Gêmeos no Divã escrita por Lady Black Swan


Capítulo 17
9° Consulta - parte 1


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem do capitulo... Mentira, eu sei que não vão gostar do final. muhahaha *onomatopeia tosca de risada maligna*



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Naquele dia doutora Frank surpreendeu-se ao levar o casal Nunes até a porta depois de mais uma de suas “consultas de crises” e descobrir que os irmãos Montenegro já estavam na sala de espera esperando por sua vez, mas eles haviam chegado quase noventa minutos adiantados para sua consulta semanal, ao contrário do que geralmente acontecia nas sextas-feiras, e estavam, naquele momento, conversando com Thomas Ferreira — ele e seu parceiro, Eric Ferreira, eram seus pacientes quinzenais, não tinham nenhum problema real no relacionamento, mas gostavam de vê-la duas vezes por mês para “fortalecer os laços”.

—Meninos! — exclamou — Eu não esperava vê-los por aqui já tão cedo, digo ainda são...

Ela inclinou-se para trás para dar uma olhada no relógio de parede dentro de seu consultório.

—É que geralmente a gente vem pra cá depois da escola. — disse um dos irmãos, antes que ela pudesse checar à hora.

—Mas agora a gente tá quase de férias e fomos liberados mais cedo. — disse o outro irmão, dando de ombros — E como não tinha nada pra fazer em casa...

—Porque aparentemente Ayume desligou o celular dela. — acrescentou o primeiro.

—A gente quis vir logo para cá.

—Mas vocês deveriam ter ligado antes para avisar... — disse desconcertada — Quero dizer, eu tenho uma agenda e... Hoje ela está meio apertada, não posso atendê-los antes porque em doze minutos será a vez da hora quinzenal do casal Ferreira, e eles...

—Por favor, Dra. Frank, atenda a eles primeiro. — interveio Thomas levantando-se — De qualquer forma aquele desleixado do Eric ainda nem se deu ao trabalho de aparecer mesmo... Nós dois só estaríamos perdendo tempo esperando aqui até que ele chegasse.

Frank Lorret franziu o cenho, este era um dos poucos problemas entre o casal Ferreira: Thomas sempre chegava adiantado, e se irritava porque Eric deixava as coisas para cima da hora, embora raramente se atrasasse.

A ansiedade de Thomas era algo que eles precisavam trabalhar.

—Mas Thomas, esses meninos têm duas horas e meia de consulta, se nós começássemos agora eles tomariam toda à hora de vocês e mais...

Thomas sorriu despreocupadamente.

—Tudo bem doutora, direi a Eric que ele demorou tanto que remarquei nossa consulta, isso vai ensinar a ele uma lição.

—Tem certeza? — relutou olhando o relógio — Sua consulta é só daqui a nove minutos.

—Eu tenho. — Thomas confirmou, e passou a mão pelo cavanhaque castanho — Assim aproveito o tempo extra para aparar a barba aqui perto.

Frank Lorret suspirou.

—Adam? — chamou, e o assistente, depois de digitar rapidamente no computador para checar sua agenda, deu um aceno afirmativo com a cabeça, também, pelo que Frank Lorret lembrava, os irmãos Montenegro seriam sua ultima consulta do dia, mas agora, com o horário invertido, seria o casal Ferreira — Muito bem. — concordou por fim, e afastando-se para o lado acenou e convidou os gêmeos Montenegro para entrar: — Meninos, por favor...

—Então boa sorte com seu artesanato Thomas.

Despediram-se os gêmeos levantando-se do sofá da sala de espera e se encaminhando para o consultório da doutora Frank, que lançou um último sorriso a Thomas antes de fechar a porta.

—Então vocês já estão quase de férias meninos?

—Pois é. — ambos se espreguiçaram sentando-se no Divã — E da pra acreditar que sempre nessa época eles começam a nos passar toneladas de dever de casa para fazermos durante as férias?

—Mesmo? — ela aproximou-se — Parece-me então que a escola de vocês é realmente puxada.

—E é justamente nessas horas que nós gostaríamos de estudar num colégio normal. — afirmou um dos gêmeos, largando-se completamente no divã e olhando para o teto.

—Na verdade a razão de estarmos aqui tão cedo é mais porque ainda não queríamos começar a fazer o dever de casa, do que porque não tínhamos nada para fazer. — confessou o segundo gêmeo inclinando-se para frente e apoiando o rosto entre as mãos com um sorriso maroto.

