Lovestorm escrita por Oliver Brien


Capítulo 1
Lovestorm




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Eu estava deitada no chão. Podia sentir o cimento frio sob minhas costas. Eu tremia de frio. Meus olhos estavam fechados, mas ainda assim eu pude ver o brilho seguido de um enorme barulho; uma explosão. Ainda imóvel, senti uma forte ventania que veio acompanhada de um enorme clarão. Mesmo com os olhos fechados, a luz foi tão forte que até doía. Tive que espremer mais os olhos e virar o rosto de lado. E então, silêncio. Tudo ficou na mais pacífica calma.

Lentamente eu tentei me movimentar. Meu corpo inteiro doía. Meus músculos ardiam e eu sentia como se não tivesse mais forças em meu corpo. Minha cabeça latejava e eu cheguei a pensar que iria sucumbir à dor. De repente a ideia de me mover parecia dolorosa demais. Talvez fosse melhor continuar deitada ali. Pelas fortes dores eu sabia que minha hora não ia demorar a chegar, então era melhor continuar quieta e esperar o silencioso abraço da morte.

Foi então que eu ouvi passos. No começo eram lentos, como se a pessoa não estivesse segura da direção para onde estava indo. O barulho do salto contra o chão fez com que eu identificasse ser uma mulher. Meu coração se apertou na mesma hora. Eu conhecia aquele som. Gemi em desespero. Eu tinha de me levantar. Os passos se aceleraram e agora vinham em minha direção. De repente meu corpo foi suavemente erguido por mãos calorosas. A delicadeza daquele toque e o calor que me foi transmito por aquele contato revigoraram minhas energias. Meu corpo inteiro foi preenchido por uma luz confortável, que me deu novas forças.

Eu abri meus olhos e pude ver seu rosto pairando acima do meu. Seus olhos azuis estavam lacrimosos e lágrimas desciam por sua face. Seus cabelos loiros caíam delicadamente sobre seu rosto, algumas pontas umedecidas pelo contato com as lágrimas.

— Não chore, Princesa. — ergui minha mão suavemente e enxuguei uma lágrima de seu rosto. — Está tudo bem agora. A batalha terminou.

— V-chan... — sua voz saiu embargada e sua frase foi interrompida por uma crise de choro. — As outras... Eu não as estou encontrando.

Levantei-me no mesmo instante. A Princesa recuou alguns passos e me deu espaço para ficar de pé. Ela fez menção de me abraçar, mas eu a impedi. Meu traje estava em frangalhos, rasgado, chamuscado e sujo em diversas partes. O vestido da Princesa estava tão branco que parecia brilhar. Jamais poderia permitir estragar suas lindas vestes.

— Perdoe-me, Princesa. Eu que sou a líder e deveria ter lutado até o final, sucumbi à energia do inimigo. Pensei que não fosse sobreviver. Eu... Não sou mais digna de ser uma de suas guardiãs. — ajoelhei-me ao seus pés. — Mercury foi a primeira a cair. Depois disso o inimigo continuou atacando com toda a força. Jupiter, Mars e eu fizemos de tudo para detê-los, mas não foi suficiente. A última coisa de que eu me lembro é uma grande explosão que me arremessou através de três muros. A minha dor foi tamanha que eu pensei que jamais voltaria a andar. Pensei que minha morte estava próxima. — a fitei por um momento e então voltei a abaixar a cabeça. — Sei que isso não é desculpa, mas não sei o que dizer. Estou envergonhada.

Ela tocou suavemente meus ombros. A energia do Cristal de Prata era transmitida através de seu toque e me enchia de energia e calor. Se eu tivesse tido aquelas forças antes, certamente poderia ter salvado minhas companheiras. Fechei os olhos com repúdio por mim mesma e deixei uma lágrima escapar. A Princesa se ajoelhou ante mim e me abraçou subitamente. Eu fiquei estática. Ela afastou um pouco só para que eu rosto pudesse ficar a centímetros do meu e eu pudesse fitar seus reconfortantes olhos azuis.

— Venus, você lutou bravamente. Não se sinta envergonhada por ter caído em batalha. Isso não faz de você uma guerreira menos valente. — ela sorriu suavemente. — O que aconteceu não pode ser mudado. Estou imensamente feliz por você ter sobrevivo. E também me sinto orgulhosa de você.

— Princesa Serenity... — a fitei embasbacada, sentindo minhas bochechas arderem.

— Vamos, ajude-me a procurar suas companheiras nos escombros. Tenho certeza de que também não é tarde pra elas. — ela se colocou de pé e estendeu a mão para que eu imitasse seu gesto.

