Tomei fôlego antes de poder entrar na pequena sala, por quê, céus! Ele estava lá outra vez. Com toda a sua beleza, jeito sarcástico e aquele olhar. Não sei mais o que mais me atraía nele.

Encontro-o sentado junto a alguns amigos na mesa junto à janela e eu involuntariamente coloco um fio de cabelo atrás da orelha. Ele fuma discretamente aquele cigarro entre seus dedos enquanto Ren e Nobu discutem sobre como a Nana está se comportando mal. A vocalista do Blast está sentada na frente do namorado e Yasu ao seu lado, conversando com Naoki, que parece surpreso com algo. Nem sinal de Shin e Reira.

- Ah, Hachiko! Que demora! - Nana me puxou pelo braço, fazendo com que sentasse ao seu lado. Ou seja, na frente do baixista, que me mandou um olhar intenso.

- Olá, Nana-chan. Não sabia que viria. - Eu devo ter cordão naquela hora.

- Me atrasei pegando o metrô, mas estou aqui.

- Hachi! Ren está dizendo que a Reira canta melhor que eu de novo! Yasu, faça algo. - Pude sentir o Yasu mandando uma mensagem secreta para mim. Nana estava ficando "alta".

- Ah, Nana. Que tal irmos verificar isso? Não é mesmo; Nana-chan, que tal levá -la para o karaokê?

- Ótima ideia! Vamos lá, Nana. - Ela me olhou, por cima, e levantou uma sobrancelha.

- Só se a Hachi cantar também. Vai ser mais legal. REIRA-SAN! VAMOS VER QUEM É A MELHOR! - Nessa hora, a pequena vocalista do Trapnest brotou de não sei lá onde, completamente fora do ar.

- Ahn, o quê? Ah, claro. - A cantora se levantou da cadeira e Shin chegou um pouco depois, piscando para ela logo em seguida.

- Parece que o Shin-chan fez um bom trabalho. - Nobu riu da própria piada, não sem antes levar uma bronca minha.

- Nobu, não fale essas coisas num lugar como este! Tem gente olhando! - Eu para um casal que estava olhando assustado para a mesa de jovens, que por acaso estava completamente bagunçada, com peças de mahjong e cervejas.

Todos começamos a rir, pois até a velhinha da mesa atrás estava com cara feia.

Subimos no palquinho e eu me toquei que teria de cantar sozinha. Repito: sozinha. E eu não tenho experiência nenhuma nisso. Imagine só a cena: duas cantoras profissionais no mesmo palco que eu. Ia pagar um papelão.

- Por favor me diga que isso é um grande engano ou coisa parecida. NANA! EU NÃO SEI CANTAR!

- Faça do jeito que souber. Estamos entre amigos, Hachiko. E tem um pequeno detelhe: VOCÊ PROMETEU!

Nem todos. Tem ele. Só de pensar que teria que cantar "maravilhosamente" em sua frente me assustava.

- Tudo bem. Vai ser essa aqui. - Eu me virei para o DJ e ele pensou um pouco antes de colocar a faixa.

- É a primeira pessoa que canta essa música aqui. Boa sorte.

- Obrigada. Nana, Reira-san, poderiam me acompanhar em algumas partes?

- Claro.

- Por mim tudo bem, Hachi-san.

Eu olhei para frente e segurei o microfone bem apertado. A introdução da guitarra na música começou.

Midnight
You come and pick me up, no headlights
Long drive
Could end in burning flames or paradise
Fade into view, oh
It's been a while since I have even heard from you
Heard from you

I should just tell you to leave 'cause I
Know exactly where it leads but I
Watch us go 'round and 'round each time

You got that James Dean daydream look in your eye
And I got that red lip classic thing that you like
And when we go crashing down, we come back every time
We never go out of style
We never go out of style

You got that long hair, slicked back, white t-shirt
And I got that good girl faith and a tight little skirt
And when we go crashing down, we come back every time
We never go out of style
We never go out of style


Senti o lugar parar na hora em que comecei e depois me acompanharem com palmas. Takumi me olhou compenetrado em seu jeito frio.

