Family Fan escrita por Stormborn


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

História ambientada no pós 699.



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But she made me change my ways

With eyes like a sunsets baby

 

Quando Sakura acordou, a primeira coisa que percebeu foi que estava sozinha.

Não fora a falta de um segundo chakra que a primeiro alarmou; fora a falta de contato. Sasuke não era uma pessoa que gostava de dormir abraçado, sempre preservando muito seu espaço pessoal, mas ele sempre mantinha algum tipo de intimidade com sua companheira, desde uma mão no seu braço ou pés enroscados.

Era um de seus hábitos que Sakura mais apreciava.

A segunda coisa que invadiu seus pensamentos foi a de que ela precisava trabalhar. Olhando rapidamente para o relógio de cabeceira e percebendo que estava no horário – sempre tivera um relógio biológico muito bom –, Sakura levantou-se sem pressa. Tratou de cumprir sua rotina matinal e foi somente no banho que se lembrou em que dia estava.

12 de junho, dia dos namorados.

Ela então se tocou de que não sabia como se portar. Não sabia se deveria fazer planos, se Sasuke os aprovaria, se ele ao menos estaria em casa até o fim do dia. E se de fato estivesse, não sabia nem se ele iria querer comemorar.

Sakura suspirou e colocou o assunto em segundo plano, mas nunca o esquecendo de verdade.

Ao se vestir – optou pela roupa civil tradicional – seus olhos perceberam um pedaço de papel caído no chão. Provavelmente estava na cama, pensou. Ela o pegou e como se precisasse, identificou a caligrafia perfeita de Sasuke.

Sakura,

Precisei sair em missão. Tem café na cafeteira. Volto de noite.

Sasuke.

Sakura não pôde deixar de sorrir com a segunda oração.

Essa preocupação, esse carinho era só para ela e por ela.

—____________________________________________

— A menos que seu presente seja algo íntimo demais para ser dito até para mim, eu quero saber o que você decidiu dar para o Sasuke-kun.

Sakura levantou os olhos da papelada que lia para finalmente dar atenção a visita não tão inesperada assim a sua sala.

A loira mantinha no rosto aquela expressão de “quero-saber-de-tudo” que ela só fazia na presença de sua amiga de infância, e mais precisamente, ao lidar com algo que ela não tinha pleno conhecimento.

E o namoro – ou seja lá como os mesmos o chamassem – de Sasuke com sua melhor amiga era um desses mistérios que ninguém ousava meter o nariz. A não ser ela e o Hokage.

— Ino! Eu estou trabalhando.

— E daí?

Sakura olhou feio para Ino mas sem nenhuma real esperança de espantar a curiosidade da moça. Como esperado, ela apenas recebeu como resposta a provocação da loira em forma de olhos azuis arregalados em falsa surpresa e um sorriso obscenamente escancarado.

Ino não pôde deixar de começar a rir da situação depois.

— Sério, testuda, eu quero saber! Seus queridos papéis não vão a lugar algum se você der uma pausa.

Ela poderia jurar que ouvira Sakura sussurrar um “irritante” mas preferiu não entrar no caso. Sentou-se calmamente na cadeira de paciente e ficou à espera de algum sinal da rosada para que prosseguisse a tentativa de conversa.

A médica recolheu suas fichas médicas, não sem antes suspirar e se perguntar se, afinal, não estaria fazendo um pacto com o diabo, e a contragosto fixou o olhar em sua melhor amiga.

— Diga.

O sorriso de Ino se tornou malicioso num piscar de olhos.

— Ora, eu já te perguntei. Você comprou ou não alguma coisa de dia dos namorados?

— Não. — Antes que Ino pudesse vociferar alguma indignação, Sakura complementou de forma rápida. — Ino, eu não sabia se devia! Não falamos sobre isso. Eu não falei sobre isso. De verdade, eu não pensei em nada. Sei lá. Afinal, não som-

— Não somos um casal convencional e blá blá blá.

Yamanaka Ino conhecia Sakura coma a palma de sua mão esquerda. Ela era como um diário que só ela e mais alguns privilegiados tinham acesso. Muitos já haviam tentado e muitos fracassaram em entender a Haruno da mesma maneira que ela.

