Garoto de Papel (Hiato) escrita por Risoto


Capítulo 9
Transparente, com elásticos. Aberta.


Notas iniciais do capítulo

GENTE ME DESCULPA.
Mas dessa vez a culpa NÃO FOI MINHA.
Eu terminei essa capítulo há muito tempo atrás, muito mesmo. Mandei para minha beta. Ela demorou para responder, eu mandei uma mensagem perguntando o que tinha acontecido. Ela respondeu que estava betando um cap enorme e cheio de erros, então relevei. Vai fazer duas semanas e meia que mandei a mensagem.
Enfim não sei o que aconteceu, pode ser problemas pessoais, então decidi revisar sozinha. Se vocês me ajudarem e apontarem meus erros vou ficar muito grata.
Espero que me perdoem.
Mil beijos.



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Ele é como eu sempre quis que fosse.

Nas épocas de prova, ele está lá, comigo, me ajudando a estudar. Quando meu pai atua no teatro da família perfeita, ele me ouve.  Consigo falar coisas que nunca imaginei que sairiam de mim, coisas que nem cheguei a pensar direito. Coisas que me incomodam, que me machucam, que me fazem ficar sensível, mesmo que eu não conheça os motivos.

Minha mãe o adora. Quando Mel e Daniel vão lá pra casa para estudar, Ana Luisa fica feliz, sorrindo, oferecendo petiscos o tempo todo.

Fico com medo às vezes. Ele se senta tão perto da própria história. É assustador e assombroso.

Não leio a história faz um mês, desde que ele apareceu pela primeira vez na porta da casa de Mel. Sei lá, na minha cabeça outro Daniel vai sair das páginas, não sei. Nem sei de onde esse daí veio.

Só sei que quando ele está por perto, meu corpo formiga e e eu tenho vontade de sorrir, sorrir e sorrir. E quando nos tocamos sem querer, não é como descrito nos livros; minha pele não formiga. Eu me sinto esquentar por inteiro, como se o sangue corresse mais rápido e melhor.

A aula de Filosofia era a melhor, depois de a de Literatura Avançada. Eu só tinha nas terças, mas os cinquenta e cinco minutos eram o que faziam o meu dia. A professora Ingrid era uma sonhadora. Sempre usava saias compridas ou shorts jeans, com camisetas floridas ou lisas em tons claros. Tinha sempre uma trança no cabelo, ou um coque, e sempre te ouvia, mesmo se interrompesse sua explicação. Eu converso com ela sobre meus problemas, minha vida e minha família. Conto a ela mais coisas sobre mim do que aos meus amigos.

No meio da aula, sinto algo bater em minha cabeça. Viro-me e vejo Daniel apontando para o chão. Lá, bem perto da minha carteira, havia um pedaço de papel amassado. Peguei e li, lutando para não rir:

< Não entendo essa matéria, meio vaga demais. Me ensina, por favoooor >

Soltei uma risadinha e torci para que Ingrid não reparasse. Peguei uma caneta e rabisquei uma resposta:

< Que profundidade de alma, Daniel. Você pode almoçar comigo e minha mãe hoje, a Mel e o Gui resolveram sair pro cinema >

Joguei para Gui e pedi para que ele passasse para o moreno atrás dele. Ele leu, sorriu malicioso e disse, apenas com os lábios:

— Eu to ligado nos seus esquemas, Alana. — enquanto passava o papel. Mostrei a língua para ele e corei. Voltei a prestar atenção em Zenão e suas teorias infundadas.

De relance, ouvi a risada de Daniel ao ler minha resposta. Senti meu corpo esquentar. Minha barriga revirou. Não com simples borboletas, não. Eu sentia muito mais que isso. Era muito mais intenso.

Ser adolescente é uma merda.

***

Na saída, enquanto caminhava ao lado de Daniel, conversando coisas bobas, vi Mel e Gui indo em direção do portão. Corri até eles, o mais rápido que os quilos a mais permitiam.

