***POV TOKAKU***

Quatro semanas que estamos com esse chefe novo. E hoje é o dia que Haru vai receber as notas dos seus últimos exames. Podem ser, portanto, meus últimos dias trabalhando aqui. Pretendo conseguir algo que exija menos do meu tempo, se tudo der certo. Ir embora de Tóquio, quem sabe? Ou mesmo do Japão. Seria bom poder recomeçar em algum lugar distante.

O celular toca. Obviamente que é Haru. É a única pessoa que me liga. Atendo.
– Ei.
– Alô, Tokaku-san? – dá pra sentir a vibração e o êxtase na sua voz. Deixo um ligeiro sorriso se pintar no rosto.
– Passou? – ela dá um grito agudo de euforia em meio a uma mistura de vários “passei” e “te amo”.

Bem nesse momento, o rádio chia. Ah, agora não, merda...
– Azuma-san? Azuma-san, responda.
– Haru, depois nos falamos – desligo o celular e atendo a chamada do rádio – oi, o que é?
– Venha para a central, por um momento – é a voz de Kubo. Estranho.

Quando abro a porta, dou com ele e Kobayashi sentados na mesa de metal do centro da sala, em silêncio.
– Azuma-san. Como vai? – Kobayashi. O cheiro dele não é dos melhores. Torço o nariz.
– Algum problema? – Kubo. Ele sempre teve o cheiro comum de um assassino fracassado.
– O que querem?
– Eu não sabia que haveriam tantos assassinos aqui – diz Kobayashi, franzindo o cenho. É como eu desconfiava, mas um pouco mais grave.
– Não sou uma assassina – retruco.
– Uma Azuma. Quem diria que seria justamente você? – Kobayashi sorri, satisfeito – só gostaria de pedir que não me atrapalhem – ele lança um olhar no mínimo curioso para mim. “O que ele quer? E como assim, justamente eu?”, me pergunto – cuidem de seus alvos, e eu cuido do meu.
– Sim... claro, alvo – Kubo. “Idiota”, penso.
– Não tenho alvo nenhum. Pare de me encher o saco – me viro, pronta para ir embora. Sinto a aproximação de mãos fortes. Antecipo o movimento de Kobayashi antes mesmo de vê-lo e o empurro para trás – não me toque.
– Ok. Se você não tem nenhum alvo, o que está fazendo aqui, Azuma-san? – vou embora sem responder.

***FLASHBACK ON***
– E você? – pergunta Haru – depois da Classe Negra, para onde você vai? – titubeio, sem saber o que responder.
– Hm... Eu vou dormir – e dou-lhe as costas.

***FLASHBACK OFF***

Essa é boa. O chefe da equipe de segurança é um assassino. Bom, desde que ele não interfira na minha vida, tudo bem. Provavelmente vão ser só mais alguns dias ou semanas até Haru conseguir um bom emprego em algum lugar por aí, agora que tem uma especialização.

“Não seja inocente, Tokaku”, diz uma vozinha irritante no fundo da minha cabeça. “Um assassino aparece do nada no seu local de trabalho e você realmente acha que vai sair ilesa dessa? Ele cheira mal. Guarda alta daqui pra frente”. Ele com certeza não é como Kubo. Seria pedir demais.

Quem será seu alvo?