Capítulo 29

“O elefante na sala”

Loren Hannigan

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Carter estava parado do meu lado, observando enquanto eu me contorcia e remexia silenciosamente, sem fazer nada mais do encarar a porta na minha frente. Eu estava nisso por um tempo, minhas mãos suando em nervosismo, quando Carter finalmente fez um gesto com a cabeça em direção a porta e perguntou — Você quer que eu…? — Não deixei ele terminar, balançando negativamente minha cabeça. Eu precisava fazer isso sozinha. Da mesma maneira que eu fiz quando fui embora daqui.

Respirei profundamente uma última vez e então soltei o ar lentamente, antes de bater na porta.

Um segundo depois alguém gritou — Indo!

E então, antes que eu pudesse processar qualquer outra coisa, a porta abriu e Matt estava ali, no meio de uma risada, como se eles estivesse falando de algo engraçado antes de ter que abrir a porta. E quando ele finalmente focou o suficiente em mim, seu sorriso vacilou e ele exclamou — porra. 

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Matt Heidy

Eu não podia acreditar nos meus olhos por um segundo muito longo. Mas, porra, era Loren. O riso morreu na minha garganta quando eu finalmente foquei nela, e não que eu não quisesse vê-la, mas ela parecia horrível. Muito magra, olhos fundos e olheiras pesadas, como se ela não tivesse uma boa noite de sono em uma eternidade. O olhar assustado também não estava fazendo maravilhas para ela. Todos nós achamos que Logan teria sido o único a tomar o pior de toda essa situação… mas Logan não estava parecendo assim. Não. Logan não era ele mesmo, mas jamais deixaríamos que ele chegasse a esse ponto. 

Os olhos dela foram o que mais me assustaram.

Conhecemos Loren no meio de um inferno, e nem mesmo naquele dia, ela pareceu tão perdida como agora.

— Porra — eu exclamei. E então fiz o que senti necessidade de fazer desde o momento que a vi: puxei seu corpo num abraço enorme.

Loren exclamou surpresa, e então murmurou abafado — Matt…

E então começou a chorar.

…

Era uma daquelas noites aqui em casa, onde todo mundo vinha jantar qualquer coisa que pudéssemos fazer ou comprar. Beth estava aqui, Rachel estava aqui (embora Rachel estivesse sempre aqui, agora que Chris estava fora do hospital), Thomas, Calebe, Chris e eu. Todo mundo, menos Logan. O que foi uma coisa boa, eu não sei o que meu irmão teria feito se fosse ele a abrir a porta e encontrasse Loren naquele estado, com aquela expressão que era uma mistura de susto e vazio. Certamente ele perderia sua mente sempre tão amorosa. 

O cara com ela seria um problema também. Quem diabos fosse, tocava muito ela, olhava muito pra ela. Loren não era minha garota e eu estava com ciúmes. 

Quando finalmente a soltei na porta, peguei Loren pela mão e a arrastei para dentro de casa, deixando o cara pra nos seguir. Não que eu quisesse ser mal educado, mas prioridades, sinceramente.  

Todo mundo em casa teve sua própria versão da minha reação, um pouco chocados, mas depois descongelaram. As meninas choraram, Calebe xingou, assim como eu, Thomas segurou Loren por uma eternidade sussurrando Deus sabe o que pra ela. Chris olhou pra ela de longe durante toda a coisa, e quando Thomas finalmente a soltou, ele se aproximou, segurou o rosto de Loren, enxugou as lágrimas que desciam, e então beijou a testa dela. Os dois se olharam por um longo tempo. Você podia ver a gratidão de Chris no olhar que ela dava a ela. Ele não falou nada, tenho certeza que, se a minha garganta estava apertada de emoção com esse momento, a dele certamente estaria pior. Chris nunca admitiu, mas nós sabíamos que ele havia desistido. Ele não esperava estar vivo nesse momento, mas ele estava, por causa dela. 

Quando Chris finalmente se recompôs e abriu a boca pra falar, Loren sacudiu a cabeça e falou — Nem uma palavra sobre isso, — abraçou com ele e continuou — nunca.

