Akuma No Riddle: Nove Anos Depois escrita por kalzcarvalho


Capítulo 5
Capítulo 5 - Cheiro Forte de Vodka, ou Primeiro Beijo


Notas iniciais do capítulo

INTAM MINOS, MANAS E MENES (neutro de "minos" e "manas" -q) PEQUENO COMUNICADO: eu tava revisando a fanfic do Akuma No Riddle e tinham dois capítulos seguidos meio curtos e um deles meio que não tinha sentido ser um capítulo só, por isso eu juntei os dois e agora, em vez de 15 partes, a fanfic vai ter 14.



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***POV HARU***

Não abrir a porta para ninguém. Fingir o tempo todo que não há ninguém em casa. Cortinas fechadas – apesar de estarmos no 13º andar, Tokaku-san olha com desconfiança para os prédios ao redor. Telefone cortado. Eu só atendo o celular se Tokaku antes enviar uma mensagem de texto contendo o kanji para “segredo”.
– Quanto tempo isso vai durar? – perguntara a ela.
– Até quando for necessário. Encontre um emprego bem longe daqui e saímos de Tóquio assim que possível.
– Tokaku-san, não precisa se preocupar tanto, eu já tinha sobrevivido a muitos ataques antes de te conhecer...
– Cautela nunca é demais. Eu não vou te perder – ela é muito firme no que fala. Não há discussão.

Antes de sair, ela dá uma olhadinha para trás e acrescenta:
– Minha pistola fica na segunda gaveta do armário, você sabe. Já está carregada. Lembre-se disso, em caso de necessidade.

Atirar em alguém? Espero que eu não precise fazer isso. Na verdade, acho que vou é manter distância do armário. Me jogo de costas na cama, com o braço sobre os olhos, procurando relaxar. Já fazia muito tempo que eu não conhecia a sensação de ser perseguida. Acho que desde o fim da Classe Negra. A própria Tokaku-san foi a última pessoa a atentar contra a minha vida. Tento não pensar nisso. Prefiro me concentrar nas coisas boas.

***POV HARU / FLASHBACK ON***

Temos 17 anos, Tokaku-san e eu. Estou prestes a terminar o Ensino Médio e ainda não tenho ideia de como vou fazer para cursar a faculdade, mas tenho estudado dia e noite para isso. Eu vou dar um jeito. Trabalho meio-período, pego dinheiro emprestado, não sei. Talvez eu consiga uma bolsa.
– Eu posso te ajudar – comenta Tokaku-san, com seu olhar gélido de sempre, enquanto me debruço sobre vários livros na mesa engordurada de uma lanchonete.
– Com o quê? – me surpreendo. Não falara nem uma palavra. Como de costume, ela me acompanha pra onde vou.
– Eu não vou continuar estudando, você sabe. A gente poderia viver juntas – “sim! Adoraria!” grito em pensamento; tenho a sensação de haver uma ponta de esperança refreada na voz de Tokaku-san também – eu trabalho e trago o dinheiro pra casa, e você pode se concentrar na faculdade. Você não anda preocupada com isso?
– S-sim, mas...
– Então?
– Não quero te dar trabalho. Você já fez muito por mim, Tokaku-san – digo, tentando esconder a animação e a expectativa criadas pela possibilidade de viver com Tokaku.
– Classe Negra.
– É, Classe Negra.

***

Há um baile de formatura hoje, e o tradicional é que tenhamos um acompanhante colega de formatura. Queria poder ir com Tokaku-san. Mas ela vai estar lá, de qualquer forma. A entrega dos diplomas foi ontem. Meu acompanhante é um garoto chamado Kiyotake Hajime, conhecido por ser o piadista da turma. Ele me convidou e aceitei só pra não ser a única sozinha da turma, mas realmente teria preferido poder ir com Tokaku-san. Se bem que, não sei se ela aceitaria fazer parte da dança de abertura do baile.

Estou tão distraída que até piso no pé de Hajime.
– Ai! – ele reclama, mas mantém a compostura.
– Desculpe – sorrio, mas não paro de olhar em volta, procurando por Tokaku-san. Não sei bem o que é isso que eu sinto por ela, mas o sentimento é cada dia mais forte, desde que a Classe Negra acabou. Estou num nível quase de desespero. Mas, por alguma razão, sinto medo de falar sobre isso com ela. Logo eu, que sempre fui extrovertida...

Quando a abertura finalmente acaba – com a música lenta sendo substituída por uma eletrônica – deixo Hajime para trás meio rápido demais. Sei que Tokaku veio, ela disse que viria só pra me ver. Onde ela está? Será que trouxe o celular? Penso em mandar uma mensagem. No momento que tiro o smartphone da bolsa, alguém me toca o braço. Dou com seus olhos e cabelos azuis e sua expressão fria de sempre, me encarando daquele jeito enigmático que me acende.
– Oi – diz ela. Seus olhos estão ligeiramente vermelhos.
– Tokaku-san! – sorrio, finalmente feliz de verdade nessa festa. Minha voz traduz um entusiasmo excessivo. Ela, por outro lado, não parece muito bem. Coloco as mãos sobre seus ombros. Ela esfrega os olhos como se doessem – Tokaku-san?
– Estou ouvindo – sua voz é firme, mas a expressão não.
– Tokaku-san, você está se sentindo bem?
– Vou tomar um ar – ela parece não gostar de algo. Acho que não queria que eu percebesse.
– Vou com você – envolvo o braço dela nos meus. Ela não tenta me afastar ou se desvencilhar.

