Antes mesmo de abrir meus olhos, a ânsia de vomito me desperta, o gosto de bile é enorme e eu me sinto péssimo, sei que não tenho tempo de sequer chegar ao banheiro. Em um movimento rápido, apenas me viro para o lado em que o chão costuma estar e vomito mais do que deveria ser possível para uma pessoa só.

Assusto-me ao ouvir um grito feminino, fazendo com que eu abra os olhos rapidamente, percebendo que o lugar em que vomitei não é o chão e sim uma loira bonita que eu não me lembro de ter trago para casa. Merda! O que eu faço agora?

— Er... Me desculpe. — peço, sem saber o falar, dando um pulo da cama.

— Me desculpe? Você vomita em cima de mim e fala 'me desculpe'? — ela grita, fazendo minha dor de cabeça piorar.

— Por favor, não grita. — Suspiro. O que eu aprontei noite passada? Vou ter de ligar para Finnick depois para descobrir. — Você pode tomar um banho e ir embora com alguma roupa minha, se quiser.

— Claro, tudo bem. — Ela sorri maliciosa, provavelmente, planejando um encontro para devolver minha roupa.

Sigo ao banheiro do corredor, enquanto ela toma banho na minha suíte. Entro no banheiro de ‘visitas’ onde costumo deixar uma escova de dentes reserva, que está ao lado de uma outra, provavelmente de Katniss. Merda. Katniss! Será que eu a incomodei ontem? Não consigo lembrar de absolutamente nada.

— Peeta, querido, tem como me arrumar uma toalha? — a loira grita do banheiro.

Pego uma toalha e vou ao banheiro entregar.

— Aqui — Certo, qual o nome dela... Juro que é algo com ‘M’. Melody, Melanie, Marie. —, M.

— Obrigada, Peeta. Gostei do apelido. — agradece se enrolando na toalha. — A maioria das pessoas me chamam de Milly, gostei de M.

— Milly? — questiono. Se a chamam de Milly, qual o nome dela? Juro que começa com M.

— Sim, você sabe Milly de Emilly.

— Ah, sim... — Nossa, passei longe do nome dela. — Aqui uma blusa minha, deve ficar grande em você, mas se quiser alguma calça...

— Suas calças ficariam enormes em mim. — Ela ri, vestindo a blusa, enquanto eu me viro. — Ah, para, Peeta. Não há nada aqui que você não tenha visto ontem.

— Então, se quiser alguma calça a minha... — O que Katniss é minha mesmo? — prima mora comigo, posso te arranjar alguma dela.

— Own... Sua prima, que fofo, quantos anos ela tem? — questiona, imaginando que seja uma criança, provavelmente.

— Quase 26. Então, você quer tomar café da manhã? Já deve ter passado de meio-dia, você deve ter algum compromisso, né? — desato a falar, evitando que ela puxe o assunto sobre Katniss, o que evita que eu me sinta mal.

— Na realidade... — começa, falando lentamente. — Eu adoraria tomar café com você, se não for incomodo, claro. — Sim, é incomodo, tem como ir embora, por favor? Sinto vontade de dizer, mas ela sorri tão docemente que eu me sinto mal, ela não tem culpa das merdas que eu faço.

Me estapeio mentalmente, pela quantidade de palavrões que pensei desde que acordei e pelo fato de nem ter passado no quarto do meu filho para olha-lo. Que tipo de pai eu sou? Não sei se ele acordou à noite ou quando foi alimentado pela última vez, provoquei barulho o suficiente para acorda-lo durante a madrugada, não troquei suas fraldas, e nem mesmo tive o mínimo de consideração com Katniss que fez tudo isso por mim.

— Peeta, vamos tomar café? — Emilly me tira de minha confusão de pensamentos.

— Claro, claro, desculpa. Vamos lá. — concordo, atravessando o corredor e indo para a cozinha. — Pode se sentar aí, enquanto faço o café. — aponto para as banquetas, enquanto ligo a cafeteira e pego diversos biscoitos no armário.

— Essa morena com o bebê na foto é sua prima? — questiona olhando um quadro com foto de Katniss e Arthur, apenas assinto, não querendo confirmar, novamente, minha mentira. — Sinceramente, eu não gosto muito de bebês. Você parece não gostar muito também, pelo jeito que só balançou a cabeça. Acho eles tão melequentos e irritantes, esse da foto não parece tão ruim mas toda criança é um saco, aposto que ele também seja. — Respiro fundo.

— O bebê é meu. — Me viro, olhando para ela.

— Como? —Arregala os olhos. — Quer dizer, crianças são meio difíceis, mas ele parece realmente doce, adorável, adoraria conhecer.

— Você não precisa ficar tentando me impressionar e fingir que gosta do meu filho, nós só transamos uma vez, isso não é um namoro e a partir do momento que você sair pela porta do meu apartamento, meus planos são nunca mais ter de te ver, então, não precisa fingir que gosta do Arthur. — retruco, me exaltando sem nem mesmo perceber.

