, dali a duas ou três semanas —, mas que a ultrapassava em, pelo menos, dez centímetros... Afinal os dois não eram tão idênticos assim.

Não era a toa que Murilo e Vinicius sempre se referiam a ela como “Pequena Ayume”, Luciano tossiu, e tentou a todo custo não achar graça daquilo, mas Ayume, que parecia ter algum tipo de radar para sempre saber quando alguém estava pensando em qualquer coisa relacionada à sua altura, cerrou os olhos de forma desconfiada.

—O que foi?

—Nada. — Luciano respondeu o mais inocente e natural possível — Tinha alguma coisa na minha garganta.

Hoje sua Ayume usava uma camisa estampada com um desenho da Mulan, e logo abaixo a frase “Lute como uma garota!”. Ela era incrível, onde que ela arrumava aquelas coisas?

—Sei... — ela obviamente não se convenceu totalmente disso.

—Boo, eles estavam dizendo alguma coisa sobre você ter contrabandeado gêmeos. — JJ os relembrou.

Ayume ergueu o olhar, mas Luciano percebeu que na verdade ela estava focando especialmente ele e, de repente, deu-se conta de que Olivia e Glenda estavam apontando-o, mesmo que na verdade tivesse sido Olivia quem houvesse falado sobre contrabando de gêmeos!

Suspirando, sua namorada virou-se novamente para o irmão:

—Eu compro muitos “trecos” como diz mamãe, mas ainda não cheguei ao ponto de começar a contrabandear coisas. — ela cruzou os braços — E você não disse que papai o trouxe para ajudar? Então o que você está fazendo perambulando por aqui?

—Eu fui te procurar.

—Tá, tá, eu vou depois. — ela o empurrou para frente — Volte já pra lá, e nada de bombinhas!

O garoto reclamou, mas obedeceu e foi embora com Olivia e Glenda correndo logo atrás dele, talvez Ayume houvesse lhes pedido para ficar de olho nos irmãos.

—Seu irmão parece bem... — ele foi surpreendido quando, repentinamente Ayume o puxou pela camisa e o beijou.

—Oi. — ela sorriu.

—Oi. — ele sorriu de volta — Hã... “Boo”?

Ayume girou os olhos o soltando.

—É a garotinha de Monstros S.A, JJ me chama assim desde que aprendeu a falar, nem sempre eu tive cabelos curtos e quando eu era pequena usava-o presos dos dois lados, então acho que ele pensou que fossemos parecidas e daí nunca mais parou.

—E você o chamava como? “Gatinho”? — ele sorriu, abraçando-a e entrelaçando os dedos em suas costas.

—Eu vou chutar você Luciano! — ela ameaçou, mas ao invés disso apenas o empurrou e se afastou.

—Então você já era fã da Disney e da Pixar desde aí?

—Todo mundo teve a Disney e a Pixar como bases da infância. — Ayume respondeu solene.

Foi quando ouviram um par de assovios admirados e perfeitamente sincronizados.

—Pequena Ayume você deve ser mesmo muito corajosa para beijar o Dos Reis assim com seus três irmãos logo ali do outro lado daquela porta. — os gêmeos comentaram se aproximando e pondo-se cada um ao lado dela — Ou louca!

Ayume deu de ombros.

—Vocês só estão com ciúmes. — acusou-os.

Dessa vez foram os gêmeos a darem de ombros.

Quando havia uma terceira — ou quarta — pessoa junta aos gêmeos eles geralmente não se punham ao mesmo lado da pessoa, e sim a deixavam no meio entre eles, quando se tratava de Ayume esse arranjo era quase certo.

Mas algo que Luciano havia reparado também era que, talvez de sete a cada dez vezes, Murilo sempre ficava do lado direito e Vinicius ao lado esquerdo.

