Orgulho Ferido escrita por Mari May


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Primeira vez que escrevo yaoi. Não sei de onde surgiu a inspiração, haha! Espero que gostem. 8D'



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Deitado sobre a relva próxima ao riacho que costumava visitar, o pequeno Hashirama cochilava com os braços cruzados atrás da cabeça. A luz do sol aquecia seu rosto, e o som da água fluindo era praticamente uma canção de ninar.

De repente, o instinto shinobi colocou seu corpo em alerta: sentiu alguém respirando por cima dele e, subitamente, abriu os olhos.

– Aaah! – a figura, agora não mais misteriosa, exclamou.

– Madara?

O Uchiha, que estava sentado ao seu lado, inclinou o corpo para trás ao ser surpreendido.

– Que droga! E-eu... Queria te assustar! – afirmou, corado, evitando cruzar seu olhar com o do Senju.

– Me assustar? – o outro, sorrindo, virou o corpo em sua direção, apoiando-se no cotovelo – Era mais fácil gritar ou, sei lá, até me chutar, do que ficar me encarando com o rosto tão perto do meu, não acha?

– Eu não fiquei te encarando! – Madara rebateu.

– Ah, não? E o que fazia em cima de mim?

– Q-quem disse que eu estava em cima de você?!

– Sua respiração.

– Você sonhou!

– Era um sonho bem realista, pelo visto...

– Argh, esquece isso, Hashirama! Volte a dormir.

– Agora, não dá mais.

– Por quê?

– Bom... – foi a vez dele ruborizar – Eu só dormi porque... Sem você aqui... É meio entediante. E você demorou pra chegar hoje.

Um silêncio de poucos segundos, naquele instante, pareceu uma eternidade.

Madara estremeceu levemente, e disse:

– Não queria atrapalhar seu sono.

– Ei... Não tem problema. – ele pôs a mão em seu ombro – Vamos treinar? Ou você quer discutir sobre nossa futura vila?

Só então o Uchiha conseguiu fitá-lo.

– Você nunca deixa de se empolgar com isso, não é? – sorrir foi inevitável.

– Claro que não! Se não fosse por você, eu nem poderia levar essa ideia adiante. Serei eternamente grato. Mesmo que... Ainda não possa saber seu sobrenome. – ele coça a cabeça, sem esconder a frustração.

– Talvez... Seja melhor nunca saber mesmo.

– Por quê?

– Se formos de famílias inimigas...

Ele não completou a frase, mas Hashirama entendeu.

– Eu nunca vou deixar de ser seu amigo, não importa o que aconteça.

– Como pode garantir isso?

– Porque eu não vou querer.

Madara soltou uma risada com vestígios de melancolia.

– Você tem certezas estranhas.

– E você é pessimista demais. – ele se levanta e estende a mão para o Uchiha – Vem, hoje vamos apostar corrida perto do riacho!

Apenas sorrindo, o outro menino segurou sua mão, ficando em pé também.

Mal sabiam que, assim que voltassem para casa, seus respectivos pais revelariam o sobrenome um do outro.

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Madara, aos dezesseis anos, tomava banho na lagoa que ficava a alguns metros de onde sua tropa acampava. Havia sido nomeado líder do clã Uchiha recentemente, e preferia que todos se banhassem antes dele para ter um momento sozinho após um dia estressante, onde só se discutia estratégias para a luta iminente contra os Senjus.

Cada vez que estava prestes a reencontrar Hashirama, mesmo apenas no campo de batalha, sentia uma emoção diferente comparada às demais lutas. E não era apenas pela rivalidade natural entre Uchihas e Senjus: era algo próximo de... Saudade. Talvez dos velhos tempos, onde eram apenas duas crianças passando o tempo juntos enquanto adultos idiotas só sabiam brigar uns com os outros.

E, agora, eram eles os adultos idiotas.

Mas precisava proteger seu clã. Proteger da fúria daqueles Senjus arrogantes.

Mesmo que, no fundo, soubesse que Hashirama era diferente.

– Droga... – ele leva a mão ao peito – De novo meu coração batendo forte só de pensar nele. Argh... Não posso perder!

Saiu da água para se enxugar e colocar a roupa com a qual dormiria.

