Entre as trevas e a luz escrita por magalud


Capítulo 4
Lembranças do passado




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Foi uma noite intensa em preparativos. Enquanto Helena dormia, sob efeito da Poção do Morto-Vivo, a Ordem da Fênix fazia uma reunião extraordinária em Grimmauld Place, para um número extremamente restrito de participantes. Foi um encontro tenso.

Após a reunião, quando já era manhã alta, Kingsley Shacklebolt voltou sua atenção para onde nunca saiu: Helena. Ele viu Tonks descendo as escadas após checar a condição da moça.

– Como ela está?

– Acordou há pouco e parece um pouco menos desorientada. Vai descer em breve. Mas ainda está muito chocada. Perguntou pelos filhos e por você.

– Eu?

– Você disse que iria avisar os filhos dela. – Tonks deu de ombros e abanou a cabeça, penalizada. – Ela parece tão assustada. Perguntou por você duas vezes.

– É óbvio que ela confia em você, Shacklebolt – disse Lupin, juntando-se a eles com Harry e Aberforth Dumbledore, o novo chefe da Ordem da Fênix. – E agora temos que protegê-la.

– O melhor modo de fazer isso é esconder a verdadeira identidade dela e de seus filhos. Precisamos trazê-los todos para cá. Isto é, se Harry concordar em hospedá-los aqui. Caso contrário, talvez eu consiga convencer Molly Weasley a ficar com os pequenos. Sabem como ela gosta de crianças.

Tonks indagou:

– Acha que é necessário? As crianças estão seguras na sua própria casa, já que ninguém sabe de sua existência.

– Até concordo com você, Tonks – admitiu Kingsley. – O problema é que Helena parece precisar da presença das crianças para se acalmar. Ela já está abalada com tudo que descobriu e ter seus filhos a seu lado pode ajudá-la a ter maior conforto. Ela é mãe e deu para ver que, sem o marido perto, ela passou a se dedicar quase que totalmente aos filhos.

– Eu amo muito meus filhos – interveio Helena, descendo as escadas e chamando a atenção de todos. – Mas também amo meu marido. Bom-dia a todos. Queria pedir desculpas por ontem. Eu me descontrolei.

– Não precisa se desculpar; é perfeitamente compreensível – assegurou Kingsley de maneira reconfortante. – Venha tomar seu café da manhã para podermos conversar com calma.

– Não estou com fome, obrigada. – Helena olhou para os presentes e seu olhar fixou-se em Aberforth. – Desculpe, mas o senhor me parece conhecido. Já nos vimos antes?

– Não, mas soube que conheceu meu irmão Albus. Albus Dumbledore.

Helena empalideceu:

– É... irmão do Prof. Dumbledore?

– Sim. – Ele lançou um sorriso tão doce que Helena lembrou-se ainda mais do Prof. Dumbledore, com uma dor no coração. – E também estou atuando como advogado de seu marido, já que ninguém mais quis o emprego.

Mais um golpe para Helena, que sentiu as pernas enfraquecerem. Kingsley a ajudou a ir até a cozinha no porão. Ela cochichou:

– Aquele... retrato... ainda está aqui?

– Nunca fomos capazes de remover o retrato da Sra. Black, que era a antiga dona dessa casa – explicou, tomando o braço dela e notando que estava muito trêmulo. – Ela provavelmente teria uma síncope se soubesse que seu filho deixou a casa para o jovem Harry.

Helena se sentou à mesa e sorriu para o rapaz:

– Meu anfitrião, não? Desculpe não ter podido me apresentar corretamente. Sou Helena Snape.

– Não, você é Helena Sharp – corrigiu Harry. – Não é nada seguro você exibir o nome Snape por aí, hoje em dia.

– É verdade – concordou Aberforth. – É importante para sua segurança que ninguém saiba quem você realmente é. Deve se acostumar a usar sempre seu nome de solteira.

Ela recebeu a xícara de chá que Tonks lhe trouxera, preocupada com outra coisa:

– Mas... se não souberem quem eu sou, como vão me deixar ver Severus?

– Como assim?

– Eu quero dizer, quando eu for visitá-lo na prisão. Não vão me deixar vê-lo se não souberem que eu sou mulher dele. – Houve um silêncio tenso. Ela olhou em volta ao ver os rostos admirados. – Falei algo errado? Vocês não permitem visitas de familiares nessa prisão de vocês?

– Bom... – Tonks parecia meio encabulada. – O problema é que as pessoas não costumam visitar ninguém em Azkaban, basicamente porque todo mundo tem pavor daquele lugar.

