Os Próximos Três Dias - Hayffie escrita por F Lovett


Capítulo 16
Meu maior medo


Notas iniciais do capítulo

ALOU MORES ♥

Bom, não to num clima bom pra escrever coisas legais aqui porque ontem perdemos um dos maiores atores que o cinema já teve. Ainda quero acreditar que a morte do Alan foi um pesadelo do qual eu vou acordar, mas ta difícil :(

Enfim, o capítulo saiu meio curto, mas espero que gostem. O final ta bem fofinho.

Boa leitura! ;)



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Haymitch caminha a passos lentos enquanto me concentro nos meus próprios pés, murmurando para mim mesma que posso manter o controle. Somos tomados por uma sombra enorme e deduzo que entramos no prédio. O cheiro daqui não é mais o mesmo e acredito que seja por conta da tal reforma. Sinto uma vontade muito grande de levantar o olhar, mas me contenho, segurando a mão de Haymitch com um pouco mais de força, sentindo-o retribuir.

Me concentro em prestar atenção na sombra de Plutarch a minha frente e paro após ele fazer isso.

– Vou deixar vocês irem na frente - ouço-o dizer. - Dr. Aurelius ficou de enviar uma equipe para o caso de precisarmos, só por precaução - acrescenta e engulo em seco. - Qualquer coisa, sabem meu número.

Assinto com a cabeça, ainda olhando fixamente para o chão. Vejo os pés de Plutarch se aproximando de mim.

– Isso aqui é um microchip – ele diz, mas não levanto muito o olhar. - Vou colocá-lo na sua nuca. Ele não é injetável. Poderemos captar qualquer atividade diferente que seu cérebro possa sofrer enquanto estiver aqui.

Concordo com um menear de cabeça e, após senti-lo pressionar algo na minha nuca, vejo-o se afastando de nós, e então Haymitch me conduz para o lado oposto, até pararmos e eu o ouvir apertar um botão.

– Acho que está tudo bem agora – Haymitch diz e aguardo um pouco mais até levantar o olhar, assim que percebo o solo se elevar.

Estamos no elevador. E o painel a minha frente mostra que estamos indo ao 12º andar. De alguma forma, isso acaba me tranquilizando um pouco e a tensão que me consumia até então se esvai.

Fecho os olhos e respiro fundo, encostando na parede atrás de mim.

Haymitch volta a segurar a minha mão, entrelaçando nossos dedos dessa vez. Me prendo a elas por rum bom tempo até finalmente levantar meu olhar e vê-lo. Ele parece um pouco mais aliviado agora, assim como acredito que eu também esteja.

Ainda delicadamente, mantenho minha mão segura a sua, até que me aproximo dele e encosto os nossos lábios. Ele hesita de início, mas se deixa levar assim que, com a mão livre, toco o seu rosto. Haymitch larga a minha mão e se concentra em manter as suas no meu quadril enquanto aprofundamos o beijo. Ele volta a me encostar na parede e acabo arfando com o impacto. Ele deixa escapar um sorriso entre os beijos e permanece me pressionando contra a parede. Mas, mesmo assim, consigo perceber que ainda está um pouco cuidadoso, receoso que, de alguma forma, eu reaja mal.

Interrompo o beijo e dou de ombros, vendo que o painel mostra que estamos no 11º andar. Mordo o lábio e mantenho Haymitch ainda próximo a mim. E, quando a porta se abre, levo dois segundos até caminhar para o lado de fora, deparando-me agora com o andar do Distrito 12, a cobertura.

Caminho à frente, olhando ao redor, tentando identificar qualquer mudança que tenha sido feita aqui, mas não encontro absolutamente nada. Está tudo exatamente igual como da última vez em que estive aqui. Não sei que tipo de reforma está sendo realizada no prédio, mas acredito que esteja sendo feita apenas na sua parte exterior.

Chego ao sofá e paro atrás do móvel. Apoio-me nele e, quando dou de ombros, uma figura me assusta. Uma avox, uma pequena avox, me olha atentamente. E, de alguma forma, também não consigo tirar os olhos dela, embora boa parte do seu rosto esteja escondido. Ela dá um passo na minha direção e, automaticamente, recuo. Continuamos paradas, ainda sem dizer uma palavra, até que sou surpreendida quando ela é puxada por mãos agressivas, que identifico como de um pacificador. Ela tenta gritar, pedir ajuda, mas não consegue. Ela não pode. Ela não emite som. É apenas uma avox. Ela é arrastada e, indefesa, começa a receber golpes pesados. Até que ele retira uma faca da sua lateral e faz alguns cortes nela, sendo o último deles no pulso. Ao ver a cena, o meu próprio chega a arder e vejo a minha cicatriz. Está latejando. Está voltando, tudo está voltando a minha mente.

Eu me vi naquela avox. Era eu. Torturada e sem chances de ser ouvida. E por mais que eu gritasse, ninguém me ouviria, da mesma forma que ela queria gritar e não podia.

A recordação daqueles dias vêm à tona e não consigo mais conter as lágrimas. Caio de joelhos no chão e sou tomada pelos meus próprios soluços. Eu posso sentir a sua dor e a sua angústia, em busca de uma ajuda que não chegou.