Caminhei pelas redondezas com a Princesa, andando próxima a ela, caso tivesse de protegê-la. Nós duas olhamos para todas as direções na esperança de encontrar alguma das outras guerreiras caídas, mas só o que víamos era entulho e a cidade inteiramente destruída. Avistei um brilho alguns metros a frente e corri para verificar. Sorri ao ver Holy Blade, minha espada sagrada, ainda intacta. A peguei e admirei sua lâmina por alguns segundos. Ela seria bem útil já que minha corrente, Venus Love Me Chain, havia sido destruída.

— Princesa Serenity! Sailor Venus! — ouvimos uma voz familiar e vimos Sailor Neptune vindo em nossa direção. Ela ajudava uma Sailor Uranus muito ferida a se locomover. — Que bom que estão protegidas.

— Fico contente em vê-las vivas. Deixe-me ajudá-la. — A Princesa fez menção de tocar Uranus, provavelmente para curar suas feridas com o poder do Cristal de Prata, mas a guerreira recusou.

— Eu estou bem, Princesa. Esses ferimentos de batalha não levarão muito tempo para se curar. Obrigada.

— Vocês viram algum sinal das outras guerreiras? — perguntei aflita.

— Infelizmente não. — Neptune respondeu calmamente e baixou a cabeça em seguida. — Chegamos muito tarde. As Guerreiras do Sistema Solar Interior já haviam sido derrotadas. Por pouco Uranus e eu também não fomos dizimadas. Nossa sorte é que no último instante a Guerreira do Silêncio apareceu e pôs fim à batalha. Mas desde que acordamos não vimos sinal de nenhuma outra guerreira.

— Sailor Saturn? Ela derrotou o inimigo? — a Princesa parecia calma para alguém que supostamente havia perdido mais da metade de suas guardiãs.

— Sim, Princesa. Esse é o dever dela. — Neptune deu um suspiro. — Nem mesmo Sailor Pluto foi forte o suficiente. — sua expressão ficou taciturna e eu podia jurar que vi uma lágrima rolar por sua face.

Nesse momento ouviu-se um barulho vindo do quarteirão ao lado. Nós guerreiras corremos na direção do som, ao mesmo tempo em que nos mantínhamos perto da Princesa, para caso algo acontecesse. O local onde antes era uma padaria agora era uma pilha de entulhos. Era de baixo deles que o som estava vindo. Ao aproximar-me pude ver uma mão removendo alguns blocos de concreto de dentro para fora, o que me assustou um pouco. Todas nós assumimos posição de ataque para o caso de ser o inimigo. Mas quem saiu de lá de baixo foi um rosto bastante conhecido.

Meu coração simplesmente pulou uma batida e eu me senti ser invadida pela alegria. Ela estava toda ferida, mas fazia o que podia para sair daqueles escombros. E ela ainda estava carregando duas de nossas companheiras. Sailor Mars, a guerreira do fogo, era a única que ainda estava consciente. Com muito custo ela apoiava Sailor Mercury e Sailor Jupiter, uma em cada ombro, enquanto removia os escombros.

Nós saímos do transe e corremos em sua direção para ajudá-la. Fui a primeira a chegar até ela.

— Rei-chan! Você está viva! — falei com um enorme sorriso nos lábios, não conseguindo conter minha felicidade.

— Sailor Venus. É bom ver que você também está. Embora eu não duvidasse que você fosse capaz. — ela sorriu para mim e então voltou-se para as outras. — Uranus, Neptune... Princesa! É um alívio vê-la em segurança.

— Vocês me tratam como princesa como se um dia não tivéssemos sido amigas. Me chamem de Usagi, Cabeça de Bombom, ou o que seja... Só parem com esse tratamento formal. Vocês são mais que minhas guardiãs. Vocês são minhas melhores amigas.

— Usagi-chan... — Sailor Mercury balbuciou, despertando.

— Você é sempre uma cabeça dura, Usagi. — Sailor Jupiter já se colocava de pé tossindo e sorrindo para nós.

— Meninas... Estou tão feliz que estejam todas bem! — ela falou às lágrimas enquanto todas nos uníamos em um abraço grupal.

Percebi que Uranus e Neptune não estavam conosco. Olhei para elas e vi que já se afastavam. Me desfiz do abraço e corri na direção delas.

— Haruka! Michiru! Esperem! — corri para alcançá-las. — Onde vocês vão?

— O inimigo foi derrotado. Nossa missão por aqui acabou — falou Michiru, a Sailor Neptune.

— Nós não pertencemos ao seu grupo, Minako. Somos as que observam de longe. E bem, desculpe se não estamos no clima de comemoração, mas perdemos duas de nossas companheiras hoje.

