Cinco anos após a partida de Darcy...

Hannah estava terminando a maquiagem quando ouviu a campainha. Não se preocupou em atender. Sua mãe estava em casa e ela ainda tinha muito que fazer. Este era um dia especial e queria que tudo fosse perfeito.

— Querido, se for o James diz que a noiva ainda não está pronta. – ouviu Anabele dizer.

O coração dele parou por um momento. James? Noiva? Pelo jeito chegou tarde demais. Virou as costas para a porta e já ia saindo quando ouviu:

— Você não é o tio James.

Um garotinho de aproximadamente uns quatro anos o observava da porta. Tinha os cabelos pretos e olhos curiosos voltados para Darcy. Olhos que quase lhe fizeram cair de joelhos, pois eram de um azul majestoso, de um tom raro que ele vira poucas vezes na vida. Aquele mesmo tom de azul que inúmeras vezes foi alvo das reclamações de Georgiana, que não se conformava em não ter herdado os olhos do pai. Aquele mesmo tom de azul que o encarava de volta toda vez que se olhava no espelho.

Darcy estava mudo. Quanto mais olhava o garotinho a sua frente mais o reconhecia. Era impossível negar a existência das feições aristocráticas dos Darcy em cada traço daquela criança.

— Você demorou. – o garotinho o encarava sério.

— O q... – ia perguntar o que ele queria dizer com isso quando Boruto veio correndo e pulou em seu colo. Por instinto Darcy o agarrou. O cão dava latidinhas e tentava a todo custo lamber seu rosto enquanto abanava alegremente sua cauda.

— Ele gosta de você. – o garotinho disse alegre.

— Somos velhos amigos. – Darcy respondeu emocionado. O choque ainda não passara.

— James? – ouviu-a chamar.

Mais uma vez o coração de Darcy parou. Era ela. A mulher que ele amava, que dera a luz a seu filho e que hoje se casaria com outro homem. Ele sentiu seu coração apertar e seus olhos arderem.

— Tá tudo bem? – o menino perguntou.

— Está sim. – se obrigou a responder a criança que lhe fitava preocupado.

Hannah empalideceu e teve que se apoiar na parede para não cair. Era ele. Era Darcy. Depois de cinco anos... Quando já havia perdido todas as esperanças de vê-lo novamente, ele aparecera.  Darcy estava na porta, ele segurava Boruto no colo que parecia não se conter de alegria. Em frente a eles estava seu filho. Era tão parecido com o pai que por vezes era doloroso fitá-lo. Pai e filho se encaravam. Azul contra azul.

Deve ter feito algum barulho, pois ambos viraram-se para ela. E finalmente, depois de anos de espera, aqueles olhos que tanto amava lhe fitavam novamente. Sentiu como se a gravidade não mais existisse, o que a mantinha presa a Terra era exclusivamente aquele olhar. Hannah queria correr, gritar, chorar, sorrir... Ela queria tudo... Mas a emoção foi tão intensa que a única coisa que conseguia fazer era mirá-lo, estática.

— Sinto desapontá-la, mas eu não sou o James. – percebeu a mágoa e a ironia na voz dele, mas não pode entender.

Deve ter ficado vários segundos em silêncio o encarando pois se sobressaltou com a voz do filho impaciente.

— Mamãe? Mamãe?

Baixou seus olhos para ele. Seu olhar inocente de criança não conseguia esconder nada. Ansiedade, alegria, receio, esperança, era possível ver todos esses sentimentos juntos. Seu instinto maternal aflorou. Ela precisava pensar nele, antes de tudo.

— Will? – o garotinho a olhou ansioso – Você pode levar o Boruto para o quintal e brincar com ele até a mamãe chamar?

A criança provavelmente não gostou da ordem da mãe, pois fechou a cara imediatamente.

— Mas eu estou com roupa de festa mamãe. – tentou argumentar.

— Não tem problema amor.

— Mas...

— Agora Willian. – a voz de sua mãe era firme e ele não teve alternativa senão pegar Boruto e ir para os fundos da casa.

— Willian? – Darcy perguntou emocionado.

— O meu Willian. – Hannah respondeu também emocionada.

Darcy sorriu.

— Como você... – ela não conseguiu terminar a pergunta, sem poder mais se conter deu dois passos a frente e estendeu sua mão para o rosto dele.

Por um breve instante Darcy se permitiu ficar. Ela estava mais linda do que nunca, em um vestido curto de renda azul claro e o cabelo solto. Obrigou-se a se mover no último segundo antes que ela o tocasse. Ela era a noiva de James.

A expressão dela foi de choque e tristeza. A recusa dele foi como uma bofetada.

— Você quer entrar? – perguntou insegura.

— Eu não quero atrapalhar. – o tom de Darcy era frio – Você parece estar ocupada. Não vá se atrasar por minha causa. – ele quase cuspiu as últimas palavras.

— Não tem problema. – ela se afastou da porta para que ele entrasse.

— Tem certeza? O James pode não gostar.

Hannah estranhou as palavras.

— Não entendi.

— Não importa. – retrucou ríspido.

Ela ia questioná-lo quando ouviu a voz de James.

— Estão prontas? – ele perguntou entrando na casa sem cerimônia.

— James. – o tom de Darcy era seco e duro.