—Não diga isso a eles. Nunca. — Ayume lhe disse quando ele comentou com ela sobre sua observação. — Você já notou que eles não começam a falar exatamente sincronizados um com o outro? Mas se conhecem tão bem e prestam tanta atenção um no outro que quando um começa a falar o outro já pega a fala no embalo e eles se sincronizam em menos de dois segundos, só que ninguém percebe porque ficam impressionados demais com o truque. Eu suspeito que foi assim que os garotos conseguiram enganar todo mundo por tanto tempo: eles imitam um ao outro desde que se entendem por gente até que ninguém mais soubesse quem era quem, e sempre que alguém descobria qualquer mínima ranhura em seu mimetismo, eles rapidamente concertavam o erro.

Em resumo: se Ayume dissesse aos garotos que sabia o truque de fala deles, eles iam se esforçar ainda mais para se sincronizar ainda mais rápido e se Luciano contasse aos gêmeos que às vezes podia diferenciá-los porque Murilo ficava do lado direito e Vinicius do lado esquerdo, eles iam trocar de posições com mais frequência.

Luciano achava que às vezes Ayume falava de um jeitinho tão peculiar que lhe dava vontade beijá-la. E foi o que ele fez.

—E foi assim que você aprendeu a diferenciá-los? — perguntou ao se afastar — Descobrindo as ranhuras do seu mimetismo?

Falar aquela frase era engraçado.

Ayume deu de ombros, não confirmando nem negando nada, então Luciano a beijou de novo.

Os gêmeos em questão chegaram pouco depois, eles tinham um faro inegável para encontrar Ayume, Murilo sentou-se ao lado direito dela e Vinicius ao lado esquerdo, enfiando-se deliberadamente entre ele e Ayume.

—Os dois são abusados — Ayume havia lhe dito certa vez — Mas Vinicius é mais.

Ela também já havia dito que “Os dois são amáveis, mas Murilo é mais”, embora Luciano não conseguisse dizer onde ela conseguia enxergar tanta diferença entre ambos.

Mas a sua Ayume era incrível assim mesmo.

— Não concorda Dos Reis? — Vinicius estava dizendo.

Ele estava agora com os braços postos em volta de Ayume abraçando-a por trás, embora a menos de um minuto houvesse chamado-a, juntamente com o irmão gêmeo, de louca por ter beijado Luciano mesmo estando os irmãos dela por perto.

Luciano piscou.

—O que?

—É ridículo se esconder de um garotinho com metade do nosso tamanho. — Murilo repetiu cruzando os braços e suspirando.

Será que eles sabiam que esse “garotinho” gostava de dar choques e jogar bombinhas?

Ayume desvencilhou-se de Vinicius.

—Então pensem assim: Santiago é mais forte que vocês, e Guilherme mais alto. E os dois são mais velhos.

Os gêmeos a olharam.

—Mas e quanto aos nossos beijos? — perguntaram completamente infelizes.

—Vocês não escutaram nada do que eu disse?! — Ayume irritou-se.

—Mas você beijou o Dos Reis agora mesmo. — alegaram.

—Sim, mas isso foi...!

Luciano ergueu a mão.

—Seria estranho eu me oferecer para vigiar por uns instantes enquanto minha namorada beija seus melhores amigos? — questionou.

—Seria! — Ayume respondeu de imediato.

—Não! — os garotos disseram ao mesmo tempo.

Ayume virou-se irritada novamente para eles.

—Vocês não podem pedir algo assim ao Lorde Zucker! — reclamou.

—Mas foi ele que se ofereceu primeiro! — eles defenderam-se.

Ayume e os gêmeos discutiam com frequência, mas era óbvio que os três se gostavam bastante, além de que suas brigas eram geralmente muito engraçadas também, e agora os gêmeos estavam reclamando porque Luciano estava rindo, até que Ayume perdeu a paciência:

—Ah! Tudo bem! Murilo, Vinicius, abaixem aqui rápido!

Os gêmeos se inclinaram para frente e Ayume deu a cada um o seu tão reclamado selinho, mas foi algo tão rápido que Luciano mal teve tempo de piscar antes de acabar, porém, antes que qualquer um dos dois pudesse reclamar, alguém disse atrás de Luciano:

—Ah... Então era por isso que JJ estava tão cismado com uma história sobre Ayume estar contrabandeando gêmeos. Ayume o que você pensa que está fazendo?