Tudo o que ela falaria, o modo como reagiria a situações X e Y, Ino sabia disso tudo. Não fora muito difícil, portanto, completar sua fala.

Menos complicado ainda era perceber que aquela era sua amiga falando de corpo e alma.

Com todas as suas mudanças, Sakura continuava sendo uma menina cor de rosa com sonhos cor de rosa em relação a romances. Fazia parte de quem ela era toda tradição do andar de mãos dadas, beijos no luar, trocas de presente e declarações amorosas.

Ino tinha ciência de que a partir do momento em que a rosada aceitara Sasuke em sua vida amorosa, ela soterrou todas as suas preferências e desejos por conhecer bem com quem agora passava a compartilhar a casa.

Suspirando, a Yamanaka voltou a falar.

— Sakura, eu entendo. Só acho que você não precisa sempre se basear nas vontades do seu namorado. É tudo uma questão de jogo de cintura. — E piscou.

Haruno Sakura revirou os olhos e sorriu debochadamente.

— Diz quem quer controlar tudo sempre, né? Belo jogo de cintura.

— Detalhes. Meros detalhes. O que eu quero dizer é: — A loira levantou e debruçou-se na mesa do consultório, olhando diretamente nos olhos verdes da amiga. — Faz o que você quer e pronto. Se ele não gostar, problema é dele, mulher.

Ela percebeu de imediato que conseguiu o efeito que desejara.

Sakura abriu a boca para protestar mas parou no meio do caminho. Ela franziu a testa e começou a matutar. E Ino sabia que a partir daquele momento, nada do que dissesse iria de fato entrar no ouvido da rosada e não sair pelo outro.

Com um senso de missão cumprida, a Yamanaka se encaminhou até a porta para deixar sua amiga voltar ao trabalho (no fundo, no fundo, ela sabia que Sakura não faria isso). Lembrando-se de uma coisa, ela virou a cabeça e, sem parar de andar, disse em alto e bom som.

— Ah, testuda! Ainda dá tempo de comprar aquela lingerie maravilhosa que estav-

— Ino!

—____________________________________________

Haruno Sakura queria muitas coisas naquele momento. Ver Naruto não fazia parte da lista.

Ela se espremia entre uma estante e outra da apertada e lotada loja de departamento quando vira de relance a cabeleira dourada – e única – de seu hokage. Pensou, não tão orgulhosamente assim, primeiramente em fugir, mas logo se dando conta da infantilidade do ato, resolveu voltar sua atenção para o que estava a sua frente e esperar o inevitável.

Se ele estava numa loja comercial em plena tarde e não em seu escritório só podia significar que era atrás dela que Naruto se encontrava.

— Essa é uma bela caneca. Mas eu duvido que seja o que você procura.

Sakura desviou o olhar da porcelana e encarou seu melhor amigo.

— Eu não faço ideia do que estou procurando.

Uzumaki Naruto sorriu daquele jeito que só ele sabia, dentes brilhando como a luz do dia.

— Posso ajudar?

— Não, seu gosto é péssimo.

— Ei!

A partir desse momento, sorrindo, Sakura admitiu para si mesma que estava grata pela nova companhia.

Desde o momento em que Ino se retirara de sua sala, ela começou a achar que gostaria de se isolar pelo resto do dia, se afogando em pensamentos e incertezas. Foi somente depois de muito ponderar que Sakura resolveu não ser essa a melhor solução.

Talvez devesse mesmo seguir o conselho da amiga, só para variar.

Ela então tratou de tomar conta de suas pendências no hospital, desde papelada a consultas agendadas. Quando chegou no seu limite de ansiedade, rumou em direção as ruas de Konoha, mal notando aqueles ao seu redor.

Todas as ruas escolhidas para “sediar” as comemorações de dia dos namorados estavam cheias já, indicando o volume monstruoso de pessoas que receberiam pela noite. Sakura observou atentamente cada um dos estabelecimentos que viu pelo caminho, desejando desesperadamente por algum vislumbre do que poderia comprar.

