Lua Minguante escrita por Ever


Capítulo 1
Capítulo I – Onda de azar


Notas iniciais do capítulo

Bom, para o primeiro capítulo comecei com basicamente uma mínima parte da vida humana de Arabella. Minha ideia inicial aqui foi mudar um pouco a batalha de Eclipse, mas acabou sendo muito mais que isso e o que no inicio era para ser um capítulo único acabou se transformando até o momento em quinze capítulos prontos espalhados em cadernos e arquivos no computador.
Aproveitem o capítulo e espero que acompanhem, comentem e até mesmo xinguem as personagens se necessário.
Até as próximas notas ou comentários.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/627028/chapter/1

Os ventos frios das noites em Seattle estavam pegando pesado comigo ultimamente me fazendo perguntar o que eu havia feito para merecer tudo aquilo. Claro, eu sabia que eu não era uma santa e que os acontecimentos dos últimos quatro meses poderiam facilmente serem considerados um crime a ser pago, mas eu não estava tão ferrada a ponto de passar a temporada mais fria da cidade sem um mísero cobertor.

Acho que você se esqueceu, querida, mas quando decidiu procurar por alguém já esquecido assinou sua carta de insanidade. A típica voz amargurada da cociência marcou sua presença me dando um sermão quase tão parecido com os dele.

Revirei os olhos revirando todas as roupas que haviam dentro daquela imensa mala velha e surrada numa tentativa de achar alguma coisa para vestir e ir para a primeira noite de meu inferno particular. Alguns minutos depois ouvi os barulhos das plataformas transparentes comuns a uma Kristie que se aproximava com o que ela gentilmente apelidou de roupas.

– Assim você nunca vai achar nada – ela mordeu o canto do lábio inferior formando um enorme bico vermelho e torto – Eu te ajudo – ela se aproximou pegando as pontas da mala e virando-a em cima da cama.

Kristie no momento é meu pequeno e temporário anjo da guarda, nos conhecemos na quinta série quando eu acidentalmente tropecei e caí da escada derrubando-a no final de tudo aquilo. Acabamos virando amigas desde então até que sua mãe largou-a no mundo e ela infelizmente acabou ganhando uma profissão nem um pouco digna. Uma profissão que eu iria exercer agora até conseguir dinheiro o suficiente e me mandar dessa cidade.

– Isso vai ficar lindo em você... – Kristie arrastou o final da frase enquanto atirava em mim um vertido curto e justo verde esmerada – Vai combinar com os seus olhos – ela piscou um de seus olhos mel voltando a vasculhar as peças na cama.

– O tempo está frio – informei quando ela me jogou uma meia arrastão me empurrando para trás de uma divisa antiga de papel.

– Sério Arabella? – ouvi a voz dela do outro lado do pequeno cômodo.

– Sério – revirei os olhos e comecei a tirar minha calça jeans surrada e meu agasalho violeta.

– Eu fui irônica, Bells – ela enfiou a cabeça castanha dentro da divisa me entregando um casaco grosso de pelos negros – Você deveria praticar isso de vez em quando se quiser sobreviver por aqui – ela revirou os olhos e finalmente saiu.

Revirei os olhos e comecei o trabalho de vestir a meia enquanto cantarolava tentando me distrair um pouco.

Eu tinha pena de Kristie, ela não merecia essa vida. É incrível com seus um e setenta de atura e os cabelos castanhos e cacheados que caíam até o meio das costas, mas sua pele cor chocolate era uma das coisas que mais atraíam atenção para ela, Kristie se daria muito bem em qualquer agencia de modelos.

– Bells – ela berrou do outro lado e eu saí completamente vestida e de braços cruzados com vergonha de mim mesma.

É por um curto período de tempo, lembrei a mim mesma tentando me manter calma sem muito sucesso.

– Vamos, calce isso antes que a senhora vadia mestra apareça por aqui – Kristie me entregou um par de botas que iam até meu joelho e olhou meu cabelo preso em um cuidadoso e elaborado coque sem ligas – Seu cabelo não ‘tá legal – ela franziu a testa e puxou o único grampo de uma vez fazendo com que minhas madeixas louras caíssem por minhas costas.

– Eu te odeio – resmunguei assim que consegui fechar o zíper da bota e me olhar no espelho.

– Você me ama – ela corrigiu com as mãos nos meus ombros – Mas não precisa fazer isso.