Luciano, Ayume e os Gêmeos olharam todos ao mesmo tempo para Santiago e Gilherme que acabavam de chegar ali, vindos do auditório, opa, talvez fosse para Luciano estar vigiando? Mas tudo havia sido tão rápido...! Guilherme virou-se para ele.

—E você Loirinho? Por acaso está esperando a sua vez na fila?

Luciano abriu a boca, mesmo sem ter pensado em resposta alguma para dizer, mas fosse lá o que ele fosse dizer Ayume o impediu, adiantando-se em direção aos irmãos:

—Santiago! Guilherme! Esses são meus melhores amigos Vinicius e Murilo, eu só os estava cumprimentando!

Guilherme era um pouco mais alto que Luciano e os gêmeos, enquanto Santiago era mais baixo que Luciano, talvez da mesma altura dos gêmeos, ou pouca coisa mais baixo, mas ainda assim a irmã de ambos parecia-se mais com um pequeno hobbit em meio a eles.

Santiago avançou em direção aos gêmeos, socando a palma da mão esquerda.

—Pois eu também vou cumprimentá-los, vocês dois cerrem os maxilares!

Os garotos recuaram, Ayume correu atrás do irmão mais velho tentando impedi-lo:

—Santiago se você encostar em um fio de cabelo dos meus...!

Ao mesmo tempo em que Vinicius e Murilo apontavam juntos em direção a Luciano e diziam com uma perfeita sincronização de pânico:

—Ayume está namorando aquele Gringo ali!

Santiago parou onde estava e virou-se para Luciano.

—Isso é sério?

—Hã... — Será que aquela história de “não bater em alguém de óculos” colaria ali? — Sim?

Será que se explicasse que precisava do rosto para trabalhar eles concordariam em socá-lo no estômago?

Guilherme ajeitou os óculos.

—Você namora a nossa irmã? — quis confirmar — E ficou aí parado numa boa vendo ela beijar outros dois caras na sua frente?

Luciano passou a mão pelos cabelos.

—Hum... É que eles já fazem isso desde sempre. Acho que é meio como eles dizem “oi”.

—Luciano! — Ayume reclamou vermelha.

De repente jogando a cabeça para trás Santiago cobriu o rosto com ambas as mãos e deu um enorme suspiro.

—Mas o que é que está acontecendo aqui?! — reclamou sem tirar as mãos do rosto. — Nós achávamos que se ela estudasse junto com Verônica, os caras iriam ignorar completamente a sua existência porque iam estar ocupados babando na prima oxigenada!

—Ao invés disso nossa irmãzinha foi completamente influenciada e levada pelo comportamento dela. — Guilherme olhou completamente infeliz para a irmãzinha.

Ayume bateu o pé no chão.

—Eu vou chutar vocês dois! Eu juro! — ameaçou estressada, Ayume adorava ameaçar chutar os outros... Às vezes cumpria. — O que vocês querem afinal?!

Pelo menos parecia que ninguém mais corria o risco de levar um soco ali, mas ainda assim nem Luciano nem os gêmeos ousavam mexer um músculo sequer.

—Papai nos mandou vir atrás de você e dos atores principais. — Santiago respondeu cruzando os braços — Ele quer fazer uma última prova do vestido para ter certeza de que não irá precisar ser feito nenhum ajuste antes do espetáculo.

—Isso é realmente necessário? Garanto que não engordei desde o sábado passado. — Murilo suspirou, atraindo olhares estranhos dos irmãos de Ayume.

—É sim. — Ayume afirmou — E Vinicius, você também vai usar o vestido então é melhor ir também.

Vinicius jogou a cabeça para trás e deu um suspiro tão grande que quase pareceu que iria expelir todo o ar dos pulmões.

—Esperem, esperem, esperem. — Santiago ergueu as mãos — O vestido... É para vocês?!

—Pois é. — Vinicius deu de ombros indo embora, auditório adentro.

—As coisas que fazemos por amor. — Murilo também deu de ombros e seguiu o irmão.