Quando, ao andar sem rumo por 15 minutos, percebeu que não sabia por onde começar, a Haruno se dirigiu ao maior centro comercial da cidade. Se não está aqui, não está em lugar algum, pensou.

Sakura viu peças para casa, objetos pessoais e até mesmo armas ninja. Nenhuma das opções lhe agradou.

A verdade era que Haruno Sakura apreciava coisas únicas. Ela só comprava e dava coisas que ela tinha a absoluta certeza de que não haveriam semelhantes, um segundo exemplar sequer de cada. E em prateleira alguma ela conseguia olhar para uma das ofertas e pensar é isso o que eu quero.

Ela precisava de ajuda, admitia agora.

E quem melhor do que o ex companheiro de time para lhe ajudar?

— O que eu posso dar ao Sasuke-kun que ninguém mais daria?

Naruto franziu a testa, ponderando.

— Um filho?

Sakura olhou para o loiro de forma constrangida, querendo nada mais nada menos do que dar-lhe um soco na boca do estômago. Naruto riu de forma descontraída e piscou um olho, intensificando o sentimento na rosada.

Claro que era uma possibilidade, mas Sakura nunca admitiria para o melhor amigo.

Sakura pigarreou e voltou a falar.

— Falo sério, Naruto. Você tem a sorte de ser casado com a Hinata, a pessoa mais fácil de se agradar nessa vila.

— Talvez. — Disse o loiro, corando.

Naruto observou o rosto de sua amiga e não pôde deixar de sentir pena da mulher.

Ah, se ela soubesse.

Sakura notou que ele a analisava e arqueou uma sobrancelha, tentando supor o que se passava em sua cabeça. O hokage tinha no rosto aquele olhar de “eu sei mais do que você” que Sakura reconhecia em qualquer um de seus dois melhores amigos loiros. Ela estranhou.

— De duas uma: ou você sabe o que eu deveria dar para o Sasuke-kun. — Sakura levantou um dedo e o pressionou no peito de Naruto, fazendo-o saltar em surpresa. — Ou você sabe alguma coisa sobre o Sasuke-kun. Desembucha.

O Uzumaki apenas sorriu de orelha a orelha. Sakura caíra como uma pata em sua armadilha.

— Digamos que eu sei de umas coisinhas.

Sakura parecia desesperada de tão surpresa que se encontrava. Ela não fazia ideia de onde toda essa conversa iria dar, como ela ao menos tinha começado e o mais fundamental: sobre o que diabos Naruto estava falando.

— Fala logo! — Ela disse em voz mandatória.

— Só posso dizer o que o teme pediu para te dizer.

—____________________________________________

Não só o coração como também a cabeça de Sakura se encontravam a mil.

Ela sabia exatamente o que deveria fazer, mas o que a deixava no limite era o que esperar do desenrolar de eventos.

O comando que recebera era bem simples: encontre-me no lugar de sempre.

Com isso em mente e nada mais, Sakura apressara-se em ir para casa, quase tropeçando por diversas vezes durante o caminho. Seus sentidos estavam atordoados e ela só conseguia pensar em Sasuke.

O tempo que demorou para se arrumar foi o tempo que levou para se acalmar.

Ou quase isso.

Sakura não conseguia parar de imaginar até que ponto tudo aquilo teria sido planejado por seu namorado. E ela não conseguia parar de se surpreender.

Ora, aquele era Sasuke, quem demorara anos para retornar a vila depois de sua jornada de redenção, quem levara mais tempo ainda para conseguir tomar alguma iniciativa em relação a Sakura, quem sequer havia dito um “eu te amo” em todos esses anos.

Era surreral o que acontecia. Ele havia lembrado da data, dado importância a ela. Ele havia planejado as coisas, quando ela nem sequer o fizera. Ele assumira o seu papel na relação!

Como dissera Naruto mais cedo, ele se preocupara em agradá-la a tal ponto.

Logo quando Sakura achava que Sasuke não poderia se dedicar mais a alguém como ele se dedicava a ela.

A Haruno não conseguia parar de sorrir.

Ela se olhou pela última vez no espelho antes de sair de casa e gostou do que viu.

