She Looks So Perfect escrita por Rocker


Capítulo 19
Capítulo 19 - If you don't swim, you'll drown




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Capítulo 19 - If you don't swim, you'll drown

Acordei no dia seguinte com alguém resmungando. Olhei em volta, finalmente me dando conta de que estava no chão do quarto de Luke.

— Mckinnon? O que faz aqui? - Luke perguntou, com a voz rouca.

Ele me chamou de Mckinnon, então possivelmente já estava sóbrio. E com uma ressaca que arrancaria seu crânio. Ao me lembrar disso, eu logo me levantei do chão onde estava à procura de um remédio. Já tinha um copo d'água ali, mas comecei a mecher nas gavetas à procura de um analgésico. Mordi o lábio, tentando não rir ao ver algumas camisinhas misturadas com seus remédios. Balancei a cabeça e peguei o que eu precisava. Peguei um comprimido de analgésico e entreguei a Luke com o copo d'água.

— Por quê está aqui? - ele perguntou novamente, colocando o copo vazio na cabeceira. - Não lembro de nada.

Mordi o lábio, me perguntando até onde seria bom lhe contar. - Você e Ashton chegaram bêbados, então eu e Allie viemos ajudar.

— Mas o que está fazendo no chão? - ele perguntou, e eu olhei para minha cama improvisada.

— Ah, é que eu que cuidei de você. - respondi, meio confusa. Deitei-me de volta no chão e me enrolei na coberta. - Agora volta a dormir, loirinho, está cedo ainda.

— De jeito nenhum...! - ele começou.

— Cala a boca, Luke, quero dormir! - o interrompi.

— De jeito nenhum que você continua no chão!

Me virei para reclamar que estava bem ali, até que senti meu corpo sendo levantado e depositado na cama logo após. Luke se deitou à minha frente e fechou os olhos. Bufei, prestes a levantar da cama e voltar para o chão, mas Luke envolveu minha cintura e me impediu de sair.

— Nem pensar, você vai continuar aqui! - ele insistiu, puxando-me contra si e me aconchegando contra seu corpo.

— Você é teimoso, hein. - reclamei, mas não me movi para sair do calor do seus braços.

— É por isso que você gosta de mim. - ele disse convencidamente.

Ele deu um beijo em minha testa e começou a acariciar meus cabelos.

— Não beba mais daquele tanto. - pedi, enfiando o rosto na curva de seu pescoço.

— Como assim? - ele perguntou, puxando-me mais contra si.

— Você tem 17 anos. - eu disse. - Não faça mais isso.

— Eu precisava esquecer algumas coisas. - ele disse.

Levantei minha cabeça para analisar seu rosto. Seus olhos azuis que geralmente emitiam um brilho alegre, com o qual eu sempre me encantava, agora pareciam acinzentados e opacos. Algo o estava incomodando e isso me deixava preocupada.

— Ei, loirinho, o que foi? - perguntei, segurando seu rosto e obrigando-o a me olhar nos olhos.

Luke me olhou, e parte do brilho voltou ao seu olhar. Sorri, um pouco aliviada, mas não completamente.

— Não é nada, Mckinnon, não se preocupe. - Luke disse, sorrindo levemente. - Volta a dormir, você também deve estar cansada. - ele disse, puxando-me contra si e me aconcheguei confortavelmente em seu peito.

Eu estava sonolenta e naquele estado entre consciência e inconsciência quando pensei ter ouvido Luke falando alguma coisa.

— Eu te amo, Charlie.

Mas possivelmente era coisa da minha imaginação.

~*~

Acordei algumas horas depois e Luke ainda estava dormindo. Tentei sair da cama, mas senti um de seus braços me envolvendo pela cintura. Com o contorcionismo mais foda que eu já fiz, consegui sair da cama sem acordá-lo. Tomei um banho rápido no banheiro do corredor, procurando não acordar ninguém, e coloquei uma muda de roupa limpa que eu tinha na mochila. Enfiei meu pijama na mochila e desci para a cozinha.

Sem sinal de ninguém, mas procurei alguma coisa nos armários para preparar um café-da-manhã-na-hora-do-almoço para os garotos. Nada nos armários e nada no depósito. Não é possível que eles não tenham abastecido! Suspirei. Eu sabia que eles não o tinham feito porque desde que viramos amigos, eles praticamente moram na nossa casa. Fui até a geladeira, como minha última esperança, mas assim que bati o olho nela, percebi que não a abriria.