Frank Lorret sentou-se em sua poltrona balançando a cabeça com um sorriso leve.

—Meninos, isso não é coisa que se faça. — os avisou.

Os rapazes encolheram os ombros.

—Nós sabemos.

A doutora sorriu de canto.

—Vocês me disseram que Ayume provavelmente desligou o celular dela, vocês três brigaram?

Ambos balançaram a cabeça.

—Nem por isso. — disse o primeiro. — É que ela quer terminar todos os deveres para as férias, antes das férias, assim ela vai poder ficar o período inteiro comendo porcarias e vendo televisão com os irmãos, que nem ano passado sem se preocupar com mais nada.

—E também ela nunca gostou muito que ligássemos para ela. — acrescentou o segundo.

—Entendo. — concordou — Acho que vocês deviam seguir o exemplo dela, quer dizer, não a parte de passar as férias inteiras comendo porcarias e vendo televisão, só...

—Sabemos, sabemos. — o segundo sorriu tranquilamente. — Mas e sua filha doutora? Ela é fã de Lucian Reis, por acaso ela já descobriu que ele se mudou para cá?

A doutora suspirou, apoiando o rosto de lado numa das mãos.

—Já. — confirmou.

Os rapazes sorriram.

—Lá na escola já descobriram também. — disseram — Verônica está pirando.

—Como assim pirando? — franziu o cenho.

—Há uns três dias nós tivemos a brilhante idéia de ir falar com a Verônica. — narrou o segundo.

—Porque achamos que talvez ela pudesse ter alguma foto dos primos, os irmãos de Ayume. — contou o primeiro — E a gente a encontrou na biblioteca usando escondida o Wi-fi da escola no celular, eles trocam a senha a cada dez ias, mais ou menos, e mesmo assim o povo sempre descobre no mesmo dia!

—Também, é culpa deles que sempre botam senhas fáceis, como o nome da escola, ou de algum diretor antigo e o ano em que estamos. — o segundo irmão encolheu os ombros.

—Sempre tem que ter o ano! — riu o primeiro irmão.

—Meninos, foco... — a doutora chamou.

—Ah, é, desculpe. — retomou o primeiro irmão — Só que a gente mal começou a dizer o que queríamos e ela já veio como uma assim: “Agora não garotos, Lucian Reis se mudou para cá, e eu preciso descobrir em que escola ele vai se matricular, porque quero me transferir pra lá!”

—É! — confirmou o primeiro — E depois ainda disse assim: “Se querem saber como são meus primos procurem por japoneses na internet, eles são todos iguais mesmo”.

A doutora piscou.

—Parece... Que ela estava realmente ocupada.

—É. — o primeiro girou os olhos.

—Mas afinal o que é que esse Lucian Reis tem demais? — reclamou o segundo.

♠. ♣. ♥. ♦

E este começou a falar:

Hoje em dia Vinicius e eu já quase não falamos mais com Verônica, a não ser por uma ou outra rara ocasião, — como, por exemplo, essa fracassada tentativa de uns dias atrás para pedir fotos dos irmãos de Ayume — mas até alguns meses atrás a situação era bem diferente.

Inclusive no ano passado, nós três passamos, praticamente, as férias inteiras juntos.

A começar por aquele episódio que culminou com nós dois vomitando ao lado de casa — até hoje mamãe e papai não descobriram o que aconteceu ali, ainda bem que ninguém chamou o CSI pra fazer exame de DNA — e precisando da ajuda de Maya para podermos entrar pela janela que já mencionamos antes, e que, portanto, não precisa ser repetida aqui, e aquela não foi a ultima...

Desde aquele dia nós passamos a trocar mensagens com Verônica constantemente, e Maya começou a reclamar porque era muito chato ficar em casa sem ter nada para fazer, especialmente comigo e Vinicius ignorando ela agora, e também — por achar que a pessoa com quem falávamos era outra — reclamava de nós não a deixarmos falar com Ayume.

—Papai, papai! — ela chamou numa noite quando papai chegou do trabalho — Meus irmãos passam o dia todo falando com Ayume, mas não me deixam falar com ela também!

Ela estava de pijama, mas não porque já fosse tarde da noite, e sim porque quando ela não precisava sair de casa ela simplesmente passava o dia todo de pijamas — na verdade até temos a impressão de que, se pudesse, Maya iria de pijama para escola.

Papai passou a mão pelo rosto com ar cansado, e nos olhou jogados no sofá, ambos digitando freneticamente pelo celular, deitados com as pernas por cima dos braços do sofá, os topos das cabeças se encostando.