— Haruka... Eu... Eu sinto muito. — abaixei a cabeça. — Tenho certeza de que Pluto e Saturn deram o melhor de si nessa batalha.

— Sabemos disso. Mas não encaixamos aqui. — Michiru voltar a falar, ainda abraçada à cintura de Haruka. — Nós vamos viajar. Vamos tirar um tempo para descansar e esfriar a cabeça. — ela sorriu. — Você poderia vir conosco. Lembro que você me disse que queria ser atriz, pois bem, estamos indo para a Inglaterra. Você poderia fazer vários testes lá. Tenho certeza de que conseguiria algo.

— Michiru, não adianta pedir isso a ela. A Minako não abandonaria suas companheiras. Não é tampinha? — Haruka passou a mão no meu cabelo, despenteando-o.

— Eu quero muito ir. Mas tem algo que me prende aqui. Eu quero correr atrás dos meus sonhos, mas ao mesmo tempo não quero deixar as pessoas que eu amo para trás. — elas trocaram um olhar entre si e depois voltaram seus rostos para mim com um sorriso bobo nos lábios.

— De qualquer forma, vamos partir amanhã cedo. — Haruka falou me entregando um cartão com alguns números de telefone. — Esses são nossos números. Tire o dia de hoje para pensar e nos dê a resposta amanhã. Partiremos às 11h.

Assenti e voltei para onde minhas amigas estavam. Nós combinamos de passar a noite na casa da Makoto para comer e fofocar. Tínhamos que celebrar nossa vitória, mesmo que houvesse tido algumas perdas no processo. A Princesa também passaria a noite conosco. Como ela adorava comer, e a Makoto sempre preparava banquetes maravilhosos, ela não perderia aquele encontro por nada nesse mundo.

Na casa da Makoto nós conversamos na cozinha, fofocamos bastante e contamos quais seriam nossos planos dali pra frente. A Princesa nos contou alguns segredinhos sobre o Príncipe Endymion. Ela estava tão apaixonada que só de mencionar o seu nome seus olhos brilhavam. Ami também havia conhecido um rapaz na faculdade onde estava estudando. Ela estava muito feliz. Makoto ainda não havia encontrado sua alma gêmea, mas pelo menos sua cabeça estava distraída com sua loja de plantas e também uma confeitaria que ela havia aberto na capital. Preciso dizer que ela é um sucesso nos empreendimentos, e suas lojas lhe rendem bastante lucro.

As únicas que estavam mais afastadas eram Rei e eu. Mesmo comemorando e sorrindo com as meninas, algo enublava meus pensamentos. Não posso afirmar o que se passava na cabeça da Rei, já que ela sempre foi uma garota misteriosa e reservada. Mas eu estava claramente pensando na decisão que eu tinha que tomar para o dia seguinte. Não havia risco em deixar a Princesa, pois além de ela estar sob a proteção das outras guardiãs, meu transformador me avisaria caso qualquer coisa desse errado. Mas não era isso que me preocupava. Nós havíamos acabado de derrotar o inimigo. Eu não pensava em estar em outra batalha por pelo menos os próximos meses. O problema é que deixar o país também significaria deixar a pessoa que eu amava pra trás, e eu não sabia se estava pronta pra isso.

Acordei com o sol entrando por minha janela. Decidi vir embora mais cedo da casa da Makoto e aproveitei para arrumar minhas coisas. Acordei mais cedo naquela manhã e fui logo tomando uma ducha pensativa. Precisava estar segura da minha decisão.

Ao sair do banho, peguei meu celular e liguei para Haruka, antes mesmo de colocar minha roupa. Ela atendeu e eu disse a ela que iria com elas. Ela respondeu satisfeita que passaria em minha casa para me buscar. Terminei de me arrumar e esperei por ela em frente ao meu portão com algumas bagagens. Agora não tinha mais volta.

Quando entrei no carro, cumprimentei as duas. Podemos dizer que eu não estava tão sorridente e animada quanto gostaria. Aquela decisão não foi nada fácil para mim. Eu estava seguindo meus sonhos, eu sei, mas largar um amor para trás nunca é uma tarefa fácil. Tive que colocar na balança e decidir da maneira mais difícil qual era o caminho que eu queria seguir. E lá estava eu a caminho do aeroporto, pronta para ir a outro país perseguir meu sonho.

— Podemos parar no Palácio de Cristal, antes? Eu quero me despedir da Princesa — pedi a elas, que assentiram e disseram que era uma boa ideia.

Ao chegarmos no Palácio, encontrei Makoto e Ami, e aproveitei para me despedir delas. Elas ficaram meio tristes, mas me incentivaram a seguir em frente. Disseram que protegeriam a Princesa e que eu não precisava me preocupar. Me desejaram sorte e continuaram seguindo seu caminho. Eu continuei caminhando com Michiru e Haruka até encontrar a Princesa.

