Além do seu Olhar escrita por Miimi Hye da Lua, Incrível


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem, babies :)



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— Senhor Vargas?! Senhor Vargas, acorde — chamou-me uma voz grossa — Vargas, acorda! — repetiu a pessoa já irritada.

Voltei ao mundo real em um baque. Era como se eu estivesse andando e alguém tirasse o solo embaixo de mim e eu caísse na total escuridão, voltando à realidade.
Percebi que a voz pertencia ao meu professor de Ciências Tecnológicas, Sr. Harrison. Sua expressão, gasta já com o passar do tempo, não era das melhores, sua testa estava franzida, evidenciando uma boa quantidade de rugas, e seus olhos possuíam uma mescla de curiosidade e um pouco de raiva.

— Pois... Pois não, senhor Harrison? — respondi com certo temor e me arrumando na cadeira.

— A aula acabou há três minutos, e você ainda está aí, babando. Onde estava com a cabeça durante minha aula? Não participou em nem um momento.

— Me desculpa, professor, eu...

— Estava pensado em alguma garota, não é? Eu conheço esse olhar de menino apaixonado — sua faceta havia mudado por completo, um pequeno sorriso bobo brincava no canto de seus lábios, não consegui nomear sua expressão, mas era como: sou mais velho e já passei por isso. — Sabe, quando eu era jovem, tinha uma garota que todos gostavam dela, e comigo não era diferente. Certa vez eu...

Olhei a sala de aula e meu relógio. Automaticamente, lembrei-me do meu encontro com Diego. Não um encontro de encontro, mas um encontro. Na verdade, combinamos que, depois da faculdade, íamos almoçar juntos, mas a peste, vulgo Diego, havia me deixado sozinho na sala e eu teria que procurá-lo no enorme campus da faculdade e o meu velho professor parecia um rádio, não parava de falar sobre seu passado. Perfeito.

— Professor — interrompi-o —, muito legal sua história, mas eu não estava pensando em garota alguma, e, no momento estou atrasado, mas foi muito bom bater um papo com o senhor — falei, saindo apressadamente da sala e deixando o velho com uma surpresa carimbada na cara.

Ao sair da sala, os alunos da faculdade — praticamente de todos os cursos — me cercavam por todos os lados: sul, norte, leste e oeste. Eram tantas pessoas, tantas cores e tanto barulho que se um novato estivesse em meu lugar, com certeza ficaria assustado, e com uma bela dor de cabeça. Felizmente, aquela era minha rotina, e eu já havia acostumado, duro mesmo foi na primeira semana.

Respirei fundo quando me livrei daquela multidão e entrei na área ao ar livre. O céu estava azul e com muitas nuvens, mas isso não impedia o sol de brilhar intensamente. Para resultar em uma perfeita paisagem, o jardim do campus estava florido. Afinal, era verão.

A missão de sair intacto do prédio de aulas foi completa com sucesso, a parte dois: achar o senhor Diego Hernandes — mais conhecido como meu melhor amigo CDF — era a parte realmente complicada. Claro, não havia a mesma multidão, até porque muitos estudantes moram aqui e foram para seus devidos quartos, mas achar um cara de cabelos e olhos quase negros, estatura alta e pele branca, sua chance é de uma em um bilhão. A maioria dos universitários é assim.

Andei pelo campus inteiro umas três vezes, e em todas elas não obtive nenhum sinal do Diego. Quando estava na metade da quarta vez, lembrei que tinha celular e que tinha o número dele. Confesso que me senti um trouxa no primeiro "tu" da chamada.
Diego não demorou muito para atender, quase gritei de alegria ao ouvir o seu primeiro sinal de vida nos últimos 30 minutos, mas me contive.

— Alô?!

— Cara, cadê você? — falei direto.

— Ah, olá, Vargas, como vai você?

— Irritado.

— Mas por que, jovem amigo? — perguntou Diego na maior inocência e ironia. Se ele estivesse na minha frente eu daria um soco na cara dele que ele saberia o motivo da minha ira na hora.

