[CONTOS DE BAR] 3. About silence escrita por Milla C


Capítulo 1
Song of desperate


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura ;)



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Não sabia ao certo quantas vezes aquela semana havia ido parar ali, entre idas rápidas durante o dia, uma cerveja refrescante entre as apresentações em praças, esquinas, qualquer lugar em que pudesse cantar e de quebra ganhar uns trocados. E as noites vazias em que nem a música era capaz de fazer um trabalho perfeito em aliená-lo do mundo que não se encaixava, o álcool lhe fazia companhia.

Sentou-se ao balcão no lugar de sempre, suspendeu um pouco as mangas da jaqueta de couro, e engatou as botas no apoio do banco, não pretendia sair nem tão cedo dali, o barman já conhecido lhe trouxe a primeira garrafa, e como de costume passou um copo para o velho ao seu lado. Era quase uma espécie de ritual, desde que se mudara correndo atrás do sonho de ser músico e descobriu ser quase impossível ser “resgatado” em meio a tantos sonhos em uma cidade que os engolia, encontrou aquele bar. Era grande, tinha um balcão sempre cheio, e um palco pros muitos músicos fracassados como ele que não estavam lotando estádios.

Logo no primeiro dia conheceu o velho, se é que aquilo podia ser chamado de conhecer. O caso é que o senhor sempre estava lá, sempre tinha uma bebida em mãos, e absolutamente nunca falava, apenas observava. Lembrava-se de estar muito bêbado ao primeiro dia e tê-lo xingado por não respondê-lo, e mais bêbado ainda no segundo, e chorado como uma criancinha se desculpando, em alguns dias estava completamente fora de si e virava um pensador contando casos e desventuras ao experiente homem, e o mesmo com um olhar perdido, quase desinteressado, continuava a beber e por vezes fazer palavras cruzadas.

Fosse como fosse, aprendeu a falar sozinho e se sentir “acolhido”, também ganhara o hábito do “amigo” de observar a sua volta. Tinha que admitir que tivesse uma atenção especial as mulheres, como a que olhava fixamente para o homem ao seu lado com uma quase adoração – Paixão unilateral, olha que desperdício – comentou com o senhor que tomou mais um gole da bebida.

Passou a mão pelo cabelo mal preso em um coque, se viu refletido em um espelho atrás do balcão e constatou que precisava fazer a barba, amanhã talvez. Alguém cantava um blues no palco, uma voz feminina levemente rouca, sequer parecia fazer esforço para cantar bem, mas teve que sorrir ao conseguir “sentir” a música, não era para qualquer um.

Hooked up to my motor
All day long
We go down to Texas
Up to Montreal

Só desesperados ou amantes interpretavam tão bem um blues.

You got my attention
You got it all

I can take the trouble
I'm 60 feet tall

I know it ain't easy
I must tap your evil well
'Cos, boy, do you come roaring
Like a bat out of hell
You drive me so reckless
You'll kill us all

Quando a nota se findou, resolveu que queria ser um desesperado, sabia ser impossível amar com intensidade e tão rápido, encaminhou-se para o palco deixado pela dama de vermelho, observou um homem segui-la com pressa, sentiu o porquê amava cantar, talvez dois desesperados seriam amantes essa noite. Completou os poucos passos que faltavam e chegou ao palco, e quando tomou o microfone em mãos, deixou o amor pela música, e o desespero por viver dela extravasar – Essa é pro meu amigo, o Velho, aquele que me ensinou a observar – De longe quase pôde apostar que o senhor sorriu, mas por agora nada mais importava, apenas cantar.


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Notas finais do capítulo

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E comenta, conta aí quando pensa em um bar, que tipo de personagem lhe vem a mente?



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