— Princesa Serenity, Usagi, nós viemos nos despedir. — Michiru se aproximou.

— Vocês já vão embora? — ela pareceu meio desanimada. — Vocês nunca ficam depois que a batalha acaba.

— Lamento, Cabeça de Bombom, mas nós temos uma vida diferente. Porém não se preocupe, não é a última vez que vai nos ver. — Haruka confortou ela quando a abraçou.

— Princesa, eu nem sei o que te dizer — comecei quando as outras duas terminaram de se despedir. — Você foi uma grande amiga por tantos anos. E bem, eu como a líder das guerreiras deveria estar sempre a seu lado, pronta para te defender. Mas agora que a batalha terminou sinto que é hora de dar um grande passo em minha vida, por isso resolvi ir com Haruka e Michiru pra Inglaterra pra seguir meu sonho de ser uma atriz.

— Você também está indo embora? — ela perguntou com um tom triste e então me abraçou forte. — Não se preocupe, V-chan. Eu jamais ia me perdoar se ficasse te prendendo aqui. Desejo a você toda a sorte do mundo! Que você consiga realizar seus sonhos e sempre volte pra me visitar. E não se preocupe, pois ainda que eu não tivesse as outras para me proteger, eu sou a lendária guerreira Sailor Moon, a detentora do Cristal de Prata. Não se esqueça disso. — ela falou com um sorriso nos lábios e voltou a me abraçar.

— Obrigada, Usagi-chan. Virei sempre que possível visitá-la. — me despedi dela e fiz menção de caminhar até a saída.

— Mais uma coisa — ela falou antes que eu alcançasse a porta —, por favor não vá embora antes de dizer a ela a verdade. Ela precisa saber dos seus sentimentos.

Assenti e seu sorriso foi a última coisa que eu vi antes de sair correndo pelo jardim do Palácio de Cristal. Pedi às meninas que me esperassem só mais um pouco, pois eu tinha algo a fazer antes. Então corri para a casa dela.

Por sorte nem precisei ir tão longe. Ela já estava ali na entrada do jardim, me esperando. Seus olhos tinham um brilho triste e me fitavam intensamente. Não consegui desviar. Era como se eu fosse atraída para olhar profundamente dentro deles.

— Então é verdade? Você está indo embora? — ela se aproximou com a expressão séria.

— Sim, Rei-chan. Vim me despedir de você.

— Mas você é a Sailor Venus, a nossa líder.

— Sei disso. Mas agora a batalha terminou. A Princesa está segura, e caso algo aconteça ela tem a vocês. Além do mais eu posso voltar a qualquer instante se uma nova ameaça aparecer.

Ela se aproximou lentamente de mim, o que me deixou sem reação. Meu corpo paralisou a medida que ela foi se aproximando. Sua expressão era séria e até me dava medo. Pensei que ela fosse me agredir, mas ao invés disso senti seus braços passando ao meu redor e me envolvendo em um forte e caloroso abraço. Sua energia foi transmitida a mim e eu podia sentir até as batidas do seu coração.

Ela separou nossos corpos e me fitou profundamente, o rosto a centímetros do meu. Então eu tomei a atitude e a beijei. Uni nossos lábios sem medo de ser rejeitada. Não tive receio de que alguém estivesse nos observando. Nada mais importava. Só nossos lábios se roçando enquanto suas mãos quentes me envolviam em um caloroso abraço.

— Eu te amo, Minako. — ela falou quando separamos nossos lábios e ficamos nos encarando. — Eu fiquei com tanto medo de te perder nessa batalha. Prometi que se você sobrevivesse, eu ia ser sincera com meus sentimentos.

— Rei... — fiquei sem palavras por um tempo. — Eu também te amo. Faz tempo que me sinto atraída por você. Mas tive medo de você me rejeitar.

Ela colocou as mãos suavemente nas laterais do meu rosto e me deu mais um rápido beijo. Senti borboletas no meu estômago. O mundo parou de girar e tudo simplesmente ficou perfeito.

— Eu vou com você. Onde quer que você vá, eu vou com você — Rei sussurrou no meu ouvido e apoiou sua cabeça no meu ombro.


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Notas finais do capítulo

Faz muito tempo que eu queria escrever uma fanfic de Sailor Moon com essas duas. Com o desafio vi a oportunidade de fazer isso acontecer. Não tenho tanta experiência com yuri, e como é capítulo único resolvi ser mais "suave". Espero que tenham gostado. Não deixem de comentar. ;)



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