Estrelas escrita por AnyBnight


Capítulo 1
Único - Estrelas


Notas iniciais do capítulo

Levemos em consideração que neste ponto Alcor não conhecia Hibiki.



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Outra noite silenciosa na residência Hotsuin. O jovem herdeiro, acomodado numa luxuosa poltrona tinha o rosto mirado num livro grosso, às suas costas uma parede de vidro descoberta por onde o angustiado observava curioso o céu encoberto de mais um inverno como se enxergasse através das nuvens carregadas.

Não fazia muito tempo desde que Alcor encontrara seu ser brilhante, e desde então estava sempre em sua companhia.

– Yamato, o que você acha das estrelas? - Perguntou questionador, mudando o foco de seu olhar calmo para o reflexo que o encosto da poltrona fazia no vidro.

Na visão de Alcor, os humanos sempre demonstraram grande interesse e fascínio pelos corpos celestes. Entretanto, desde junto de Yamato, nunca viu o menor voltar seu rosto ao céu noturno; duvidava até que o pequeno Hotsuin já o houvesse feito.

– Não passam de bolas de gás que sequer existem mais, apenas luzes inúteis, resto de algo irrelevante para mim. - Respondeu seco e desinteressado.

Se as havia visto alguma vez? Por um ou dois segundos quando era ainda mais novo. Atualmente sequer desperdiçava seu precioso tempo com baboseiras como aquelas.

– Não acha que estrelas são algo além de bolas de gás mortas?

– Não.

Para Alcor, era um tanto triste, angustiante diria, ver naquele quem seria sua esperança um ser tão frio e de visão limitada. Por um instante, o sorriso do albino maior se desfez.

– Yamato, você realmente já viu estrelas alguma vez?

– Diga logo aonde pretende chegar com esta conversa estúpida.

Alcor deu de ombros e remodelou seu sorriso para o vidro.

– Eu sempre admirei nos seres humanos sua capacidade de ver além do quê as coisas são. Como você mesmo diz, estrelas não passam de bolas de gás mortas, ainda assim sua raça vê nelas beleza, e há aqueles que acreditam que tais luzes ditam seu futuro.

– Humpf, pura idiotice.

– Você é realmente diferente de todos eles, Yamato. Faz seu julgamento baseado num único vislumbre e em fatos previamente analisados. Você não enxerga além da superfície.

– Já terminou? Se sim, vá embora, quero terminar este livro em silêncio.

Alcor riu minimamente ruidoso, e quando Yamato deu por si, o tinha diante de sua mesa, lhe estendendo a palma da mão aberta.

– Vamos ver as estrelas juntos, Yamato? - Convidou com um sorriso doce.

Recebeu em troca um olhar discreto e desconfiado, brevemente desviado do livro. Em seguida, um bufar incomodado.

– Já disse que não tenho interesse nisso. E mesmo que eu tivesse, não há estrela alguma para se ver lá fora agora.

– Então permita-me mostrá-las à ti, ó ser brilhante.

No centro daquela mão estendida surgiu um pequeno ponto escuro que logo expandiu-se ocupando toda a palma. Ali tinha-se uma visão do universo, num azul escuro forte salpicado com pequenos pontos de luz, estrelas. Não era uma visão estática como numa pintura, mais parecia um tipo de portal, era possível ver ali o movimento lento dos corpos celestes.

Inegavelmente Yamato viu aquilo com todo o encanto de uma criança maravilhada. Seus olhos opacos brilharam quase tanto quanto as estrelas de Alcor. Ele deixou o livro de lado, hipnotizado pela visão, e para Alcor, o verdadeiro encanto era a nova expressão do menor. Aquela era a expressão do ser brilhante quem viera buscando há eras. Porém não durou muito.

Logo aquele sorriso encantado e olhos brilhantes desapareceram como se nunca tivessem existido. Yamato bufou e seus olhos sem cor voltaram ao livro.

– Quanta bobagem.

Diante daquela mudança de comportamento, Alcor fechou a mão, e quando a reabriu tinha a palma comum que ele mirou mais um pouco antes de recuá-la de volta para junto do corpo. Ainda sorria, da mesma forma e diferente de antes; havia uma certa tristeza na curva de seus lábios.

– Você viu, não viu? Algo além de bolas de gás mortas.

– Independente do quê eu vi - ele não desviava o olhar do livro aberto - Eram apenas bolas de gás mortas. E nada que você faça vai mudar isso.

– Mas você viu, e isso basta. - Foi o que disse sem desmanchar o imutável sorriso.

Por um segundo, que talvez não tenha sido notado, o septentrion duvidou de sua escolha, do ser brilhante. E que talvez Yamato fosse exatamente como uma estrela; uma mera luz que Alcor via como algo belo, mas que no fim, não passava de uma ilusão ofuscando a mais escura verdade.

Para Alcor, estaria tudo bem, desde que Yamato ainda brilhasse. Mesmo que como uma estrela morta.


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