Que, no meu caso, tardou a chegar.

Algo sacode o meu corpo e quando recobro os sentidos percebo que Haymitch está tentando me despertar. Ele me segura firmemente pelos ombros, parecendo aflito.

– Ei – ele diz e sei que está tentando me fazer ouvi-lo a um bom tempo. Volto a mim, ainda ofegante, sentada no chão. Me adianto até ele e imediatamente sinto-o me envolver num abraço reconfortante. Estou tremendo ainda mais do que quando chegamos aqui e agora as lágrimas tomaram conta do meu rosto. - Ninguém vai machucar você.

Ouço passos vindos de fora e em seguida vejo Plutarch acompanhado do Dr. Aurelius e mais duas pessoas que acredito que sejam da sua equipe. O médico traz algum tipo de prancheta digital e, quando me vê, seu rosto se ilumina de uma forma estranha.

– Identificamos sua última crise e pude tirar minhas conclusões a respeito do diagnóstico - ele diz e franzo o cenho, acreditando que ele poderia tentar ser um pouco mais direto. Ele volta sua atenção ao equipamento nas suas mãos e, enquanto isso, Haymitch se encosta no sofá e me puxa para perto novamente.

– Você pode ir direto ao ponto – Haymitch resmunga ao meu lado, como se lesse meus pensamentos. Plutarch abre um dos seus frequentes pequenos sorrisos de simpatia.

Dr. Aurelius suspira, como se estivesse impaciente com o fato de terem interrompido seu raciocínio.

– Tudo bem – ele diz depois de um tempo. Após arrumar os óculos no rosto, prossegue: - O alvo da sua tortura foi o medo. No caso do Peeta, todas as lembranças que se referiam a Katniss foram modificadas, de modo que ele a visse como uma ameaça. No seu caso, as modificações foram na gravidade do medo que certos momentos lhe causaram. Eles aumentaram significativamente o impacto que seus medos te causam. Principalmente enquanto foi torturada aqui. Essas acabaram se tornando as mais frequentes, estou certo? - ele indaga e, à medida que as palavras vão saindo da sua boca, as peças vão se encaixando na minha cabeça.

– E quanto a Haymitch... - começo a dizer e me interrompo. Agora tudo parece estar claro. Dr. Aurelius encontra o meu olhar e assente com a cabeça.

– É exatamente isso que você está pensando – ele confirma e eu suspiro, sentindo um certo alívio, um peso sendo retirado das minhas costas.

Fico olhando fixamente para um ponto distante durante um tempo enquanto assimilo tudo.

– Eu preciso... preciso subir um pouco – digo e me levanto, ouvindo um "ei!" de Haymitch logo em seguida. Não me viro nem respondo, apenas continuo seguindo meus passos até o terraço. Sei que ele virá de todo jeito, agora ou depois. E, de qualquer forma, quero que ele venha.

Após subir as escadas, me vejo na cobertura aberta do prédio dos tributos. A vista que tenho da Capital daqui de cima é esplêndida e me faz lembrar um dos motivos que sempre me fez ficar aqui durante os jogos. Durante a noite as luzes são acesas e a vista fica melhor ainda. Ao, pelo menos, ficava. Hoje não deve ser a mesma coisa. Pode ainda ter luzes, mas não como antes. Nunca, na verdade.

– Effie! - ouço a voz de Haymitch atrás de mim, confirmando que eu já sabia que ele acabaria vindo. Seus passos chegam cada vez mais perto, mas não me viro. Continuo debruçada, sentindo a brisa brincar com as poucas madeixas que estão soltas.

Ele chega ao parapeito e se debruça ao meu lado.

– Você sempre gostou daqui – ele diz.

– Eu sei.

Com o canto do olho vejo Haymitch dar de ombros e faço o mesmo.

– E o que você disse lá embaixo... - ele prossegue. - E quanto a mim...?

Passo a língua nos lábios e me afasto um pouco do parapeito, até ficar de frente para Haymitch.

– É uma questão de lógica - digo. - É como juntar dois mais dois. Se o efeito do veneno em mim foi de aumentar a gravidade dos meus medos, o que aconteceria com o maior deles? - indago sem aguardar uma resposta. - Se concretizaria. Foi por isso que eu esqueci de muita coisa sobre nós, Haymitch.

– Então o seu maior medo é...

– É perder você - completo antes que ele. Ficamos nos olhando por um tempo sem dizer uma palavra sequer, até que Haymitch me envolve num abraço, encostando a cabeça no meu ombro. Não sei quanto tempo se passa enquanto estamos assim, só sei que é uma ótima sensação.

Tomamos um pouco de distância e então ele põe uma mão no meu rosto, trazendo-o para si. Nossos lábios se encontram levemente num beijo delicado. Eu me sinto mais leve agora e o tremor já havia parado. Voltamos a nos abraçar, quando ouço-o sussurrar no meu ouvido:

– Você nunca me perdeu, Effie. E nunca vai perder.


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Notas finais do capítulo

Comentem e deixem a Lovett feliz ♥♥