As árvores altas e verdes de uma das florestas do País do Fogo tampavam boa parte do sol do meio-dia, mas Sakura conseguiu encontrar um raio que atravessava a janela de sua sala e se sentou no chão, apreciando o calor bem-vindo. Seu coração palpitava com pressa e ela mal podia esperar para partir dali. Não que ela não gostasse do lugar, mas uma vida ainda melhor a esperava logo adiante.

Muitas coisas ocorreram nos dez anos anteriores, desde que voltou para Konoha aos dezesseis anos.

Não muitos dias após Sakura receber o bilhete de Deidara, que ainda guardava com zelo, o selo que Itachi colocou nela pinicou. Como na primeira vez, um corvo conseguiu localizá-la e entregou um bilhete a ela, que dizia que ele finalmente estava indo de encontro a Sasuke e lhe disse o lugar. Também disse que Kisame sabia que ela estaria lá e que só desejava seu corpo; no entanto, o que a surpreendeu foi o pedido que ele fez: que ela ficasse com os olhos dele. Ela saberia o que fazer com eles quando chegasse a hora (e, em uma observação, disse para serem rápidos antes que Zetsu e Madara fossem informados da situação).

E assim, Sakura imediatamente acionou Tsunade e montou o seu esquadrão, que era o seu próprio time. Ela não confiaria em mais ninguém além de Kakashi, Naruto, Yamato e Sai para aquela missão. Eles partiram durante a noite e, quando chegaram no local que Itachi informou-a, a batalha de irmãos estava no seu final.

Com seus chakras mascarados, Sasuke não percebeu a presença de seus antigos companheiros, absorto demais na luta que tanto sonhou que acontecesse. Ele estava muito mais forte e habilidoso, mas Sakura sabia que ele ainda não era páreo para Itachi, que estava perto da morte por doença, enfraquecido e, por mais que não estivesse mais tão cego como antes, ainda pegava leve com o irmão.

A batalha terminou depois de uma hora sem nenhum dos dois mortos. Sasuke, exausto e sem chakra, desmaiou depois de uma tentativa malsucedida de um chidori. Itachi também sucumbiu à exaustão e se encontrava deitado no chão, incapaz de se mover. Sakura sabia que a hora havia chegado.

Então ela fez o que Itachi pediu. Retirou os seus olhos, teve um breve encontro com Kisame, que recolheu o corpo já sem vida e, com o seu time, levou um Sasuke desacordado de volta para a Folha. Quando ele recuperou a consciência, não ficou feliz de estar em Konoha. Entretanto, a morte de Itachi por suas mãos deixou-o mais conformado com a vida.

Sua reabilitação na vila não foi fácil em sentido algum. Ele foi perdoado por desertar, visto que ele eliminou os dois maiores inimigos de Konohagure. No início, ele não queria ficar, mas depois de uma conversa particular com Naruto que durou uma noite inteira, o Uchiha repentinamente decidiu que gostaria de continuar. A partir daí, ele voltou ao Time Sete e, aos poucos, começou a participar de missões com seus companheiros. Sakura também foi permitida voltar às missões depois de sua liderança admirável após a batalha dos irmãos Uchiha, conseguindo evitar com maestria um confronto entre Kisame e sua equipe.

O relacionamento com o Time Sete não voltou a ser o que era imediatamente. No meio daquela reunião, havia muito rancor, arrependimentos, palavras não ditas no passado e traição. Até mesmo Naruto, que sonhava por aquilo ardentemente, não conseguiu se reconectar com Sasuke no começo. Com o tempo, os dois voltaram a ser o que eram antes, mas ainda mais unidos e, por mais que a rivalidade de sempre ainda estivesse ali, eles nunca mais tentaram se matar.

Sai e Sasuke nunca se tornaram amigos e jamais fizeram questão de que isso acontecesse. Sasuke não gostou nem um pouco de saber que Sai havia tomado o seu lugar na equipe, e sentiu amargura ao perceber que o relacionamento do novo Time Sete era muito melhor e mais feliz do que o time antigo jamais fora. Pela parte do artista, ele não gostava do desertor pelo sofrimento que ele causou aos seus amigos e nunca tentou se conectar com ele, como fazia com todas as pessoas ao seu redor.

