Choices escrita por Kaah, Luh Chris


Capítulo 3
Esperança


Notas iniciais do capítulo

Oiiees!!!

Quero agradecer aos comentários da Bella, Ernessa, Lize e The Rootless, vocês são umas fofas!!!

A partir do próximo as coisas vão ficar mais agitadas.

:*



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Tobias

Quando eu era pequeno eu acreditava que seria feliz nesse lugar, eu não era exatamente a pessoa mais altruísta, mas gostava de ajudar as pessoas, me sentia bem. Eu podia me imaginar vivendo toda minha vida na Abnegação, mas tudo mudou quando meu pai, líder da nossa facção, passou a exigir demais da minha mãe, obcecado pelo poder e por manter as aparências, a de um líder impecável, ele passou a bater em mim e na minha mãe cada vez que ele não ficava satisfeito com algo. No começo ele implicava apenas com o nosso comportamento, que ele julgava desapropriado, mas depois virou rotina e tudo que o irritava era motivo para agressões, cada vez piores. Até que um dia ele bateu tanto em minha mãe que ela acabou morrendo.

Ele, é claro, deu um jeito de encobrir tudo, fazendo parecer um acidente, uma queda nas escadas da nossa casa. Daquele dia em diante minha vida que já era um inferno se tornou algo ainda mais doloroso, se não fosse pela presença dela em minha vida eu teria me matado com toda certeza. Ela, Beatrice, uma menina que cresceu na mesma vizinhança e que eu mal conhecia, sempre preso em casa, só a via pela janela do meu quarto enquanto ela cuidava do jardim em frente a sua casa, ajudando a sua mãe. Como eu gostaria de ter tido uma infância feliz e tranquila como a dela. Infelizmente com meu pai por perto eu jamais teria paz.

Beatrice me encontrou chorando durante o velório da minha mãe, a partir desse dia nos tornamos grandes amigos. Ela me deu forças para seguir e enfrentar tudo aquilo, mesmo sem nunca ter contado a ela tudo que acontecia comigo, ela foi a minha força e nem sabe disso, mas eu pretendo contar a ela, agora mais do que nunca, farei a escolha dentro de poucos dias e não tenho ideia de que decisão tomar, quero ir embora, mas não quero esperar 2 anos para que ela faça a sua escolha e ao mesmo tempo eu não tenho certeza se é uma boa ideia sair da cidade, não sabemos o que esperar, ela é corajosa e tenho certeza de que ela irá, não sei como convencê-la de que talvez não seja a melhor escolha.

Amanhã faço o teste de aptidão, meu pai está me mantendo preso em casa, ele diz que não quer que eu seja mal influenciado, ele é amigo dos Prior a anos, mas não gosta da Beatrice, na verdade, ele não é amigo de ninguém, ele somente usa as pessoas.

Preciso vê-la, eu não posso fazer minha escolha sem antes me despedir dela.

Me arrumo e desço as escadas devagar, quero aproveitar que meu pai esta em uma reunião do conselho para ir até a casa dela, mas quando penso que vou sair de casa ele chega, com uma cara péssima e me lança um olhar mortal.

—Onde estava indo Tobias?

—Eu... Eu ia dar uma volta, pensar um pouco – Eu disse e ele deu um sorriso torto, debochado.

—Você não precisa pensar meu caro, eu já te disse como que você deve agir no seu teste amanhã, tudo sairá como previsto e no dia da sua escolha tudo isso irá acabar – É exatamente isso que eu quero, que tudo acabe – Espero que você haja como o filho de um líder, você precisa aprender de uma vez por todas como se portar diante das pessoas.

Não questionei, apenas virei as costas e voltei a subir as escadas. Cheguei ao meu quarto e olhei pela janela, a luz do quarto dela estava acesa, precisava vê-la, precisava!

Abri o meu armário e procurei algo que me confortasse naquele momento, algo que me levasse de volta a algum momento raro e feliz que vivi. Bem escondido entre as várias peças de roupas cinza eu alcancei um carrinho, um pequeno carrinho de madeira que minha mãe me deu quando eu era criança, ela havia encontrado na rua e o trouxe escondido para mim. Nunca pude brincar com ele, meu pai jamais permitiria, além do que, a nossa facção não permitia portar objetos supérfluos, de nenhum tipo.

Guardei o carrinho no meu bolso e me deitei. Esperei até que ficasse bem tarde, depois fui até o quarto do meu pai sem emitir nenhum ruído, apenas para conferir se ele estava mesmo dormindo e como esperava ele estava roncando alto. Saí de casa silenciosamente e andei até a casa dela, estava tudo escuro, não havia luzes nas ruas, eu subi sua janela como sempre fiz, sem nenhuma dificuldade. Ela estava fechando a janela e se surpreendeu a me ver.

—Como é? Vai ficar aí com cara de boba tapando minha passagem? - Brinquei. Ela estava sorrindo.

— Mas você não estava doente?

— Para todos os efeitos, estou - Prefiro omitir que estava trancado em casa todos esses dias.

—E o que você faz aqui?

—Eu estava com saudades, precisava te ver – Ela deu um sorriso e percebi suas bochechas ficando vermelhas, envergonhada.