Nós nunca tínhamos dado muita atenção para celulares antes — e nem sequer sabíamos mexer direito, até porque nem tínhamos com quem falar, já que Ayume se recusava a falar conosco via celular, por causa dos irmãos dela — mas é engraçado como a gente pegou rápido o jeito da coisa.

—Meninos, deixar a irmã de vocês falar um pouco com Ayume não vai custar nada. — ele nos disse — Dêem um celular a ela e dividam o outro.

Sabe doutora, Vinicius e eu adoramos ser gêmeos, mas esse negócio também tem suas desvantagens.

Como, por exemplo, e isso foi uma situação real, se um há cinco crianças e quatro fatias de bolo, adivinha quem é que vai ter que dividir uma única fatia? Isso ai, os irmãos gêmeos.

Quer dizer, é muito bom que eu e meu irmão gostemos tanto de dividir as coisas, porque senão mesmo que não gostássemos, nós seriamos obrigados a dividir de qualquer forma, e isso seria realmente desagradável.

—Não estamos falando com Ayume. — respondemos sem parar de digitar.

—E estão falando com quem? — papai estranhou.

—Verônica. — Vinicius respondeu.

—O senhor não conhece. — completei.

—Duas amigas diferentes em menos de um ano? Isso é que é progresso! — exclamou papai — Logo que chegaram vocês eram tão introvertidos que era difícil fazê-los falar até comigo e com a mãe de vocês!

Maya aproximou-se de nós.

—E essa Verônica é legal que nem a Ayume? — perguntou ansiosa.

—Ela é legal sim. — afirmei, desviando meus olhos do celular por um segundo para sorrir para nossa irmã — Só que de um jeito diferente.

Nós ainda voltamos a sair “para a noite” com Verônica por mais duas vezes durante o restante das férias, mas ambas foram tão parecidas com a primeira — música alta, gente aglomerada se empurrando, bebida alcoólica (embora muito menos do que da primeira vez) e ressaca de manhã — com exceção de essas vezes termos conseguido chegar e entrar em casa antes de o dia raiar e sem precisar da ajuda de Maya, que eu só estaria sendo repetitivo falando delas aqui.

Mamãe estava ficando preocupada conosco, porque não é comum que fiquemos doentes e, no entanto, só naquele mês já havíamos “passado mal” três vezes, e ela só se aquietou depois que conseguiu nos levar ao médico para fazermos alguns exames de rotina, e levou Maya também — o que a deixou realmente brava conosco, porque ela detesta tirar sangue... Ou levar injeções... Na verdade ela odeia qualquer tipo de coisa que inclua uma agulha, uma seringa e as veias dela, mas nem por isso nos delatou —, e não é que ela tenha passado mal alguma vez durante as férias, a mamãe só queria garantir mesmo.

No fim as férias acabaram passando tão rápidas que nós quase não notamos, assim como acontece com todas as férias aliais, mas por causa da consulta para os exames que mamãe nos fez fazer nós acabamos perdendo o primeiro dia de aula — e dessa parte ninguém reclamou — também isso não fazia muita diferença, a primeira e a ultima semana de aula são sempre muito paradas.

Mas certamente quando voltamos para a escola, já no segundo dia de aula, nós não esperávamos encontrar uma Ayume dormindo sentada no corredor em frente ao seu armário.

—Ayume? — chamamos parando á sua frente, mas ela não respondeu, nós nos entreolhamos e nos agachamos para voltar a chamar: — Ayume?

Nada.

Vinicius tocou-a no ombro e sacudiu-a de leve.

—Ei Ayume você está bem? — ele perguntou. — Fala com a gente.

—Hum — Ayume finalmente deu sinal de vida, mas não de muita vida.

Ela moveu-se um pouco e então ergueu o rosto... Foi quando vimos que nossa amiga tinha se transformado num zumbi.

A cara dela estava toda “amassada”, os olhos estavam inchados e ainda mais fechados do que são naturalmente, havia também manchas escuras em volta deles, e os cabelos, não tão curtos quanto o de costume — como se ela não os cortasse desde que se encerraram as aulas — estavam completamente desordenados e espetados em direções estranhas e aleatórias, isso sem falar da pele, doutora, a pele de Ayume estava tão pálida que parecia que se ela saísse ao sol ia acabar por refletir os raios Ultravioletas.

Nós arregalamos os olhos.