Era a décima quarta vez no dia que ela me falava isso e pela décima quarta vez eu bufei irritada.

– É aí que você se engana, eu preciso – torci o nariz passando a avaliar as roupas que estava vestindo.

Aquilo não podia ser considerado roupas, eram pedaços de pano que nem sequer cobriam o necessário. O vestido verde tinha um pequeno decote em “U” e as costas eram nuas, isso não me preocupou muito, mas o comprimento era simplesmente revelador e eu podia jurar que se eu me abaixasse cinco centímetros algumas pessoas poderiam ver o que simplesmente não deviam. As meias arrastão marcaram minha pele branca e a bota de couro sintético tinha um salto número quinze. O casaco me aqueceu e felizmente tapou minhas costas antes nuas me deixando um pouco menos exposta.

Que a sorte esteja do meu lado essa noite. Esse era meu único pedido enquanto seguia minha amiga morena para os fundos do bordel.

Senti toda a segurança se esvaindo de mim no momento em que pisei naquela calçada coberta de panfletos. Kristie me olhou de lado e com pena fez um gesto com a mão para que eu me aproximasse mais da parede de tijolos vermelhos onde a mesma estava escorada.

– Você ainda tem chances de sair correndo daqui e fingir que foi agredida – ela soltou de uma vez observando enquanto eu esfregava as palmas das mãos nos braços tentando me manter aquecida – Posso até fazer um rasgo na lateral do vestido e tudo mais – Kris deu de ombros e eu balancei a cabeça negando.

– Eu não posso – gaguejei passando a esfregar as mãos.

– Claro que pode – ela revirou os olhos e tirou as costas do muro – O café da próxima rua está precisando de atendentes – informa e segue desfilando até um carro que havia encostado entrando nele logo em seguida.

Revirei os olhos e continuei ali vendo o carro arrancar ao som de um feminino gargalhar malicioso.

Algumas das outras garotas haviam chegado e, com elas, um dos nossos responsáveis. Duas das que estavam mais próximas se afastaram para um canto enquanto observavam uma garota da frente ser puxada de forma violenta. Meus olhos se arregalaram assim que desferiu tapas no rosto da jovem arrastando-a para o beco aos berros.

Fechei meus olhos com força enquanto lutava para não ir ali e arrancar a garota dos braços dele seja o que for que ela tenha feito. Não me leve a mal, não sou barraqueira, apenas nunca concordei com maus tratos a qualquer ser independente. Cerrei os dentes e me esforcei para ignorar os gritos agoniados que viam lá de trás.

– Não faça isso – uma garota com roupas de couro ordenou e eu a olhei indignada. Como ela deixaria algo tão desumano acontecer?!

Arranquei meus sapatos jogando-os em qualquer lugar dando meia volta passando a marchar para o estreito beco.

O solo gelado e úmido fez com que eu me arrependesse da decisão de vir aqui descalça fazendo com que eu comece a desviar as cegas das garrafas e dos cacos de vidro espalhados que poderiam fazer um estrago feio se me cortassem. Aos poucos minha capacidade de ver foi desaparecendo conforme adentrava cada vez mais no lugar que fedia a urina e vômito.

Ouvi gritos e eu aumentei minha velocidade chegando finalmente conseguindo enxergar somente pela fraca luz de neon que estava acima das nossas cabeças. Desejei por um momento nunca ter esse senso de justiça nada autopreservador, desejei por um momento nunca ter saído de casa em um ato de rebeldia para procurar aquele que já não podia mais ser citado em casa com uma carranca.

A garota estava jogada no chão, o corpo já sem vida, com o pescoço mutilado por algum tipo de mordida por onde já não brotava mais sangue. Olhei atordoada ao redor a tempo de ouvir um baque surdo e logo o corpo do cafetão estava ao chão com sangue ainda jorrando da ferida.

– Meu Deus – as palavras saíram como um murmuro enquanto eu me virava pronta para correr.

E esse foi o maior erro da minha vida. Lá, em minha frente, estavam brilhando grandes orbes vermelhas.

A sorte agora parecia andar distante desde minha chegada já que a cada passo que eu recuava aquilo avançava, eu só conseguia pensar em todos os momentos que passei com cada pessoa amada desistindo imediatamente da minha busca agora sem futuro. Que ele me perdoe por desistir tão fácil assim, mas eu já estava ali completamente cansada e havia me entregado a tão doce escuridão.

E então, a dor começou.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Lua Minguante" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.