A Reunião dos Heróis escrita por MaçãPêra


Capítulo 30
Inveja?


Notas iniciais do capítulo

Genteeeeeeee! Voltei!
Nem vou mais fazer aquele discurso de "atrasei de novo, me desculpem blablalba" porque nem adianta mais.
E então? MUITA COISA aconteceu nesse período em que estive ausente: férias, Procurando Dory, Stranger Things, Olimpíadas, Esquadrão Suicida, Harry Potter e a Criança Amaldiçoada, Comic con com novidades incríveis em relação à Marvel, DC, Animais Fantásticos e muitas outras coisas. Provavelmente eu esqueci algum acontecimento importante, mas né... Fazer o que?
Temos também uma nova leitora (que comenta os capítulos). Seja bem vinda Biatrix! E agradeço a todos os outros que desde o início (ou meio) dessa fic vem comentando meus capítulos. Isso me incentiva muito!
Finalmente mais um capítulo do Zeke! Sei que vocês esperaram ansiosamente por isso... Então vamos ao cap!
:):):)

P.S.: GENTE, VOCÊS VIRAM A CAPA NOVA DA FIC?????? FINALMENTE MUDEI! Antes tava uma porcaria. Meus agradecimentos à capista do Social Spirit.



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P.O.V. Zeke

Meu coração bate forte quando saio da van. Será que Amy e Dan estão aqui? E se estiverem... Seus captores também estarão? O posto parecia estar vazio, mas o fato de a esfera luminosa ter pousado aqui prova exatamente o contrário.

— Katniss, fique aqui cuidando do carro — Nellie pede

Nós avançamos em direção à lojinha do posto. As luzes da loja estão apagadas, então não consigo ver o que há lá dentro. Nellie empurra a porta de entrada. Fico surpreso quando ela se abre silenciosamente.

— Não era pra estar trancado? — pergunto, olhando para a plaquinha de “FECHADO”.

Entramos. Quando todos passam, Nellie fecha a porta. São quatro corredores entre as estantes de alimentos, como se fosse um mercadinho. Cada um vai por um corredor: da esquerda para a direita, Nellie vai pelo primeiro, Tris pelo segundo, eu pelo terceiro e Ian pelo quarto.

Avanço cuidadosamente pelo corredor escuro, temendo pisar em algo e fazer barulho alto o suficiente para quem quer que esteja ali ouvir. E se for um dos sequestradores? É o que me pergunto pela milésima vez.

O medo me invade ao perceber que não tenho nada para me proteger além dos meus próprios punhos. Na Mansão de Umbridge eu consegui pegar a arma de um dos seguranças desmaiados, mas logo que dei meu primeiro tiro na perna de outro guarda, percebi que poderia tê-lo matado e logo joguei a arma fora. Eu poderia usar um pote de Nutella também, como eu havia feito antes de encontrar a arma. Acho que eu não terei tanta sorte novamente se eu resolvesse me proteger arremessando um pote do doce contra um projétil vindo em minha direção.

Escuto um som metálico à minha direita. Alguém corre e Ian grita. Vou correndo até o início do corredor de Ian e sigo por onde ele havia ido. Escuto passos vindo em minha direção, mas continuo correndo. De repente, os passos param. Acelero ainda mais...

Algo volumoso se choca contra minha perna. Caio rolando no chão, desorientado e com o ombro direito doendo. Aconteceu rápido demais.

— Zeke, é você? — Ian se aproxima de mim. — Alguém me deu um soco na cara! Ele está fugindo... Ai! — geme.

Escuto novamente o som de alguém correndo, mas dessa vez, pra longe de mim. Na direção da porta.

Levanto-me com dificuldade. Estou tonto e inteiramente dolorido. Volto pelo lugar de onde eu vim do jeito mais rápido que eu consigo. Sinto Ian me seguindo logo atrás. Então as luzes se acendem.

Chego ao início do corredo a tempo de ver uma cena inesperada: Nellie também estava ali, encarando uma pessoa que estava de costas para mim. Por seu comprido cabelo castanho-avermelhado, logo percebi que se tratava de uma garota. Mas não uma garota qualquer.

Ian me alcançou e ficou estático ao meu lado. Ele encara a garota com a boca meio-aberta e um pequeno fio de sangue escorrendo por seu rosto.

— Nellie! — exclama a garota.

— Amy... — Um brilho surge nos olhos de Nellie.

As duas se abraçam. Uma lágrima escorre pelo rosto de Nellie.

— Eu sabia que vocês viriam...

