Na semana que se seguiu Hannah levou Darcy para conhecer a cidade, a postura altiva e orgulhosa do homem ajudou a disfarçar a curiosidade e espanto que sentia por toda a modernidade que os cercava. Foi bem tranqüilo, exceto na hora de subir na moto de Hannah. Por motivo nenhum ele aceitou subir e eles tiveram que ir de ônibus.

Dessa forma a semana passou tranqüila e logo chegava à tarde de sexta feira. Os dois estavam sentados em uma praça tomando um sorvete.

— Acredito que precisamos conversar novamente sobre meu emprego... – começou Darcy.

— Emprego Darcy? – a garota virou-se para ele – Acha que está pronto?

— Não. – disse convicto – Mas acho que nunca estarei e acredito mesmo que esteja na hora de tentar.

— Mas Darcy, - Hannah parecia sem jeito – você não fez uma faculdade, não tem experiência nenhuma... Ninguém vai querer lhe dar um emprego... Ainda mais a sua altura.

— Hannah minha amiga... – o homem parecia bem calmo, como se já tivesse refletido bastante sobre o assunto – eu sei como são as coisas... Não me tome por um idiota, por favor. Eu não tenho grandes pretensões neste assunto, só quero trabalhar para ocupar a mente, me distrair... E ao mesmo tempo não posso continuar morando em sua casa sem te ajudar... Não é certo! – concluiu enfático.

— Darcy, sua inexperiência foi apenas o primeiro argumento... – começou, mas foi interrompida por ele.

— Eu não sou inexperiente. Eu sei ler e escrever muito bem, além disso, tenho muita experiência em finanças e administração. Sou bom em lidar com pessoas.

Nesse momento Hannah encarava Darcy com a sobrancelha levantada.

— Bom em lidar com pessoas? – perguntou divertida.

— Muito bom Srta. Montcliff. – Darcy não gostou do jeito de Hannah.

Ao ver a expressão contrariada que o homem adotou Hannah não se agüentou e gargalhou alto chamando a atenção de algumas pessoas que passavam pelo lugar.

— Muito bom Sr. Darcy? – desdenhou a moça – O senhor é uma das pessoas mais complicadas que eu já conheci.

— Às vezes o fato de eu ter sido transportado de mundo tenha a ver com isso Srta. Montcliff. Já se colocou no meu lugar por acaso?- retrucou exaltado.

— Ora Darcy, não precisa se chatear.

— Não? A senhorita acha que me conhece só por causa de uma porcaria de livro e sai apontando o dedo para o que acha que são os meus defeitos... Mas uma surpresa: A senhorita não me conhece. – o homem levantou-se e saiu caminhando.

— Espere Darcy! – correu para acompanhá-lo – Eu sinto muito. – disse sincera quando o alcançou.

Darcy suspirou e voltou-se para Hannah.

— Tudo bem.

Andaram mais alguns minutos em silêncio.

— Mas tudo é tão difícil... Eu só queria acordar e descobrir que tudo não passou de um pesadelo... Eu quero tanto voltar para a minha vida...

— Eu entendo. – disse para consolá-lo.

— Não, não entende. É a minha vida... A minha família... Os meus amigos... A vida que eu deveria ter... O que acontece com tudo agora que eu estou aqui?

Hannah não sabia o que dizer e por isso preferiu ficar calada.

Chegando a casa Hannah pediu que conversassem um pouco.

— Eu vim pensando Darcy e acho que tenho uma solução para o seu segundo maior problema.

— Segundo problema? – indagou curioso.

— É. Porque o primeiro é voltar para casa.

O homem apenas assentiu.

— Sabe Darcy, se você planeja ter uma vida aqui enquanto espera uma forma de voltar para casa o mais importante que vai precisar são documentos.

— Documentos?

— Sim. Documentos que identificam que você é e de onde veio...

— Mas como conseguiremos isso? Não é como se fossemos chegar e dizer que eu sou eu.

— Bom, eu pensei nisso e acho que podemos dizer que você perdeu a memória. Que eu o encontrei próximo a minha casa e resolvi te ajudar...

— Parece uma boa idéia... Mas acha que vai funcionar? – duvidou.

— É a única que eu tenho. – disse ríspida – Estou aberta a outras sugestões do grandioso Darcy.

A garota se irritou com sua falta de confiança, percebeu Darcy.

— Eu não tenho idéia alguma e acho que a sua é melhor que nada. – disse por fim.

— Então faremos dessa forma.

Nos dias que se seguira Hannah agiu conforme o combinado. Foi à delegacia de polícia e informou que havia encontrado um homem sem memória próximo a sua casa e resolveu ajudá-lo. Depois de muitos exames e perguntas foi decidido que Darcy não possuía nenhuma doença ou lembrança e como não era incapacitado não ficaria sob a responsabilidade do estado. Hannah então disse que ele continuaria em sua casa até se lembrar de algo e solicitou novos documentos para ele, alegando que o homem precisava trabalhar.

Estavam voltando do juizado com os documentos novos quando Hannah se lembrou que precisava pegar alguns papéis na empresa que trabalhava. Ela deixou Darcy em casa e foi para a empresa.

Enquanto isso, Darcy tinha acabado de tomar um banho e vestido uma calça jeans e uma camiseta de malha quando a campainha tocou. Ele sabia que não deveria atender a porta, era uma das regras. Mas ele estava se sentindo mais a vontade neste mundo e logo procuraria um emprego. Deixando a apreensão de lado abriu a porta com a toalha pendurada no ombro e os cabelos ainda molhados, sentindo que poderia lidar com qualquer situação que se apresentasse.

— Pois não? – indagou solicito ao casal parado a porta.

— Quem é você e o que você está fazendo na casa da minha filha? – a mulher se recuperou primeiro do susto.

Lidar com qualquer situação? Darcy pensou que nunca mais desafiaria o destino dessa forma.