Os Próximos Três Dias - Hayffie escrita por F Lovett


Capítulo 20
Lembranças


Notas iniciais do capítulo

OLAR MORECOS ♥

Eis o capítulo das referências! Haha, é não... é só o título mesmo, porque o capítulo ta bem leve e o PAPAPUM que eu ia colocar aqui (que acredito que seja algo que provavelmente todos estão esperando), virá só no próximo xD

É isso, gente. Vou deixá-los com o capítulo.

Boa leitura! ;)



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Somos tomados por um ar de felicidade após a notícia sobre o casamento. Katniss e Peeta parecem finalmente viver em harmonia e, sinceramente, espero que eles tenham resolvido o problema que os incomodava – principalmente Katniss. 

Após o suposto pronunciamento de Caesar em seu programa a respeito de Haymitch e eu, resolvi retornar a ligação de Octavia e ouvir seu intermináveis gritos. Coisas como "você não me considera sua amiga" foram bem audíveis na ligação, mas logo após eu dar todas as explicações que ela precisava, pude ouvi-la me dizer que, apesar de não ter ficado sabendo quando deveria, nos deseja toda a felicidade do mundo. 

Apesar de tudo, é impossível dizer que não senti uma pontada de inveja com o que está acontecendo com o "casal desafortunado". Não uma inveja ruim, é claro. Mas quando paro para pensar em quanto tempo eu e Haymitch... 

— Haymitch – digo, voltando dos meus devaneios.  

Estamos sentados no sofá assistindo a um filme de comédia, o que parece entreter Haymitch. Ele murmura um "hm" ainda olhando para a TV. 

— Há quanto tempo estamos juntos? - indago e isso parece chamar sua atenção. Ele me fita e depois seu olhar cai para o chão, pensativo. 

— Quatro anos – ele responde após poucos instantes pensando. 

É muito tempo. É tempo demais. O que me faz concluir que tive quase 3 anos "apagados" enquanto ele lembra de tudo, de cada detalhe, de cada momento. Seu semblante cansado não é apenas dos Jogos, é de tudo que aconteceu depois. De tudo que teve que passar, que fingir. 

Continuo fitando-o, como se esperando que ele diga mais alguma coisa. Ele parece notar e prossegue: 

— Foi nos Jogos que antecederam os dos garotos – ele diz e seu rosto se ilumina um pouco com a lembrança e um pequeno sorriso surge em seus lábios. - Estávamos quase descendo para a festa de encerramento e você estava demorando demais para sair do seu quarto – ele conta com o olhar distante. Forço-me a tentar lembrar de algo desse dia e alguns borrões surgem na minha mente, então concentro-me em apenas ouvi-lo. - Eu geralmente não demoro a me arrumar, já você... Bem, você tem um histórico - acrescenta e reviro os olhos. 

"Você estava agoniada porque sua peruca não estava combinando com seu vestido. Estava com uma peruca azul e o vestido era um tom escuro de lilás, era quase roxo. Você estava linda, mas não achava isso." 

Enrubesço perante seu comentário e tento me concentrar. 

— Eu cheguei no seu quarto e disse "eu não sei se você sabe, mas a festa já começou" - ele conta.  

Faço um pouco mais de esforço enquanto ouço suas palavras. Sou tomada rapidamente por alguns devaneios. 

Meu reflexo no espelho não era exatamente o que eu gostaria de ver naquela noite. Aquela combinação de cores não me agradou o suficiente e o guarda-roupas disponível parecia não ter absolutamente nada agradável.  

Haymitch estava parado bem à porta do meu quarto, dizendo que a festa já havia começado. Bufei de impaciência e me virei na direção oposta ao espelho, de frente para ele. 

Eu não vou sair parecendo um trapo - protestei. - Gosto de preservar a minha... imagem. 

Voltei—me novamente para o espelho e, pelo reflexo, o percebi se aproximar. Ele não tinha aquela cara emburrada de sempre. Havia um pequeno sorriso nos seus lábios. 

Vamos logo – ele insiste, deixando seu rosto chegar bem próximo ao meu ouvido. - É a última festa. 