No entanto, o relacionamento mais complexo era o de Sakura com Sasuke. Eles não se sentiam confortáveis um perto do outro e sabiam que isso se devia ao dia em que ele deixou Konoha, com um “obrigado” que dizia várias coisas que Sakura não conseguia entender direito até hoje. Também havia a questão do tempo que a menina passou na Akatsuki, curando e convivendo com Itachi. Sasuke jamais falou em voz alta, mas Sakura sabia que ele se sentia traído por ela ter ajudado o seu maior inimigo, mesmo que –por um tempo– estivesse sendo obrigada.

Ele jamais soube da verdade e os olhos de Itachi ainda estavam com ela. Ela curava a cegueira de Sasuke de anos em anos.

O que finalmente conectou os dois, de uma forma que seria impossível no passado, foi um evento durante uma missão meses depois de sua volta. Sasuke foi ferido brutalmente por um ninja do País da Névoa e Sakura o salvou da morte. Ele estava consciente durante todo o processo de cura, e viu o desespero da iryou-nin. Ouviu ela dizer que não poderia perder ele mais uma vez, que ela não permitiria que ele morresse e que ele ainda tinha muito a viver com ela e com Naruto. Quando ele já estava curado e conseguiu se levantar, ele pediu desculpas a ela com sinceridade nos olhos negros. Não disse pelo que ele se desculpava, mas ela sabia e não precisava de mais palavras. Desde então, eles se tornaram verdadeiros amigos e Sasuke, sabendo que Sakura não sentia mais nada romântico por ela, tornou-se mais receptivo e gentil com ela, de um jeito que ele não era nem com Naruto.

E dia após dia, Sasuke mudou. Cresceu em um homem melhor. Ainda era o Sasuke de sempre, sério e fechado, mas havia se tornado uma pessoa boa, que ajudava quem precisava e que lutava por seus amigos e sua vila. Um verdadeiro shinobi de Konoha. Sakura finalmente entendeu o motivo de Itachi querer concretizar a vingança de seu irmãozinho: ele finalmente se deu a chance de ser feliz e criar seu próprio caminho. Com o tempo, Sasuke passou a mostrar interesse por algo que ele nunca havia considerado anteriormente: mulheres. Uma, em específico.

Com a convivência com os outros colegas da época de academia, ele passou a prestar mais atenção em Ino. A garota, que havia se tornado a mais bela em toda a vila, estava muito mais madura do que antes e com a paixonite por ele superada há anos. Com essa maturidade, os dois passaram a conversar sem nenhum interesse um no outro e se tornaram amigos. Um dia, Ino confidenciou a Sakura que estava apaixonada por Sasuke, e a médica sabia que daquela vez era a paixão do jeito certo: a que olha por dentro da pessoa. Ela chamou o rapaz para sair em uma noite qualquer, ele aceitou e um tempo depois se tornaram um casal muito feliz. Os detalhes do relacionamento, desde o seu início, que Ino compartilhou com a melhor amiga ficariam guardados só para ela.

Outros casais também se uniram durante aqueles dez anos. Não foi surpresa para ninguém quando Shikamaru e Temari assumiram o namoro que todos esperavam já impacientes, com ela se mudando para Konoha não muito tempo depois.

Neji e Hinata também começaram a namorar cerca de dois anos depois que Sakura voltou da Akatsuki. A Princesa Hyuuga teve o final feliz que merecia: deixou de focar sua vida em torno de Naruto e, com muito esforço, treino e empenho, derrotou seu pai em uma batalha amistosa, finalmente provando que era capaz de assumir a liderança de seu clã. Agora ela era amada e respeitada pelos Hyuuga, e o selo colocado nas castas inferiores deixou de existir. Ela e Neji também se casaram pouco tempo depois de namorarem, e agora eram pais de dois meninos adoráveis.

Naruto confessou seu amor por Sakura dias antes do resgate de Sasuke, mas o fez mais como uma necessidade. Ele sabia que sua melhor amiga não retribuía os sentimentos dele –ele teve o erro de pensar que ela ainda amava Sasuke– e isso deu ao jinchuuriki a coragem necessária para seguir em frente com Sakura sendo sua melhor amiga e somente isso. Foi uma bela surpresa quando ele declarou o seu amor à jovem Hanabi Hyuuga quatro anos atrás e confessou que, de fato, era apaixonado pela jovem há um tempo, esperando que ela ficasse mais velha para contar a ela o que sentia. Naruto planejava pedir ela em casamento muito em breve, quando assumisse o posto de Hokage substituindo Kakashi.