Ela só esperava que Sasuke gostasse tanto quanto ela.

O caminho que percorreu até o ponto de encontro não foi longo. Ela sabia ao que ele se referia mesmo sem a menção de um nome. Era ali que se encontravam nas tardes passadas para almoçar, quando ele ainda tentava uma reaproximação com ex companheira de time. Ali que acontecera o primeiro beijo deles.

Sasuke, de jeito algum, era um cara romântico por definição.

Mas ele sabia abrir exceções.

Quando ela enfim chegou, ele já estava lá.

Uchiha Sasuke estava recostado na ponte de encontro do antigo Time 7. Sakura não pode deixar de parar por um segundo para admirar tanto o local como o homem a sua frente. A construção se encontrava esplendorosa coberta pelas lanternas locais e trepadeiras.

E Sasuke estava de se tirar o fôlego em seu traje tradicional preto, o símbolo Uchiha reluzindo em suas costas.

Ela se aproximou da figura até que eles ficaram a uma distância aceitável para ambos.

— Você mentiu para mim.

Sasuke, que não pôs os olhos em Sakura a partir do momento em que ela entrara em seu campo de visão, não deixou de fitar os orbes esmeraldas nem por um segundo enquanto falava.

— Menti?

— Você disse que estava missão.

— Aa.

Sakura se preparava para dar uma falsa reprimenda quando ele levantou uma caixa retangular que ela podia jurar que não estava em suas mãos um momento atrás.

Ela olhou em seus olhos, esperando algum comando verbal. Quando este não veio, ela pegou o presente e o observou. A embalagem era bonita e elegante, preta com detalhes em dourado. Aparentava ser de alguma loja cara. Sakura queria muito reprimi-lo de verdade agora.

— O que eu já falei sobre presentes caros?

Sasuke deu de ombros.

— Esse não foi.

Sakura estreitou os olhos e finalmente abriu a caixa.

Imediatamente seu queixo caiu.

O que ela viu não foi só uma joia cara. Foi algo antigo. Ela podia dizer só de olhar que aquilo não tinha sido comprado por Sasuke, ou que havia sido fabricado há pouco tempo.

Era um cordão com o símbolo Uchiha, esplêndido, esbanjando tradição.

Aquele era o tipo de peça passada de geração em geração.

Sakura não sabia o que dizer.

Levantando o olhar para Sasuke, ela percebeu que ele esperava uma reação. Ela então colocou-se na ponta dos pés e deu-lhe um beijo no canto da boca. Sorrindo, tentou esboçar o que sentia em palavras.

— Ele é lindo, Sasuke. Eu... — Deu uma pausa, mordendo o lábio inferior. — Meu deus, eu amei.

— Aa. — Ele sorriu de canto de boca.

Ainda embasbacada, ela mal percebeu quando ele pegou o cordão de sua mão e fez um gesto para que ela se virasse. Retomando controle do corpo, ela o fez, esperando que Sasuke colocasse a delicada peça em seu pescoço. Ele terminou de abotoar e pareceu que o peso de toda família de Sasuke estacionara em seu peito, no formato do símbolo da Casa.

Sakura se sentiu honrada por poder usar tal preciosidade.

Ela então virou-se e beijou Sasuke na boca dessa vez.

Ela queria transmitir toda a felicidade que sentia por esse simples ato.

E Sasuke entendeu. Ele fazia o mesmo.

O beijo deles era somente deles. Para Sakura, o tempo parecia parar enquanto ela mantinha a boca colada na dele. Por quantos anos ela sofrera para finalmente poder ter esse tipo de conforto com o homem que amava?

Ela não sabia, só tinha a noção de que era nessas horas de intimidade que chegava a concussão de que, sim, tudo valera a pena.

Eles se separam e imediatamente Sasuke sussurrou:

— Dance comigo.

Não havia um som sequer de música no ar, mas ela sabia melhor.

Sabia que eles dançariam no ritmo que quisessem, na batida que lhes conviesse.

Afinal, assim era o relacionamento deles. Ditado por suas próprias regras.

Eles eram felizes assim.

E isso bastava.


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