Harry assentiu:

– Nunca estive lá, mas conheço pessoas que já estiveram, e todos falam que é o lugar mais horrível que já estiveram. Realmente, não se faz visitas a Azkaban.

Helena parecia horrorizada:

– Então essa prisão é tão horrível assim? Quer dizer que ele está submetido a alguma condição subumana? – Ela sentiu a raiva subindo pelo pescoço. – Isso não é ilegal? Vocês não ouviram falar em direitos humanos?

– Calma, Helena. Azkaban é um lugar assustador, mas posso garantir que Severus não está sendo submetido a nenhuma tortura ou tratamento degradante.

– Pois eu quero ver por mim mesma. Assim que eu me comunicar com meus filhos e me assegurar de que eles estão bem, eu vou querer visitar meu marido. Por favor, precisam me ajudar a vê-lo.

Harry observou:

– Você parece confiar muito numa pessoa que mentiu durante anos.

– Você parece não gostar muito de Severus – observou Helena, por sua vez, com um pouco de rispidez. Ela imediatamente se corrigiu. – Desculpe, eu não quis parecer agressiva, mas posso sentir na sua voz.

– Bom, ele me perseguiu durante anos, dentro e fora da sala de aula. Ele odiava meu pai e entregou meus pais para Voldemort, que os assassinou quando eu era um bebê. Ele pode ter tido participação na morte de meu padrinho, antigo dono desta casa. E eu o vi matar o Prof. Dumbledore. Então, não, eu não gosto muito de seu marido.

Helena encarou os olhos do garoto, verdes como os seus, e disse, sem se intimidar:

– Ele é meu marido e pai de meus filhos. Essa casa é sua. Se minha presença aqui o incomoda, eu entendo. Posso ir para outro lugar.

Havia uma tensão desagradável no ar. Alguns dos presentes se mexeram em suas cadeiras, desconfortáveis. Kingsley notou que Helena não parecia disposta a se desculpar com Harry. Ela defendia seu marido e não queria pedir desculpas por isso. O rapaz também notou a determinação da mulher e tentou suavizar a situação.

– Não é nada disso – tentou explicar o Salvador do Mundo Bruxo. – Mas tenho dificuldade em sentir piedade de Severus Snape, e mais dificuldade ainda em confiar nele. Houve uma época que eu o teria matado se o encontrasse, sem pensar duas vezes. Desculpe, não é nada pessoal contra você ou seus filhos, mas Severus Snape nunca foi minha pessoa favorita. Se eu estivesse em seu lugar, eu estaria morrendo de raiva por ter sido enganado durante todos esses anos.

– Você não entende – disse Helena, com um suspiro. – Tudo que Severus fez foi pensando em nos proteger. Está claro que ele quis assegurar a nossa segurança em primeiro lugar e acima de tudo. Ele me deixou instruções detalhadas e disse que eu não me preocupasse.

– Faz sentido – assentiu Kingsley. – Ainda mais que, segundo Helena me revelou, Severus tinha uma tia, provavelmente uma tia bruxa.

A notícia foi uma surpresa para todos – inclusive para Helena:

– Bruxa? Não, isso não é verdade. Tia Moreen não era bruxa.

– As probabilidades são grandes porque ela era irmã de Eileen Prince, que se casou com Tobias Snape, o pai de Severus. Eileen era uma bruxa e ganhou prêmios em Hogwarts. Além disso, a tia Moreen tinha contato com o Prof. Dumbledore. Isso poderia indicar que ela era bruxa.

– Sim, ela tinha contato com ele, sim. – confirmou Helena. Kingsley viu Aberforth se mexer na cadeira, mas a moça continuou, dando de ombros: – Mas ela me dizia também que ela era rom e que tinha sido expulsa por seu povo quando era garotinha...

Lupin indagou:

– O que é rom?

– Cigano. Até ontem, eu achava que Severus também era cigano e que tinha ido procurar a tia escondido de seu povo. Eu não tinha por que não acreditar nessa história, já que Severus tinha hábitos estranhos, roupas exóticas, um ar misterioso e sabia tanto sobre ervas, plantas e coisas da natureza... – Ela deu um sorriso triste. – Eu costumava imaginá-lo com as carroças, à luz de uma fogueira no meio da floresta. Também sou uma criatura da floresta: sempre morei no campo, toda a minha vida. Achei que combinávamos muito desde que nos conhecemos.

Tonks sorriu para ela, pegando sua mão:

– Isso é muito romântico. Como vocês se conheceram?

Helena sorriu e Kingsley viu o rosto se iluminar, rejuvenescendo ainda mais.