Seu ex-professor também estava bem e casado com Kurenai. A filha dela, a pequena Mirai, tinha Kakashi como uma figura paterna e o casal cultivava nela a memória e legado de Asuma. Kurenai engravidou de uma segunda criança que nasceu no ano anterior e levou o nome de Rin, escolhido por Kakashi.

Tenten dizia não sentir interesse por romances e se tornou uma aventureira, viajando por todos os lugares possíveis e aprendendo novos tipos de combate e culturas. Kiba tinha uma relação conturbada com uma jounin que eles não conheciam bem e Shino também estava solteiro.

E Sakura também encontrou o amor mais uma vez. Com o tempo e com a vida maravilhosa que levava em Konoha, sua paixão por Deidara foi deixada para trás. Meses depois do retorno de Sasuke, ela finalmente admitiu para si mesma que estava apaixonada por Sai, com quem tinha uma relação íntima de amizade. Meses se passaram antes que eles finalmente revelassem os sentimentos mútuos e começassem a namorar. Eram extremamente felizes e a cada dia se tornavam mais unidos e apaixonados. Sakura chegou a carregar em seu ventre um filho de Sai, gerado após festa de casamento de Hinata e Neji em uma madrugada bêbada em que nenhum dos dois se preocupou com proteção. Mesmo o feto sendo um acidente, eles já amavam o filho como nunca amaram nada.

Entretanto, o bebê foi perdido quando Sakura passou por uma emoção muito forte: seu pai sofreu um derrame que atrapalhava o seu equilíbrio até os dias de hoje, mesmo com reabilitação intensa. O jovem casal ficou devastado com a perda, mas aquilo deu mais força aos dois e logo Sai pediu Sakura em casamento.

Mas então a guerra aconteceu.

A Akatsuki havia ficado inativa por um período após a morte de Itachi e, quando retomaram a atividade, faziam tudo mais discretamente e capturaram todos os sete primeiros bijuus. Hidan foi morto por Shikamaru e Sakura durante uma missão onde se toparam acidentalmente. Os dois não perderam a chance de vingança e os restos do nukenin foram cremados e as cinzas jogadas em um rio para que ele jamais pudesse se recompor.

Sete anos antes, Konan foi morta pelas mãos de Madara Uchiha. Ele descobriu, de alguma forma, a traição da mulher e seu papel na fuga de Sakura e, em uma luta épica, ele saiu vencedor. Talvez seu orgulho o fizesse imaginar que Pain aceitaria aquilo, ou talvez a sua incapacidade de compreender o que era amor e laços, mas ele se provou terrivelmente errado. O líder da Akatsuki se encheu com uma fúria jamais vista e ele deixou Madara a beira da morte, apenas para ele ser salvo por Zetsu. No entanto, antes de ser humilhado na derrota, conseguiu tomar um dos olhos de Pain para si.

Assim, a Akatsuki se desfez, mas Kisame e Deidara continuaram com Pain. Sabendo que não capturaria os dois bijuus restantes sozinho sem se expor, Madara se aliou a um Kabuto se tornando o próximo Orochimaru e, com um exército de Zetsus brancos, se revelaram ao mundo e declararam guerra ao mundo ninja.

As cinco Nações Shinobi se aliaram para vencer a ameaça e a guerra começou não muito depois. Kabuto no início reviveu shinobis excepcionais para lutar contra a Aliança Ninja, mas a maioria foi selado. Também tiveram aqueles que conseguiram se libertar do Edo Tensei, como Itachi Uchiha e os quatro Hokages anteriores. No entanto, o maior trunfo de Kabuto fora o corpo reanimado de Madara Uchiha, revelando a todos que aquele mascarado não era o verdadeiro. Com a volta do real Madara, muitas vidas foram perdidas, a mais significante delas sendo a de Tsunade.

Durante a batalha, o falso Madara revelou sua identidade verdadeira: Uchiha Obito, o melhor amigo de Kakashi dado como morto décadas antes, treinado por um Madara ancião e orientado a assumir a identidade do mestre após sua morte e continuar o seu legado. Obito conseguiu reviver o Juubi com fragmentos do chakra do Hachibi e da Kyuubi e os demais chakras das outras bestas.

Algo surpreendente ocorreu, então: Pain, Deidara e Kisame chegaram ao campo de batalha e se juntaram à Aliança Shinobi. A partir dali, a vantagem mudou para o lado deles e a batalha se tornou ainda mais sangrenta. Sai e Chouji foram mortos pelo monstro.