Tinha um bilhete à porta dela.

Charlie (sim, o bilhete é para você porque sei que Luke não vai acordar tão cedo),

saí com os meninos para ir fazer umas compras no mercado. Quase bati neles quando não vi comida por perto. E pode deixar que eu não vou deixar eles comprarem o queijo fungo! Vou ver se compro enlatado ou comida pré-pronta. (É a coisa mais normal que tem por aqui; comida australiana é estranha)  Xx Allie.

— Não tem gosto de fungo! Xx Ash.

— Estranhas são vocês! Xx Mike.

— Charlie, acorde o Luke, senão ele vai dormir o resto da vida! Xx Cal.

Ri ao ler o bilhete. Na verdade, era impossível não rir com qualquer coisa que eles fizessem. Balancei a cabeça e me concentrei no que deveria fazer: acordar Luke. Eu poderia acordá-lo de um jeito fofo e normal. Mas eu não sou fofa e muito menos normal, por isso eu corri para o banheiro e melequei a palma da minha mão com a pasta de dente. Eu adorava acordar Allie com Smack Cam - era mais eficiente que com um balde d'água -, e agora eu podia acordar um dos meninos assim. Entrei no quarto de Luke sorrateiramente, mordendo o lábio para evitar a risada, e coloquei o celular estrategicamente para pegar todo o quarto.

Fui até Luke e, por um instante, fiquei com pena de acordá-lo. Seu rosto sereno e os cabelos loiros desgrenhados davam-lhe um ar angelical e eu quase desisti de acordá-lo com a Smack Cam. Mas então me lembrei de todas as vezes que ele me acordava pulando em cima de mim como um macaco e logo minha mão emplastada de pasta de dente foi parar na sua bochecha. Ri estrondosamente enquanto Luke se levantava num pulo e me olhava com os olhos semicerrados.

— Ah, você não fez isso! - ele disse e, pelo tom de voz, percebi que estava ferrada.

Mas não parei de rir.

— Ah, fiz sim! - confirmei, ainda rindo, mas fui me afastando, prevendo o que ele pretendia.

E eu estava certa.

Logo senti as mãos de Luke em minha cintura e a próxima coisa que me dei conta foi a bunda desbundada dele logo na minha cara.

— Luke, me larga! - reclamei, dando socos em suas costas.

— Seu soco dói, Mckinnon! - ele resmungou, mas não me soltou. - Talvez um banho te ensine a não me acordar assim mais. - ele completou, andando até a escada.

E foi então que meu cérebro juntou os pontos do que ele falara. Meu coração parou um instante antes de bombear com força total.

— Piscina? - perguntei, rouca pelo desespero.

— Isso.

— Lukey, por favor. - implorei, as lágrimas inundando meus olhos e o pânico tomando meu peito. - É sério, Luke, qualquer coisa, menos a piscina!

— Você precisa aprender a lição. - ele disse.

Um soluço irrompeu por minha garganta ante à possibilidade de afundar em uma piscina.

— Está chorando? - ele perguntou, um pingo de preocupação alterando seu tom de voz.

Não consegui responder, mas não foi preciso. Logo Luke me tirou de seu ombro e, assim que senti o chão novamente sobre meus pés, voei em seu pescoço, abraçando-o forte. Mesmo confuso, Luke envolveu minha cintura e me deixou chorar em seu ombro até que eu me acalmei.

— Shh... Está tudo bem. Está tudo bem. - ele repetia, abraçando minha cintura com um braço e acariciando meus cabelos com a outra mão.

— Não me joga na piscina, por favor. - pedi novamente, enterrando meu rosto na curva de seu pescoço e sentindo seu cheiro amadeirado delicioso.

— Não vou, prometo. - ele disse, estreitando os braços em minha cintura. - Vai me contar o porquê do ataque de pânico?

— Lembra quando eu te contei sobre Pedro? - perguntei, meu hálito batendo em seu pescoço e sorri ao ver seus pelos arrepiando.

Luke estreitou mais seus braços. - Infelizmente sim.