Aquilo fez Guilherme gargalhar.

—E você me chamou de doido por trazer a câmera! — exclamou apontando o irmão.

De repente Ayume agarrou o pulso de Luciano.

—Vamos logo, antes que eles lembrem que queriam te socar também!

Chamou-o fugindo com ele, enquanto Guilherme ainda ria da cara de Santiago — ou da imagem que estava imaginando com os gêmeos de vestido.

Entretanto Ayume era apenas uma, e por isso era incapaz de vigiar os três irmãos que haviam perdido o interesse em Renato, ao mesmo tempo, ela conseguiu evitar que J.J estourasse mais uma de suas bombinhas perto dos garotos — e se certificou de confiscar as restastes que ele ainda possuía — e afastou Guilherme de Luciano antes que ele terminasse de contar a constrangedora história sobre Ayume correndo atrás de um guarda-chuva do seu avô, mas houve várias outras pequenas coisas que passaram despercebidas a ela, ou que ela simplesmente não pôde evitar por não poder estar em mais de um lugar ao mesmo tempo.

—Ah, eles me cansam! — Ayume reclamou aborrecida se sentando no trono da princesa da peça, enquanto Luciano arrumava algumas rosas amarelas ali perto. — São piores que crianças!

—Tudo bem em deixá-los sozinhos? — Luciano perguntou.

—Os gêmeos estão com meu pai, eles foram se vestir para a peça, meus irmãos não vão fazer mais nada por enquanto.

—Então veio garantir que eu estaria bem? — Luciano sorriu.

—Na verdade vim te dizer para ir se trocar também. — ela respondeu recostando-se e suspirando, Luciano tinha a impressão que ela também viera testar o trono, para ter certeza que ninguém lhe cerrara as pernas ou espalhara tachinhas no assento — E onde é que está Verônica? A Peça começa daqui a quarenta minutos e ela nem sequer deu sinal de vida ainda!

Luciano suspeitava que a prima de Ayume provavelmente houvesse se atrasado de propósito para não ter que lidar com todo aquele trabalho, e daria uma desculpa esfarrapada qualquer quando chegasse, mas talvez fosse melhor não mencionar nada disso, já que ela já estava estressada o bastante por agora.

—Você já tentou ligar? — sugeriu.

—Mais de dez v...! — ela calou-se quando ouviu o celular tocar — É ela.

E afastou-se para atender.

Foi também nessa hora que as primeiras espectadoras chegaram: primeiro Luciano assustou-se quando a menina gritou de repente, e ela veio correndo desde a entrada do auditório de tal forma que ele achou que ela estava sendo perseguida por algo, só percebendo, um segundo antes de ela pular sobre si, que na verdade ela estava correndo para ele.

—É você mesmo! — exclamou abraçando-o tão fortemente que quase o ergueu do chão e ele pensou que fosse ser partido em dois, e então o soltando repentinamente — Desculpe.

Ainda um pouco confuso — e tonto — Luciano só conseguiu reparar no batom laranja e chamativo que ela usava, mas que, de alguma forma, contrastava bem com sua pele cor de canela.

—Tudo bem. — conseguiu dizer, e sorriu-lhe — Olá.

—Oi! — A garota quase perdeu o fôlego. — Eu sou Cameron!

Cameron parecia tão afobada que Luciano estava prestes a perguntar se ela precisava se sentar um pouco, quando alguém disse:

—Creio que chegamos um pouco cedo, me desculpe por isso, é que minha filha queria muito vê-lo, ela é bastante sua fã. — Ele não havia reparado nela antes, mas a garota estava acompanhada por uma sorridente mulher mais velha que se aproximava. — Bem, ao menos vamos conseguir lugares na frente.

—Mãe! — Cameron reclamou.

—Nossa. Agora estou sem graça! — Luciano riu sem jeito.

—Sou a Dra. Frank Lorret, vim a convite dos gêmeos. — a mulher sorriu-lhe, ela tinha uma forma muito tranquila de falar — É claro que também ouvi falar muito de você, Luciano.