– Ele salvou minha vida quando eu deveria ter mais ou menos a idade de Harry. Eu voltava da escola, de noite, e de repente fui cercada por umas pessoas encapuzadas que pareciam querer me assaltar ou me machucar. Estava escuro e eu não vi direito como eles chegaram, mas de repente, eles tinham me agarrado. Nunca fiquei tão assustada na minha vida. Acho que foi por isso que não vi quando Severus chegou, mas de repente aquelas pessoas começaram a cair desmaiadas. A pessoa que me segurava caiu, e eu estava tão apavorada que ia fugir dele, mas ele começou ali mesmo a colocar umas ervas nos meus machucados.

Perdida em pensamentos, ela sorria, mas de repente notou que todos a encaravam e subitamente sentiu-se encabulada:

– Falei algo errado?

Lupin, calado até então, esclareceu:

– Você fala a respeito de Severus de um jeito que normalmente não se ouve. Ele... não tem uma imagem muito boa entre nós. Mas não deixe que isso a interrompa, por favor.

– Fala do temperamento dele? É, eu sei. Logo descobri que ele era um homem genioso e de temperamento difícil. Naquela noite, ele me levou para casa, mas, de repente, ele caiu desmaiado. Foi quando nós descobrimos que ele tinha se ferido e estava sangrando muito. Chamamos um médico em casa e tudo.

– Nós?

– Meu avô era vivo nessa época e morávamos sozinhos no interior. Cuidamos de Severus o melhor que podíamos. Acho que foi aí que me apaixonei por ele. Mas era coisa de menina, de adolescente, entende? Vovô percebeu logo. Ele conversava muito tempo com Severus, procurando conhecê-lo melhor.

– E foi então que Snape mentiu sobre a história de ser cigano? – indagou Harry.

– Não – respondeu Helena. – Claro que não. Severus é um homem muito reservado. Foi mais tarde, aos poucos, que ele revelou seu passado. Ele não falava muito, mas ficou muito, muito fraco por causa da perda de sangue. Por isso passou um bom tempo conosco, hospedado lá em casa. Fui sua enfermeira. Eu achava que ele não prestava qualquer atenção em mim. – Ela sorriu e pareceu enrubescer um pouco. – Mais tarde, eu descobri que estava errada.

Embora Kingsley não achasse nada de muito extraordinário na narrativa sobre um romance envolvendo Severus Snape, ele se viu totalmente envolvido pelas palavras de Helena, prestando atenção nas expressões dela, na luz que emanava de seus olhos, nos sorrisos cada vez que ela parecia perdida ao lembrar os tempos passados. Ela realmente tinha um jeito cativante todo especial, e ele entendia perfeitamente que Snape tivesse caído por ela. Era um sujeito de sorte, aquele espião.

– Ele voltou para o seu lugar, mas veio visitar vovô uma vez, sem avisar. E outra. E mais uma. Passou a aparecer – não regularmente, mas já não era mais estranho vê-lo na propriedade.

– Vocês são fazendeiros?

– Vovô já teve uma fazenda. Criava gado, mas perdeu todo o rebanho, primeiro para suspeita do mal da vaca louca, depois para um surto de febre aftosa. Todos os animais tiveram que ser sacrificados. Foi um horror. Eu era muito pequena. Ele despediu todo o pessoal, vendeu uma parte da fazenda para pagar as dívidas e depois transformou a casa antiga em um B&B (bed and breakfast) para turistas. Eu também fazia produtos regionais para ajudar na renda: geléias, doces, quilts, tricô, crochê. Aprendi o ofício de hotel, porque vovô era viúvo e não tinha mais saúde para tocar o B&B. Até contratamos alguns empregados. Depois que vovô morreu, um vizinho comprou as terras. Eu já estava casada, morando com Severus em... – ela se interrompeu, consciente da curiosidade de todos – Bom, er, em outro lugar.

Kingsley notou que ela enrubescera por esconder o local de seu lar, mas Aberforth lhe deu razão:

– Muito bem, minha querida. Fez muito bem. Quanto menos pessoas souberem onde a família de Severus mora, mais seguros vocês estarão. Mas acho que preciso lhe esclarecer um pouco mais sobre a tia Moreen.

– Conheceu a tia Moreen? – Helena o olhou, espantado.

Aberforth voltou seus olhos muito brilhantes para ela com um sorriso doce:

– Não, infelizmente não tive o prazer. Mas eu sabia *sobre* a tia de Severus. Talvez eu possa esclarecer um pouco mais sobre ela.


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