— Eu já tinha certo pavor à piscina, porque quando eu tinha três anos, quase me afoguei. - comecei, e respirei fundo para continuar. - No dia que Pedro me humilhou em frente à escola, dois dos amigos dele me jogaram na piscina esportiva. Eu não sabia nadar, e ninguém me ajudou. Eu afundava, com a água inundando meus pulmões, e acabei perdendo a consciência em meio às risadas. Acordei novamente no hospital, pois a diretora me salvara.

— Respira, Mckinnon, calma! - Luke disse, soltando minhas mãos de seus pescoço e segurando entre as suas. Só então percebi que meus dedos tremiam. - Eu não vou deixar nada te acontecer, prometo.

Corei, e sorri timidamente. Nunca tinha me sentido tão pequena comparada a Luke.

— Obrigada, loirinho. - eu disse, a voz baixa e rouca pela emoção de carinho e gratidão que inundava meu peito.

Luke sorriu; aquele sorriso meio de lado que deixava seu piercing com mais destaque e fazia meu coração bater dolorosamente contra as costelas. Não posso me esquecer da vontade louca de morder aquele piercing.

— Vou colocar uma roupa descente e já volto. - ele disse, e só então me dei conta que ele estava sem camisa.

Corei novamente, e ele deu-me um beijo na testa antes de sumir escada acima. Suspirei e, por algum motivo, eu saí pela porta dos fundos, fechando-a atrás de mim. Olhei para a piscina grande que ocupava boa parte dos fundos da casa, e mordi o lábio. Eu não sabia o que pretendia com isso, mas mesmo assim me aproximei. Eu queria me livrar daquele trauma, daquele agonia. Luke disse que me ajudaria com os distúrbios alimentares, mas não era só isso. Eu queria me livrar de tudo o que me lembrava do tempo com Pedro. Mesmo depois de todo esse tempo, ele ainda assombrava minha vida. E eu não queria isso. Agora eu tinha amigos, mesmo eles não sabendo tudo sobre mim. Mas eles me faziam bem, e era isso que realmente importava. Então eu precisava, de algum jeito, me livrar desses tormentos.

— Charlie! - ouvi a porta dos fundos abrindo com força e alguém gritando meu nome.

Mas tudo isso eu percebi com uma parte ínfima do meu cérebro. Porque meu corpo reagiu instantaneamente ao susto, e eu não tinha me dado conta do quão perto da piscina eu estava. Devido à minha virada rápida, acabei escorregando e caindo na água. E a última coisa que me lembro era de Allie com os olhos arregalados e Luke abrindo caminho entre os outros três confusos à porta dos fundos. A próxima coisa que me dei conta foi a água me envolvendo e as imagens torturantes passando em minha mente.

Num momento de desespero, eu queria que meus últimos pensamentos fossem meus amigos. De Allie. De Luke. De Ash. De Cal. De Mike. Mas não foi isso que eu vi. O que vieram à minha mente foram imagens de Pedro, e do quanto eu sofri por causa dele. Então eu soltei a respiração. Não pela vontade de morrer, mas pela dor no peito que se seguiu às lembranças e os pulmões queimando. A água entrou pelas narinas e pela boca, sufocando-me ainda mais.

NÃO! Não, eu não podia morrer! Não agora!

Mas meu raciocínio já estava comprometido. Me debati, tentando afastar a sensação de morte. Eu já sentia o peito queimando, o corpo pesando e a inconsciência me levando quando senti um movimento na água próxima a mim. Meu corpo foi levantado da água e no segundo seguinte eu cospia toda a pagua e um pouco mais no gramado. Minha visão estava turva, mas eu via a forma de alguém apertando meu peito para me ajudar a livrar da água. Aos poucos eu fui me recuperando, mesmo sentindo meu corpo pesado e fraco. A primeira coisa que eu vi foram dois olhos azuis me olhando preocupados.

Charlie! Charlie! —  sua voz ficando nítida aos poucos. - Consegue me ouvir?

Assenti, sem confiar em minha voz.

Senti as mãos de Allie colocando uma toalha sobre meus olhos Luke logo tomou a tarefa de me secar e embrulhar.

— Ai, meu Deus! - ela exclamava, exasperada. - Eu devia estar aqui!