—É um prazer conhecê-la, doutora! Espero que tenha ouvido coisas boas. — Luciano respondeu, fazendo-a rir.

E voltando-se para Cameron ele perguntou-lhe se gostaria que os dois tirassem uma foto juntos — e novamente ficou preocupado com a possibilidade de ela desmaiar a qualquer momento.

A foto acabou-se tornando em oito, e provavelmente teriam sido bem mais, se Luciano não precisasse ir logo se trocar, afinal ele não precisava que Ayume voltasse sua fúria contra ele também... Mas o destino achou que seria engraçado fazê-lo ser pego em fragrante assim que chegou aos bastidores.

—Verônica está a caminho! — Ayume lhe disse assim que o encontrou — Ela queria esperar Daiane voltar da aula de natação para o pai trazer as duas, acredita nisso?! Parece até que esqueceu que ela também tem que atuar! Mas agora ela já está caminho, pegou uma carona com Adam... Eu não te pedi para ir se trocar a uns dez minutos?

—Pediu.

Respondeu simplesmente, já esperando pelo sermão, mas ao invés disso a namorada pareceu exultante:

—É perfeito, Lorde Zucker você pode ir buscar minha mãe?

Luciano piscou confuso.

—Buscar a sua mãe?

—É! Ela também me ligou agora há pouco para dizer que já chegou, mas não quer entrar e ficar perdida no prédio e pediu-me para ir buscá-la, mas Renato e Glenda estão com problemas no sistema de som então eu... Ela ia esperar até Verônica chegar, mas já que ainda não se trocou você pode ir buscá-la.

—Ah. Tudo bem. — concordou meio sem saber o que fazer.

—Muito obrigada, milorde. O nome dela é Keiko. — a namorada o puxou para plantar um beijo em sua bochecha e então se afastou correndo.

E só depois de ela já ter ido embora foi que Luciano se deu conta de que na verdade não sabia qual era a aparência da sua sogra.

Por sorte não foi difícil encontrá-la, usando os cabelos penteados de lado em ondas até o meio das costas, uma blusa de seda e uma saia social, ela tinha os traços orientais que haviam originado os traços de Ayume e dos irmãos, mas de alguma forma Luciano não conseguiu ver grande semelhança entre mãe e filha.

E sem dúvida parecia muito mais séria que o pai de cabelos azuis da namorada.

—Dona Keiko? — chamou aproximando-se.

Embora usasse saltos ela era uma mulher baixa, mas longe de ser tão baixa quanto a filha, talvez sem os saltos tivesse 1,60 de altura...

—Que raro, geralmente as pessoas me chamam de Maria. — ela virou-se sorrindo.

—Maria? — repetiu confuso.

—Keiko Maria. — ela apresentou-se estendendo a mão — Geralmente apenas minha família se referi a mim por Keiko. E você é Luciano, estou certa? Ayume me falou sobre você.

—Hã? Ah sim, sou eu. É um prazer conhecê-la. — Luciano respondeu desconcertado, retribuindo o aperto de mão — Ayume me pediu para vir buscá-la. Hum... Como devo chamá-la?

—Francamente não me importo muito com como sou chamada, Keiko Maria, Keiko, ou apenas Maria, chame-me como achar melhor. — ela sorriu acompanhando-o de volta para a escola.

Luciano hesitou.

—E... Se eu quiser chamá-la de sogra?

Aquilo fez sua sogra rir de maneira tão repentina que ele inclusive assustou-se.

—É melhor não, meus filhos mastigariam e cuspiram você. — disse entre risadas — Chame-me Keiko então.

—Tudo bem. — concordou, tentar não custava nada, não é? — O auditório é logo ali.

—Obrigada. Mas e então, quais são suas intenções com minha filha?

A Sra. Keiko perguntou tão repentinamente séria que Luciano tropeçou em seus próprios pés.

—P-perdão? — gaguejou.

