Hoje é dia 15 de junho. Faz exatamente vinte dias que nós terminamos... Que eu terminei. Eu nunca fui boa em discursar, sempre fui melhor escrevendo, você sabe. Quando abro minha boca pra falar qualquer coisa a fala trava, eu gaguejo. E com você isso sempre foi pior. Você sempre me deixou mais nervosa que o normal. Então já que não consigo falar, eu vou escrever. Escrever sobre o que eu sei falar de melhor. Você.

Bom, eu poderia começar do início, lá do dia em que nos conhecemos, onde tudo começou, mas eu vou começar vinte dias atrás, onde tudo terminou.

A culpa foi minha, admito. Tem dias em que eu penso que terminar tudo o que tínhamos foi o pior erro que eu já cometi e em outros dias a sensação é de que eu não poderia ter feito coisa melhor. Você tem essa coisa, me deixa confusa.

Sem mais delongas digo: você foi a melhor coisa que já me aconteceu e eu te amei. Te amei com todas as forças que ainda me restavam. Você me ajudou quando eu mais precisei e serei eternamente grata por isso. Obrigada por tudo o que você já fez por mim. Obrigada simplesmente por existir.

Era uma quarta-feira a tarde, há dois anos. Eu tinha uma amiga, mas por algum motivo não me lembro o nome dela. Eu sempre fui do tipo possessiva, o tipo chata, sabe? Mas naquele dia não. Eu briguei com você, sim, mas do jeito mais inocente possível. Cinco minutos de conversa me provaram que você não era o tipo de pessoa que você conseguia ficar com raiva. Não dá pra controlar, você cativa sem nem se esforçar. Naquele dia eu havia conhecido o melhor amigo que eu poderia conhecer. Não demorou muito também para eu me apaixonar por você...

Talvez apenas algumas semanas, no máximo alguns meses e então eu percebi: eu nunca acharia ninguém melhor do que você, afinal, "que tipo de garoto não sabe andar de skate?". Você é o tipo de pessoa que me faz rir sozinha apenas por lembrar de uma frase simples como essa. Eu te xingava, e você dizia que eu era idiota. Eu dizia que não me importava com você e segundos depois discursava o quanto nossa amizade significava pra mim. Sempre foi assim, lembra? Dois xingamentos e um "eu te amo". Talvez não dito assim, explicitamente, mas nós dois sabíamos que sim. Você tem isso dentro de si, despertar o melhor nas pessoas.

Demorou cerca de um ano e alguns meses pra você - finalmente - dizer o que eu esperava desde o dia em que nos conhecemos. Tudo bem, não da forma mais gentil possível, claro. Foi algo mais ou menos assim: "eu te amo, sua idiota. Eu gosto de você e você é muito lerda pra perceber". E, mais tarde, você me pediu em namoro. De uma forma igualmente gentil. Você nunca foi "delicado". Você nunca precisou ser. Mesmo com seu jeito grosso, pra mim, você sempre foi a pessoa mais amável que eu conheci. Mas, meu amor, não era pra dar certo. Nunca foi feito pra funcionar. As circunstâncias nunca permitiram.

Você sabe, como todos os casais, tínhamos diferenças. Você sempre falou mal daquela banda que eu gosto e eu sempre falei mal dos seus gostos também. Você amava brócolis e eu não vivia sem chocolate. Mas apesar de tudo, também tínhamos muito em comum. Ambos enlouquecíamos com aquela música. A NOSSA música. Afinal, "pra sempre é muito tempo, mas eu não me importaria de passar ao seu lado". Era verdade. É verdade. Sempre foi e isso nunca vai mudar. Mas acima de todas as coisas, nós nos amávamos. Amávamos um ao outro incondicionalmente. E isso sempre foi o bastante. Até agora.

É como eu disse: as circunstâncias. E eu venho, nesta carta, entregar tudo o que ainda está preso dentro de mim, que eu preciso expor. E por último: obrigada novamente. Você me fez amadurecer, melhorar. E o tempo que passei com você eu sei, não vai voltar, mas eu vou lembrar dele pra sempre, como uma lição, com todas as coisas que aprendi. Dizem que quando se ama de verdade você não esquece, não deixa pra trás, não tem mágoas. E eu não tenho. Daqui a alguns anos eu ainda vou lembrar de você como a melhor coisa que me aconteceu. E obrigada. Obrigada por me fazer uma pessoa melhor.