A morte de Sai afetou Sakura profundamente e ela pensou que não conseguiria mais lutar depois daquele evento. Mas o evento despertou nela a vontade de se vingar e impedir que mais pessoas preciosas para ela morressem. Por Sai, por Tsunade e por todos os seus amigos vivos, ela prosseguiu no campo de batalha, tirando forças que ela acreditava que não existissem mais dentro dela.

Muitas coisas aconteceram então, grandes demais para serem descritas. Com o Time Sete liderando a dianteira, Obito foi subjugado e, depois de muito diálogo com Kakashi e Naruto no meio da batalha, mudou repentinamente sua mentalidade para se aliar a eles. Madara, sabendo que não teria mais a ajuda de seu pupilo, roubou o Sharingan de Kakashi e o Rinnegan de Obito, se tornando o jinchuuriki do Dez Caudas.

Ele parecia invencível e quase matou Naruto e Sasuke de uma vez; entretanto, ambos sobreviveram. Naruto com a ajuda de Sakura, Sasuke com a de Kabuto, que de alguma forma havia revivido Orochimaru e este tinha a intenção de ajudar o garoto. Eles tiveram algum tipo de encontro sobrenatural com o Sábio dos Seis Caminhos e, com a ajuda dele, despertaram novos poderes. Naruto recebeu como presente um pouco de chakra de todos os bijuus e se tornou algo como um sucessor do Rikudou Sennin. Já Sasuke recebeu um aprimoramento do seu Sharingan no olho direito e, no esquerdo, recebeu o Rinnegan Supremo.

Mais lutas aconteceram e Sakura finalmente descobriu o que era o Tsukuyomi Infinito: um genjutsu com poder inimaginável refletido na lua, prendendo todos nele. Eventualmente, toda a energia dos indivíduos presos seria drenada, e assim eles se tornariam Zetsus brancos. Sasuke bloqueou o seu time de ser afetado pelo Genjutsu, e Obito também ficou imune a ele por estar sendo controlado pelo Zetsu Negro.

Tudo foi muito rápido depois disso: Zetsu Negro traiu Madara, revelou servir à lendária Kaguya o tempo inteiro com a intenção de revivê-la e assim o fez.

Não foi uma luta fácil. O Time Sete e Obito atravessaram diversas dimensões, quase morreram algumas vezes e o antigo amigo de Kakashi morreu com honra durante aquele período, redimido do seu passado e dando de presente para Kakashi o Mangekyou Sharingan, que durou o suficiente para ter um papel crucial na luta contra a Princesa Kaguya.

Por fim, Naruto e Sasuke, com os poderes concedidos pelo Rikudou Sennin, conseguiram selar Kaguya mais uma vez. O mundo foi libertado do genjutsu que o consumia e os shinobis reencontraram a paz.

Kakashi se tornou o Sexto Hokage e conduziu a vila excepcionalmente bem. Sakura foi oferecida a se tornar um dos braços do seu professor, mas decidiu fazer o que amava: cuidar de pessoas. Com o apoio do Hokage, conseguiu fazer um novo anexo ao hospital, sendo ele uma clínica voltada para a saúde mental infantil, focada em ajudar crianças que haviam perdido os pais na guerra ou passado por outras situações traumáticas. Shizune se tornou a diretora do hospital e as duas pupilas de Tsunade eram consideradas os modelos a serem seguidos por todos os estudantes de medicina shinobi no mundo inteiro.

Os ex-Akatsukis foram perdoados pelos crimes considerando a colaboração na guerra. Sem eles, afinal, muitas vidas teriam sido perdidas e Konoha já havia acertado uma vez quando se aliou à Sunagakure após o ataque treze anos atrás. Provaram-se certos mais uma vez ao formarem uma aliança com Amegakure por meio de Naruto e Sakura. O loiro descobriu um segredo sobre Pain que se recusava a contar para qualquer pessoa, mas que mudou o possuidor do Rinnegan –agora, dois novamente, pegando o que faltava no corpo sem vida de Madara– drasticamente e tornou-o a pessoa mais benevolente que Sakura conhecia. Kisame não era feliz com uma vida pacífica, então desertou da Chuva e agora estava pelo mundo, sem ninguém saber o que ele fazia exatamente.

E claro, o reencontro de Sakura e Deidara foi marcante. Ela estava quebrada em todos os sentidos possíveis após a perda de sua mestra de do seu noivo, e não sabia como reagir a presença constante do ex, tanto em Ame quanto em Konoha pelas missões diplomáticas que ambos tinham o papel de cumprir. Eles conversavam sempre sobre tudo possível, e Sakura não demorou a perceber que ele ainda sentia o mesmo de quatro anos antes.