—Camilo e os meninos achavam que enquanto mimassem Ayume, ela seria para sempre uma criança que gosta de brinquedos, desenhos animados e usar fantasias e nunca se interessaria por coisas como “namorar”. — ela lançou um olhar de canto ao rapaz — Ao invés disso ela arranjou um namorado que gosta de brinquedos, desenhos animados e usar fantasias.

Luciano sorriu sem jeito, lembrando-se que só havia convencido Ayume a ser sua namorada porque prometera que os dois poderiam fazer cosplay de casal... E que fariam cosplay com os filhos também.

—E... O que a senhora acha?

Ainda era muito cedo para chamá-la de “minha sogra”? Provavelmente sim.

—Acho que você parece um bom rapaz, eu gosto de você. — declarou. — E o pai dela também não demorou em se habituar à ideia.

—Obrigado senhora. — agradeceu.

—Isso não é nada, prefiro que as coisas sejam feitas assim às claras e não às escondidas, então fico feliz por Ayume ter me contado. — Sua sogra continuou: — De qualquer forma eu meio que entendo minha filha.

—Entende? — surpreendeu-se.

—Entendo, digo, eu não tenho três irmãos como ela, mas eu tenho um: Hideo Augusto — franziu o cenho — Quando Hideo e Camilo se conheceram... Bem, claro que Hideo jura até hoje que ele não sabia que Camilo era alérgico a aveia, mas isso não mudou o fato de que nosso pai teve que passar todo o aniversário de mamãe junto comigo e meu namorado, que parecia uma aberração completamente inchada, na emergência do hospital, não é? — de repente ela olhou-o — O que me lembra: não coma nada que venha das mãos de meus filhos ou que você suspeite minimamente que passou pelas mãos deles.

E com essas palavras animadoras a sogra deu-lhe duas tapinhas no ombro e foi-se embora para escolher seu assento.

Os próximos a chegarem foram a família dos gêmeos, Maya insistiu em invadir os camarins justo no momento em que Murilo se rebelava contra a maleta de maquiagem de Ayume, dos três ele certamente era o que estava dando mais trabalho para arrumar, primeiro as roupas e agora a maquiagem… Um batalha após a outra entre ele e Ayume.

—Murilo, fique quieto eu ainda não acabei sua maquiagem!

—Não! — o garoto protestou — Você nunca disse nada sobre maquiagem! Se afaste com esse instrumento de tortura!

Embora ele não tenha reclamado nem metade daquilo quando Ayume ofereceu-se — ou melhor, “alistou-se” — para ajudá-lo a colocar o espartilho, sobre o qual também não o havia avisado antes, depois de ter chegado aos camarins e não o encontrado nem meio pronto, provavelmente porque era difícil reclamar sobre qualquer coisa quando o ar estava sendo literalmente espremido de seus pulmões.

Por que um espartilho? Questão de gosto pessoal de Ayume, simples assim.

Mas, verdade seja dita, ele até tinha ficado bem quieto quando ela começou a maquiar seu rosto — contrariado, mas quieto — o problema real havia começado assim que ela tentara passar para a maquiagem dos olhos.

—Isso é só um curvex seu bebê chorão, eu não vou arrancar seus cílios com isso! — Ayume perdeu a paciência — Parece até uma criança com medo de injeção!

—Eu também não deixaria você se aproximar de mim com uma agulha! — Murilo respondeu.

—E muito menos com um lápis apontado direto para o meu olho... — Vinicius comentou já completamente vestido ao lado de Luciano, querendo colocar mais lenha na fogueira enquanto registrava tudo com o celular.

—É! — Murilo concordou de imediato.

—Eu só vou furar o seu olho com o lápis de olho se você não parar de se mexer! — Ayume o repreendeu — Já disse que fiz curso!

—Você fez? — Vinicius perguntou cético.

—Fiz. Via youtube, tanto faz, só fica quieto Murilo...!

—Denis! — Maya entrou correndo de repente, atirando-se sobre Luciano como se não houvesse amanhã. — Eu vim ver você!

—Oi. — Luciano sorriu passando a mão em seus cabelos.

—Nossa. — Vinicius levou a mão livre ao peito.