Fecho os olhos por dois segundos para me acalmar, mas os arregalo novamente ao sentir um tapa forte ser dado em minha face. Respira, Peeta!

— O que eu te fiz, sua louca?

— Essa mulher que você diz ser sua prima é sua esposa, não é? Você está me usando pra traí-la, é um vagabundo. — Grita e sai do meu apartamento com uma rapidez tão grande, que eu nem tenho tempo para digerir tudo o que aconteceu.

Desligo a cafeteira e me jogo no sofá, tentando colocar a cabeça no lugar. Automaticamente, procuro meu celular em meus bolsos, encontrando-o no bolso de trás, o que é ótimo. Confiro as mensagens, alguns grupos com piadas absolutamente sem graça, Finn perguntando se estou vivo, uma mulher do trabalho com idade para ser minha mãe que manda ‘Bom dia’ sempre, achando que vai me conquistar, e uma mensagem de Katniss, um vídeo para ser mais exato. Dou play na gravação de Katniss tendo a visão de Arthur se segurando nas laterais do berço e ficando em pé sozinho, enquanto uma Katniss sorridente grava e fala com voz de bebê. Um dos primeiros grandes momentos do meu filho e eu perdi.

O que teria acontecido se eu não tivesse saído ontem? Eu, possivelmente, teria ajudado Kat arrumar casa, veria meu filho ficando de pé, assistiria algum filme com Katniss e ela dormiria em meu ombro, e eu me lembraria de todos os acontecimentos, diferente de agora que toda minha noite está apagada após a quinta dose de Whisky quando Finnick disse que desistia de tentar me controlar e passou a ficar me olhando feio, como um pai bravo com o filho.

Levanto-me do sofá, me decidindo por procurar Kat e Arthie que, com certeza, já deveriam estar fazendo muito barulho e bagunça por aqui. Encontro o quarto do meu pequeno príncipe completamente vazio e o quarto de Katniss igualmente inabitado. Sem saber o que fazer e com a cabeça quase explodindo, tomo café acompanhado do completo silêncio, o que é novidade nessa casa desde que Katniss se mudou para cá.

Já passam das duas quando Kat chega gargalhando com um Arthur risonho de olhos arregalados. Levanto-me do sofá rapidamente e vou ajuda-la com a bolsa dele.

— Ei, Kat. — Sorrio fraco para ela que apenas balança a cabeça me cumprimentando. — E aí, garotão do papai? — Pego Arthie do colo dela após deixar a bolsa em cima do sofá. — Fiquei sabendo que ficou de pé sozinho, ontem. — Jogo-o para o alto e logo o pego novamente, fazendo-o gargalhar. — Estou orgulhoso. — Sorrio e olho para Kat. — E vocês, onde estavam?

— Ah, fomos dormir com a Annie ontem. — Dá de ombros, enquanto eu agradeço a Deus mentalmente por ela não estar em casa ontem à noite. — O Arthie assistiu um pouco de How I Met Your Mother com ela, eu descansei, hoje fomos todos almoçar em um restaurante legal, cheio de peixinhos que deixaram o pequeno príncipe todo animado, e só, acho. — Encolhe os ombros, fazendo sua cara ‘Quem se importa?’ e se jogando no sofá.

— E vocês... — começo, mas ela logo me interrompe.

— Ah, lembra daquele quadro de horários que quando eu cheguei falei que íamos usar, mas nunca funcionou? — questiona e eu procuro em minha memória por isso.

— Não, não lembro. — Nego com a cabeça.

— Bem, logo no dia que cheguei, falei da gente fazer um quadro de horários, para separar o que eu faço e o que você faz e quando cada um de nós faz, sabe? Então, acho que deveríamos começar a nos organizar, e, já aviso, o próximo sábado é meu, você fica com o Arthie.

— Tudo bem. — Dou de ombros, realmente não me importando enquanto, brinco com Arthur, ajudando-o a ficar sentado sozinho. — Vai ter uma noite das garotas com a Annie?

— Na realidade, não. — respondeu evitando me olhar. — Um colega de trabalho me convidou para sair no sábado.

— Então... — começo, coçando a garganta, antes de perguntar. — Você vai ter um encontro?

— É, acho que sim. — fala como se não tivesse importância, mas eu a conheço, ela se importa e está ansiosa.

E isso me irrita de certa forma, eu a conheço, sei que está ansiosa apenas pela forma que quase estrala os dedos, mas lembra-se que fará mal as juntas dos dedos, ao mesmo tempo em que balança os ombros e os sacode ao mesmo tempo, de uma forma que pareceria desajeitada para qualquer outra pessoa, mas com ela parece engraçadinho. E, agora, ela tem um encontro com um cara que não sabe nada sobre ela. Mas eu não posso falar nada, pois eu sou apenas o melhor amigo dela e permanecerei sendo. Seremos apenas amigos, não importando o acontecimento daquele beijo, somos os mesmo Peeta e Katniss de antes dele acontecer. Apenas inseparáveis amigos.