So it goes
He can't keep his wild eyes on the road
Takes me home
Lights are off, he's taking off his coat
I say, "I heard, oh, that you've been out and about
With some other girl, some other girl"

Eu fui dramática a ponto de enfatizar a última parte. Sabia que ele tinha outras, mas não ligava, por que nós nunca sairíamos de moda.

He says, "what you've heard is true but I
Can't stop thinking about you," and I
I said, "I've been there too a few times"

'Cause you got that James Dean daydream look in your eye
And I got that red lip classic thing that you like
And when we go crashing down, we come back every time
We never go out of style
We never go out of style

You got that long hair, slicked back, white t-shirt
And I got that good girl faith and a tight little skirt
And when we go crashing down, we come back every time
We never go out of style
We never go out of style

Take me home
Just take me home, yeah
Just take me home (out of style)


Simplesmente lembrei de quando me levava para casa no dia em que fui demitida e toda aquela explosão de culpa, luxúria e dúvida emaranhavam meus pensamentos.

You got that James Dean daydream look in your eye
And I got that red lip classic thing that you like
And when we go crashing down, we come back every time
We never go out of style
We never go out of style


Eu o amava. Mais do que amei o Shoji, eu o fazia. E de um jeito tão confuso que só eu na minha ingenuidade conseguiria. Afinal, ele era só mais um que passava na minha estrada. Mas era o mais notável.

Amava seu olhar, seu longo cabelo e aquele jeito que sempre o fazia voltar para mim.

Terminei a canção e os clientes ficaram parados me olhando, para logo depois se levantarem e baterem palmas. Eu agradeci e cheguei para junto de Nana, que me olhava com os olhos arregalados.

- Não me olhe assim! Eu cantei como se sentia tá! Você... acha que foi um pouco, sei lá, intenso demais?

- Claro que não, boba. Foi exatamente como deve ser e acho que ele notou. Na verdade, Takumi ficou te encarando desde o primeiro refrão da música. Pra falar a verdade, ele está vindo para cá agora.

- EH?! Não... - Eu dei um jeito de pular do palco e deixar o dinheiro em cima do balcão de bebidas. Peguei minha bolsa e o sobretudo e corri para fora do bar.

Nana, sua idiota! Como pôde deixar tão claro que era para ele?! Ele vai te achar uma menininha infantil que faz covers da Taylor Swift nessa pseudo-relação que temos. Ah, vou morrer.

Ele não vai querer mais saber de mim.

Chutei um monte de neve que estava na minha frente. O inverno já estava ali outra vez.

Paro em frente a uma loja com a frente iluminada e observo meu reflexo no vidro, encarando o lindo vestido que estava exposto na vitrine. Lá estava eu, pensando em casamentos outra vez.

Uma sombra toca meus ombros por cima do sobretudo e eu me arrepio com o seu sussurro.

- Não sabia que falava inglês... - Aquela voz me enlaçou e me prendeu em seus braços.

- Eu não falo. S-só sei de algumas músicas e tal. Né, Takumi. V-você me odeia? - Eu viro de frente para ele, que possui os olhos cinza arregalados. - O que foi? Algo errado?

- Não. Você está linda hoje. Venha, vamos para casa.

Corei quando ele pegou minha mão e levou ao seu carro mais uma vez. Quando ele abriu a porta para mim mais uma vez. Quando ele não conseguiu dirigir olhando para a estrada mais uma vez.

Quando ele me beijou meus lábios, eu o senti cantarolar para mim.

- Eu realmente...amo seus lábios vermelhos e sua fé de Boa menina.

- Amo seu cabelo longo, jogado para trás e sua camisa branca.

Nós amamos mais uma vez. Era amor para mim, pelo menos. Eu abraçava com força seus ombros largos e ele apertava minha cintura de um jeito possessivo.

Quando acordei pela manhã, ele já havia ido. Me enrole no robe e prendo meus cabelos num coque. Peguei a pequena nota de papel na minha cabeceira.

- Não se preocupe, nós nunca sairemos de moda.

Sorri.