—Essa machucou. — Concluiu Murilo imitando o gesto do irmão, embora não pudesse vê-lo, por estar sentado de costas para ele.

—Maya, tente não amassar as roupas de Lorde Zucker, por favor. — Ayume pediu.

No mesmo instante Maya desvencilhou-se de Luciano e correu para abraçar Ayume.

—Ayume! — gritou.

—Oi Maya. — Ayume a abraçou de volta, as duas estavam quase da mesma altura agora... — O tio e a tia também vieram com você?

—Eles estão lá fora escolhendo os lugares!

—Tio e tia? — Luciano repetiu.

—Nossos pais. — os gêmeos responderam — Mas para você é Seu Hector e Dona Rebeca.

Pelo menos eles não haviam dito para ele os chamar de “Senhor e Senhora Montenegro”.

—Você! — Verônica apareceu na porta — Eu disse que ia perguntar se você podia entrar!

—Verônica está atrasada! — Ayume virou-se furiosa — A peça começa em menos de dez minutos, vai já se trocar! — nem Verônica e nem Luciano apareceriam no inicio da peça, mas a japinha estava tão irritada que a prima nem sequer discutiu e foi embora correndo para o camarim onde Olivia já se trocava, e voltando-se com um tom infinitamente mais gentil para Maya, Ayume disse — Maya, você pode voltar agora? O show já vai começar.

—Tá bem!

Assim que a irmãzinha dos garotos se foi, Ayume voltou sua fúria agora contra Murilo, ordenando:

—E Murilo! Você é a protagonista fique quieto e me deixe terminar a maquiagem!

Isso colocou de uma vez um ponto final na discussão de ambos, e Murilo em fim deixou que Ayume pintasse seus olhos, a forma como Ayume passava, em menos de um piscar de olhos, de um aspecto completamente angelical para uma onda de absoluta fúria era completamente...

—Incrível. — Luciano suspirou.

—Você é doido. — Vinicius afirmou ao seu lado.

—Milorde. — Ayume o chamou. Embora toda a sua concentração estivesse voltada para o rosto de Murilo — Esqueci-me de avisar, mas o meu Kirugumi do Jake, chegou hoje de manhã.

Luciano sorriu.

—Excelente.

—O seu o que? — Murilo perguntou.

—Quieto! — Ayume sibilou, mas ainda assim respondeu gentilmente: — É um tipo de pijama de corpo inteiro, como um macacão com capuz e no formato de animais fofos. Eu comprei um pela internet com o formato do Jake de Hora da Aventura e vou emprestar para Maya já que usamos praticamente o mesmo tamanho.

Ser tão pequena e ter que comprar roupas na sessão infantil tinha suas vantagens às vezes.

—É para o evento. — Luciano seguiu dizendo — Eu vou ser o Fin, a propósito minha mochila chega daqui a dois dias, Ayume vai ser a Princesa Jujuba e a irmãzinha de vocês o Jake.

—Na verdade nós ainda não estamos muito certos de deixarmos nossa irmãzinha sozinha com vocês em um evento desses. — Vinicius comentou se aproximando do irmão.

—Os pais de vocês já permitiram. — Ayume vangloriou-se, afastando-se para dar espaço para que o amigo visse o gêmeo, Luciano colocou-se ao lado dela.

Tudo bem, ela era boa naquilo, Luciano passou o braço sobre seus ombros e beijou-lhe o topo da cabeça, ela havia recém-cortado os cabelos.

—Nossos pais não sabem o que nos aconteceu quando nós fomos com você! — Os gêmeos protestaram.

—Se estão tão preocupados assim podem vir conosco, mas decidam logo, os ingressos começarão a ser vendidos no próximo final de semana e, além disso, também precisamos de um tempo para preparar seus cosplays. — ela o abraçou passando os braços em volta de seus quadris. — A menos é claro que queiram usar essas roupas de agora.

Os garotos fizeram uma careta idêntica — exceto pelo fato de que um estava maquiado e o outro não.

—Meus lábios estão grudentos. — Murilo reclamou.

—Você se acostuma. — Ayume afirmou.

