Entre as trevas e a luz escrita por magalud


Capítulo 26
Dois sapos na soleira




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– Severus! – A voz de Helena estava uma oitava acima do normal, olhando para os dois repórteres transformados em sapos na soleira de sua porta, incrédula e chocada. – O que você fez?

– Foi só um feitiço. – Ele ainda estava rosnando. – Um feitiço simples. Muitas crianças bruxas conhecem.

– Você os transformou em sapos!

Atrás deles, a vozinha de London parecia excitadíssima:

– Lily, o papai transformou o cara num sapo!

Lily veio correndo também:

– Mesmo? Posso ver?

– Puxa, que legal, pai!

– Queria fazer isso com minha professora de Matemática... Depois você me ensina, papai?

Helena ficou chateada:

– Está vendo o mau exemplo? Crianças, não quero ninguém transformando ninguém em sapos! Muito menos sua professora.

– Posso transformar o Olof Alcher num girino? Ele vive me chateando.

– Ninguém vai transformar ninguém em sapo!

– Mas girino não é sapo, mamãe.

– Além do mais, o papai transformou...

– O papai vai restaurar os dois moços agora mesmo – garantiu Helena, num tom ameaçador. – Não vai?

– Eu não devia – rosnou Severus. – Como eles descobriram?

– Eles são repórteres, Severus. É isso que repórteres fazem: investigam coisas.

– Mas vão contar para todos. E aí outros repórteres virão!

– O que você vai fazer então? Transformar todos em sapos?

– É o que eles merecem!

– Olhe, por que não tenta negociar com eles? Prometa exclusividade, faça-os prometer que não vão tirar sua foto ou coisa assim.

Lily apontou:

– Aquele sapo está fugindo!

– Não o deixe sumir! Papai precisa dele para fazê-lo voltar a ser homem!

– Oba! – gritou London, correndo atrás do sapo. – Eu pego um, você pega o outro!

Mas Lily estava olhando para o céu, apontando:

– Ih, olha só, mamãe: acho que alguém tá achando que o jantar foi servido.

Odin, o falcão da família, tinha avistado dois apetitosos sapos e começou a voar em círculos perto da porta de entrada. Helena se apavorou:

– Pelo amor de Deus, Severus, transforme logo os dois sujeitos antes que eles virem comida de Odin!

– A ave é de rapina – explicou Severus, relutante. – É seu instinto caçar anfíbios e pequenos mamíferos. Mas, para dizer a verdade, eu ainda não vejo em que o sumiço desses repórteres seja uma coisa ruim.

– Severus, essa não é a melhor solução – disse Helena, enquanto as crianças corriam, excitadas, atrás dos dois sapos fujões. – Se nós sumirmos com esses repórteres, você sabe que mais virão!

London estava adorando a bagunça e, ao final de alguns minutos, as duas crianças tinham, cada uma, um sapo na mão, enquanto Helena estava tentando convencer Severus a devolvê-los a sua forma original. A comoção durou algum tempo, durante o qual sapos-repórteres coaxaram alto, tentando se livrar das mãos dos garotos. Odin também esperava ardorosamente que isso acontecesse.

O impasse não demorou muito. Ao menos, Severus se acalmou e restaurou os dois à forma humana, assim que as crianças foram para a cama. Os dois repórteres pareciam um pouco tontos, e Severus aproveitou-se dessa circunstância para dizer:

– Espero que estejam melhores agora. Vocês pareceram tontos.

– Hã?

– Eu perguntei se vocês poderiam adiar isso para meu escritório amanhã, e vocês disseram que sim.

– Mesmo?

Helena indagou:

– Tem certeza de que não querem um copo de água? Vai ver que foi o calor.

– Não, não, obrigado. Então... amanhã na Gamla Stan – a Cidade Velha, em Estocolmo?

– Isso mesmo. Mas não se esqueçam do nosso trato: sem fotos. Afinal, eu vou processar esse outro jornal e prometo não fazer isso com o de vocês se cumprirem o acordo.