— Graças a Deus você está bem! — diz a au pair.

— Não é como se essa fosse a primeira vez que nós nos separamos — Amy ri.

— Eu sei... Eu sei...

Olho para Ian e cochicho:

— Fecha a boca e limpa esse sangue. Você não quer ficar parecendo um idiota na frente dela, quer?

Amy me escuta falando e se vira para nós, saindo do abraço de Nellie. Ian logo se apressa a fechar a boca e limpar o sangue.

— O-oi... Amy — gagueja.

Amy ergue uma sobrancelha pra ele. Sua bochecha está machucada e sua camisa verde está rasgada no ombro, toda suja com asfalto.

— Ian — responde, sem nenhuma emoção no rosto além de estranheza. Ela parece notar o ferimento no rosto do garoto. — Oh! Desculpe-me por isso. Não sabia que era você quando... Você sabe.

— Tudo bem — ele sorri sem graça.

— Para tudo! Amy deu um soco em Ian Kabra? Essa eu queria ter visto — Nellie ri.

O garoto enrubesce e desvia o olhar para o chão. Amy não tira seus olhos analisadores dele, deixando-o ainda mais desconfortável.

— Amy! E aí? Meu nome é Zeke. É um prazer finalmente conhece-la — dou alguns passos a frente e estendo minha mão, sorrindo.

Amy percebe minha presença. Ela me olha e aperta minha mão. A garota vira para Nellie com um olhar interrogador.

— Zeke não é um personagem como nós — Nellie explica — mas ele já leu nossos livros. Ele sabe das coisas.

— Sei inclusive que você tem um irmão...

Uma lágrima escorre pelo rosto de Amy. Ela olha para Nellie com culpa.

— Ele conseguiu cortar a amarra que prendia meus pulsos — outra lágrima sai de seus olhos —, mas não teve tempo pra cortar a própria. Ele só pediu pra que eu corresse!

Nellie a abraça novamente enquanto Amy chora. Ian parece abalado. Vejo Tris parada no canto só observando. Por algum motivo acho estranho Amy ficar daquele jeito. Como ela mesma dissera, essa não é a primeira vez que eles se separam. Mas dessa vez as coisas estão diferentes. Ou a situação está muito ruim.

— Acho melhor voltarmos para a van — sugiro — Se quisermos encontrar Dan, teremos que partir logo.

— Sim. Não podemos perder tempo — Nellie assente com a cabeça — Lá na van você nos conta o que aconteceu.

Nellie acompanha a garota para fora da loja do posto e nós as acompanhamos.

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— Eram três sequestradores. Um deles era uma bruxa — informa Amy depois que todos entram na van e Nellie começa a dirigir na direção que Amy disse que os sequestradores foram.

— O que? Quem? — pergunto. Seria mais algum Comensal da Morte? Como o que caíra do avião com Remo?

— Se não me engano, seu nome era Belatriz Le... Les...

— Lestrange — completo.

Não pode ser. Ela não!

Ainda me lembro da voz da dubladora de Belatriz Lestrange cantarolando: “Eu matei Sirius Black! Eu matei Sirius Black!” com aquela voz irritante e sua risada maligna no final.

Ela torturou os pais do Neville e a Hermione. O que ela fará com Dan?

O desespero toma conta de mim. Será que Amy sabe o quão perigosa Belatriz Lestrange é? Deve ser por isso que ela ficara tão desesperada por seu irmão não ter conseguido fugir.

— E os outros dois? — Katniss pergunta. Ela está sentada ao lado de Amy, limpando os ferimentos no rosto da garota com um pano úmido.

— Não tenho certeza. Elas faziam um pouco de magia, mas não usavam varinhas.

Devem ser magos...

— Mas como, exatamente, você conseguiu escapar? — Tris, que está atrás de Katniss e Amy, ao lado de Ian, se inclina mais no banco.

— Bem, Belatriz tinha amarrado nossos pulsos e nos trancado no porta-malas pra que não fugíssemos, mas Dan encontrou um objeto afiado o suficiente para cortar a minha corda.

— Esses vilões nunca aprendem... — Ian comenta.

— Antes que eu pudesse cortar a corda que prendia o pulso de Dan, o carro parou e Belatriz abriu o porta-malas — Amy continua — Ela disse que iríamos parar em um posto e ameaçou nos torturar caso fizéssemos algum barulho. Por sorte ela não percebeu que eu estava com as mãos livres e, quando ela fechou o porta-malas, posicionei o objeto cortante de modo que o porta-malas não se fechasse completamente e nos trancasse lá dentro novamente.