— Ei, ei, ei! — exclamei, ofegando. Gui riu da minha cara vermelha e Mel olhou-me com reprovação. — Vocês dois, vão ver que filme?

— Ainda não decidimos. — respondeu Mel. Olhou para Gui e percebi que não fazia diferença. Sorri.

— Aproveitem o filme, pombinhos.

— Vou fingir que não ouvi. — eles disseram juntos.

— Eu sei que ouviram. Se beijem, adeus! — e saí correndo, onde Daniel me esperava.

***

— Daniel, Alana, vocês podem ir começando a estudar, vou esquentar o almoço. Não vai demorar. — minha mãe disse, enquanto fechava a porta. Dei de ombros e fui, e Daniel me seguiu.

Joguei minha mochila na cama, e Daniel colocou a dele no chão. Olhou ao redor, como sempre fazia nas poucas vezes que ia ao meu quarto. Eu evitava que isso acontecesse.

— Seu quarto é legal. — ele disse, finalmente olhando para mim.

— Obrigada — me sentei no chão e bati a mão no lugar ao meu lado. Ele imitou meu gesto, puxando a mala e abrindo a apostila na parte de Filosofia — O que você não está entendendo?

Nossos braços se encostavam. Estávamos muito, muito perto. Meu pelos se eriçaram quando sua mão encostou-se à minha enquanto ele mudava a página. Eu sentia que poderia vomitar ali, bem encima dele.

— Zenão e a teoria do movimento impossível — ele sussurrou —Não entendo nadinha do que ele fala.

Quando fui pegar a apostila de sua mão, ousei olhar para ele. Ele olhava para mim também. Fechei os olhos, respirando irregularmente.

— Ele dizia que o movimento era impossível. Que em cada espaço de tempo finito nós estamos em repouso, e que esse conjunto de tempos finitos em repouso formam uma ilusão de movimento.

Abri meus olhos. Os dele estavam fechados, então voltei a fechar os meus. Parecia o certo a se fazer.

— Isso é tão idiota — Ele disse, suspirando — Estou me movendo agora mesmo. — e então senti sua mão na minha e nossos dedos se entrelaçaram.

— Vários momentos de repouso formando um movimento. — encostamos as testas.

— Prefiro não acreditar nisso. — nossos lábios roçavam. Meu coração palpitava. Eu quase ouvia o seu coração batendo. Sua outra mão foi até meu pescoço, descendo pelas minhas costas. Arrepiei-me.

— Alana, vem colocar a mesa! — minha mãe gritou. Nos separamos rapidamente, corados. Levantei-me e sai correndo, quase escorregando no tapete. — Que cara é essa?

— Nada, mãe, nada mesmo. — ela me olhou e sorriu.

— Desculpa, filha, eu podia ter demorado um pouco mais.

— Mãe! — corei mais, muito mais. Não, essa conversa não era para mim. Terminei de colocar a mesa rapidamente, preparada para sair da cozinha.

— Chame o Daniel, já está pronto.

Assenti e fui. Na metade do caminho, Daniel saiu do quarto, absolutamente transtornado. Ele passou por mim com a cabeça abaixada, disse um “tchau, obrigada” e foi embora.

— O que aconteceu com ele? — minha mãe perguntou, com olhos de dúvida. Ia dizer que não sabia, mas arregalei os olhos, entendendo.

Corri na direção do meu quarto, desesperada. Aquilo não podia estar acontecendo.

E, como num filme de terror, ali estava, fora da estante. Transparente, com elásticos e com o seu conteúdo espalhado pela cama. A pasta.

Ele leu a sua história.


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Notas finais do capítulo

FOI PEQUENO? Foi, mas teve um momento fofinho, vai.
Não posso nem pedir comentários, eu não mereço, mas sou cara de pau mesmo. Podem até me xingar, gente, eu entendo.
É isso ai, mil beijos gatas.