—Mas o que aconteceu com você?! — Vinicius perguntou.

—Está passando mal? — preocupei-me — Quer que a levemos para a enfermaria?

—Hum...? — ela fez novamente, quase parecendo que não nos reconhecia. — É só que eu ainda não me recuperei das férias... Eu praticamente não dormir o mês todo. — Ayume começou a se espreguiçar. — Eu nem sabia mais em que dia estávamos, aí hoje de madrugada meus pais voltaram para casa com JJ, e ficaram umas araras porque, além de não termos ido para escola/cursinho/faculdade ontem, nós ainda estávamos acordados vendo filmes tamanha às duas da manhã, de castigo só o JJ pôde faltar hoje, enquanto eu e Santiago tivemos de sair da cama de manhã cedo e arrastar nossas carcaças para o sol... Ao menos Guilherme pode dormir a manhã toda porque ele só tem cursinho à tarde...

E voltou a bocejar, abrindo tanto a boca para isso que eu não consegui evitar pensar em uma estória que ouvi quando nós dois ainda éramos pequenos e vivíamos no orfanato: sobre um sapo que conseguiu abrir tanto a boca que engoliu a si mesmo.

Nós nos levantamos puxando Ayume conosco.

—Você está bem Ayume?

— Eu estou toda dolorida, parece até que levei uma surra de pau, também estou muito cansada, mas fora isso... — sua cabeça começou a pender para frente e o corpo a oscilar.

Nós nos entreolhamos surpresos, parecia que ela tinha dormido em pé!

—Ayume! — chamamos batendo palmas em frente ao seu rosto.

—Hã? O que? — Ayume assustou-se — Ah, desculpe meninos... — ela voltou a dar um grande bocejo — O que diziam?

—Quem estava falando era você. — a relembramos.

—É? — ela inclinou-se para trás até ficar com as costas apoiadas no armário — Ah é... Sobre o que mesmo?

—Suas férias. — respondemos.

—Ah... É mesmo. — Ayume passou a mão pelo rosto. — Em geral foram boas, quer dizer, exceto por eu ter descoberto que meu irmão está fumando.

Ayume fez uma careta, nós nos entreolhamos.

—Qual deles?

—O primeiro. Santiago. — ela respondeu — Eu o peguei fumando atrás de casa há duas semanas, ele me disse que já faz isso há quatro meses, mas que podia parar a hora que quisesse, porque usa apenas para aliviar o estresse, porque o quinto semestre na faculdade estava sendo realmente muito difícil... Mas eu sei que é mentira. Se era mesmo apenas para aliviar o estresse porque ele estava fumando durante as férias? — suspirou. — Eu não sei o que fazer, eu o amo tanto que queria poder apagar aquele maldito cigarro nos olhos dele.

Sabe doutora, não tenho certeza se gostaríamos que Ayume nos amasse tanto assim, mas, de qualquer forma, é realmente um grande alivio que nós não fumamos.

Sem saber o que fazer, nós colocamos as mãos sobre os ombros de Ayume.

—Puxa Ayume, isso é realmente... — começamos a dizer...

... Mas ai Verônica chegou.

—Bom dia meninos. — nos cumprimentou por trás.

Nós nos viramos.

—Bom dia Verônica. — respondemos.

Sabe doutora, no comecinho de agosto o tempo ainda está frio o suficiente para que a maioria das garotas deixe de lado a saia opcional do uniforme do colégio e a troque pelas calças do uniforme, mas ainda tem umas poucas que teimam em ir de saia até as pernas começarem a ficar duras de tanto frio... Uma dessas é Verônica.

Mesmo com aquele frio Verônica ainda usava a saia tão curta quanto sempre, a única diferença é que agora ela tinha fechado dois dos três botões que ela geralmente deixava abertos na blusa. Em seu rosto havia um enorme par de óculos de sol.

Ela baixou os óculos percebendo Ayume atrás de nós.

—Ah, oi Ayume. — Ainda escorada contra os armários Ayume acenou sonolenta com a cabeça. — Você parece cansada prima... Rapazes por que não deixam Ayume em paz por um tempo e vêm andar um pouco comigo? Ainda temos tempo antes de a aula começar.

Olhamos para Ayume, sentando-se novamente no chão, abraçando os joelhos e baixando a cabeça para voltar a dormir... E seguimos Verônica.


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Notas finais do capítulo

Sim, eu sei que sou má.
Mas o que posso fazer? É a minha veia dramática em ação. U.U



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