— Então você só precisou abrir o porta-malas e pular para fora do carro — deduzo — Você tem sorte de a magia de Belatriz estar fraca. Se não estivesse, ela teria usado um meio muito mais eficiente para te prender. Eles foram atrás de você depois que escapou?

— Foram. Eu me escondi no telhado da lojinha do posto. Ouvi Belatriz gritando feitiços pra tentar me encontrar, mas parece que eles não funcionaram, né? Só estranhei o fato de que eles desistiram rápido demais.

Estranho, penso.

— Você sabe o que eles queriam com vocês? — Ian pergunta.

— Eu sei que eles estavam nos levando para um lugar mais longe pra fazer algumas perguntas... Não sei qual tipo de perguntas.

— Talvez eles não precisassem dos dois — arrisca Tris — O que Amy sabe... Dan também sabe.

— Mas eles poderiam perguntar para os dois separadamente para verificar que a informação é verídica — Katniss contrapõe.

— Talvez eles queiram uma informação que somente Dan possui — sugere Ian.

Todos ficam em silêncio.

— Ele teria me contado — afirma Amy com convicção.

Ian pensa um pouco e pergunta:

— Amy... O quanto você lembra sobre o seu último dia no nosso mundo?

— Não muita coisa. Só me lembro de que eu ia fazer algo... Uma viagem.

— Algo deve ter acontecido nessa viagem — Afirmo. — Não se lembra de nada relacionado a Dan? — pergunto à garota.

Ela nega com a cabeça e olha para Nellie sugestivamente. A mais velha também nega e olha para Ian.

— Eu me lembro de Dan. — Toda a atenção se volta para o garoto. — Lembro-me de ele tentando me entregar algo... Não sei. É a única coisa da qual me lembro.

— Ele chegou a te entregar o que quer que ele tenha tentado te entregar? — Katniss pergunta.

Ian se concentra.

— Acho... Acho que não. Não tenho certeza.

Tris compreende o raciocínio de Katniss.

— Talvez os sequestradores queiram esse objeto misterioso que ele tentou te entregar!

— Mas se ele tem mesmo esse objeto... Por que não pegaram dele ainda? — Amy questiona.

— Ele não tem esse objeto — Katniss afirma — Mas ele sabe onde está!

— Somente ele sabe — Tris diz.

— A pergunta é: o que esse objeto tem de especial? — Ian indaga.

E ainda há a pergunta que poucos fizeram: o que Dan estava fazendo com ele?

Olho de soslaio para Nellie no banco do motorista e concluo pelo seu olhar preocupado e confuso que ela está pensando exatamente nisso.

— Ah... Eu vou jogar na cara de Tot se Dan tiver algo de extrema importância pra todos nós — ela diz com seriedade.

E Ted talvez me perdoe por ter seguido uma direção diferente da dele. Ele talvez até se desculpe pelas coisas que disse...

As coisas que disse...

A memória da discussão que tivemos hoje mais cedo ainda está fresca em minha mente. Sinto um arrepio só de me lembrar da frieza com que Ted sugeriu que nos separássemos. Ele parecia bem ansioso para se ver livre de mim...

Uma lembrança mais antiga surgiu em meus pensamentos:

“Era uma terça-feira à tarde e eu estava na piscina do Colégio fazendo meu habitual treino de natação. Depois de aprimorar meu salto, nadar 400 metros nos quatro estilos diferentes e de uma pequena competição de quem vai mais longe pela piscina sem respirar, o professor André liberou os alunos para podermos ir para casa.

Toda terça e quinta-feira tem treino para a maioria das modalidades praticadas no Colégio Militar, mas a natação é sempre a última em que seus atletas são liberados (meus agradecimentos ao professor André). Isso é ruim pra quem pega o ônibus das 16:30. Eu não preciso pegar esse ônibus, já que moro perto de casa, mas isso garante que não tenha uma grande plateia assistindo aos treinos na arquibancada. O único que permanecia lá era Guilherme, meu melhor amigo.

Guilherme, ao contrário de mim, havia entrado no Colégio Militar a partir do concurso, pois seus pais são civis. Isso significa que ele estava no Colégio desde o sexto ano, assim como eu. Apesar disso, só nos tornamos verdadeiramente amigos a partir do nono ano, quando fizemos um trabalho de português em dupla. Mas isso já é outra história. O que importa é que ele era um dos meus únicos verdadeiros amigos.