– Claro, Sr. Engelsman, claro. Amanhã, então.

Eles entraram no carro e saíram, aparentemente mais refeitos do atordoamento. Ainda assim, não entenderam por que o grande falcão-gerifalte os seguia de perto, tão interessado. Odin apenas aguardava a ocasião em que os dois sapos tão apetitosos reaparecessem, e aí – jantar na certa!

Só depois que o carro sumiu de vista foi que Helena respirou, aliviada. Severus sussurrou:

– Assim que eles chegarem à entrada de Estocolmo, eles vão se esquecer de que estiveram aqui e vão desistir da reportagem.

– Outro feitiço? Severus!

– Não podia deixá-los chegar tão perto, não é? Eu não estava brincando quanto a processar o tablóide.

– Qual é o seu medo? Digo, o verdadeiro medo? É que isso chegue a Londres?

– Você sabe que sim. Aqui estamos fora do radar. Se aparecermos em jornais, alguém pode perceber onde estamos, e aí Londres saberá onde estamos. – Ele suspirou. – Talvez eu não devesse ter fundado o centro.

– Isso é bobagem. Não somos fugitivos. Você deixou a Inglaterra com permissão das autoridades. – Helena o abraçou. – Além do mais, você tem lido as mesmas cartas que eu. As coisas parecem estar mudando em Londres.

– Eu sei que você está tão entusiasmada quanto Aberforth...

Helena não o deixou completar:

– Não é só Aberforth, e você sabe disso. Harry escreveu dizendo a mesma coisa, e Hermione também; até Emma disse que o clima está diferente. Além disso, Kingsley tem mandado as matérias dos jornais bruxos. Aquela moça, Luna Longbottom, está preparando um livro sobre a guerra. Severus, o mundo bruxo está repensando os anos de Voldemort e está também descobrindo coisas sobre os fatos daquela época. Incluindo a sua participação na guerra.

– Se você usar a palavra reabilitação...

– Eu sei que você não acredita nisso, e também acho que talvez não devamos pensar nisso tampouco. Não sei se você será perdoado, Severus. Até mesmo porque não sei se algum dia você vai se perdoar, mas isso é outro assunto. O assunto agora é que talvez não precisemos ficar aqui se não quisermos. Não estou dizendo que vamos voltar, estou apenas dizendo que, se resolvermos ficar na Suécia, será porque queremos ficar aqui. Nunca por força das circunstâncias, Severus. Por nossa vontade.

– Mas podemos um dia ser obrigados... Ser forçados...

– É isso que teme? Que tenhamos que nos mudar de novo?

– Estou pondo você e as crianças em perigo. Minha culpa.

– Mais bobagem sua. Não estamos em perigo.

– Mas um certo Squib que eu conheço, está – garantiu Severus.

– Vai culpar Toven por isso? – disse Helena, referindo-se ao homem com quem Severus costumava despachar na botica. – Ele cuida bem de seus negócios. Nos últimos anos, você só tem se preocupado com o aspecto da botica. Toven até está expandindo a marca Engelsman para fora da Suécia.

– Ele deveria aparecer num caso desses; ele é o testa-de-ferro para o centro. Droga, acho que vou ter que reforçar Feitiços de Desilusão e outros disfarces no centro.

– Mas você não vai parar, não? Digo, não vai fechar o centro, vai?

– Não, não posso fazer isso com Draco e os demais.

– Bom, se algum dia quiser convidar esse seu amigo misterioso Draco para jantar, ou coisa parecida, ele será bem-vindo. Aliás, haverá em breve uma ocasião perfeita para isso.

Severus a encarou:

– Uma ocasião perfeita? Do que está falando?

Helena o encarou, com um sorriso inocente:

– Hum, eu já mencionei que teremos visitas no verão?

Severus ergueu uma sobrancelha.

Que visitas?


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