Narrado por Nayara

O celular tocou e eu logo levantei. Pelo toque, suspeitei de ser Bárbara, mas não havia motivos para ela me ligar às nove horas da manhã. Assim que peguei o aparelho, vi que minhas suspeitas se confirmaram. Era realmente minha amiga. Eu só não imaginava o que ela queria comigo.

– Oi, boa madrugada – eu disse

– Ainda não tinha acordado, Nay? – me calei e ela logo continuou – Faz assim, amiga: dá bom dia para o seu irmão, toma um café reforçado e espera na sala. O Marcos vem te buscar em dez minutos.

– Tá, Bárbara. Mas eu acho que meu irmão não está em casa

– Grita ele só para eu me certificar... – pediu Bárbara

– Ezequiel Iván Lavezzi! – gritei para a casa vazia. Andei um pouco por meu quarto e logo descobri porque eu havia recebido um silêncio como resposta – Ba, ele me deixou um bilhete aqui. Tá meio em portunhol, mas vou ler pra você. “Buenos dias, pequena. Tive que sair más cedo, porque tinha uns assuntos para resolver con Ángel. Más tarde estoy de volta. Besos, te quiero”

– Melhor ainda que ele não está – respondeu Bárbara – Desce, toma um café e espera na sala. O Marquinhos já vai passar aí e você tem que estar pronta. Beijos e até mais tarde

Às vezes dava uma loucura extrema na cabeça da Bárbara e ela inventava bilhões de coisas para a gente fazer. Vamos dizer que dessa vez foi mais complicado, porque ela colocou o Marquinhos no meio.

A vida me ensinou a nunca discutir com a Bárbara quando ela tem essas ideias malucas. Geralmente, não dava em nada.

Finalmente, depois de alguns segundos devaneando em minha cama, levantei e a arrumei. Me troquei, colocando um jeans, uma camisa azul, um moletom azul, quase marinho, com as mangas cinzas, e uma bota preta. Fui até o banheiro para poder fazer a maquiagem e o cabelo.

Olhei para o celular e vi que tinha uma mensagem do Marquinhos, o brasileiro mais novo do PSG.

Chat on

Marquinhos: Bom dia, Nay. Tudo bem? A Bárbara me pediu para passar na sua casa por algum motivo que eu desconheço e creio que você também não está sabendo de nada. Enfim, eu ia passar agora na casa do Lucas, para ver se podíamos sair e quando eu estava quase na porta, eu vi que a casa dele estava toda decorada com enfeites ingleses. Não sei o que isso quer dizer, mas não é normal. Quando eu ia tocar a campainha, a Bárbara desceu as escadas da frente à milhão e me pediu para te pegar.

Nayara: Bom dia, Marcos! Tudo sim. Olha, a Bárbara não bate bem da cabeça, então, quando ela te pedir alguma coisa, só faz e não discute. Você acha que ela só meteu a gente nesse rolo?

Marquinhos: Já que você tocou nesse ponto, quando eu estava saindo da casa dela, eu reconheci dois carros, acho que eram do David e do Max. Talvez ela tenha metido suas amigas nesse rolo também.

Nayara: Normal ela fazer isso. O que nos resta é saber o que ela está aprontando. Já está vindo?

Marquinhos: Tô chegando em poucos minutos. Separa o que você vai querer de café que você vai tomando no carro. Até mais tarde.

Chat off

Pelo visto, a Bárbara tinha metido todo mundo no rolo dela. Dessa vez ela não tinha só colocado eu e minhas amigas no meio, ela tinha colocado nossos irmãos também. Eu tinha medo de ser algo perigoso, porque se tratando da Bárbara, tudo é possível.

Lembrei que o Marquinhos falou que estava chegando em poucos minutos. Da casa do Lucas para a minha, dá uns dez minutos de carro e uns vinte a pé. Desci as escadas e separei o que eu iria levar para tomar de café. Fiz um café com leite e coloquei em um copo rosa, que tinha escrito “Todo brilla, pero yo brillo más”. Foi um presente do meu irmão, na nossa última viagem para a Argentina. Peguei também um pacote de bolacha que a Bárbara me trouxe da última viagem dela ao Brasil.

Ouvi uma buzina de carro e corri para o portão. Chegando mais perto, pude ouvir uma voz familiar.

– Oi Nay – falou o Marquinhos

– Bom dia Marcos, tudo bem? – ele assentiu com a cabeça – Vou só buscar a chave para abrir pra você

O Marquinhos e o Lucas eram, como eu posso dizer, melhores amigos. Estavam sempre juntos e etc. (N/A isso saiu mais gay do que eu tinha imaginado).

Assim que peguei as chaves, corri para fora da sala para abrir o portão.