— E-e-eu estou bem. - garanti-lhe, a voz rouca arranhando a minha garganta.

— Não está, não. - disse Calum, agachando à minha frente e me olhando preocupado. Depois virou-se para Luke. - Vá tomar um banho, eu ajudo ela.

Luke me apertou contra seu corpo. - Deixa comigo.

Ashton se aproximou, balançando a cabeça.

— Não, Luke. - ele disse com a voz firme. - Você também está encharcado e pode ter um resfriado. Tome um banho no banheiro do corredor enquanto a gente cuida dela no seu quarto. Depois você vai para lá.

Luke olhou para mim, com uma certa angústia no olhar. Eu não queria me afastar dele, mas também não queria que ele adoecesse por culpa minha. Então eu fiz sinal para que ele fosse para dentro. Ele suspirou, claramente contrariado, e depositou um beijo em minha testa antes de sumir no interior da casa. Calum tomou o lugar de Luke ao meu lado e me levantou no colo. Ashton ajudou a me acomodar melhor em seus braços, possivelmente pelo tecido molhado que aumentava meu peso.

— Allie? - perguntei, ainda rouca, mas Calum entendeu.

— Mike a levou para dentro. - ele respondeu.

— Ela estava meio neurótica, ele está tentando acalmar ela. - completou Ashton ao ver meu cenho franzido.

Abri um sorriso fraco, mesmo que minha vontade fosse de rir. Calum começou a me carregar para dentro e eu apoiei a cabeça em seu ombro, fechando momentaneamente os olhos. Eu não me sentia cansada apenas fisicamente, mas emocionalmente também. Estava completamente exausta. Calum me colocou de pé no banheiro e Ashton ficou por perto.

— Vou pegar uma roupa com Luke. - Calum disse, dando um beijo na minha testa e saindo logo depois.

Me olhei no espelho e arregalei os olhos. Cabeços negros sem brilho algum, olhos castanhos - opacos e avermelhados -, a pele pálida e os lábios arroxeados. A garota que me encarou de volta se parecia tanto com a Charlotte de dois anos atrás que meu lábio tremeu em desespero e o reflexo repetiu meu gesto.

— Charlie, o que foi? - perguntou Ashton, arregalando os olhos ao me ver ligeiramente mais vulnerável. Ele se aproximou de mim e segurou meu rosto entre as mãos para me observar. - Você está bem? - ele fez uma careta ao perceber a pergunta que fizera.

Eu ri baixinho. - Não, mas vou ficar.

Calum entrou no banheiro com uma camisa preta rasgada, do Nirvana, e uma cueca box fechada num saquinho.

— Peguei com Luke. - ele disse, colocando a muda de roupa na pia. - Ele já está te esperando no quarto.

Calum e Ashton deram um beijo em minha bochecha antes de saírem do banheiro. Tomei uma ducha rápida, sem querer ficar muito tempo sozinha. Dei graças por Luke me dar uma cueca fechada, porque minha calcinha estava inutilizável no momento. Deixei a toalha e a roupa molhada atrás da porta do banheiro e saí. Luke estava com uma calça de moletom e uma regata simples, com os cabelos pingando, sentado na ponta da cama, de frente para o banheiro. Assim que percebeu minha presença, levantou-se num pulo.

— Até que não ficou ruim. - ele disse, sorrindo de lado ao me ver com sua roupa. - Minha blusa e minha American Apparel preferidos.

Abaixei a cabeça, envergonhada. - Não precisava me entregar suas preferidas.

Ainda mais que eu sabia que essa era a blusa rasgada do Nirvana que Luke quase sempre estava usando nas fotos. E seu cheiro amadeirado que exalava do tecido chegava ao meu olfato com a intensão de me deixar tonta.

— Vem deitar, você deve estar cansada. - Luke disse, puxando minha mão para me levar até a cama.

Deixei-me levar, até que estivéssemos frente a frente em sua cama.

— Obrigada. - eu disse baixinho. - Por me salvar. - completei ante ao seu cenho franzido.

Luke sorriu, aquele sorriso lindo que eu adorava.

— Eu prometi que sempre te salvaria.

 

 


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Notas finais do capítulo

Deem uma olhada no meu blog, comecei ele ainda essa semana ;)
http://intoanothermind-rocker.blogspot.com.br/



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