Fui tomar uma ducha gelada e me dirigi à arquibancada, onde Gui, minhas roupas e minha toalha estavam. Sentei-me ofegante ao seu lado no banco, tomando cuidado para não molhar seu uniforme.

— Quer água? — Ele me ofereceu sua garrafa — Ainda tá gelada.

Tomei a garrafa de sua mão e bebi tudo. Gui riu da minha pressa e riu ainda mais quando quase me engasguei com a água.

— Vai com calma! Eu posso pegar um pouco mais lá no bebedouro...

— Não, tudo bem. Valeu — agradeçi. Pego a toalha para secar meu rosto — Como foi o vôlei?

Meu amigo suspirou.

— Professor Marcelo tá me pressionando muito pra eu aprender a sacar direito por cima. Ele diz que já passou da hora de eu abandonar o saque por baixo. — Fez uma pausa. — Estou achando muito estranho. Ele vem chamando atenção demais pra mim. Ano passado ele ainda me deixava sacar por baixo. Ele está sendo bem mais rígido.

— Talvez ele queira te levar para os Jogos da Amizade esse ano. — Gui estava olhando para longe quando tirei a toalha do meu rosto e passei a secar minhas pernas. — Você é muito bom no vôlei. Sabe fazer todos os toques com perfeição sabe cortar muito bem.

Ele riu com o duplo sentido da minha frase. Gui era famoso no Colégio por ser bom em debates e dar boas cortadas nos outros. Não menciono o fato de ele ser um dos mais altos dos atletas de vôlei. Sei que ele não gosta dessa sua característica.

— Sei não... — Ele disse enquanto colocava minha bermuda de Educação Física. — Os outros jogam muito bem. E acho que até você joga melhor que eu. Talvez ele te chame pra ir pelo vôlei aos Jogos.

— Não, obrigado — recusei enquanto calçava minha meia. — Já estou cheio de coisa desde Capitão Rego me convidou pra ir pelo Pentatlo. Agora tenho que treinar esgrima e correr junto com o pessoal da Orientação quando não tiver natação.

Nesse momento, Ted chegou, descendo as arquibancadas e parando na minha frente. Guilherme ficou tenso ao meu lado.

— Você tem algum problema com esgrima? Ou com o pessoal da Orientação? — Meu irmão perguntou.

— Não! Não... — me apressei a dizer enquanto amarrava o tênis — Só fica muito cansativo treinar tudo isso... Ei! O que você tá fazendo aqui? Foi cortar o cabelo?

O treino de atletismo de Ted acontecia somente nas segundas e quartas, por isso estranhei sua presença aqui hoje. Minha pergunta nem precisava de resposta: como usual, Ted tinha seu cabelo fora dos padrões do Colégio. Seu cabelo deixaria qualquer monitor louco.

— Tive reunião com o grupo pra um trabalho de história — ele respondeu. — Por que você não foi almoçar em casa hoje?

— Fiquei na biblioteca pra ajudar Gui com Biologia e vim direto pra cá.

Ted pela primeira vez nessa conversa desviou o olhar para Guilherme, seu rosto permaneceu imóvel, mas ele franziu a sobrancelha como se Gui fosse um incômodo. Meu amigo o encarou de volta com um olhar duro e o maxilar tenso.

— Eu já estou indo — Meu irmão se virou para mim — E faça o favor de colocar uma camisa.

Ted deu meia-volta e seguiu seu caminho para fora da área da piscina. Quando ele se perdeu de vista eu me virei pra Guilherme.

— Por que vocês se odeiam tanto? — perguntei pela milionésima vez no ano enquanto vestia minha camisa de Educação Física.

— Nós não nos odiamos... — respondeu pela milionésima vez. Suspira. — Um dia você saberá o que está acontecendo...

— Já faz praticamente um ano desde que vocês começaram com essa frescura — lembrei-o. — Deixo vocês terem seus segredinhos, mas a cada dia fico mais curioso.

Levanto-me pronto para ir. Gui me segue pela arquibancada até o portãozinho que leva para fora da área da piscina. Meu amigo mexeu os dedos nervosamente, olhando para o asfalto da pequena ladeira que descíamos.

— Isso não vai me convencer a te contar o que é — ele rebateu.

— E como eu te convenço a me contar o que é? — indaguei.

Passamos pela Banda de Música e seguimos na rua que dá direto com a trilha da Vila.

— Você não vai me convencer — insistiu.

— Existe algum jeito de eu descobrir?

Ele parou de caminhar e pensou.