— Porque um amigo meu...

— Olha, eu sei — interrompeu-me Diego. — Eu não te esperei porque está tendo promoção em um restaurante, e é só para os dez primeiros, então eu vim pegar um lugar para nós — explicou.

— Sério? — indaguei, um pouco desconfiado.

— Sim, Vargas. Agora vem logo.

— Mas por que você não me ligou antes?

— Eu te avisei antes de sair da sala, mas parece que você não deu muita importância. Agora é sério, vem rápido, antes que me expulsem da mesa.

— Okay, já estou indo.

— Beleza, tchau.

— Espera! — gritei. Uma mulher que estava do meu lado olhou feio pra mim devido o susto que lhe dei. Tive que fazer muito esforço para não rir. — Qual é o restaurante?

— Poxa, Vargas, nem isso prestou atenção. Precisamos conversar sobre esse seu déficit de atenção — brincou. — É o Young Restaurante.

— Comida chinesa?

— Japonesa — corrigiu.

— Valeu, daqui a pouco estou aí. — E nisso desliguei a chamada.

Graças ao bom Deus minha faculdade localizava-se no centro de Buenos Aires e, bem, aqui no centro tudo é perto — escola, estação de trem, faculdade, os restaurantes, e outras coisas — o que era realmente algo muito bom. O restaurante ficava a três quadras de distância da minha faculdade. Entrei na Avenida Principal de Buenos Aires, percebi que hoje tinha mais pessoas do que o normal. Parecia que toda a população argentina tinha saído de seus lares apenas para esbarrarem comigo.
Apesar de passar a manhã inteira pensando no que meu pai havia me dito antes de sair para a faculdade, retomei o pensamento, mesmo que involuntariamente. O jeito como meu pai havia dito aquilo me deu a certa impressão que não seria algo legal.

"Tenho uma proposta para você, León Vargas, mas, quando chegar em casa, conversamos. Não se preocupe. Ah, e ela é irrecusável"

Mesmo que ele tenha falado para eu não me preocupar, eu tinha um milhão de motivos para realmente me preocupar.
Fiquei pensando: o que poderia ser uma oferta irrecusável para mim? Não posso deixar de notar que, ao meu pai falar, sua voz estava meio que... Sombria.

Eu fiquei com medo.

Mas tenho motivos. Imaginem que o cara que dirige a máfia em toda a América do Sul e tem contato em todos os quatro cantos do mundo te faz uma proposta que, talvez, pode custar a sua. Óbvio, você ficaria com medo. Acho que minha única vantagem é que esse mesmo cara é o meu querido papai.

Olhei de relance a praça ao meu lado. Essa era a praça principal da cidade, e o legal era que eu passava quase todos os dias por ela. Olhei para baixo, observando a movimentação quase automática de meus pés. Isso é engraçado, pois nosso cérebro que faz o tal ato, mas nem percebemos que somos nós que o mandamos fazer isso. Parei de pensar nisso quando algo, ou melhor, alguém se chocou contra mim. Na verdade, eu fui o responsável por não prestar atenção.

Pelo atrito, pude sentir que a pessoa era menor e mais fraca que eu, e, se não fosse pelo meu reflexo que me fez segurar a pessoa, ela provavelmente teria um encontro nada agradável com o chão. Torci mentalmente para que fosse uma garota, não seria nada legal eu estar segurando a cintura de um cara.

Abri meus olhos, que havia fechado por instinto, e me deparei com uma menina. Acho que essa era a melhor notícia em dias. Mergulhei em uma prefeita imensidão castanha quando a garota abriu os olhos. Uma surpresa brotou em seus olhos, talvez o por quê dela não estar no chão, mas isso não durou muito tempo (talvez uns 4 segundos, no máximo) porque logo em seguida ouvi um grito direcionado diretamente e exclusivamente para mim.