Aproximando-se de sua tenda, pôde ouvir uns murmúrios na tenda ao lado, que era maior e abrigava mais homens.

Cuidadosamente, escondeu seu chakra e aproximou-se para ouvir:

"Você? Com uma garota te esperando na volta? Duvido! Hahahaha!"

"É verdade! E ela é linda!"

"Sei... Aposto que só deu em cima de você porque nosso líder a rejeitou."

"Como é que é?!"

"Pior que não duvido. Ele sempre foi popular, e ficou mais ainda desde que virou líder do clã. Mas ele nunca aceita sair com ninguém."

"Dizem que ele é tão focado no trabalho que não quer maiores distrações."

"Bom... Pode ser... Mas ainda há uma outra possibilidade."

Pausa.

Madara, do lado de fora, sente o rosto queimar de tão vermelho.

"Ele?! Aaah, não! Que isso! Sai pra lá!"

"Vai ver é por isso que ele prefere tomar banho sozinho... Hehe!"

"Credo! Pára com essa merda! Nosso líder não é assim!"

"Então, como você explica a rejeição a tantas meninas numa idade onde os hormônios estão à flor da pele?"

"Talvez ele só goste de uma única pessoa e não teve a chance de ficar com ela."

"Será que ele é tão romântico por trás da cara amarrada?"

"Shhh! Não fale assim! Ele pode não ser a simpatia em pessoa, mas faz de tudo por nosso clã!"

"É... Você tem razão. Mas tem algo estranho nele."

Madara decidiu não ouvir mais nada e adentrou em sua tenda.

Não queria se importar tanto com o que acabara de ouvir. Mas se importou. E, de todos os comentários, aquele que mais martelou em sua cabeça foi:

"Talvez ele só goste de uma pessoa e não teve a chance de ficar com ela."

– Cacete... – murmurou – Não pode ser...

Enquanto isso, hospedado numa pensão da cidade mais próxima ao acampamento Uchiha, estava Hashirama, há seis meses eleito o novo líder do clã Senju.

Uma menina que conhecera no mesmo dia dormia profundamente sobre seu colo, e apenas um lençol cobria a nudez de ambos.

Porém, não se sentia satisfeito.

Nunca se sentia.

Por mais que tentasse saciar aquele vazio em seu peito, era em vão.

Nessas horas, a lembrança da respiração de Madara misturando-se à sua sempre aparecia, por mais que tentasse esquecer.

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Alguns anos se passaram e, após grandes desentendimentos e perdas entre Senjus e Uchihas, Hashirama e Madara selaram um acordo de paz e fundaram a Vila Oculta da Folha, ou Konoha.

Sendo assim, puderam retomar a amizade de antigamente, e se viam praticamente a semana toda.

Um dia, no final da tarde, Madara foi à casa de Hashirama para conversar sobre questões burocráticas.

O Uchiha ajoelhou-se perante a mesinha da sala, de costas para a entrada do quintal, e o Senju apareceu trazendo chá.

Ajoelhou-se perto dele, e brincou:

– Ainda não me conformo que sua inspiração para o nome da nossa vila tenha sido uma folha esburacada...

– Cale-se. Se dependesse de você, aqui se chamaria "Vila Oculta da Depressão".

– E-ei! Não é bem assim! – ele abaixa a cabeça, frustrado.

– Viu?! É disso que eu estou falando! Quem aguentaria um negócio desses?!

– Você é cruel...

– E você é idiota.

– Hunf... – ele deixa de falar e serve o chá, bebericando logo em seguida – E então? Como está a construção da Academia Ninja? Passei o dia todo avaliando os projetos do hospital e não pude passar lá.

– Está indo bem, tudo nos conformes. Nada a reclamar. – ele também bebe o chá.

Outros assuntos foram debatidos, até que Hashirama recostou-se na parede atrás dele.

– Ah... Tenho tanto orgulho do que fomos capazes de fazer, Madara! Não só paramos com aquela rixa ridícula entre nossos clãs, como criamos essa vila! – ele o encara – Foi o destino que te colocou no meu caminho!

Tais palavras fizeram o Uchiha ruborizar, e seu coração acelerou.

– Como... Você...

– Hum?

– Como você consegue dizer coisas tão embaraçosas como se não fossem nada?! – ele olhou na direção oposta ao Senju.