— Tínhamos descido para aproveitar o que ainda tinha, já que você decidiu se atrasar dessa vez – ele prossegue e espero que não tenha percebido meu devaneio nesse meio tempo. - Mas eu acabei bebendo mais do que deveria, como de costume – acrescenta quando lanço um olhar desconfiado na sua direção. - E você teve que me ajudar a voltar ao décimo segundo andar do prédio dos tributos. 

Carreguei um Haymitch embriagado até o seu quarto e o joguei de qualquer jeito em cima da cama. Uma total falta de modos, é claro, mas considerando o seu peso e a distância que precisei percorrer enquanto o segurava, isso era mais do que uma gentileza. 

Tudo bem, Effie. Acho que daqui eu posso fazer sozinho – ele disse parecendo voltar a si e agradeci mentalmente por ele não ter apagado. 

Haymitch se apoiou nos cotovelos e fez uma careta, reprimindo um gemido de dor. Estava fazendo muito esforço para manter o equilíbrio. 

Você precisa de um banho – alertei enquanto ele ainda lutava para se levantar sozinho. - Vamos – disse, estendendo-lhe uma mão.  

Ele me encarou por alguns, desconfiado. Mas acabou cedendo. Acabei ajudando-o a ir até a banheira, onde ele sentou com roupa e tudo. Ela estava seca. 

Sua gravata já estava frouxa e eu o ajudei a retirá-la. Assim como seu terno, seu colete e a sua camisa. Ele não me repreendeu por estar fazendo aquilo, pois sabia muito bem que, se eu o deixasse sozinho, provavelmente acabaria dormindo ali mesmo.  

Era a terceira vez que aquilo acontecera em uma semana. 

Enquanto tratava de retirar sua calça, Haymitch soltou uma breve risada, mas nenhum comentário escapou da sua boca. Isso me fez acreditar que ele não estava tão bêbado assim. Quando retirei a peça, decidi me levantar para sair, deixando-o tomar seu banho sossegadamente. Eu já exausta e precisava de um banho também. Mas quando me levantei, sua mão segurou o meu pulso, impedindo-me de sair. 

Obrigado – ele disse antes de afrouxar o aperto. Havia um pequeno sorriso em seus lábios. 

Vou ver se consigo algo para você beber – eu disse e o sorriso em seus lábios aumentou. - Sem álcool - acrescentei, vendo sua empolgação se esvair, o que acabou me divertindo. 

Eu sabia que ele iria demorar no banho, então tratei de me apressar em tomar o meu e assim que terminei fui até o quarto dele apenas para me certificar de que ele ainda estava na banheira. Bati três vezes na porta do banheiro e o chamei, ouvindo-o me responder, confirmando que não havia caído no sono. Separei seu pijama no guarda-roupas e o coloquei em cima da cama. Depois fui até a cozinha, onde agradeci por ainda haver café pronto. Servi duas xícaras, coloquei numa bandeja e as levei ao quarto dele. Deixei a bandeja na mesinha de cabeceira e o chamei novamente. 

Já terminou? - perguntei. 

Já - respondeu. Peguei seu pijama e fui até a porta do banheiro. 

Você está de toalha, não é? 

A risada de Haymitch soou bem audível e então ele abriu a porta. Tentei não deixar meu olhar vacilar, mas foi difícil. Voltei a mim rapidamente e entreguei seu pijama, o que ele recebeu ainda sorrindo e voltou a encostar a porta para se vestir. Logo ele saiu do banheiro e aparentemente estava bem melhor. 

É melhor você tomar antes que esfrie – eu disse, já me servindo com café. Haymitch logo sentiu o cheiro e fez uma careta, mas provavelmente já cogitava que era isso mesmo o que eu acabaria trazendo. Pelo menos e não discutiu e tornou a beber. Ele sentou ao meu lado e me lançava olhares algumas vezes, o que acabou me fazendo corar. Ainda bem que a luz não estava no máximo ou ele viria tudo.  

Gosto do seu cabelo assim – ele comentou assim que terminou de tomar o seu café, colocando sua xícara de volta na bandeja, o que ele acabou fazendo com a minha em seguida. - Fica muito melhor desse jeito. 

Revirei os olhos  e balancei a cabeça. 