…

Passado todo o drama, Loren finalmente nos apresentou o cara com ela como seu amigo de infância, Carter. Ele parecia uma pessoa decente, apesar do jeito engomado e as roupas que devem ter custado mais que a hipoteca da nossa casa. Se eu pudesse ler a mente dos meus irmãos, tenho certeza que estavam pensando nas mesmas duas coisas que eu: 1- o que ela veio fazer aqui; e 2- Logan não ia ficar feliz com esse cara, quando finalmente chegasse em casa.

Logan tinha criado o hábito de trabalhar até cair depois que Loren partiu pela segunda vez. Ele estava miserável, mas ainda era Logan. Ele não se afundaria em bebidas e mulheres pra esquecer ela, não quando ele cresceu com um pai que tinha feito exatamente isso. Logan sempre foi o mais sábio de todos nós. O que não significa que ele estava bem. Ele não estava mal como Loren, mas ele tinha concentrado todo o seu tempo e foco no trabalho, e chegava em casa apenas quando estava à beira da exaustão. Quando tentamos falar com ele sobre isso, ele apenas murmurou “eu preciso disso agora”, e então pegamos a dica e deixamos ele em paz. Todos nós sabíamos como era a dor de ser abandonado, nossa mãe fez isso conosco quando eu nem era velho o suficiente pra me lembrar de como ela soava quando falava comigo. Se não tivéssemos fotos, eu provavelmente não me lembraria de como ela parecia. E mesmo assim, machucava como merda quando eu me lembrava. Eu não conseguia nem imaginar o que Logan passou quando Loren o deixou.

E eu não podia nem mesmo começar a pensar em como ele reagiria quando chegasse aqui.

Ficou muito claro que Loren tinha vindo por uma razão, mas ela ainda não tinha falado nada além de trivialidades. Nós não perguntamos também, ela chegaria lá. Ainda estava agindo um pouco nervosa e se aproximava um pouco mais de Carter sempre que o assunto se virava muito pra ela. Ela estava se comportando de uma maneira estranha ao que conhecemos dela. 

Thomas, como a mãe galinha que ele era, estabeleceu que não íamos mais comer mais pizza, como havíamos decidido que o jantar seria, e começou a puxar coisas da geladeira. A distância de idade entre Thomas e Logan não era grande, e quando nossa mãe foi embora e nosso pai decidiu que não funcionava sem ela, eles dois assumiram a responsabilidade de criar o resto de nós; e enquanto Logan cuidava da gente como um pai, Thomas foi quem cuidou como mãe. Claro, eu nunca, jamais, ousaria falar isso na cara dele, mas era o que era. Sua altura, o jeito como seu corpo era construído como um muro, a quantidade de tatuagem que ele tinha, a cara fechada que ele aperfeiçoou por anos e sua autoconfiança nata nunca fariam você pensar isso dele, mas Thomas era um molenga. Pela forma como ele ficava olhando engraçado pra Loren, como se ela fosse desabar a qualquer momento, eu sabia que ele sentiu a necessidade de alimentá-la, de colocar alguns nutrientes no corpo dela, assim como ele fazia quando éramos pequenos. 

E foi isso que ele fez.

Todos nós nos ocupamos com o jantar, até que nos sentamos ao redor da nossa velha mesa. Tentando manter uma conversa casual, enquanto ignoramos o elefante gigantesco na sala. Logan estaria aqui em algum momento… entre tudo que aconteceu desde que ela chegou aqui, passaram-se algumas horas. Loren não perguntou, mas a cada momento que passava, ela crescia mais ansiosa. Até que ela se perdeu totalmente da conversa que estava acontecendo ao redor, olhando fixamente para o prato de comida. Carter passou as mãos pelas costas dela, num gesto suave, como se estivesse tentando acalmá-la, e assim que ele tocou, ela deu um solavanco, claramente se assustando. Todos nós ficamos rígidos na cadeira. Ela sussurrou — desculpa — para Carter, quase de forma inaudível. Ele se aproximou dela, e começou a falar baixinho em seu ouvido, ainda com a mão suavemente esfregando suas costas. E isso, é claro, foi o momento que a porta de casa se abriu, cortando o momento de silêncio.

E ali estava Logan.