— Claro.

— Como? — perguntei, animado.

Ele olhou diretamente pra mim.

— Abra os olhos — respondeu simplesmente e continuou andando.

Segui-o.

— O que?

Ele não responde, fica sério e continua andando. Depois de alguns segundos ele pergunta:

— Você acreditaria em mim se eu te contasse que Ted tem inveja de você?

Estranhei a repentina mudança de assunto.

— Não acho que ele tenha. — opinei — Isso não é uma situação hipotética... Você realmente acredita que Ted tem inveja de mim. Por que você acha isso?

Guilherme ergueu as sobrancelhas.

— Bem... Só me pareceu meio obvio — contou — Veja só: Ted é magrelo e não muito atrativo. Já você... Bem... Já se olhou no espelho?  Você tem o corpo que todo garoto gostaria de ter!

Eu deveria ter ficado agradecido pelo elogia, mas o que senti foi uma pequena pontada de culpa.

— São eles que não se esforçam o bastante — argumentei — Além do mais, já conversei com Ted milhares de vezes. Digo que ele tem potencial, é só ele fazer os exercícios adequados e concentrados em regiões específicas, mas ele insiste que está satisfeito do jeito que está. Ele não se importa com a própria aparência.

Guilherme fica pensativo.

— Mas e quanto às garotas? Você as conquista com uma facilidade surpreendente. Ted não tem essa habilidade. Por que ele não teria inveja disso?

— Já contei a ele tudo o que devia saber. Um dia aparecerá a pessoa certa.

— E se a pessoa certa se apaixonar por você, e não por ele?

— Cindy não era a pessoa certa.

— Eu não estou falando de Cindy.

— Sei que está.

Gui ficou frustrado por estar perdendo a discussão. Essa é uma coisa rara e engraçada de se ver. Ele contraiu os lábios e focou os olhos no nada.

— Zeke, o Colégio inteiro baba em cima de sua barriga de tanquinho. Se bobear é o mundo inteiro! Todos querem ter esse seu rostinho bonitinho e conseguir pegar alguém com a mesma facilidade que você. O Colégio inteiro. Ted não é exceção.

— E nem você? — pergunto calmamente.

Xeque-mate.

Ele parou de andar e eu parei também. Ele me olha diretamente nos olhos. A boca dele treme e um brilho surge em seus olhos castanho-escuros. Então um sorriso travesso surge em seu rosto.

— Caramba! Com quem você aprendeu a dar cortadas desse jeito? — ele riu.

Também rio.

— Mas então... — voltei a ficar sério — É por isso que você e Ted se dão mal?

Chegamos à trilha que leva à Vila onde eu moro. Era nesse ponto em que eu e Gui seguimos em direções diferentes.

Meu amigo continua com seu sorriso travesso.

— Na verdade não. Só iniciei essa discussão toda pra te desviar do assunto anterior.

Ele tem um sorriso tão contagioso que eu nem consigo sentir raiva dele nesse momento.

— Infelizmente seguiremos caminhos diferentes a partir de agora, impedindo que continuemos nossa conversa. Até amanhã. — Ele estende a mão.

— Até. — Despeço-me dele.”

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Uma lágrima quase cai de meus olhos. Quase. Mesmo agora que minha vida virou de cabeça para baixo continuo indeciso e confuso em relação a certos eventos do passado... Mas ainda assim, sinto falta de Guilherme.

Algo que ele disse aquele dia pode ser a resposta para o motivo de Ted ter agido de modo tão rude hoje mais cedo... Será que ele tem inveja de mim? Será que ele não suporta mais viver à minha sombra e aproveitou a oportunidade pra se afastar ao máximo de mim?

Essas possibilidades doeram profundamente em meu peito. Não é isso. Deve ter sido alguma outra coisa. Ele provavelmente só está...

— Nellie! Pelo amor de Deus. Pare o carro! — Amy exclama de repente. — Olhem aquilo ali no céu!

Nellie pisa fundo no freio. Todos nós metemos a cara no vidro pra ver o que Amy estava apontando.

Apesar de estar de noite, a luz da lua ilumina um cavalo alado voando lá no alto com duas pessoas montadas: um garoto e uma garota. Pode ter sido impressão minha, mas pareceu a mim que a garota possuía cabelo loiro.


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Notas finais do capítulo

E então? O que acharam?
Algum erro gramatical ou de coesão? Se tiver algum furo na história me avisem também por favor.
Espero que tenham gostado da nova capa também! Eu achei que ficou incrível...