— Droga! Olha o que você fez, seu idiota! — gritou, já recuperando o equilíbrio e afastando-se de mim.

Vi algumas partituras voando e entendi o motivo de sua ira.

— Desculpa — consegui dizer ainda em êxtase por causa de seu olhar (perfeito) confuso que durou uma fração de segundos.

— Desculpa? — ela repetiu. — Desculpa não vai salvar as partituras que o vento levou para o meio da rua.

O vento soprava forte, por isso suas partituras ainda voavam pelo ar de Buenos Aires.

Corri para o meu da rua. Talvez eu fosse louco, mas algo em mim não queria deixar que aquela garota ficasse com raiva da minha distraída pessoa.

— Além de idiota é maluco? — gritou, de novo, para mim.

Peguei duas partituras, ainda faltava uma. Um carro veio — não em alta velocidade — em minha direção. Ele brecou no último instante, meu coração parou na garganta, acho que pelo fato de que eu quase morri.

— Cara, você é doido? Sai do meio da rua! — alertou, mas de um jeito MUITO BRAVO.

Ele não precisou falar duas vezes e lá estava eu na calçada, tremendo devido o susto.

— Por favor, desculpa o meu descuidado — pedi novamente. — Consegui pegar duas, infelizmente uma saiu do meu alcance.

— Sim, eu vi — respondeu um pouco grossa. — Obrigada mesmo assim. — Lançou-me um último olhar e saiu, entrando na praça.

Fiquei parado como um idiota enquanto a garota — de fato linda e brava — ganhava distância de mim. Segui meu caminho, afinal, tinha um amigo e um almoço me esperando.

Pensei comigo mesmo que talvez fosse melhor não comentar com ninguém e esquecer esse episódio, mas algo em seus olhos tornava isso difícil.

Fiquei confuso por um momento, meus pensamentos brigavam entre o prefeito e castanho olhar da garota linda e brava, e a estranha proposta de meu pai.

Cheguei no restaurante e de imediato achei Diego, o que foi meio irônico, porque eu mal vejo uma garota na rua e acho meu amigo até que... Rápido.

— Até que fim, León — suspirou Diego, jogando as mãos para o alto quando finalmente sentei-me à mesa.

— Desculpa, cara, eu meio que me perdi — menti.

— Se perdeu para vir aqui?

— Sim — confirmei —, sabe, meu dia não tá legal.

— Pode crer. Percebi durante a aula — disse. — Você é um dos que mais comenta, pergunta e responde durante a aula, e hoje simplesmente ficou quieto durante as cinco horas. O que aconteceu?

Contei para ele sobre o que meu pai havia dito de manhã. Se eu pudesse confiar em uma pessoa, esta, com certeza era Diego.
Diego e eu nos conhecemos desde a segunda série. Ele sabe quase tudo sobre minha vida. Sabe, inclusive, que sou filho de um mafioso. Meu pai também o conhece, aliás, o admira muito por sua inteligência de outro mundo.

— Você já tem alguma ideia do que pode ser essa proposta? — perguntou quando eu terminei de falar.

— O pior que não. Mas eu sei que não será algo simples e é isso que me preocupa de verdade.

— Ele não deu pista nem nada do tipo?

Neguei.

— Ele só me falou o que eu te disse — respondi frustrado.

Nossa comida — que Diego já havia pedido — logo chegou e começamos outro assunto totalmente diferente, o que foi bom para mim. Apesar de conversamos todo santo dia, sempre temos assunto. Isso era uma das coisas incríveis da nossa amizade.

Dividimos a conta do almoço e nos despedimos: Diego trabalha de tarde.

Não queria voltar para minha casa, ainda estava com medo e um pouco aflito. Não é bom adiar as coisas, mas pareceu o certo naquele momento. Andei por vários lugares de Buenos Aires. Parei em frente o lago e me apoiei no parapeito de segurança. O lago faz parte de um parque ecológico, mas além disso funciona como um prefeito espelho, e lá estava refletido o reflexo do sol e o meu.