Aos poucos, com a ajuda dos pais, dos amigos e das crianças de quem cuidava, Sakura superou o luto. Deidara esperou pacientemente e, ainda mais aos poucos, reconquistou a mulher que nunca deixou de amar. Foi ainda mais bonito do que na primeira vez.

Cinco anos depois, eles podiam fazer tudo da maneira certa. Não precisavam se esconder, terem pressa ou medo, serem considerados um tabu ou viverem cada momento como se fosse o último. O amor entre os dois se tornou muito mais forte do que seria capaz de ser antes.

Em um fatídico dia de chuva –como todos em Ame– em que Sakura estava por lá para visitar o namorado, ele teve uma crise de mau humor e começou a gritar para quem quisesse ouvir que não aguentava mais ficar ali e que queria ir embora. Impulsivamente, Sakura propôs que ele morasse com ela, então. Ela não esperou que ele fosse levar a sério, obviamente.

Dois meses depois, os dois estavam empacotando móveis para se mudarem.

Yamato, como um presente de gratidão à Sakura por ela ter salvado ele da morte na última missão que tiveram, usou um dos jutsus de Hashirama e construiu uma casa para ela e Deidara na floresta que cercava Konoha. O ex-nukenin se recusava a morar em Konoha por querer liberdade sem ser limitado pelas regras de uma vila oculta e Sakura não se importou de ficar a poucos quilômetros de distância da vila, visto que alguns minutos de viagem a levariam até lá.

A vida não era nem um pouco rotineira. Todos os dias Deidara inovava em algum aspecto do dia deles, fosse na cozinha, com viagens, passatempos ou com lutas entre os dois. Eles eram muito felizes e viveram daquela forma pelos três anos em que moraram juntos, mas Sakura queria voltar para casa. Ela ainda tinha muitas coisas a fazer.

Ela precisava contar a Sasuke a verdade sobre Itachi e finalmente entregar a ele os olhos do irmão mais velho, compartilhando com o amigo o legado que foi deixado a ela. Ele seria compreensivo, ela sabia, porque havia aprendido a amar, perdoar e não ter rancor. Sasuke tinha pelo que lutar, viver e ficar: seus dois melhores amigos, uma esposa que amava e as gêmeas que nasceriam em breve.

Ela queria estar ao lado de Naruto, que se tornaria o Sétimo Hokage na semana seguinte. Daquela vez, ela aceitou o convite de se tornar a segunda em comando na vila feito pelo amigo.

Ela queria ficar mais tempo no hospital, se casar, aproveitar os pais enquanto estivessem vivos, ser uma madrinha presente para as filhas de Ino e Sasuke, estudar mais e proporcionar à sua família um ambiente mais sociável e que a trazia tanta felicidade. Uma kunoichi de Konoha não consegue ficar fora de casa para sempre e Deidara finalmente havia aceitado morar a vila com ela, mesmo que no início tivesse batalhado um pouco com a ideia. Ele também queria o melhor para a criança que Sakura carregava no ventre a dois meses.

A mulher jamais imaginou que Deidara fosse querer filhos, por mais que ela mesma tivesse o desejo, então nunca havia falado sobre aquilo com ele. Foi uma surpresa quando um dia, durante um jantar, ele mencionou o desejo de ter uma família com Sakura e ela se encheu de alegria. Desde então, deixou de evitar a gravidez e ela finalmente veio algumas semanas depois. Deidara esperava que fosse um menino, mas ela sonhava com uma menina com características semelhantes às do pai. A única coisa que se sabia é que a criança nasceria em um berço de ouro e teria todo o potencial do mundo: herdeira do kekkei genkai de Deidara, o único do mundo, e com a mãe sendo considerada uma kunoichi com nível semelhante ao de um Kage, sucessora da Princesa Tsunade com poder maior ao da mestra.

Observou mais uma vez a sala de casa, estranhando a ausência de móveis e decoração nela. Costumava ser um lugar colorido, pois Deidara havia encontrado mais um hobbie: pintura. No geral ele só dava pinceladas aleatórias e coloridas, respingava tinta e fazia uma bagunça por todo o quarto que ele usava como estúdio, mas ele ainda assim fazia questão de pendurar os quadros por toda a casa. Quando ele se cansava deles ou queria mais espaço, fazia a coisa que ele mais amava no mundo: destruía a tela inteira da forma que mais apelasse a ele no momento.