Numa fração de segundos, Madara sente um corpo jogando-se contra o seu, fazendo-o cair para trás.

– E-ei, o que está fazendo?! – indagou, arregalando os olhos.

As mãos do moreno de cabelo liso apoiavam-se no chão, com o pescoço de Madara entre elas, e a expressão em seu rosto era enigmática.

Agachou-se lentamente, encostando seu corpo ao do moreno de cabelo arrepiado, apoiando-se agora sobre os braços, prendendo o rapaz abaixo dele.

Então, com a boca próxima à lateral dos lábios de Madara, o Senju sussurrou:

– Estou apenas devolvendo o que você fez anos atrás.

– Quê?! Do que você está falando?!

O sussurro seguiu para seu ouvido:

– Posso ser idiota para muitas coisas, Madara, mas você acha mesmo que não percebi o que você tentou fazer? – uma de suas mãos desceu pelo pescoço dele – Eu só queria ver se você ia admitir alguma coisa, mas... Esse orgulho Uchiha é outra coisa que precisa ser trabalhada, não acha?

– Hashirama... - sua voz transparecia a irritação de um orgulho ferido.

Agora, o sussurro vinha sobre o pescoço.

– O que pretendia fazer naquela época, Madara?

Ele sorriu, puxando o cabelo de Hashirama para trás, obrigando-o a fitá-lo:

– Com certeza algo muito mais inocente do que faria agora, se você continuar nesse joguinho imbecil.

Hashirama sorri de volta.

– E se eu quiser continuar?

Num movimento rápido, Madara puxa-o pela nuca, aproximando seus rostos e deslizando sua língua para dentro da boca dele, beijando-o como gostaria de ter feito há tempos.

Mesmo que, "naquela época", quisesse apenas roubar um selinho de um amigo adormecido, para o qual havia começado a olhar de um jeito diferente a cada encontro furtivo perto do riacho.

Mordiscou o lábio inferior do Senju para finalizar aquele beijo intenso.

Ambos ofegavam.

– Você... Reclama... Do que eu falo... Mas faz... Coisas piores. – disse Hashirama.

– Funciono melhor... Com atitudes... Do que... Com... Palavras.

– Já... Percebi.

– Não... – sua língua desceu do queixo até seu pescoço - Estou só... Começando.

Quando Madara começou a sugar o pescoço de Hashirama, arrancando-lhe leves gemidos, eles ouviram alguém tentando abrir a porta daquela sala.

Afastaram-se imediatamente, até que ouviram a severa voz de Tobirama:

– Hashirama, sou eu! Por que trancou a porta?

O rapaz, sem-graça, ajeitou o cabelo, colocou o quimono no lugar e levantou-se para atender o irmão.

– Me desculpe, Tobirama. É que tínhamos uns assuntos particulares para resolver, e não poderíamos correr o risco de outra pessoa adentrar este aposento.

– Sei... - seu olhar severo recai sobre Madara - Mas eu nem faço questão de dividir o mesmo espaço com esse cara.

– Tobirama! - o outro repreendeu.

Madara se esforçava demais para não atacar aquele Senju insuportável. Afinal, se não fosse por ele, seu irmão, Izuna, estaria vivo. Só se controlava por causa do acordo com Hashirama.

– Já estou de saída. - o Uchiha disse, andando em direção à porta.

Assim que Madara passou por Tobirama, este fitou o irmão, percebendo certa tristeza em seu olhar com a saída do outro rapaz. Resolveu não pensar muito nisso, e relembrou Hashirama sobre a urgência de definir logo um Hokage.

– Oh... Tem razão. Pensarei nisso. Agora, preciso descansar.

– Como quiser.

Quando Hashirama deitou em sua cama, passou os dedos trêmulos pelos lábios.

– Nunca pensei que... Com ele... Seria tão bom. - fechou os olhos, suspirando - Madara... Então, era assim que você se sentia o tempo todo?

Em outro canto da vila, sentado sobre o teto da mansão Uchiha, um ansioso Madara contemplava as estrelas.

– Há tantos anos, eu... Desejava isso. E pensar que aquele idiota... Também... - riu nervosamente, levando a mão à testa - Que merda, Hashirama. Agora, não tem mais volta.


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