O garoto de vestido de princesa arregalou os olhos:

—Meu Deus! Espero que não!

É claro que Ayume deixou de fora o fato de que, na verdade, já estava preparando tudo para que eles fossem Fenn e Ice Finn no dia... Ou então seus “guardas banana”, tudo dependeria de por quanto tempo eles ainda pretendiam fazer-se de rogados, e como ela estaria de humor, porque sua namorada tinha certeza absoluta de que, no final, eles acabariam cedendo... E então Vinicius ergueu o celular para tirar uma foto do irmão gêmeo, e Murilo saltou sobre ele para impedi-lo, e Ayume soltou-se de Luciano para gritar com os amigos para “não arruinarem seu trabalho”.

Luciano estava acostumado aquilo: toda aquela loucura nos bastidores, a correria para ter certeza de que estava tudo no lugar, o pânico de achar que havia esquecido as falas, o frio na barriga logo antes das cortinas subirem... Ele estava acostumado, mas sempre sentia tudo outra vez logo antes de alguém gritar ação.

Oh certo, era teatro, ninguém gritaria ação ali.

As cortinas se ergueram.

“Há muito, muito tempo, em um reino distante e dourado houve o nascimento de duas crianças gêmeas...”.

A voz de Glenda iniciou sua narração.

E assim a peça tão idealizada por Ayume e Luciano iniciou-se, e Murilo esteve sentado em seu trono mandando a todos que se ajoelhassem, enquanto Vinicius o chamava de “princesa” com um sorrisinho petulante e declarava que faria tudo para protegê-la, inclusive torna-se “o próprio mal” também.

Sorrisinho esse que Murilo imitou com perfeição quando “acidentalmente” pisou no pé de Luciano por três vezes durante a valsa que os dois tiveram de dançar — um detalhe acrescentado por Ayume.

Mas o sangue no estômago de Verônica quando Vinicius a esfaqueou com a faca retrátil de Ayume pareceu tão real que, por um instante, Luciano se pegou preocupado com a dedicação da namorada aos efeitos especiais, e embora Verônica tenha parecido satisfeita demais para alguém moribunda enquanto morria nos braços de Luciano, certamente ninguém estava mais satisfeita ali do que Olivia ao mandar Vinicius, já trajando o vestido de Murilo, para a guilhotina — e se dependesse dela, certamente teria mudado o roteiro para executar ambos os gêmeos.

E assim, com o apagar das luzes e o baixar das cortinas, uma salva de palmas se ergueu, que continuou a ressoar enquanto os atores se reuniam no palco para receber os agradecimentos, Ayume foi chamada também para receber aos aplausos junto de todos e quando a cortinas voltaram a se erguer os aplausos tornaram-se ainda mais entusiasmados.

Dra. Lorret foi a primeira a ficar de pé para aplaudir, sua filha a imitou, logo depois Maya também pulou de sua cadeira para aplaudir, assim como seus pais e os sogros de Luciano, as mãos de seus três cunhados estavam ocupadas com os celulares, o que foi bom, assim ninguém precisou se preocupar em vigiar cada movimento deles... E logo todos ali estavam aplaudindo de pé.

De mãos dadas os amigos se curvaram e agradeceram ao publico, e assim as cortinas fecharam-se uma última vez, encerrando ao show.

Fim.


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Notas finais do capítulo

E é isso, depois de quase cinco anos, entre um pequeno atraso e outro, Gêmeos no Divã, essa que foi minha primeira história aqui no Nyah, chegou ao seu final.
Eu queria agradecer a todos que me acompanharam até aqui.
Mas eu ainda tenho outras histórias que ainda estão sendo postadas, então... Caso sintam muita falta de Gêmeos no Divã, por que não dão um passada para ver se alguma outra lhe agrada? ♥
Por ultimo, deixo aqui esse pequeno extra, para os que ficaram curiosos a respeito do próximo evento mencionado pelo Luciano: https://www.instagram.com/p/B8Jg92xJ8Jv/
Em fim... Isso é tudo pessoal!



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