A festa de formatura é numa boate que fica numa cobertura no centro de Tóquio. Tokaku e eu vamos até a varanda – talvez seja meio grande demais para ser chamada só de “varanda”. Dá pra ver a cidade toda. Ela se apoia na cerca, olhando diretamente pra baixo.
– Me lembra aquela “festa” do chá da Hanabusa – murmura Tokaku-san, como se falasse mais para si do que para mim. Lembro subitamente daqueles breves momentos em que fiquei pendurada por um fio do topo de um prédio, respirando na cara da morte. Estremeço.
– Hm, é...

Paro para observar a paisagem. O prédio em que estamos é um dos mais altos. Imagino que em vista aérea Tóquio deve parecer uma lanterna gigante. Me dou conta de que Tokaku não deu a mínima para o que dizia o convite e, em vez das roupas elegantes e formais que eram pedidas, ela usa a mesma saia xadrez e camisa branca de sempre. Não se maquiou e sequer penteou o cabelo. Espero que tenha tomado banho pelo menos, mas é difícil dizer com a mistura de cheiros no ar: perfumes e shampoos de vários tipos diferentes, comidas e bebidas, suor, desodorante, fumaça do show pirotécnico...
– E o seu par? – pergunta Tokaku-san.
– Não sei – “e não me importo”, completo em pensamento. Foi ele quem me convidou. As regras diziam claramente que os pares deveriam ser dois formandos, e de sexo oposto. Pensei em insistir com a diretora, mas também tive um medo: como será que nos veriam se eu aparecesse acompanhada por outra garota? Já vi muitos casos na televisão de gente que é agredida na rua por ser homossexual. E eu nem sei se sou. E mesmo que eu seja, mesmo que eu realmente esteja apaixonada por Tokaku-san, quais são as chances do sentimento ser recíproco? Quase nulas, eu imagino. Provavelmente vou ter que esconder esse sentimento pro resto da minha vida ou até ele desaparecer. Isso se ele existir. Dois anos. Dois anos e eu ainda escondo um segredo de Tokaku. Pensar nisso faz eu me sentir culpada.

Fecho os olhos, angustiada. A quem é que eu quero enganar, afinal?
– Tokaku-san, como você me vê? – pergunto. Não escuto resposta. Abro os olhos de novo e observo ao redor. Onde ela foi? Tokaku aparece de novo poucos segundos depois, com uma taça na mão, e volta para onde estava como se nada tivesse acontecido. Beberica aos poucos até esvaziar o conteúdo transparente. Mas o cheiro não é de água. Então, é por isso que os olhos dela estão vermelhos? Ela está bebendo?

Repito a pergunta. Tokaku-san respira fundo antes de responder.
– Te vejo num baile agarrada com um cara num tipo de valsa – ela parece irritada – é o que eu vi.
– Eu não tinha escolha, é tradição do colégio que os formandos dancem na abertura – me defendo. Afinal, porque é que eu estou me defendendo? Tokaku-san sai mais uma vez e volta com outra taça cheia. Tenho vontade de derrubar a bebida. Porque diabos ela está fazendo isso? Nunca tinha visto ela ingerir álcool, antes.
– Não sei nem porque vim aqui.
– Para me ver – retruco. Pela primeira vez, Tokaku-san está me irritando – lembra?

Tokaku sorri de uma forma cínica, e arremessa a taça vazia de vidro no vácuo. Ela vai cair no terraço do prédio à frente, vários andares mais baixo. Tokaku chuta uma das cadeiras de plástico, jogando-a do outro lado da varanda, só para em seguida se sentar na cadeira ao lado, escondendo a cabeça entre os braços. Sua atitude me assusta, mas também acende uma ponta de esperança. Afinal, porque outro motivo ela agiria assim? Coloco as mãos sobre seus ombros, carinhosamente, antes de perguntar:
– Tokaku-san, como você me vê? Responde sério, agora – ela não diz nada, a princípio. Nem sequer parece ter me ouvido. Não sei o quão bêbada ela está. Então, ela levanta lentamente a cabeça. De onde estou, só posso adivinhar sua expressão. Tokaku-san se levanta, ainda de costas para mim. Meu coração bate tão forte que chega a doer o peito. Lentamente, a garota de cabelos azuis se vira. Seus olhos embriagados escondem uma emoção sincera. E ela me beija. Com todo o fedor do álcool e a nossa inexperiência, ela me beija profundamente. No começo, só nossos lábios se encostam, mas aos poucos, nos envolvemos num abraço cada vez mais apertado. É a sensação mais deliciosa do mundo. Não me importo que ela esteja usando roupas casuais numa festa formal, que esteja quase caindo de bêbada e com um cheiro forte de vodka, é o beijo mais perfeito da minha vida, e não quero que acabe nunca.

***FLASHBACK OFF***

Sorrio com a lembrança do nosso primeiro beijo. Deitada na cama quente e de olhos fechados, como se dormisse, consigo lembrar com perfeição da sensação de ter o corpo de Tokaku pela primeira vez entre os meus braços. Quase me viro para abraçá-la, como se ela estivesse aqui, comigo, agora.
– Por outro lado, ainda bem que ela nunca mais bebeu depois daquilo – reflito.


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Notas finais do capítulo

Sim, Tokaku levou 2 anos depois do fim da Kurogomi pra dar uns pega na Haru -q
E sim, ela tava bêbada quando aconteceu, agora imaginem a Tokaku bêbada e obtenham a fórmula da felicidade eterna hi hi hi hi hi



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