Você tem que dormir – lembrei a ele, tentando não dar continuidade àquele assunto. Mesmo que eu gostasse de ouvir aquilo dele, eu não tinha certeza de que ele estava, de fato, sóbrio, apesar dele ter mostrado alguns sinais disso.  

Haymitch me obedeceu sem protestar. Puxei o lençol e o deixei deitar-se na cama. Foi quando ele me segurou novamente.  

Fica aqui, por favor – pediu com aqueles olhos suplicantes. Ele não precisou pedir mais uma vez. 

Tudo bem – respondi, indo para o outro lado da cama. Devido ao frio, não retirei o robe e puxei o lençol.  

Haymitch continua falando e seu olhar está distante. Ele está concentrado. 

— Você estava deitava do meu lado e naquela hora tínhamos apenas a luz do abajur – ele prossegue. - Eu disse que me sentia péssimo por colocar você numa situação assim sempre. 

"Eu acho que me acostumei", ouço essa frase na minha mente e sei que eu disse isso a ele, tendo a confirmação quando ele continua falando o que houve naquela noite. 

Uma sensação estranha toma conta de mim, uma ponta de esperança de que um dia eu consiga me lembrar de tudo. Mordo o lábio com essa possibilidade na cabeça, ainda prestando atenção no que ele está contando. 

— Você me disse que tinha pensado sobre você e eu, mas que eu merecia coisa melhor - ouço-me dizendo e o pego de surpresa. Haymitch me observa atentamente enquanto continuo falando. - E eu disse que talvez aquilo fosse o meu melhor e que nunca saberíamos se não tentássemos. 

Haymitch se deixa sorrir e isso acaba me deixando um pouco mais feliz. É bom deixar claro que essa lembrança não é só dele e, mesmo que pareça que eu tenha perdido tudo, talvez consigamos recuperá-las. 

Estou sentada de lado, as pernas encolhidas sobre o sofá e a cabeça encostada no móvel. Uma dor na cabeça surge e começa a latejar um pouco, mas não chega a me incomodar tanto. Haymitch parece notar. 

— O que foi? - pergunta. 

— Só uma dor de cabeça - digo, tentando fazer com que ele não se preocupe. 

— Deve ser o esforço - ele deduz. - É melhor não forçarmos com frequência. Deixe as lembranças virem, talvez seja melhor. 

— Eu vou tentar – digo com um sorriso ladino. 

O filme termina e Haymitch volta para a TV, mudando aleatoriamente os canais, até parar no programa de Caesar. Ele parece ser a única pessoa na Capital que ainda insiste em usar cores vibrantes e não se envergonha disso. Mas, de fato, nunca tentei sequer imaginá-lo "normal". 

É quando eu percebo o que chamou a atenção de Haymitch a deixar neste programa: nossa foto está no fundo. É uma foto antiga, provavelmente da época dos jogos, e ao lado dela há outra que, quando aperto os olhos para tentar identificá-la, percebo que é de quando estivemos na Capital pela última vez, quando recebemos a carta de Plutarch e fomos ao prédio dos tributos em busca de respostas ao meu diagnóstico. 

Pelo visto tinha alguém que nos reconheceu naquele dia e não perdeu tempo em tirar uma foto. Estávamos abraçados, bem na frente do prédio e concluo que tenha sido exatamente no momento em que minhas pernas travaram e eu achei que não conseguiria entrar. 

— Pelo visto o Distrito 12 é o distrito dos casais – ele comenta, seguido pela sua risada extravagante. - Recebemos esta foto de um telespectador que tem certeza de que os viu na Capital há pouco tempo. 

"O amor é lindo mesmo, não acham?", ele pergunta para a plateia, que confirma. "Vamos tentar contato com eles novamente e, assim que conseguirmos, mostraremos a vocês." 

— Eles vão vir atrás da gente – digo com o olhar preso na TV. 

— Se é que eles já não estão aqui – Haymitch resmunga. 

Suspiro, cansada, e apoio minha cabeça nas mãos.  

Pela primeira vez não fiquei nem um pouco feliz em ver o meu rosto na TV.


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Notas finais do capítulo

Comentem e deixem a Lovett feliz! ♥