– Quer entrar? – perguntei – Fica à vontade que a casa é sua

– Seu irmão tá em casa? – perguntou ele. Eu balancei a cabeça negativamente – Vamos que a Bárbara daqui a pouco tá me ligando, falando que eu não faço nada certo

Marquinhos me ajudou a pegar minhas coisas no sofá. Ele pegou a minha mochila e eu peguei o meu café da manhã. Acompanhei ele até o carro, onde ele abriu a porta da frente para mim e colocou a minha mochila no banco de trás.

Assim que o Marcos começou a dirigir, senti o celular vibrar. Assim que pousei os olhos no aparelho, vi que era uma mensagem da Aline.

Chat on

Aline: Nay, a Ba também te ligou falando para vir para a casa dela? Eu cheguei aqui e foi o David que me trouxe. Olha, eu tô com medo e a gente sabe que pode se esperar de tudo quando é alguma coisa da Bárbara.

Nayara: Line, eu ia te perguntar a mesma coisa e pelo visto é alguma coisa com a Pamela também. Eu tô chegando aí em poucos minutos. Beijos e a gente se fala.

Chat off

Não aguentava mais esperar para chegar na casa da Bárbara. Eu estava muito preocupada. Poderia ser alguma coisa que aconteceu com a família dela ou com ela própria. Mas se fosse isso, ela não estaria decorando a casa dela com enfeites ingleses.

– Marcos – eu disse e ele me olhou – Você sabe o que a Bárbara tá aprontando?

Ele me encarou, como se quisesse lembrar de algo, ou até mesmo tentando lembrar de algo.

– Olha Nay, quando eu estava indo na casa dela e ela desceu as escadas correndo, me pedindo para ir te buscar, eu vi o Lucas na porta. Ele fez um sinal do tipo “Vai na fé e não discute”. Fora isso, eu não sei mais de nada.

– Eu tô com medo de ter acontecido alguma coisa perigosa na vida dela, sabe? – perguntei – Confesso que eu estou meio preocupada com essa situação

– Vamos fazer assim: eu ligo para o Lucas e coloco no viva voz. Você vai escutando a conversa e não fala nada. Escreve o que você quer que eu pergunte para ele que eu vou falando, ele respondendo e você tirando as suas dúvidas

O Marquinhos encostou o carro em uma das vielas e procurou na lista de contatos “Lucas”. Enquanto isso, eu fui digitando nas notas do celular o que eu queria que eles conversassem. Não demorou muito para que eu ouvisse o tu, tu, tu, indicando que o celular do irmão da minha amiga estava tocando.

– Alô – disse o Lucas – Tudo bem, Marcos?

– Tudo sim, maninho – respondeu o Marquinhos – Tranquilidade do lado daí?

– Tudo tranquilo – disse o Lucas. Nesse momento, eu ouvi a Bárbara gritando do outro lado alguma coisa do tipo “pergunta pra ele se já estão chegando que eu tenho mais o que fazer” – Olha, a Bárbara tá perguntando onde vocês estão

– Estamos chegando – ouvi o Lucas gritar uma resposta para ela e os dois continuaram – Lucas, fala aí, você sabe o que a Bárbara tá aprontando?

– Olha, eu até sei. Só que se eu te contar ela vai ficar muito brava comigo e nunca mais vai me perdoar – respondeu ele. Acho que o Lucas também estava no viva voz, porque pude ouvir a voz do Maxwell. Depois de uma pausa, ele completou – O Max sabe e tá falando que você e a Nayara vão adorar a surpresa

– Então eu sou o único desinformado por aqui? – perguntou o Marquinhos

– Fica de boa no volante, porque o David acabou de fazer cara feia, falando que também não sabe. Enfim, vem rápido, porque vocês ficam sabendo da surpresa mais rápido. Falou, mano.

Tu, tu, tu fez o celular de novo, dessa vez porque o Lucas desligou. Então o David não sabia. Então significava que nem a Pamela, nem a Aline ainda não sabiam de nada.

– Eu tô sentido que estão nos esperando para contar a surpresa – falou o Marquinhos. Eu apenas olhei para ele, sorri e assenti com a cabeça

Nesses cinco minutos que faltavam, de acordo com o celular, para chegar na casa do Lucas, eu fui tomando o meu café da manhã. Quando a Bárbara me deu o pacote de bolacha, falou que o Marquinhos a adorava. Assim que lembrei disso, ofereci para ele. Como resposta, ele me olhou como se dissesse “Não, obrigado”. Eu ofereci novamente, olhando para ele do tipo “Tem certeza? ” e ele acabou aceitando.

Finalmente chegamos na casa da minha amiga, que estava muito bonita por sinal. Eu estava me sentindo em Londres, pra falar a verdade. Por mais que fosse um ambiente muito agradável, eu estava com medo, pois alguma coisa poderia ter acontecido de grave na vida dela.