Saímos da pequena sala e fomos direto para o carro de Marco. Era um carro simples, não sabia o modelo, - Nunca fui ligada a carros, é verdade - mas combinava perfeitamente com o dono. - O que não combinaria?! - Luana foi na frente com ele, e eu fui atrás. Distraída olhando pela linda, linda, linda cidade, demorei a perceber que estavam falando comigo.

- Aah Ness! Você vai adorar a casa! É perfeita e tenho um quarto de visitas, não é grande coisa, mas é bem confortavél...

- Tenho certeza de que vou gostar! - murmurei.

Pude sentir o arrepio, ao olhar nos olhos que me encaravam pelo espelho. Marco. 

- Hmmm, querido, pode parar no mercado por um minuto? Estamos com fome e não acho que a geladeira esteja abastecida...

- Claro amor, claro. - E deu um meio sorriso.

Alguns minutos depois, Luana desceu do carro perto do que pareceu ser o mercado. Ficamos sozinhos, eu e ele. Não seria eu quem iria quebrar o silêncio, e não fui, ele o quebrou primeiro.

- Então, de onde você é, Ness?

Fiquei surpresa ao ouvi-lo, falando com uma suavidade incomum meu doce apelido criado por minha amiga, mas respondi.

- Hãm, Makero.

Ele pareceu perceber o tremor em minha voz, mas fingi não me importar.

- Vamos nos tornar grandes amigos, não é, Jannes?

Mas antes que eu pudesse responder, Luana estava de volta, com várias sacolas nas mãos, e ele se apressou em ajudá-la.

Era tão estranho o que acabara de sentir. Um pouco de medo é claro, mas uma inquietação e sobretudo, pela primeira vez, fiquei sem fôlego. Sem ar. E não sei porquê, me veio a lembrança, de uma fala de titia após me encontrar brincando com meu gatinho de estimação, um ano após a morte de mamãe: Você não sabe amar.

Pude sentir as lágrimas em meus olhos.