—Eu também senti saudades, você sumiu, fiquei preocupada. Fui até a sua casa, duas vezes, mas seu pai não me deixou entrar, disse que você estava doente e se concentrando para a sua escolha – Eu senti um gosto amargo na boca, de imediato me veio a lembrança dos últimos dias, meu pai “treinando” comigo como eu deveria agir no meu teste e me impedindo de sair, dizia que isso podia me desconcentrar.

—Eu estou aqui agora, precisava te ver antes de... Você sabe... A escolha – Ela fez uma expressão séria e se sentou na sua cama. Eu me sentei ao seu lado.

—Tudo vai passar logo, vamos superar tudo isso e logo estaremos fora dos muros, juntos!

Eu senti um bolo na garganta, como se estivesse engolindo uma bola de lã. Seus olhos estavam presos e atentos aos meus, meu estômago de repente começou a revirar de nervoso e senti uma necessidade enorme de abraça-la. E foi o que eu fiz, a abracei bem forte, senti seu coração acelerado, assim como o meu, mas não conseguia entender o por que de me sentir assim, ela também parecia estar do mesmo jeito. Precisava contar tudo a ela, era minha última oportunidade, mas quis aproveitar meu tempo com ela mais um pouco. Me soltei do abraço e olhei de novo em seus olhos, ela estava ofegante, encarei seus lábios, nem sei por que fiz isso, ela continuava me olhando. Nem sei em que momento decidi, mas aproximei meu rosto bem devagar e senti sua respiração quente e descompassada bem próxima do meu rosto.

De repente ouvimos um barulho vindo da porta do seu quarto e nos assustamos, ouvi ela sussurrar para que eu me escondesse embaixo da cama e eu escorreguei de imediato. Em seguida a porta se abriu e a mãe dela entrou.

—Filha, você ainda esta acordada? Está tarde, que barulho foi esse que ouvi aqui? - ela dá uns passos para dentro do quarto.

—Arr... Nada... Acho que foi quando eu voltava do banheiro mãe, eu bati com meu pé na cama – Ela disse colocando uma mão no pé – Está doendo um pouco, no escuro não vi a cama.

—Tenha cuidado Beatrice! Agora volte a dormir – Vi quando Natalie se aproximou da janela e a fechou, depois se virou para a porta e saiu.

Esperei alguns segundos enquanto Beatrice se levantava e trancava a porta e depois saí de baixo da cama.

—Ufa, essa foi por pouco – Ela sussurrou e depois sorriu. Eu sorri de volta. Ela ficou parada me encarando, talvez estivesse pensando no que quase aconteceu antes da mãe dela entrar no quarto, mas o que será que ia acontecer?

Queria guardar esse momento com ela, não sei bem o porquê, mas preciso disso para suportar ficar tanto tempo sem vê-la. Decido não contar pra ela sobre o que aconteceu comigo, afinal, isso poderia atormentá-la durante o tempo que ela ainda vai ficar por aqui. E a conhecendo do jeito que conheço, sei que ela não conseguirá disfarçar sua raiva quando estiver perto de Marcus, e o que menos precisamos é da desconfiança dele, na verdade, nem dele nem de ninguém. Ficamos nos encarando de mãos dadas, por bastante tempo, podem ter sido horas, não sei dizer. Nesse tempo fui falando com meu olhar o quanto iria sentir falta dela, o quanto ela era importante pra mim, e ela com o olhar me dizia a mesma coisa.

—Acho que eu já vou – Eu disse e ela assentiu. Andei até ela e dei um beijo demorado em sua testa. Ela sorriu e me abraçou.

—Logo vou encontrar você – Ela disse com seu rosto enterrado em meu peito, fazendo com que sua voz saísse abafada.

—E eu estarei esperando você, seja onde for – Ela franziu a testa, mas antes que ela pudesse me questionar eu fui até a janela, abri e me inclinei para descer.

Já no jardim eu olhei para cima e ela sorriu, sorri de volta e voltei para a minha casa.

Sei que posso enfrentar isso e faria isso por nós dois, quero estar com ela seja onde for, quero cuidar dela e mesmo que ela vá para fora da cidade eu farei isso. Irei com ela, para mantê-la segura e perto de mim.

Quando cheguei em casa dei de cara com meu pai, ele estava sentado na poltrona em frente a porta do meu quarto, assim que eu entrei ele puxou o cinto e enrolou nas mãos.

—Eu achei que você estivesse entendido Tobias, tudo que eu faço é pensando em você, no seu melhor. E você continua me desafiando, você não aprende não é mesmo? – Ele estava com uma das suas piores expressões e eu sabia o que esperar. Só mais um dia, pensei.

No dia seguinte acordei de bruços, resultado da dor intensa nas minhas costas, causadas pelas marcas do cinto. Mais uma vez eu não pude fugir, não pude me defender. Senti ainda mais raiva, não só da covardia do meu pai, mas principalmente da minha própria covardia em não conseguir reagir.

Antes de sair para as suas reuniões do conselho ele passou no meu quarto como se nada tivesse acontecido e me lembrou do teste, me dizendo para eu não me atrasar. Assim que ouvi o som da porta se fechando me levantei e ao tirar a minha camisa de mangas compridas me deparei com meu corpo marcado, com sinais vermelhos e roxos pelo braço e costas. Naquele momento me enchi de raiva e coragem, nunca mais vou passar por isso. Nunca mais.


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Notas finais do capítulo

Comentem!!!!



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