Fiquei pensando naquela garota. Qual seria o seu nome? Por que estava com aquelas partituras de teclado? E por que ela tinha que ter os olhos mais lindos que já vi na minha vida?

Não tinha mais nada o que fazer e o sol terminava seu dia de trabalho. Resolvi ir para casa. Caí na real quando estava entrando no jardim da mansão. Respirei fundo, o momento era este.

— Pai! — gritei assim que tirei meu tênis e entrei na casa. — Pai! — gritei novamente.

Fui para o segundo andar e o chamei de novo. Nenhuma resposta.

Confesso que fiquei feliz, meu pai não estava em casa o que significava que ainda estava "semi livre".

Minha alegria foi embora quando uma voz rouca e grossa entoou do escritório do meu pai.

— Havia um garoto que, em seus tempos de escola, era considerado esquisito e maluco por todos do colégio. Por causa disso, seus colegas de turma nunca queriam sua companhia e sempre mantinham distância dele, nunca queriam ser vistos conversando com ele. Porém, dois jovens, German Castillo e Maria Saramego, eram diferentes desse grupo de colegas e acabaram tornando-se amigos do garoto esquisito — entrei no escritório. Meu pai estava sentado em sua majestosa cadeira, de costas para porta, que era onde eu estava. — Três anos mais tarde, o menino adquiriu certo sentimento especial por Maria, algo a mais do que aquela linda amizade. Sem muitas opções, ele recorreu a seu melhor amigo, German. Ele, por sua vez, deu algumas dicas para esse menino. Logo, o garoto estava namorando Maria, e eles estavam de fato muito felizes, mas essa felicidade acabou assim que o menino flagrou seu melhor amigo e sua namorada se agarrando no final das aulas.

De princípio, não entendi bem o que meu pai queria dizer com essa histórinha de "conto de fadas" que não teve um final feliz.

— Não entendi, meu pai? — falei o mais culto e educado possível.

Ele girou sua cadeira e me encarou com seus gélidos olhos azuis escuros.

Estremeci na hora, além do calafrio que espalhou pelo meu corpo.

— O garoto sou eu, León — revelou. — German Castillo era meu melhor amigo, e me tirou o meu bem mais precioso. Eu amava aquela garota, ela era tudo pra mim e ele tirou isso — dor e magoa pairava em cada palavra dita por ele. Dava para perceber o quanto ele amava essa menina que traiu ele. Nunca vi meu pai assim. — Mas, agora, chegou a minha vez de fazer o mesmo — completou. A dor sumiu dando espaço ao ódio.

— E como pretende fazer isso, pai?

— Essa é parte em que você entra em ação — disse, abrindo um sorriso sórdido nos lábios. — Descobri recentemente que German tem alguém muito importante, alguém do sangue dele. Eu quero que você liquide essa pessoa.

— Quer que eu mate esta pessoa? — perguntei, mantendo-me firme. Não podia de jeito nenhum fraquejar na frente de meu pai.

— Matar é uma palavra muito forte, você não acha, Vargas? — respondeu, levantando e indo ao pequeno bar, enchendo um copo com whisky. — Sabe, eu diria eliminar, ou aniquilar. Ah, e quase me esqueci da parte mais importante: se fizer o que lhe pedi, acredite, deixo você livre para fazer o que quiser, mesmo que isso seja abdicar de seu lugar por direito — falou, passando a mão livre em sua cadeira.

A oferta era tentadora. Eu havia sido treinado minha vida inteira para isto: matar pessoas. Eu não queria ocupar o lugar que meu pai ocupa: Chefe da Máfia Ocidental, e essa era a minha única chance de ser "livre" desse peso, o qual estava em meu destino.

Logo decidi; Eu mataria uma pessoa para deixar de matar milhares, futuramente.

— Eu aceito! — falei por fim, arrancando um sorriso dos lábios de meu cruel pai.


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Notas finais do capítulo

Comentem XD