Mais um tedioso dia bonito. Eu estava em casa, no meu quarto, refletindo, coisa que mais tenho feito ultimamente, quando descobri que tenho câncer.

Aliás, meu nome é L. Lawliet. Sou, digamos o que chamam de depressivo, observador e ansioso. Enquanto estou parado, meus olhos correm pra todos os cantos, em busca do que desvendar, do que fazer. Mas naquele dia, não havia nada, absolutamente nada e isso estava me enlouquecendo. Abri minha gaveta em busca de uma barra de chocolate pra me distrair, embora minha mãe ache errado que eu coma mais de oito dessas por dia, fora os outros doces existentes. Mas qual o problema de me dopar de açucar? Vou morrer de qualquer forma.

Desci as escadas indo pra fora pegar um ar. Foi quando vi um vulto preto cair no meu quintal. Naquele dia azul e radiante, qualquer um perceberia isso caindo do céu, mas me apressei contando com que fosse algo interessante pra pelo menos animar um pouquinho meu dia.

Quando cheguei frente ao objeto, o que vi foi um caderno.

– "Death Note''...- Li em voz alta e o peguei na mão. Estranho, estava escrito em inglês e a letra era um tanto quanto...deformada.

Ainda observando o estranho objeto em minhas mãos, eu o levei pra dentro e deitei na cama. Dentro do caderno haviam estranhas instruções, com o mesmo formato diferente. Comecei a leitura e arregalei meus olhos, quer dizer que aquilo poderia matar? Apenas escrevendo o nome e tendo o rosto em mente?!

– Isso é impossível...- Murmurei pra mim mesmo. Loucura completa e total!

– Mas e se...não, não! Seria muita maluquice!- Eu queria, meus dedos estavam coçando pra usar o Death Note. Mas e se matasse mesmo? Teria de ser alguém muito culpado...

Liguei o noticiario, perfeito! Logo passou na TV um sequestro de creche.

– Aiko Azuneshe, o famoso sequestrador de escolas, ataca novamente, desta vez numa creche.- A repórter anunciava. Peguei o caderno pensativo.

– ''A pessoa cujo nome foi escrito no caderno morrerá em quarenta segundos por ataque cardíaco, caso sua causa de morte não for especificada''- Li em voz alta uma das regras. Peguei uma caneta e escrevi receoso na primeira folha.

''Aiko Azuneshe''

Olhei fixamente pra televisão, esperando que algo acontecesse. Meus olhos corriam do relógio pra TV. Quarenta segundos se passaram.

Nada.

– É...parece que o Death Note não funciona...- Disse me despreguiçando na cadeira.

– Mas o que? Os reféns estão sendo libertados! O sequestrador ainda não saiu lá de dentro! Segundo as professoras, o criminoso morreu com um ataque fulminante!- A TV anunciou me fazendo congelar no lugar. Olhei pro caderno horrorizado. E de horror, minha expressão mudou pra um sorriso....

Talvez...talvez fosse uma chance de eu ser lembrado! E se mudasse o mundo? Mas...seria certo matar pessoas para tal? Meu lado consciente dizia que não e me falava pra jogar o Death Note pra fora da janela. Mas se eu estava morrendo, que diferença faria? Ao menos, minha total e insignificante existência não seria tão insignificante assim.

A coisa que eu menos queria era ser esquecido. Ter minha morte lamentada apenas pela minha mãe, que talvez nem ligasse tanto em não ter mais o filho que dá tanto trabalho a ela. Não, eu queria mais! E aquele caderno me dava essa chance! Me sentia preparado pra isso.

Comecei a ver no site da Interpol, os piores bandidos, quadrilhas, assassinos, serial-killers que poderiam estar contaminando o mundo que eu iria mudar. Anotei numa folha comum, assim não esqueceria, afinal esses criminosos serviriam de cobaias pros meus testes com o Death Note.

Provavelmente haviam MUITAS MAIS formas desse caderno sobrenatural ser usado, e eu me aproveitaria delas! Passando-me pelo pobre e doente garotinho em estágio terminal, eu enganaria a todos. Ao menos, esse câncer serviu pra algo!

E nesse momento meu novo mundo começa...

***

Passados alguns dias, terminei de jantar e subi ao meu quarto escuro e sem vida, como eu. Mas eu não estava sozinho ali, com certeza não!

A sombra daquele ser, grande e monstruoso pairava frente a sacada do meu quarto, antes iluminada pela fraca luz do poste da rua. Não me assustei demais, afinal, se existe um caderno que mata apenas se escrevendo, por que causa seria impossível existir um bicho daqueles?

– Posso saber a quem tenho a honra de receber?- Perguntei seriamente irônico.

– Meu nome é Ryuuk.- Disse secamente o visitante.

– E você quer..?

– Não quero nada. Digamos que eu sou o brinde que veio com seu caderno.

– Você é o dono do Death Note?- Indaguei me jogando na cama tranquilamente.

– Sim. Mas no momento ele é seu. Estou aqui para observar apenas. É com ele que vai se comunicar comigo. O Death Note é a ligação do humano Lynn Lawliet e o shinigami Ryuuk

– Como sabe meu nome?

– Há várias coisas aqui no seu quarto com seu nome escrito sabia?- Ele me disse rindo com a voz grosseira.

– Você disse que é um shinigami?

– Sim, um deus da morte.- Ryuuk pegou uma barra de chocolate da minha gaveta e engoliu de uma só vez.- Isso não tem gosto bom como o das maçãs que sua mãe compra!

– Não importa.- Sentei e peguei o Death Note, folheando.

– Olha só, nunca um Death Note foi usado assim! Veja quantos nomes você já escreveu em uma semana!

Sorri orgulhoso e olhei pra criatura de olhos esbugalhados. Pra mim aquilo era como um elogio. Passei o dedo no lábio, pequeno hábito que possuo, sentado de meu jeito costumeiro.

– Eu não sou como as outras pessoas....

– E como você é Lynn?

– Peço que me chame apenas de L, por favor.

– Certo. E como você é, L?- Ele me perguntou frisando a última palavra.

– Eu? Eu sou alguém que vai trazer a paz antes de morrer, e será lembrado!

Ryuuk entortou o rosto cinzento. Parecia confuso com o que eu disse. Mas ele se espreguiçou sentando no chão, apenas observando o que estava fazendo, enquanto meus dedos corriam freneticamente pelas folhas do caderno com a caneta.

– Sabe Ryuuk...

– O que foi?

– Eu vou mudar esse mundo...

– E o que fará quando morrer?- Foi mais uma ameaça do que uma pergunta.

– Detalhes...- Disse sorrindo.