A porta dos fundos da casa se abriu e pouco depois Deidara surgiu na sala segundos depois.

― Pronta para partir? ― ele perguntou ― sua mãe deve estar nos esperando.

― Claro, só me deixe pegar as malas no quarto…

Ela ensaiou se levantar, mas Deidara se adiantou e foi correndo até o quarto antes dela. Sakura revirou os olhos, antecipando a fala do namorado quando ele voltasse de lá.

― Você não deve carregar peso! Acho absurdo uma médica achar que deve fazer esforço durante a gravidez ― ele repreendeu-a, da exata forma que Sakura imaginou que ele faria.

― Desnecessário. Posso carregar o dobro de todo esse peso e sentir que estou segurando uma pluma. Você sabe disso, Dei ― reclamou ― e a Hikari-chan também é uma menina forte, não é?! Ela consegue aguentar como a mamãe! ― disse para a própria barriga e viu Deidara fazer careta nervosa para tentar disfarçar o sorriso que vinha ao seu rosto.

― O que te faz ter tanta certeza que vai ser uma menina? ― Ele se aproximou e se agachou, tomando a barriga de Sakura nas mãos. ― Vamos, Kaname, não ligue para a sua mãe que acha que você é uma menina. Você sabe que é um garoto genial como eu, não é?

― Vá acreditando! ― Sakura zombou enquanto ria. ― Inclusive, de onde veio esse nome?

― É o nome do último cara que interessado em você. Que ele descanse em paz.

― Você acha que eu ainda acredito nessas coisas?

― Droga ― Deidara suspirou enquanto se levantava. ― Você não tem mais graça nenhuma, parou de acreditar em tudo que eu falo.

― O tempo me trouxe experiência. Mas quem sabe um dia você me pegue de novo? ― ela o desafiou, até ver que o rapaz sorria de canto, entendendo o que ele queria. ― Não, não pegar desse jeito!

Antes que ele pudesse a segurar em um aperto esmagador, Sakura correu para longe enquanto ria. Não conseguiu vencer a velocidade de Deidara e ele a alcançou quando ela chegou no corredor que levava aos quartos, a pegando no colo como se faz com uma noiva e girando com ela, ignorando os protestos altos que ela fazia.

Foi calada com um beijo lento, não mostrando objeção alguma àquela atividade. Quando Deidara a soltou no chão, ele sorria mais uma vez.

― Agora vamos embora de verdade, perdedora.

― Espero que esteja pronto para pedir ao meu pai a minha mão em casamento ― disse enquanto eles saíam pela porta de entrada, com Deidara ainda insistindo em carregar as malas sozinho.

― Tá brincando? Seu pai me ama, o sonho da vida dele era ter te enxotado de casa enquanto era tempo e ter me adotado no seu lugar.

― Se você acha, mas ele fala mal de você para mim quando você está longe ― Sakura mentiu.

― … Sério?

A iryou-nin levantou os ombros para deixar a dúvida no ar e torturar Deidara, se esforçando para parecer séria.

― De qualquer forma, você sabe que o meu pai vai ser fácil. Quero ver é conseguir a bênção da Ino, do Naruto e do Sasuke-kun.

― Do Naruto é moleza, uma ida no Ichiraku resolve o problema. O fedelho Uchiha não tem direito a dar bênção. ― Ele ignorou o olhar feio que Sakura o deu, por mais que ele quase queimasse um buraco em sua cabeça. ― A Yamanaka vai ser o desafio. Essa aí vai fazer da minha vida um inferno.

― Boa sorte. Só saiba que a Ino só me deixaria casar algum dia na minha vida se fosse com ela.

Os dois subiram no pássaro de argila que Deidara fez, imaginando as possíveis reações de Konoha ao anúncio do futuro casamento e voaram em direção a Konoha.

Uma amizade que começou a partir de intuição; a intuição de Sakura que a dizia que o mundo não é preto e branco e que há o cinza no meio, e a intuição de Deidara que sussurrava que a menina de Konoha poderia fazer a vida dele menos entediante. Um romance também guiado pela intuição, que dizia, dessa vez aos dois ao mesmo tempo, que uma paixão poderia ser sustentada sem precisar ser para sempre. Agora, a intuição do casal os falava que daquela vez seria, sim, para sempre e que eles tinham uma vida inteira pela frente para serem felizes.

O sol da tarde brilhava mais forte naquele dia.